Animais: a inteligência dos animais

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 387/1994)


Em síntese: As publicações científicas falam freqüentemente de “inteligência dos animais” – o que é ambíguo. Inteligência é a faculdade de conceber noções abstratas, universais, formular definições, falar (utili­zando diversos vocábulos para significar o mesmo conceito), progredir em cultura e civilização, distinguindo o essencial e o acidental… Ora os ani­mais infra-humanos não realizam tais coisas; são dotados, sim, de estimati­va, que os leva a avaliar o que convém e o que não convém entre os obje­tos que os cercam; são também dotados de instinto, que lhes permite efe­tuar seus abrigos (teias, galerias, ninhos…), captar a presa com precisão, cuidar dos filhotes com grande dedicação, mas são cegos no exercício de suas funções; não são capazes de corrigir algum defeito ocorrente ou de melhorar e progredir.

A mera observação empírica, que não procura causas latentes dos fe­nômenos, pode igualar entre si fenômenos diversos, ao passo que a refle­xão filosófica ultrapassa a aparência visível dos fatos e descobre as diferen­ças reais latentes, que caracterizam os fatos e os diferenciam entre si.

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A revista Science et Vie, n. 919, de abril 1994, pp. 65-71, disserta so­bre a “inteligência dos animais”, apresentando vários casos de comporta­mento dos animais que parecem supor inteligência. – O assunto é de gran­de importância, pois a inteligência ou o intelecto é uma faculdade da alma espiritual. Por conseguinte, se os animais têm inteligência, têm alma espiri­tual e imortal. Continuam a viver no além, após a morte física. É preciso, pois, esclarecer, com a possível nitidez, o que é inteligência e.como julgar a conduta perspicaz e hábil dos animais infra-humanos.

Observamos que em PR 232/1979, pp. 135-150 já foi estudada a “linguagem dos animais”; em PR 347/1991, pp. 155-160, o instinto dos mesmos.

1. QUE É INTELIGENCIA?

1. Inteligência ou intelecto é a faculdade (a capacidade) de intus-lege­re, ler dentro, isto é, de perceber o essencial de cada ser, distinguindo-o do que lhe é acidental. Assim, por exemplo, ao ver um homem, uma mulher, uma pessoa magra, uma gorda, um ancião, uma criança…, o olhar registra as diferenças que caracterizam esses objetos (diferenças de tamanho, de cor da pele, do formato dos olhos, do nariz…), mas a inteligência é capaz de perceber a unidade íntima ou unidade da essência, que está latente nes­ses seres: são todos viventes… e viventes racionais (têm a capacidade de ra­ciocinar). Ao provar água do rio, água do mar, água da fonte mineral, água gasosa, água sulfurosa, água limpa, água suja, uma pedra de gelo…, meu pa­ladar observará as diferenças de gosto, meus olhos observarão as diferenças de cor, o tato sentirá também a diferença entre o líquido e o sólido, mas a inteligência me dirá que todos esses objetos têm a mesma essência ou a mesma realidade íntima; são H2O.­

2. A inteligência, que abstrai das notas concretas para perceber o que está intus (dentro) ou o essencial, é, por isto, capaz de formular definições ou conceitos abstratos, universais; assim o conceito de flor compreende ro­sa, cravo, violeta, margarida…; não existe flor abstrata senão em minha mente; mas o conceito de flor corresponde a diversas realidades concretas, das quais a inteligência o abstrai, concebendo o essencial de toda flor e formulando uma definição que compreende qualquer tipo de flor.

3. Por isto também a inteligência é capaz de levar o homem a progre­dir em seus artefatos e em sua civilização; o homem que se abrigava nas cavernas, viu que o essencial da caverna não era a rocha nem a escuridão, nem o frio; era, sim, o abrigo e a defesa que a caverna lhe proporcionava; por isto o homem pôs-se a procurar algo que lhe propiciasse abrigo e defe­sa em melhores condições, passando para casebres, choupanas, casas de ti­jolos, até chegar aos arranha-céus modernos. É a percepção do essencial, em oposição ao acidental, que permite ao homem progredir na sua civi­lização.

4. Mais: a linguagem é outra expressão da inteligência. Os conceitos que estão no intelecto, podem ser exteriorizados mediante sons convencio­nais, dispostos em ordem lógica (sujeito, verbo, objeto direto, objeto indi­reto…); o homem que fala, pode não somente escolher os sons que queira, mas pode também trocar esses sons sem alterar os conceitos, ou seja, pode dizer a mesma coisa em outras línguas mediante traduções; estas, aos ouvi­dos, soam muito diversamente, mas a inteligência as aceita como exteriori­zações fiéis dos mesmos conceitos da inteligência do brasileiro, do inglês, do japonês, do africano…

Visto que a inteligência é capaz de abstrair do concreto material, diz-­se que ela não é material; é uma faculdade espiritual, própria da alma hu­mana espiritual. Por conseguinte, o vivente que consiga conceber noções abstratas, rever suas atividades, a fim de as aperfeiçoar,… consiga falarem linguagem concatenada, traduzindo seus vocábulos para diversas línguas, é indivíduo intelectivo; tem alma intelectiva, que, por seu modo de agir, re­vela não estar limitada ao material, concreto, mas ser de ordem espiritual.

Vejamos agora algumas das expressões dos animais infra-humanos que, segundo a revista Science et Vie, são indícios de inteligência.

2. O COMPORTAMENTO DOS ANIMAIS

A primatologia tem progredido sempre mais, especialmente a partir da década de 1970, esmerando-se em observar meticulosamente a conduta dos animais (primatas) infra-humanos. Em conseqüência, os pesquisadores em nossos dias apontam casos atentamente acompanhados, que lhes pare­cem sintomáticos da “inteligência” animal. Entre outros, sejam menciona­dos os seguintes:

Um bando de macacos babuínos hamadryas é surpreendido por uma chuva torrencial, que durante a noite cai sobre o seu lugar de pouso. Os macacos, molhados, tiritam de frio. Têm que mudar de lugar. Dirigem-se então para um local onde tinham estado no dia anterior. Um deles, porém, mais velho, toma a direção oposta, após ter-se coçado muito (sinal de con­flito interior). Os outros machos (que geralmente lideram os deslocamen­tos) sentam-se e também se coçam; finalmente seguem o mais velho. – A decisão foi sábia, porque, na direção que o grupo ia seguir, havia um córre­go de água transbordante que teria dificultado a passagem do bando. Julga o articulista de Science et Vie: “Nessas tomadas de decisão de tais macacos, há todas as aparências de um debate democrático” (p. 66).

Eis outro exemplo: um chimpanzé verifica que certos ramos de uma árvore que lhe fornece alimento, lhe são inacessíveis. Que faz? – Senta-se e examina a árvore por muito tempo. Depois vai buscar um tronco e ergue-­o em direção oblíqua contra a árvore do lado em que se encontra o ali­mento. Feito isto, precipita-se pela rampa assim improvisada, e atinge fi­nalmente os ramos que ele deseja! Cf. art. cit. p. 67.

Os animais seriam capazes de elaborar uma estratégia psicológica. Tal seria o caso do pássaro-fêmea, que, perseguido por um predador, finge estar ferido para desviar a atenção do mesmo e assim salvar a sua ninhada (art. cit. p. 68). Conta-se também a história de um chimpanzé que esperou a noite, quando seus companheiros estavam adormecidos, para ir desenter­rar sua presa captada durante o dia, a fim de a devorar sem ter que a repar­tir; ver art. cit. p. 68.

A arquitetura dos animais também chama a atenção: a teia de uma aranha, as galerias das formigas, o favo de mel das abelhas, as digas dos cas­tores… O labro (peixe) constrói um poço para morar, servindo-se de pe­dras e conchas; a larva da cigarra torna-se impermeável à água e aos fatores que a ameaçam, soprando ar dentro de um líquido viscoso que ela produz, e dentro do qual ela se envolve.

3. QUE DIZER?

Os fenômenos apontados não são necessariamente indícios de inteli­gência dos animais. Explicam-se pelo uso das faculdades sensitivas desses viventes; tais faculdades neles são agudas e perspicazes por generosidade da natureza ou do Criador, que os quis dotar dos recursos aptos a sobrevi­ver em meio às ameaças do ambiente. Os animais infra-humanos, portan­to, ficam no plano da vida sensitiva, não chegando à intelectiva, pois não concebem noções abstratas, universais, nem linguagem. Para exprimir tais conceitos, não formulam princípios e leis gerais, não progridem na sua cul­tura ou “civilização”.

Aprofundemos estas afirmações.

3.1. Memória e aprendizagem

Os animais gozam de conhecimento sensitivo e de afetos ou emoções: vêem, ouvem, gemem, choram, alegram-se…

A essas faculdades acrescenta-se a capacidade de reter ou a memória. Com efeito; os animais reconhecem seu dono, por exemplo; isto quer di­zer que guardam as imagens percebidas no passado e identificam com elas imagens que eles vêem no presente. É o que acontece com o cão, com o elefante…: reconhecem pessoas que os acompanham de perto.

Ora quem tem a capacidade de reter ou guardar na memória, tem também a capacidade de aprender, pois o reter na memória não é senão uma forma de aprendizado. Os animais aprendem, embora em proporções mais reduzidas que o homem. Assim o Prof. Swift, da Washington Univer­sity, acompanhou um animal e um homem dados à aprendizagem e notou grande semelhança entre um e outro. Concretamente: Swift observou os erros e os progressos que um cão esfomeado faz para sair de um labirinto e um datilógrafo que aprende a escrever à máquina; esta observação lhe permitiu traçar duas curvas que de perto correspondiam uma à outra.

De resto, há cinco modos de aprender: 1) por imitação instintiva; 2) por associação casual; 3) por domesticação; 4) por raciocínio e 5) por instrução intelectual. – Ora os animais infra-humanos podem aprender se­gundo os três primeiros modos. Com efeito,

por imitação instintiva. O animal aprende quando espontânea ou instintivamente é levado a reproduzir as ações dos outros, como fazem os papagaios e os macacos; daí os termos “papagaiada” e “macaquear”;

por associação casual. O animal aprende quando encontra imprevis­tamente algo de útil ou agradável, e reproduz esse algo associando a ima­gem de tal coisa e a imagem da ação que a causou. É assim, por exemplo, que os cães e outros animais aprendem a fazer girar o batente das portas e a manipular os botões automáticos de suas gaiolas… Não se trata aí de raciocínio, mas, sim, do efeito de um fato imprevisto e de uma associação de imagens. Mais precisamente: o animal encerrado numa gaiola se enfure­ce por estar preso, e se movimenta desordenadamente até o momento em que empurra por acaso o batente da porta ou toca um botão automá­tico. A imaginação do animal é então impressionada pelo êxito obtido e associa automaticamente as duas imagens: a de empurrar o batente ou acionar o botão e a de abrir-se a porta e obter um efeito imprevisto. A capacidade de conservar na memória tais imagens faz que o animal possa repetir a operação todas as vezes que ele queira obter o efeito descoberto por acaso. Como se vê, não há raciocínio, mas fatos casuais e memória as­sociativa; é assim que os animais domésticos conseguem aprender muitas façanhas que surpreendem os observadores;

por domesticação. O animal aprende quando a associação de idéias é provocada pelo homem segundo um planejamento de aprendizado espe­cial. Muitas vezes o domesticador faz que o animal associe em sua memó­ria um determinado comportamento e um prêmio correspondente. Assim procedendo, os operadores podem ensinar aos animais (cães, cavalos, ma­cacos…) ações complexas e difíceis, que são exibidas nos circos.

Quanto ao aprendizado por raciocínio ou por instrução, é exclusivo do homem, porque supõe a inteligência, que o animal não possui.

3.2. A Estimativa e o Instinto

Em todo animal infra-humano (e também no homem), há uma faculdade do plano sensitivo que se chama “estimativa” ou “senso apreciativo

Pela estimativa ou pelo senso apreciativo o animal percebe as coisas concretas que o cercam na medida em que lhe são úteis ou nocivas, ou se­ja, do ponto de vista prático. Percebendo-as, o animal toma as atitudes correspondentes de procura ou de fuga, de defesa ou de ataque…

A essa estimativa está associado o instinto ou know-how natural (o instinto que sabe como fazer). O instinto é o conjunto das tendências na­turais que derivam das necessidades fundamentais ou primárias do ser vivo. Em virtude dessas necessidades, o animal é levado a exercer todos os atos condizentes com a sua conservação individual ou da espécie. Essas tendên­cias naturais se identificam com a natureza do ser vivo, sensível, e se defi­nem por ela.

O know-how (saber como…) do animal é maravilhoso, surpreendendo o observador por sua precisão, mas não supõe raciocínio ou inteligência, pois é um saber mecânico (certeiro, mas cego), a tal ponto que o animal é incapaz de corrigir algum erro ou desviar algum contratempo que ocorra no exercício das suas funções instintivas. O instinto é limitado a certas fun­ções: quando não as pode exercer, porque, de algum modo, mutilado, o animal não procura um procedimento substitutivo ou outra maneira de atingir sua meta. Assim, por exemplo, a abelha deposita o pólen em seu favo…; todavia, se um operador faz um buraco no fundo do vaso provo­cando a evasão do pólen, a abelha verifica o ocorrido, entra dentro do favo para o inspecionar (vêem-se as suas antenas passando pelo buraco do fun­do), mas não remedia nem corrige o desastre; continua o seu trabalho.

A finalidade em mira é o bem do indivíduo, quando este caça a sua presa, ou o da espécie quando se trata de alimentar os filhotes.

Leve-se em conta o proceder de certos insetos himenópteros carnívo­ros: procuram assegurar a subsistência da prole, antes que esta nasça: em vista disto, assaltam um grilo, uma borboleta ou uma aranha, que o hime­nóptero assaltante leva para seu ninho a fim de pôr seus ovos no ventre do mesmo. Surge, porém, um problema: é preciso que a presa não seja capta­da morta, pois, uma vez morta, entraria em decomposição e não serviria mais de nutrimento aos filhotes; doutro lado, é preciso que não seja intro­duzida simplesmente viva no ninho, pois um golpe de suas patas, debaten­do-se, poderia matar o embrião no ovo ou a larva recém-nascida.

O problema, porém, resolve-se de modo estupendo. Esses himenópteros­ possuem um ferrão na extremidade do abdômen, com o qual desfe­rem um ou mais golpes nos centros nervosos motores da vítima, imobili­zando-a por completo; a morte só após longo intervalo decorre desse feri­mento. Ora, para atingir tais centros nervosos, requer-se minucioso conhe­cimento de anatomia e precisão extraordinária no golpear, pois as vítimas são “encouraçadas”, de modo que o ferrão do agressor só pode penetrar através de pontos débeis correspondentes às articulações dos segmentos do tórax e do abdômen. O mesmo agressor deve outrossim saber (ou agir como se soubesse) que, assim ferindo, ele imobiliza a vítima sem a matar, Isto tudo quer dizer:… deve ter a competência que somente alguns estudiosos especialistas possuem. – Esta qualidade se toma particularmente notória se se considera que, conforme experiências efetuadas por Fabre, a atividade dos referidos himenópteros é de todo inconsciente.

Esse “saber-fazer” também é inato, não adquirido; desencadeia-se sem aprendizagem e sem experiência prévia, com toda a perfeição[1]. A pró­pria natureza torna impossível a aprendizagem, como no caso de insetos (borboletas, besouros…) que vivem apenas uma estação. O saber instintivo é, ao mesmo tempo, muito competente, mas também muito limitado, co­mo dito atrás; o animal não sabe por que procede deste ou daquele modo; por isto também não sabe corrigir as falhas que ocorram na sua atividade[2]. Em conseqüência, não se pode atribuir inteligência ao animal. Atribui-se, antes, ao animal uma estrutura psicológica adequada, que varia de espécie para espécie de acordo com a finalidade a atingir.

Notamos ainda que o instinto dos irracionais é uniforme e estável. Is­to quer dizer que é realmente admirável e certeiro, mas incapaz de progre­dir; já Aristóteles (+ 322 a.C.) descrevia o procedimento das abelhas tal co­mo ele hoje ocorre[3]. Cada animal age de modo excelente dentro da sua modalidade, mas, fora desta, é ignorante e inepto. É importante notar isto, quando se trata de “ensinar” aos animais; os respectivos instintos podem ser aprimorados, principalmente nos animais superiores, mas o domestica­dor tem que se ater estritamente à lógica e ao sentido do instinto; sempre que o aperfeiçoamento sai desta área (ainda que isto nos pareça muito sim­ples), o animal se desinteressa, porque não alcança o que se lhe quer trans­mitir.

Procuremos desenvolver estas breves noções de instinto, analisando mais alguns exemplos fornecidos pela Psicologia Experimental, a fim de distinguir nitidamente instinto e inteligência.

3.3. Dependência e independência de circunstâncias particulares

No animal irracional, a atividade dos sentidos influi de maneira pode­rosa sobre o respectivo ritmo de vida; o animal dirige a sua conduta em es­treita dependência das informações que os órgãos dos sentidos, “aqui e agora”, lhe comunicam: os irracionais cujos sentidos tenham sido mutila­dos, experimentam notável diminuição de sua vitalidade, chegando por ve­zes a morrer sem demora. O mesmo não se dá com o homem; este parece ter, além dos sentidos e dos instintos que a estes estão associados, um prin­cípio de atividade que transcende sentidos e instintos. Em outros termos: o homem caracteriza os objetos de seu conhecimento, de modo a reconhe­cê-los em qualquer situação, independentemente do quadro em que os conheceu pela primeira vez. É o que as seguintes observações ilustram:

Uma galinha que esteja a chocar cuidadosamente os ovos, caso venha a quebrar um deles, come tranqüilamente o seu conteúdo como se não fo­ra o objeto que ela anteriormente tanto acalentava.

O naturalista Volkelt refere que uma espécie de aranha, a “Zilla”, além de construir a sua teia, fabrica também um ninho no qual ela se ocul­ta; logo que vê um inseto capturado pela teia, precipita-se sobre ele. Caso, porém, o mesmo inseto lhe seja oferecido dentro do próprio ninho, tal aranha foge, como se não o reconhecesse.

Bierens de Hann narra que os pólipos se mostram geralmente muito atentos e rápidos na caça de pequenos caranguejos; desde, porém, que tais animaizinhos lhes ocorram atados a um fio, fogem assustados.

Desses fatos parece poder-se concluir que, para a galinha, uma coisa é o ovo inteiro visto no conjunto dos demais ovos a ser chocados; outra coi­sa é o ovo quebrado. Para a aranha, uma coisa é a mosca na teia; outra coi­sa é a mosca no ninho. Para o pólipo, uma coisa é o caranguejo que cami­nha livremente; outra coisa, o caranguejo que aparece na água pendurado a um fio. Dir-se-á que o animal irracional contempla cada quadro isolada­mente, não chegando a relacionar umas com as outras as situações em quese acha.

No ser humano, ao contrário, embora o uso dos sentidos seja de gran­de valor, a ausência de um ou mais destes não impede intensa atividade psíquica. Foi o que se deu, por exemplo, com Helena Keller, a qual, cega surda e muda, alcançou elevado grau de cultura, chegando a redigir obras de filosofia. Outras pessoas, mutiladas em sua vida sensitiva, puderam, não obstante, aprimorar sua formação intelectual. – Note-se outrossim: o ho­mem pode dizer “o ovo, a mosca, o caranguejo”, sem se referir a determinado ovo, a determinada mosca ou a determinado caranguejo… A verifica­ção destes fatos permite concluir, como já o fizemos, que a atividade psí­quica do homem emerge acima dos sentidos e dos objetos sensíveis que o cercam.

3.4. Domesticação do animal e educação da criança

Há certos animais domesticados que parecem tão espertos ou “inteli­gentes” quanto um ser humano. Tal é o caso, por exemplo, dos macaqui­nhos de circo, que executam exercícios em trapézio, montam a cavalo, an­dam de bicicleta, tocam acordeão, fumam cigarro, comem à mesa com fi­dalguia, etc. Dir-se-ia que entre esses animais e um homem educado há mais afinidade do que entre um índio das selvas e um cidadão do séc. XX.

Observando de mais perto, porém, o estudioso verifica que, aquilo que o macaco executa de estupendo, ele o faz unicamente para imitar o comportamento do homem, sem perceber o significado intrínseco de seus atos (não foi em vão que os antigos deram ao macaco o nome de “simius”, isto é, simulador ou imitador). Em outros termos: a conduta do macaco se deve a mera associação de imagens e impressões; ele aprende cegamente (isto é, sem saber por quê) a realizar tal gesto ou a efetuar tais e tais ações desde que seja impressionado por tal estímulo.[4] Com efeito, o animal que aprendeu alguma “arte”, nunca evoluiu nem se aperfeiçoa na execução da mesma; jamais chega ao limite máximo de suas possibilidades; ele apenas tolera a arte que lhe ensinaram, sem perceber a finalidade da mesma. Des­de que se veja emancipado do seu domesticador, liberta-se dos costumes que aprendeu, ou emprega despropositadamente os instrumentos que ele antes parecia manejar com sabedoria.

Assim um macaco pode aprender a comer com a colher; desde, porém, que o homem o deixe entregue a si mesmo, tal animal usará da colher para brincar ou para qualquer outra atividade, não, porém, para comer. O macaco que toca acordeão, assim que o pode, serve-se deste instrumento como se fora um trampolim, um projétil ou um bastão para atingir deter­minada fruta. O símio que veste trajes humanos, não consegue deixar de comer seus próprios excrementos, apesar dos muitos castigos que lhe são infligidos.

Estes dados mais uma vez mostram que o irracional não possui a ca­pacidade de apreender proporções ou de perceber as relações vigentes en­tre meio e fim ou entre causa e efeito.

A criança, ao contrário, após aprender a manejar determinado instru­mento, tende a perscrutar as leis do seu funcionamento, chegando a des­montar tal objeto, a fim de se tornar consciente das causas dos respectivos efeitos. Se possível, a criatura humana, tendo percebido as relações que existem entre as diversas partes do instrumento, ainda procura aperfeiçoar a este, tomando-o mais adaptado à sua finalidade.

Em outros termos dir-se-á: o irracional vive exclusivamente no pre­sente; utiliza, sim, conhecimentos adquiridos no passado, mas apenas na medida em que beneficiam a situação presente; não possui a capacidade de se emancipar das circunstâncias atuais para conceber de algum modo tam­bém o futuro; é isto que comunica à conduta do animal a índole prática e realista que por vezes suscita a nossa admiração. – O homem, ao invés, tende a abarcar os acontecimentos passados e presentes numa só visão de conjunto, na qual o futuro já é previsto e contemplado; ao desenrolar su­cessivo dos acontecimentos o homem costuma dar uma interpretação, pro­curando os fios condutores ou as linhas-mestras da história; e é por essa interpretação ou por essa “filosofia” que a pessoa humana costuma, antes do mais, guiar a sua conduta; a situação concreta de determinado momen­to não toma então senão valor secundário.

3.5. Instrumentos de trabalho

“Instrumento de trabalho” vem a ser um objeto preparado para a exe­cução fiel de certa tarefa; deve adequadamente corresponder às exigências dessa tarefa; todo instrumento traz em si a marca do emprego que lhe compete. Assim o balde é fabricado para carregar água; toda a sua confi­guração exprime tal finalidade; o balde pode também ser utilizado como instrumento de defesa ou de ataque; contudo este emprego é evidentemen­te alheio à idéia que inspirou a fabricação do balde.

Ora observa-se que o macaco se pode servir de um bastão para atingir determinado objeto, chegando por vezes a modificar o pau para o utilizar. Tal uso, porém, não pode ser considerado “uso de instrumento”, pois de modo nenhum depende do propósito de “proporcionar tal meio a tal fim”; o animal visa apenas a alargar, no momento presente, o raio de ação de seu organismo, prolongando com um cajado a extensão de seu braço; não tenciona produzir um instrumento para sempre adaptado à consecução de tal ou tal objetivo. Em conseqüência, o macaco, depois de haver usado uma vez o bastão para resolver o “caso”, abandona-o, ficando na emergência de ter que reconstituir o utensílio quando se vir diante de problema semelhante. O homem, ao invés, além de talhar previamente o seu instrumento, adaptando-o a uma finalidade bem concebida, conserva­-o após o uso, tendendo a aperfeiçoá-lo; o mesmo instrumento pode passar para o serviço de outras pessoas, as. quais por sua vez introduzem novos melhoramentos no utensílio; assim um instrumento chega a ter existência independente da existência de quem o usa.

3.6. Macaco e criança

O fato de que a conduta da criancinha não se diferencia da do maca­co nos seus primeiros meses, não quer dizer que o bebê não seja verdadei­ro ser humano desde os seus primeiros dias, mesmo desde a concepção no seio materno. Apenas as suas faculdades intelectivas permanecem laten­tes em grau maior ou menor, enquanto não estão plenamente desenvolvi­dos o cérebro e, em geral, os sentidos, que fornecem à inteligência os ele­mentos sobre os quais ela raciocina. A medida que o desenvolvimento se dá, a criança manifesta a presença e as qualidades do seu intelecto.

Os estudiosos têm realizado experiências muito significativas neste se­tor. Assim, por exemplo, o casal Kellog permitiu que seu filhinho Donald, dos dez aos dezenove meses de idade, fosse educado ao lado de uma cria­zinha de macaco chamada “Gua”, a qual, no início da experiência, conta­va sete meses de idade. Os observadores submeteram o filhote de macaco e a criança exatamente às mesmas provas (necessidade de fazer um desvio ou um circuito para alcançar o seu alimento, subir sobre um tamborete, manejar um objeto, obedecer a uma ordem, etc.). Após minucioso con­fronto, verificaram que durante alguns meses Donald e Gua apresentavam semelhantes reações aos estímulos extrínsecos; respondiam aos mesmos testes com sucesso variável, mas geralmente obtendo empate final; apenas o macaco se mostrava mais hábil e ligeiro nos seus movimentos físicos, enquanto a criança manifestava mais capacidade de prestar atenção. Após determinado prazo, porém, observaram que a criança, por seus progressos, se distanciava do concorrente, de sorte a tornar vã qualquer ulterior com­paração. A criança começou a falar propriamente; transpôs o limiar da lin­guagem, que a caracterizaria como ser humano.

Experiência semelhante à do casal Kellog foi empreendida pela cien­tista russa Sra. Kohts, que confrontou o comportamento de seu filho com o de seu chimpanzé a partir de um ano e meio até os quatro anos de idade. Observou que o chimpanzé aprendia, sim, certas façanhas, mas de modo mecânico e rotineiro, sem manifestar tendências a se aperfeiçoar; ao con­trário, o menino demonstrava a propensão a realizar trabalho cada vez mais produtivo, ou seja, a superar continuamente os dados que aprendia. Isto é, mais uma vez, indício de que a criança estava consciente do signifi­cado ou das proporções das artes que assimilava, ao passo que o macaco não percebia tais proporções.

Assim a faculdade de falar constitui o sinal de demarcação colocado entre o reino dos irracionais e o do homem; essa demarcação é intrans­ponível, mesmo ao mais perfeito dos viventes meramente sensitivos.

3.7. Ainda a percepção do universal: a inteligência

Outras duas experiências vêm ao caso para mostrar a diferença entre inteligência e instinto. Aquela apreende o invisível; este, não.

O prof. G. Révesz apresentou a macacos, crianças e homens oito cai­xas fechadas, das quais uma continha chocolate. Na primeira experiência colocou o chocolate na primeira caixa; na segunda experiência, deslocou-o para a segunda caixa; na terceira experiência… para a terceira caixa; assim, de cada vez, na caixa sucessiva. Ora homens e crianças dos seis, sete anos em diante descobriram sem demora a lei que regia essas experiências: im­portava saber que o alimento se encontrava na caixa n + 1, sendo n o nú­mero da experiência anterior. Ao contrário, os macacos, submetidos ao mesmo teste, não descobriram a lei abstrata geral
(n + 1), mas de cada vez se precipitaram sobre a caixa que na experiência anterior fora “premiada”. Isto quer dizer que o animal infra-humano é incapaz de superar o concre­to, material, para perceber o abstrato, universal. Donde se conclui que lhe falta a capacidade de conhecer espiritual, imaterial, ou a inteligência.

A análoga conclusão chegou o Prof. Hamilton: fez uma mesma expe­riência com dez indivíduos humanos (um adulto normal, um adulto defi­ciente, seis crianças normais de dez a cinco anos, uma criança de 26 me­ses, uma criança anormal de onze anos) e 27 animais (cinco macacos, de­zesseis cães, cinco gatos e um cavalo). A experiência consistia em introdu­zir os indivíduos num recinto fechado com quatro portas. Uma destas po­dia abrir-se com um empurrão, ao passo que as outras estavam hermetica­mente fechadas por fora. A porta que podia ser aberta com um empurrão variava de experiência para experiência, mas não de modo que pudesse ser identificado pela memória, pois as mudanças eram efetuadas segundo uma lei simples que seria preciso descobrir. – Ora também neste caso somente os indivíduos humanos sadios de mais de dois anos chegaram a perceber a lei secreta das mudanças. Aos animais o problema ficou sendo insolúvel. Isto quer dizer, mais uma vez, que os animais infra-humanos são incapazes de perceber princípios abstratos; não têm inteligência.

4. PONDERAÇOES FINAIS

Ainda duas reflexões importantes nos ocorrem.

4.1. Fatos básicos

Quando fatos concretos são apresentados à discussão dos filósofos, psicólogos, antropólogos…, importa, antes do mais, ter relatos objetivos e fidedignos de tais ocorrências. Ora quem refere as suas experiências, não raro tende a interpretá-las simultaneamente ou, com outras palavras, refe­re-as a partir das premissas filosóficas que lhe são próprias; assim o leitor recebe não somente a notícia fria e objetiva das ocorrências, mas é, ao mesmo tempo, sugestionado a aceitar determinada interpretação de tais fatos ou dados empíricos.

Com isto não queremos necessariamente dizer que os observadores de Science et Vie tenham retocado a realidade dos fatos ou hajam apresenta­do relatos pouco fidedignos. Apenas chamamos a atenção para uma norma fundamental de metodologia científica: antes de qualquer discussão filosó­fica, é necessário estabelecer com exatidão o teor, as dimensões ou a reali­dade dos fatos empíricos a ser discutidos.

É muito significativo o que tem ocorrido em outros campos de pes­quisa: assim, por exemplo, no tocante à reencarnação, as revistas noticia­ram em 1955 e 1956 ter sido comprovada pelas experiências de Morey Bernstein referentes à Sra. Virginia Tighe (= Bridey Murphy, em suposta encarnação anterior). Quem lesse os noticiários dos periódicos naquela época, daria a tese como firmada e confirmada pelos estudos de Bernstein. Ora pouco depois entraram em foco elementos novos apresentados pelo pastor protestante Wally White. Este estudioso conhecia Virginia Tighe desde a juventude; quando leu o relato das experiências a que fora subme­tida, resolveu entrar em cena e comunicar dados novos, desconhecidos, que dispensavam a interpretação reencarnacionista e elucidavam os fatos de maneira simples e satisfatória.[5] Semelhantes casos têm ocorrido na histó­ria das pesquisas: já houve relatos de experiências que pareciam, em sua época, comprovar uma tese filosófica nova e revolucionária, mas que, com o tempo, foram reconsiderados de maneira objetiva, evidenciando-se então que não tinham o alcance filosófico que se lhes atribuía. Verificou-se que os primeiros relatos de tais experiências não foram relatos puramente científicos, mas foram também interpretações pessoais e subjetivas de fatos objetivos (tais interpretações não depõem contra a honestidade dos cien­tistas que as propuseram, pois, estes geralmente procederam de boa fé e mais ou menos inconscientemente); é, sim, espontâneo ao ser humano in­terpretar os fatos ao mesmo tempo que os descreve, ou apresentar os da­dos históricos a partir de suas premissas filosóficas.

4.2. Empirismo e Metafísica

A psicologia moderna apresenta, entre outras correntes, a do empi­rismo, que se difundiu principalmente nos países de língua inglesa. Está outrossim muito influenciada pelo positivismo e o neopositivismo. Estas escolas apenas registram dados empíricos ou fenômenos e renunciam a procurar causas não empíricas (causas metafísicas) para os mesmos; veri­ficam que o fenômeno A se segue ao fenômeno B e renunciam a procurar saber se existe relação de causalidade entre A e B e, eventualmente, qual seria essa causalidade. De modo especial, note-se: a psicologia.que o empi­rismo inspira, é uma psicologia sem “anima” ou sem sujeito definido dos fatos psicológicos; ela se limita à descrição fenomenológica dos fatos psí­quicos. Por isto, quando alguém diz que o comportamento do animal infra-humano é semelhante (ou mesmo idêntico) ao do ser humano, guar­dando apenas diferença gradativa em relação a este, põe-se legitimamente a pergunta: que entende o observador por “semelhante” ou “idêntico” no caso? – Reconhecemos, sim, a semelhança das atitudes dos animais com aquilo que o ser humano geralmente pratica. Trata-se de semelhança de fenômenos ou de dados experimentais, que não implica necessariamente identidade de essência ou de consciência psicológica. Dizemos que o ani­mal pré-humano e o homem são capazes de exprimir sentimentos e afetos, mas só o homem emite conceitos ou tem pensamento e linguagem concei­tuais. Com outras palavras: o homem e o animal infra-humano são aptos a dizer que concebem afetos de simpatia ou que sentem dor, mas somente o homem é capaz de dissertar sobre a simpatia, o amor e a dor. O animal é capaz de pedir água para beber, para refrescar-se ou para lavar-se, porque ele pode experimentar os efeitos da água e, por conseguinte, pode desejar experimentá-los; todavia só o homem é apto a discorrer sobre a água, enunciando, de maneira teórica e especulativa (não meramente pragmáti­ca, o que a água é e aquilo de que ela se compõe.

Ora um psicólogo empirista contenta-se com a descrição dos fenôme­nos experimentados ou averiguados e, na base de tais averiguações, estabe­lece confrontos e afirma semelhanças ou identidades. Todavia o filósofo que não seja meramente empirista, mas que, através dos fenômenos, ana­lisa as estruturas do ser e sonda as essências de cada qual, poderá ver dife­renças essenciais por detrás de idênticos comportamentos fenomenais ou empíricos. Ora, se o cientista adota a filosofia empirista, entender-se-á que ele tenha conceito de inteligência diferente daquilo que se entende por inteligência humana em filosofia clássica. Em conseqüência, o seu relatório não será suficiente para se dizer que o animal e o homem diferem entre si apenas por graus de perfeição no tocante à sua conduta.

Em conclusão, afirmamos que o homem é dotado de alma intelectiva, a qual é espiritual, ao passo que qualquer animal infra-humano é vivificado por alma sensitiva, meramente material. Entre o grau de vida sensitivo e o intelectivo não há meio-termo, como não o há entre matéria e espírito. Es­te fica sendo característico do ser humano. Só o homem é capaz de conce­ber noções universais ou definições, abstraindo dos objetos sensíveis e ma­teriais que o cercam, os conceitos imateriais ou essenciais que se realizam nesses diversos objetos. O homem apreende as essências ou as notas consti­tutivas, estruturais dos seres que o cercam, ao passo que o animal inferior apenas constata os fenômenos concretos e os concatena entre si com o au­xílio da sua memória sensitiva. Ora tal operação supõe uma faculdade ima­terial ou espiritual que se chama “o intelecto” e que é a expressão da alma intelectiva ou espiritual própria do ser humano.

A propósito citamos, dentre ampla bibliografia,

ADLER, MORTIMER J., The Diference of Man and the Difference it Makes. Holt, Rinehart and Winston, New York 1967.

LANGER, SUSANNE K., Philosophy in a new Key. A study in the symbolism of Reason, Rite and Art. A Mentor Book, 7th ed., published by the New American Library, New York 1955.

FAGGIN, G. Empirismo, in Enciclopedia Filosofica I. Venezia-Roma 1957, cols. 1878-1894.

KOPPERS, WI LHELM, O Homem Primitivo e a sua Visão do Mundo. Porto 1954.

MARCOZZI, VITTORIO, II Senso della Vita Umana. Milano 1947.

IDEM, A Evolução Hoje. Ed. Paulinas, São Paulo 1969.

MARCOZZI-SELVAGGI, Problemi delle Origini. Roma 1966.

ROLDAN, ALEJANDRO, Evolução, Rio de Janeiro 1958.

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NOTAS:

[1] Por exemplo, o patinho, chocado por uma galinha, procura imediata­mente a água e nada, apesar dos chamados da ave-mãe espantada. O esqui­lo faz a previsão de nozes para o primeiro inverno de sua vida (que ele não conhece de modo nenhum), como ele a fará para os invernos subseqüentes.

[2] Caso se substitua o casulo de uma aranha por uma bolinha de cortiça, a aranha arrasta e defende esse elemento heterogêneo, como se fosse o anterior.

[3] Cada espécie de aranha tece o mesmo tipo de teia; cada espécie de ave constrói o mesmo tipo de ninho, de sorte que com facilidade se depre­ende, pela análise do ninho, qual o pássaro que o arquitetou.

[4] Veja-se o que às pp. 34ls deste fascículo foi dito sobre memória e aprendizagem.

[5] Ver PR 49/1962, pp. 3-10.

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