Aids: AIDS e castidade

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 377/1993)

 

Em síntese: O Sr. Bispo de Viviers (França) chama a atenção para 0 fato de que muitos recomendam aos jovens o uso de preservativos, a fim de não contraírem a AIDS. Tal receita não somente é ineficaz do ponto de vista técnico, mas, além disto, menospreza a juventude, confirmando-a num tipo de comportamento passional, instintivo, distante de um nobre ideal; “a juventude mereceria melhor tratamento”. – O autocontrole sexual só pode ser obtido, se a pessoa substitui o impulso instintivo e cego por uma adesão mais consciente ao Primeiro Amor (Deus), adesão que se obtém mediante a prática da oração e a disciplina geral dos sentidos, dos lazeres dos ambientes de vida…

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A AIDS está sempre em foco. Quase todos os dias os jornais noticiam o número crescente de pessoas afetadas e a incessante luta da Medicina para debelá-la de algum modo. – A propósito escrevem-se as mais diversas explanações. Com prazer registramos um precioso artigo do Sr. Bispo de Viviers (França), Mons. Jean Bonfils, dirigido a jovens e também ao amplo circulo de pessoas interessadas no assunto. Traduzimo-lo a partir do­ original francês, que se acha no “Bulletin Diocésain de Viviers” n. 7, de 2/04/1993. É de crer que as ponderações do autor contribuam para ilustrar a única pista de saída do problema.

1. O TEXTO

Há alguns dias passei uma tarde numa instituição de ensino católico da diocese, em companhia de 25 jovens da última série debatendo o tema: “Que esperam da Igreja os jovens? Que espera dos jovens a Igreja?” Entre as perguntas que me foram colocadas, havia esta: “Que pensa o Sr. A respeito dos preservativos e, em particular, da distribuição dos preservativos nas escolas?”

Respondi:

“Tenho vergonha em nome dos jovens. Quem se julga que eles são? Em primeiro lugar, mentem-lhes, dando-lhes a crer que os preservativos são o melhor remédio contra a AIDS. A seguir, rebaixam-nos quase ao nível de um animal que não tem inteligência para conceber um ideal, nem afetividade para gozar dele, apreciá-lo, expandir-se nele e amá-lo, nem von­tade para realizá-lo. Os homens contentam-se com muni-los de uma prote­ção, e subentendem que, com isto, podem permitir a si mesmos o que eles querem. Chamo isto ‘uma pedagogia da subcintura, uma pedagogia que es­carnece do coração e do cérebro’. A pedagogia dos fracos, dos que são des­prezados, porque tidos como incapazes de coisa alguma, e digo a mim mes­mo que os jovens merecem, sem dúvida, um pouco mais de consideração”.

Um jovem reagiu então: “Mas o Sr…, o Sr. talvez não tenha relações; por isto é-lhe difícil saber o que elas significam:” Ao que respondi: “Se eu não tivesse a oração e um pouco de disciplina de vida, eu seria e faria co­mo todos fazem”.

As pessoas consagradas a Deus, os sacerdotes que se comprometeram a viver no celibato e na castidade perfeita, sabem que, se eles querem ser fiéis, têm que rezar quase duas horas por dia, contando-se o tempo que eles passam a celebrar a Eucaristia, a rezar em nome da Igreja, lendo o que se chama a ‘Liturgia das Horas’, a ruminar a Palavra de Deus na Bíblia, a orar à Virgem Maria recitando o rosário a examinar a sua consciência à noite antes de adormecer e, enfim, a adorar o Senhor Jesus presente na Eucaristia. Sem a oração, é impossível viver em castidade, pois o homem não pode viver sem amor, nem sozinho. Ele precisa de amizade. A oração é isso; é o encontro de um amigo com seu amigo. Penso aqui especialmen­te na oração pessoal, naquela que fazemos no segredo do nosso quarto ou do nosso escritório. “Quanto a ti, quando quiseres rezar, diz Jesus, entra no segredo do teu quarto, tranca a porta e eleva tua oração ao teu Pai, que lá está no segredo” (Mt 6,6).

Quando o Papa João Paulo II ousou utilizar a linguagem exigente da castidade em Uganda, há algumas semanas, os meios de comunicação dos ri­cos que nós somos na Europa, sempre prontos a dar lições à África, ime­diatamente levantaram uma tempestade de protestos. Um semanário, ha­bitualmente sério, chegou a consagrar toda uma página a ridicularizar o Papa numa caricatura. Todavia tal linguagem é a única autêntica lingua­gem. Nem é necessário que alguém seja cristão para que a profira. Basta crer numa certa dignidade da pessoa humana. Mas, se os cristãos não a propõem, quem a proporá? É a linguagem que chama o bem e o mal pelo seu genuíno nome. O preservativo é um mal. Que os homens o digam a si mes­mos, se têm um pouco de lucidez e de coragem. Em relação à AIDS, é evidentemente um mal menor. Mais vale utilizar um preservativo do que transmitir a AIDS. Mas mais vale praticar a castidade do que utilizar um preservativo. O Evangelho não nos foi anunciado por Jesus para que contentemos com o mal menor. Não era necessário que viesse do céu para apregoar uma pedagogia do mínimo vital.

Além da oração, há também a exigência de uma certa disciplina de vida. Se tu permites a ti mesmo olhar para qualquer imagem na televisão ou alhures, escutar qualquer conversa, fumar ou beber mais do que reconhece, freqüentar pessoas que fazem do vício uma virtude, ser-te-á impossível viver na castidade.

Dito isto, acrescentarei – mas isto vai além da pergunta formulada – que todos aqueles que sofrem de AIDS devem ser acolhidos com a cruz que carregam, sem exclusão de ninguém, sem censura, sem julgamento: “Eu estava doente, e vós me visitastes”, diz Jesus (Mt 25,36).

Tal é, segundo me parece, a única linguagem que seja lícito a um cristão sustentar.

A seguir, passamos a outra pergunta, sem que eu pudesse deixar de julgar que esse tipo de discurso era um pouco difícil de ser endossado pelos jovens que eu tinha diante de mim. Mas temos nós o direito de apresentar outro discurso?”.

II. COMENTANDO …

O texto é altamente valioso, porque usa da linguagem mais franca possível, a única válida no caso. Em síntese, eis o que lembra ao leitor:

1) Somente a castidade ou o uso racional e regrado da sexualidade dentro das normas que a natureza propõe, pode pôr termo ao da AIDS.

2) Incentivar os jovens (ou também os adultos) ao uso de preservativos é enganá-los; é

dar-lhes a crer que poderão livrar-se de um mal sem eliminar a respectiva causa. É estimulá-los à covardia ou à falta de disciplina – procedimento este que é nocivo para toda a vida de alguém. Vem a ser pois, uma falsa pedagogia, que desconsidera e deprecia os jovens, reduzindo-os à categoria de animais dotados de instintos cegos e incontroláveis. Assim murcha todo ideal que um jovem possa conceber.

3) Mas como viver a castidade? O homem precisa de parceiragem e amor. – Não há dúvida. Notemos, porém, que há vários graus de amor e amizade. Quem se dispõe a abandonar a parceiragem instintiva do sexo livre, encontrará certamente no Primeiro Amor e na Fonte de todo bem muito mais respostas do que em qualquer criatura; a prática da oração (que a muitos pode parecer árida e insignificante) preenche o orante com muito mais deleite e firmeza do que as desregradas concessões feitas aos sentidos. Quem reza, descobre Deus e se fixa mais facilmente na fidelidade à dignidade humana e à vontade do Criador. Eis o segredo de quem deseja elevar-se acima dos impulsos desordenados do seu coração.

4) Juntamente com a oração, a disciplina de vida – a guarda dos olhos, a escolha do tipo de lazer, a temperança na fruição do prazer – é condição indispensável para sadio desdobramento da personalidade. Se o homem não sabe dizer Não a si mesmo quando se sente impelido à desor­dem, se se deixa levar pela fácil concessão ao hedonismo, será sempre escravo, e não livre.

Oxalá esta linguagem franca, que afinal pode ser entendida mesmo sem a luz da fé, consiga levar a séria reflexão sobre o problema da AIDS!

A propósito da ineficiência dos preservativos, ver pág. 445 deste fascículo.

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