(Revista Pergunte e Responderemos, PR 413/1996)
Publicamos, a seguir, o artigo sobre as conseqüências psicológicas do aborto, da autoria do Dr. L. Clemente de S. Pereira Rolim, especialista em Clínica Médica pela AMB e pós-graduando da Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESP-EPM. Endereço para correspondência: Rua Arthur de Azevedo 560, CEP 05404-001 São Paulo (SP); fone 852-3077; Fax 280-1722. CRM 54415 – Medicina Interna.
As observações do Dr. Pereira Rolim são de grande atualidade, pois dissipam graves ilusões relativas ao “aborto como solução”. A experiência de numerosas mulheres que cometeram aborto, ensina que ele fere não somente a criança, mas também a mãe – e quiçá para o resto da vida -, provocando remorso por um ato cometido como pretenso alívio de uma situação indesejada.
INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ E SEQÜELAS PSICOLÓGICAS
Às vezes, pretende-se justificar o aborto como a única saída para situações angustiantes que uma gravidez não desejada pode trazer. Há inclusive alguns países que admitem a angústia da mulher como indicação para abortar. No entanto, a pior angústia vem depois do aborto. Esta é a conclusão a que chegou a Dra. Mary Simon, psicóloga da Clínica Ginecológica Universitária de Würzburg (ALEMANHA), em uma pesquisa publicada na conceituada revista DEUTSCHE TAGESPOST (4-VII-92).
É interessante constatar que os transtornos psicológicos causados pelo aborto são poucas vezes mencionados na literatura médica especializada. Daí a razão deste artigo que, sem se ater a considerações morais ou éticas e sem chutometrias, visa a mostrar a realidade crua dos fatos. Os dados que são apresentados a seguir, foram todos obtidos de países onde o aborto é legal há mais de trinta anos e realizado nas melhores condições de higiene e assepsia, como é o caso da Inglaterra, da Checoslováquia, do Japão, da Alemanha e dos Estados Unidos. Além da referência supra citada, remetemos o leitor aos artigos relacionados na bibliografia.
TRANSTORNOS PSÍQUICOS
Basicamente, três tipos de fenômenos psíquicos ocorrem nas mulheres que fazem aborto:
Sentimentos de remorso e culpa (60% das mulheres);
Oscilações de ânimo e depressões (30 a 40%);
Choro imotivado, medos e pesadelos (35%).
Quanto ao sentimento de culpa, já tentaram atribuí-lo a crenças religiosas. Certamente, há sentimentos de culpabilidade originados por convicções religiosas, mas a maior parte destes sentimentos posteriores ao aborto têm muito pouco que ver com a crença religiosa. O aborto viola algo de muito profundo na natureza da mulher. Ela é naturalmente a origem da vida e é normal que a mulher grávida esteja consciente de que cresce uma criança dentro dela. A mulher que aborta voluntariamente, sabe que matou o seu filho. Não é, pois, de admirar o aparecimento de sentimentos de culpa, de autocensura e de estados depressivos.
Um psiquiatra sensato disse uma vez que é mais fácil tirar a criança do útero da mãe, do que fazê-la desaparecer do seu pensamento. Inclusive em países de cultura não cristã, como o Japão (onde o aborto livre é legal há 42 anos), há estudos de grande amplitude, mostrando que 73% das mulheres que praticaram o aborto se sentiam “angustiadas” com o que tinham feito. Porém, voltando ao trabalho da Dra. M. Simon, o que mais chama a atenção, não são as seqüelas psíquicas que ocorrem pós aborto, mas sim os mecanismos que as mulheres desenvolvem para se libertarem dos seus complexos de culpa. Novamente três tipos de mecanismos ocorrem: repressão, projeção e confrontação. Vejamos cada um deles em particular.
Repressão
A Dra. Simon explica que 61% das mulheres que entrevistou, evitam pensar no aborto e reprimem estes pensamentos, desenvolvendo então sintomas de origem psíquica (psicossomáticos): dores de cabeça, vertigens, tonturas e cólicas abdominais. Este fenômeno também é muito conhecido na medicina como somatização. É um dado significativo: em 70% das mulheres surgem pensamentos de como seriam as coisas se a criança abortada vivesse agora, e 52% delas se incomodam ao verem mulheres grávidas, porque lhes recordam seus próprios filhos abortados.
Projeção
Aqui as mulheres projetam para outros a responsabilidade do próprio aborto. Em geral, são mulheres instáveis psiquicamente, mas, sobretudo, dependentes economicamente do pai da criança. Cedem à pressão do marido, do parceiro ou mesmo do ambiente, e abortam.
Posteriormente, quando culpam o marido pelo aborto, aparecem verdadeiras neuroses sexuais: sentimentos de ódio, frigidez e depressões caracterizam a convivência matrimonial-sexual de inúmeros casais que fizeram o aborto. Estatísticas recentes comprovam que, só nos Estados Unidos, 50% dos casais que fizeram aborto se separaram após o mesmo.
Muitas mulheres também acusam os médicos de não as ter informado o suficiente sobre as possíveis conseqüências psíquicas do aborto. Se soubessem, antes de abortar, dos riscos para sua saúde física e psíquica, não o teriam feito. No total, 45% das mulheres voltariam atrás se pudessem, pois consideraram sua anterior decisão de abortar prejudicial e equivocada.
Era freqüente, no questionário formulado pela Dra. Simon, ler respostas do tipo: “atribuo aos que me rodeavam uma grande parte de culpa na minha decisão de abortar” ou “o pai da criança não a queria”; uma das pacientes declarou entre lágrimas: “os médicos decidiram sem contar comigo; assustaram-me, dizendo que a criança poderia nascer malformada. Se eu estivesse outra vez na mesma situação, levaria adiante a gravidez, mesmo que meu filho fosse um débil mental. É carne da minha carne e sangue do meu sangue: eu o amaria”.
Confrontação
O terceiro e menor grupo de mulheres entrevistadas tenta recuperar seu equilíbrio psíquico, enfrentando conscientemente o fato do aborto, e conversam francamente com pessoas de sua confiança (abrem-se com uma amiga, a mãe, um psicólogo ou um médico), porém nunca com o médico que realizou o aborto. Em geral, tentam, primeiro, reconhecer sua culpa; não a reprimem nem a projetam sobre outros, e tampouco procuram justificar-se.
Depois, arrependem-se do que fizeram sentindo dor e tristeza pelo filho morto.
CONCLUSÕES
Os fatos comprovam que o aborto não é uma solução para dificuldades psicossociais. Pelo contrário, após o aborto persiste a crise e se acrescenta o risco de novas e mais graves conseqüências psíquicas. Uma mulher que, em geral, reage emocionalmente de forma instável quando submetida a situações estressantes, responderá à tensão psicológica do aborto com anomalias psíquicas ainda mais fortes. Por isso, as adolescentes são mais propensas a desenvolverem seqüelas psicológicas após um aborto.
A envergadura da ruína psíquica que sobrevêm após o aborto, é muito maior do que se pensava antes. Portanto, pergunta-se: aqueles que defendem ou indicam o aborto, têm consciência do que realmente estão causando à mulher? Em todo o mundo, como conseqüência do grande número de abortos que se praticam, está aparecendo um exército de mulheres com graves neuroses pós-aborto.
Os países desenvolvidos começam a repensar suas leis abortistas. Para citar um exemplo, transcrevo a seguir parte de um manifesto assinado por 35 personalidades americanas (o governador da Pensilvânia, Robert Casey; o médico da Universidade de Chicago, Prof. Leon R. Kass e inúmeros políticos e líderes religiosos das mais distintas confissões), publicado na revista FIRST THINGS (NEW YORK, NOVEMBER/92):
“…Após vinte anos de aborto sem restrições na sociedade americana, constata-se que a mortalidade infantil continua sendo uma das mais altas dos países industrializados; continua a haver cada vez mais casos de maus tratos às crianças (e mais graves); continuam os abortos clandestinos… O aborto livre não satisfez a nenhuma verdadeira necessidade das mulheres, nem lhes devolveu a dignidade. De fato, produziu exatamente o contrário: estimulou a irresponsabilidade dos homens e jovens, que encontram no aborto uma escusa fácil para fugir de suas obrigações; aumentou enormemente a exploração das mulheres pela indústria do aborto… A licença para abortar não proporcionou liberdade nem segurança às mulheres…”
Como médico, sinto-me no dever de alertar as mulheres que pensam em abortar (principalmente as adolescentes) e também a todos os colegas que atendem a estas pacientes, lembrando umas palavras da Dra. M. Simon: “O aborto não somente aniquila uma vida humana ainda não nascida, mas também arruína a psique da mulher.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1) Relatório Wynn: Margarett and Arthur Wynn. Some consequences of induced Abortion to Children Born Subsequently, Foundation of Education and Research in Child Bearing, London. 1975.
2) Klinger, A.: Demographic Consequences of the Legalization of Abortion in Eastern Europe. International Journal of Gynecology and Obstetrics, 8: 680. 1970.
3) Kotasek, A.: Artificial Termination of Pregnancy in Czechoslovakia. Joumal of Sex. Research, 7:240. 1971,
4) Meyerowitz, S.; Satloff, A.; Romano, J.: Induced Abortion for Psychiatric Reasons. American Joumal ofPsychiatry, 127: 1153. 1971. 5) Hendricks-Matthews, M.: Psychological Sequelae from Induced Abortion: a Follow-up Study of Women Who Seek Post Abortion Counseling. Doctoral Dissertation. Ann Arbor, Michigan, University Microfims International. 1983.
6) Roa – A.: EI Embrión, lo Humano y lo Humanizado. Revista Médica de Chile, 120: 323. 1992. “
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Possam os leitores divulgar amplamente estes dados de importância capital neste momento de nosso Brasil. Não somente a fé os recomenda, mas também o bom senso e a solidariedade humana. Nos debates sobre o aborto não se levam na devida consideração tão momentosas observações propostas por beneméritos pesquisadores.