Amor ao próximo – III

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “amor ao próximo – III”.

Vamos continuar a nossa reflexão sobre o amor ao próximo. Nas palavras de hoje o Padre Francisco ilustra uma cena do Evangelho onde Jesus Cristo sabe olhar os seus filhos, no caso concreto uma mulher pecadora, com todo o amor.

Vejamos:

Continuação da semana passada…

Há, concretamente, uma passagem do Evangelho em que essa atitude se revela com grande transparência. São Lucas pinta a cena com os traços de um drama em que intervêm dois personagens, Cristo e um fariseu chamado Simão. Ambos contemplam o mesmo fato: a irrupção inesperada de uma mulher pecadora na casa do fariseu, onde Jesus estava à mesa juntamente com outros convidados. “E eis que uma mulher, que era pecadora na cidade, quando soube que Ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro cheio de bálsamo. Estando a seus pés, detrás dEle, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas, enxugava-os com os cabelos da sua cabeça, beijava-os e ungia-os com bálsamo” (Lc 7, 37-38). Aquela pobre mulher, tocada na alma pela divina bondade de Cristo, não sabe o que fazer para expressar a sua dor, o seu arrependimento.

Dois pares de olhos fixam-se especialmente nela: os do fariseu Simão e os de Cristo. Ambos observam a mesma cena, a mesma pessoa, os mesmos gestos. Mas veem coisas inteiramente diferentes.


O fariseu fixa na pecadora o olhar do desprezo. “Vendo isto, o fariseu que o tinha convidado disse consigo: se este fosse profeta, com certeza saberia quem e qual é a mulher que o toca, e que é pecadora.” Simão só vê o “lado mau”.


Cristo, pelo contrário, dirige à pecadora o olhar do amor benigno. “Mansamente, volta-se para o fariseu e diz-lhe: ‘Simão, tenho uma coisa a dizer-te’…”. E o que Cristo vai dizer-lhe, com um laivo de tristeza, é que Simão ainda não aprendeu a enxergar com bondade, ainda não aprendeu a apreciar o valor dos outros com uma “atenção amorosa”.


“Um credor” – começa Cristo – “tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários, o outro cinquenta. Não tendo eles com que pagar, o credor perdoou a ambos a dívida. Qual deles, pois, mais o amará?” O que equivale a dizer: “Simão, onde tu vês um atrevimento despudorado eu vejo amor. Esta pobre criatura chora a pena do arrependimento e a alegria do perdão”.


E prossegue: “Vês esta mulher?…” – sim, é necessário, é importante conseguir “ver” os outros. “Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; e esta com as suas lágrimas banhou os meus pés e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste o beijo da paz, mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar os meus pés. Não ungiste a minha cabeça com bálsamo, mas esta ungiu com bálsamo os meus pés. Pelo que te digo: são-lhe perdoados os seus muitos pecados porque muito amou” (cfr. Lc 7, 40-47).


Como se percebe bem aqui o modo de olhar de Jesus! Mais do que ninguém, Cristo era capaz de penetrar no abismo de mal que o pecado cavara naquela alma. E, mais do que ninguém, por ser Ele Deus – Deus feito homem –, podia sentir-se atingido pelo pecado, pois este é, acima de tudo, ofensa a Deus.


Nada disso, porém, passa para o primeiro plano no olhar de Cristo. Na escuridão do pecado que envolve a alma daquela mulher, não detém a vista no que o ofende; só vê brilhar – como a luz que cintila numa noite escura – a bondade que começa a desabrochar naquela alma dolorida. Apenas vê o “lado bom”, a raiz de bondade que está a despertar e que Ele pode e quer ajudar a crescer.

O fariseu, sem dúvida, teria expulsado asperamente a pecadora, e com isso certamente a teria ferido, teria abafado a sua esperança, tê-la-ia acorrentado, talvez para sempre, ao seu mal. Cristo estende-lhe a mão e a salva: “A tua fé te salvou; vai em paz” (Lc 7, 50).

Na atitude de Cristo encontramos matéria abundante para meditar (Padre Francisco Faus, www.padrefaus.org).


Continua na próxima semana…

Uma santa semana a todos!

Padre Paulo 

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