(Revista Pergunte e Responderemos, PR 166/1973)Em síntese: O presente artigo apresenta o conteúdo do livro de G. Tavard sobre os anjos. Datada de 1971 em sua tradução francesa, essa obra de abalizado autor percorre os textos da Escritura e da Tradição cristã. Tavard, porém, nota que essa fé tem-se apagado nos últimos tempos, parte por causa de exagerada “depuração” das tradições cristãs, parte por perda de contato dos fiéis com a liturgia (que sempre expressou vivamente a crença nos anjos), parte porque a piedade para com Maria tomou o lugar outrora reservado aos anjos. Todavia o autor julga que o Concílio do Vaticano II lançou princípios de nova valorização da piedade para com os anjos: tais seriam o ressurgimento litúrgico, a reafirmação da doutrina dos Concílios anteriores (a nota fortemente cristológica do Vaticano II não permitirá os exageros de outrora no tocante aos anjos), assim como o despertar da consciência de que a salvação trazida por Cristo tem dimensões cósmicas e envolve também o mundo transcendental dos anjos na grande família dos filhos de Deus.O leitor que de imediato não possa percorrer todo o presente artigo, é convidado a ler ao menos o inciso “Recapitulação e Perspectivas”, no final deste artigo, onde se encontra em síntese o que o próprio autor G. Tavard propõe como resultado dos seus estudos e reflexões.***Comentário: A questão da existência de anjos bons e maus (estes, com o nome de demônios) volta freqüentemente à tona. A procura de uma fé adulta, liberta de concepções infantis, leva muitas pessoas a discutir ou até negar a realidade dos mesmos. Anjos e demônios seriam criações subjetivas de uma mentalidade hoje ultrapassada. – Há, porém, quem oponha a esta tese numerosas passagens bíblicas, assim como a doutrina da Tradição cristã e do magistério da Igreja, que afirmam a existência dos anjos bons e maus.
Na verdade, o problema assim colocado não pode ser resolvido por simples asserções. A filosofia ou o raciocínio também não é suficiente para dirimi-lo, pois o assunto é de teologia e de fé; por conseguinte, para um cristão, somente a partir das fontes da Revelação Divina (S. Escritura e Tradição) a questão pode ser autenticamente elucidada. Conscientes disto, os autores nos últimos tempos vêm publicando estudos bíblicos concernentes aos anjos e demônios. Dentre esses vários escritos, merece especial atenção, pela riqueza de seus dados e pela seriedade com que os aborda, o livro de Georges Tavard (em colaboração com André Caquot e Johann Michl): «Les Anges» (coleção «Histoire des dogmes)», tomo II: «Dieu Trinité, La Création, Le Péché», fascículo 2 b).[1]
Visto que se trata de uma das obras mais recentes e do-cumentadas sobre o assunto, apresentaremos, nas páginas que se seguem, um resumo do seu conteúdo, visando assim contribuir para esclarecer uma questão que muito interessa ao nosso público no Brasil.
1. Fundamentos bíblicos
O mencionado livro de Tavard consta de 245 páginas, distribuídas em sete capítulos, que abordam a mensagem bíblica referente aos anjos e à história dessa doutrina até nossos dias (incluindo a consideração do pensamento dos cristãos orientais e da teologia protestante).
A presente resenha dará ênfase principalmente à análise bíblica, que se deve a André Caquot (Antigo Testamento) e Johann Michl (Novo Testamento).
1. 1. A mensagem do Antigo Testamento
O autor começa a sua exposição fazendo ponderações metodológicas:
“Não se deve procurar no Antigo Testamento uma ‘angelologia’ constituída em corpo de doutrina. O antigo Israel não tentou elaborar um sistema dogmático do qual a angelologia seria um capítulo… Mas nem por isto a angelologia do Antigo Testamento é um simples repertório de procederes narrativos; os anjos não são símbolos, mas objetos de fé; os antigos israelitas acreditaram que Deus se serve dos anjos para dirigir o mundo e a história, de que Ele é soberano. Essa crença é atestada pelas fontes mais antigas da Religião israelita, e é preciso considerá-la como um dos componentes primordiais da fé judaica. Não se pode retroceder além das fontes para encontrar uma ‘origem’ da crença nos anjos. Uma tal tentativa corre o risco de ser uma especulação gratuita, marcada pejorativamente pelo apriorismo evolucionista… O historiador das religiões deve descre-ver as crenças; mas, se lhe toca também explicá-las, ele só o pode fazer em função das condições históricas e sociais nas quais elas se desenvolveram. É o que tentaremos fazer aqui no tocante a angelologia israelita” (p. 11s).
Com outras palavras: Caquot quer dizer que a crença israelita nos anjos, atestada por numerosos documentos bíblicos, não há de ser preconcebidamente reduzida a categorias de filosofia ou psicologia, que, embora pareçam ilustrar tal crença, na verdade não se enquadram dentro da realidade histórica e social de Israel. É esta que, antes do mais, deve ser evocada para se entender o pensamento do judaísmo antigo.
2. Feita esta observação, o autor nota que quem percorre as tradições eloístas do Pentateuco, nelas encontra freqüentemente a menção do «anjo do Senhor» (mal’ak Yahveh) ou dos «anjos do Senhor» (mal’akim Yahveh); com freqüência ela ocorre também nas tradições javistas. Assim, por exemplo, o anjo do Senhor aparece na versão javista da história de Agar (cf. Gên 16,7s), como também na eloísta (cf. Gên 21,17). Um anjo intervém para suspender a imolação de Isaque (Gên 22,11s), para guiar o servo de Abraão na estrada (cf. Gên 24,7. 40) e o povo posto em marcha no deserto (cf. Êx 14,19; 23,20. 23; 32, 34).
O anjo (mal’ak, em hebraico), nas mais antigas páginas da Bíblia, é um enviado de Deus que na terra exerce determinada missão: anunciar a vontade de Deus aos homens, guiar um homem ou um povo, conjurar um perigo exortando o povo, castigar os transgressores da lei de Deus… Em suma, a palavra mal’ak deriva-se da raiz l’ k, donde procede o verbo que significa «enviar» em diversas línguas semíticas. Essa função de «enviado» aparece bem caracterizada pela visão de Jacó, a quem apareceu uma escada pela qual os anjos desciam e subiam entre o céu e a terra.
3. Os israelitas, na época dos reis, concebiam os anjos à semelhança de homens. Em Gên 18 e 19, por exemplo, é relatada a visita de três personagens a Abraão, que são chamados ora homens, ora mal’akim. Gedeão e os pais de Sansão julgam estar falando com um homem (cf. Jz 6,13 e 12,6.8), mas esse homem tem algo de extraordinário em seu aspecto e em sua palavra (cf. Jz 13,6).
Em algumas narrações, o anjo do Senhor e o próprio Senhor se revezam como sujeito, de sorte que parecem identificar-se entre si. Note-se, por exemplo, o caso da visita dos três personagens a Abraão em Gên 18s (um deles fala como se fosse o próprio Senhor); o aparecimento do anjo do Senhor e do próprio Senhor na sarça ardente, em Êx 3, 2-12; a vocação de Ge-deão devida a um anjo do Senhor e ao próprio Senhor (cf. Jz 6,11-18)… A confusão, nesses casos, entre o anjo e o Senhor não é senão ilusória; segundo as regras literárias dos antigos, o mensageiro ao enunciar a mensagem de quem o enviou, usa sempre a primeira pessoa do singular, repetindo palavra por palavra o que o seu Senhor lhe disse. Por conseguinte, nos textos bíblicos citados é o anjo quem aparece e fala, de tal modo, porém, que o próprio Deus por ele quer manifestar seus desígnios aos homens.
4. Um dos títulos que caracterizam os anjos nos textos poéticos, é o de beney Elohim, filhos de Deus. São, por exemplo, os filhos de Deus que aclamam o Senhor, segundo o salmo 28,1 e Jó 38,7, como o aclamam os anjos em Sl 102,20 e 148,2. O título evoca um motivo comum da poesia e da mitologia dos po-vos de Canaã pré-israelitas; estes concebiam a Divindade Suprema, El, assentada em seu trono em meio a uma corte ou multidão de divindades subalternas, que tinham os nomes genéricos de «deuses» (ilm), «santos» (bn qdsh) e «filhos de eus» (bn ilm). A instauração da monarquia em Jerusalém deve ter inspirado entre os israelitas semelhante concepção: Javé, o único Deus, foi entendido como Rei elevado, cercado de sua corte de «filhos de Deus» (que, no caso, são os anjos), os quais O adoram e Lhe servem, e entre os quais Ele recruta, como um Soberano da terra, os seus embaixadores e encarregados de missão. O prólogo do livro de Jó é típico a este propósito, pois mostra como Deus reúne periodicamente os «filhos de Deus» ou anjos para ouvir os seus relatórios (cf. Jó 1,6; 2,1).
5. As mais antigas tradições não distinguem, entre os anjos, personagens diferenciados uns dos outros por traços particulares. Após o exílio (587-538 a.C.), porém, nota-se a individualização de certos anjos, que chegam a ter nome próprio, muitas vezes relacionado com a função específica que exercem. O contato de Israel exilado com os documentos da cultura babilônica pode ter inspirado uma nova maneira de representar a corte divina, maneira mais variada e mais rica. Tenham-se em vista, por exemplo, as visões do profeta Zacarias: o anjo do Senhor aí aparece como personalidade distinta e eminente, à guisa de Primeiro Ministro da corte divina, pois é ele quem recebe os relatos dos inspetores que Deus enviou para visitar a terra (cf. Zac 1,11) ; ele dispõe de certa autonomia, em virtude da qual intercede em favor de Jerusalém (cf. 1,12).
6. A evolução da doutrina dos anjos entre os judeus posteriores ao exílio é tipicamente ilustrada pela figura do anjo-adversário. No prólogo do livro de Jó, um dos filhos de Deus tem o designativo Satã (em hebraico, adversário), nome comum precedido de artigo. A função é a de acusador de Jó e espião dos homens. Tal função é pouco simpática, mas – note-se bem – o anjo só a exerce em consonância com Deus; mesmo quando submete Jó à prova, só o faz com a permissão do Senhor. – Papel semelhante cabe a Satã em Zac 3,1s: tem por vítima o Sumo Sacerdote Josué, que representa a comunidade judaica após o exílio; é rejeitado pelos anjos do Senhor, defensor do povo.
No fim do séc. IV a.C., duzentos anos após Zacarias, registra-se nova etapa da evolução de conceitos: em 1 Crôn 24,1, Satã já é nome próprio (sem artigo); designa o anjo que leva Israel ao mal, pois inspira a Davi o recenseamento do povo, contrariamente à vontade de Deus; em conseqüência, a peste sobrevém a Jerusalém. O texto paralelo, e muito anterior, de 2 Sam 24 atribuía diretamente ao Senhor a provocação de Davi ao mal (o que se entendia outrora pelo fato de que os antigos viam a causalidade de Deus a agir em tudo, sem distinguirem entre vontade e permissão do Senhor).
Por fim, no séc. I a.C., a figura de Satã, inimigo de Israel, aparece como a do inimigo do gênero humano, pois ao «diábo-los» (= acusador, em grego) é atribuída a introdução da morte na história da humanidade (cf. Sab 2,24).
7. A tendência a caracterizar os anjos se manifesta também na atribuição de nomes próprios a esses servidores do Senhor: assim no livro de Tobias o anjo que cura, é chamado Rafael (cf. 3,16) – o que significa «Deus (El) curou»; Gabriel (= homem de Deus) é o intérprete das visões de Daniel em Dan 8,16; 9,21; e Miguel (= Quem é como Deus?) é o patrono e defensor do povo judeu.
8. Fora dos livros canônicos da Bíblia, ou seja, na vasta literatura apócrifa dos judeus, a crença nos anjos inspirou longas divagações, dependentes de gêneros literários diversos, principalmente do apocalíptico. Também os escritos ortodoxos do judaísmo, encerrados no Talmud dos rabinos, fazem alusões freqüentes aos anjos. O mesmo se diga no tocante aos documentos de Qumran. – Ao lado destas fontes doutrinárias, existem numerosos documentos mágicos judeus, aramaicos e gregos, que recorrem aos anjos e à sua intervenção; assim a angelologia dos judeus entrou no sincretismo helenístico. O recurso mágico aos anjos benfeitores e malfeitores explica que se tenham multiplicado, segundo o gosto fantasista dos interessados, os nomes próprios dos anjos, nomes que figuram nos papiros populares dos primeiros séculos do Cristianismo, como também na Kabala dos judeus e na literatura islâmica.
Na literatura judaica extra-bíblica dos últimos séculos antes de Cristo e dos primeiros séculos da era cristã, os escritores, a fim de melhor salvaguardar a transcendência de Deus, admitiam multiplicadas intervenções dos anjos na terra. A função dos anjos ficou sendo, por excelência, o serviço e Deus; os anjos presidem, conforme tal mentalidade, à marcha dos astros, ao mar, à chuva, à geada, ao destino das nações…; transmitem a Deus as orações dos homens e prestam outros serviços de meditação.
A figura de Satã foi tomando importância crescente, o que se depreende dos vários nomes que sé lhe atribuíram: «anjo das trevas» (no Rolo da Regra de Qumran), «Mastema» (Qum-ran e Livro dos Jubileus), «Belial» (Qumran, Martírio de Isaías, Testamento dos XII Patriarcas), «Samuel» (Apocalipse grego de Baruque) … O Talmud babilônico, Sanedrim 38b, e a apócrifa «Vida de Adão e Eva» 12-16 explicam a perversão de Satã pela hipótese de que se tenha revoltado contra Deus no momento em que o homem foi criado.
Ora precisamente a figura de Satã ou do anjo mau aparece a muitos estudiosos como elemento suspeito nas concepções judaicas. Lembra-lhes a religião persa, segundo a qual existem dois Princípios antagônicos para explicar o bem e o mal sobre a terra; os judeus, durante e após o exílio (587-538 a.C. ) , teriam assumido o conceito persa do Princípio mau, dando-lhe colorido israelita… A esta tese observa André Caquot o seguinte:
“O Antigo Testamento considerava os anjos como capazes de desobediência orgulhosa… Segundo o modo de pensar dos antigos israelitas, existiam seres superiores ao homem, que deviam, à semelhança do homem, optar entre duas vidas: a submissão, o serviço e a vida, ou a desmedida, a rebelião o a decadência. A angelologia assim se integra na religião israelita, cuja estrutura fundamental nunca foi modificada pelas contribuições extrínsecas. Após A. Kohut, a escola dita da ‘história das religiões’ insistiu sobre a influência, tida como preponderante, que o iranismo teria exercido sobre o desenvolvimento da angelologia judaica. Na verdade, os anjos do judaísmo não podem ser comparados aos ‘imortais benfazejos’ do mazdeísmo. Avatares das antigas divindades funcionais do paganismo iranianos reabsorvidas em Ahura Mazda, os arcanjos zoroastrianos são aspectos do Deus único, ao passo que os anjos do judaísmo são criaturas do Senhor” (p. 26s).
1. 2. O Novo Testamento e seus mensageiros
À semelhança dos livros da Antiga Aliança, também os da Nova Aliança não contêm ensinamento sistemático sobre os anjos e os demônios. As suas afirmações a propósito têm por base a tradição bíblica e extra-bíblica do judaísmo, centradas, porém, em torno da idéia fundamental do Novo Testamento: Deus enviou o Messias ao mundo, de sorte que o Reino de Deus, aguardado outrora, já tem início germinalmente na realidade presente.
A variegada mensagem do Novo Testamento concernente aos anjos pode ser compreendida sob três títulos:
a) Os anjos a serviço de Deus e dos homens
Os anjos constituem o mundo celeste (cf. Lc 15,10), onde assistem a Deus à guisa de multidão incalculável (cf. Hebr 12, 22; Apc 5,11).
Desde o início da era messiânica, intervêm freqüentemente na história como servidores de Cristo. Anunciam a conceição e a natividade de Jesus a Maria (Le 1,26-38), a José (Mt 1,20s), aos pastores de Belém (Lc 2,9-14). Servem ao Senhor no deser-to (Mc 1,13; Mt 4,11); reconfortam-no no jardim das Oliveiras (Lc 22,43). Anunciam a sua ressurreição dentre os mortos (Mc 16,6; Mt 28,5s ; Lc 24,5-7; Jo 20,13). Aparecem ainda na cena final da vida de Jesus; anunciando aos Apóstolos a segunda vinda do Senhor recém-elevado aos céus.
Embora desempenhem papel importante na vida de Jesus, os anjos estão subordinados a Cristo, pois «foram criados pelo Cristo e para o Cristo» (Col 1,16; cf. 1,20; Ef 1,10).
Alguns anjos fazem as vezes de mensageiros celestes junto aos homens. Cf. Mt 1,20; 2,13.19; Lc 1,11.26; 2,9; At 8,26; 10,3; 12,7-10; 27,23; Mc 16,5s; Jo 20,12. Vêm ao encontro dos homens em apuros e angústias; cf. At 5,19; 12,7-11; 27,23s. Em suma, a carta aos Hebreus os chama «espíritos encarregados de um ministério, enviados a serviço daqueles que devem herdar a salvação» (1,14).
Embora mereçam grande estima da parte dos homens, não se lhes deve prestar culto supersticioso ou afim à mitologia; cf. Col 2,18; Apc 19,9s; 22,8s.
É no Apocalipse que os anjos aparecem com o máximo de freqüência, exercendo missões diversas, que Deus lhes confia.
b) Outros seres celestiais
As cartas de S . Pedro e S . Paulo mencionam seres celestiais intermediários entre Deus e os homens, que têm os nomes de «virtudes» (dynámeis; cf. Rom 8,38; 1 Cor 15,24; EE 1,21. 1 Pe 3,22), «potestades» exousíai; cf. 1 Cor 15,24; Ef 1,21; 3,10; 6,12; Col 1,16; 2,10-15; 1 Pe 3,22), «principados» (arxai; cf. Rom 8,38; 1 Cor 15,24; Ef 1,21; 3,10;-6,12; Col 1,16. 2,10-15), «dominações (kyriotétes; cf. Ef 1,21; Col 1,16), «tronos» (tnrónoi; cf. Col 1,16). Não se pode indicar com certeza a razão de tais designações; poderiam significar abreviadamente os anjos do poder de Deus, os anjos do domínio de Deus, os anjos do trono de Deus; exprimiriam assim a relação dos anjos ao poder, à autoridade, à soberania, ao trono de Deus… Como quer que seja, esses seres foram criados pelo Cristo e para o Cristo (Col 1,16); Este é o Senhor de todas as criaturas na terra e no céu (cf. Col 2,15-17; Ef 1,20s; 3,10; 1 Pe 1,12. 3,22). Os «principados» e as «potestades» reconhecem na Igreja de Cristo a sábia realização do designo de Deus em favor da salvação dos homens (cf. Ef 3,10; 1 Pe 1,12).
Muitas passagens do Novo Testamento dão a entender que os seres celestiais aqui mencionados são fiéis a Deus e ministros dos desígnios divinos. Todavia não faltam trechos que lhes atribuem traços demoníacos: Deus, por exemplo, pela morte de Cristo, arrebatou o poder aos principados e às potestades, tratando-os como inimigos vencidos (Col 2,15). Embora nem os anjos, nem os principados nem as potestades possam separar do amor de Deus o cristão (Rom 8,38s), este deve lutar contra os principados e as potestades, que são senhores do mundo sujeito ao poder das trevas (cf. Ef 6,12). São espíritos do mal, posto em relação com o diabo (Ef 6,11s; 2,2). Esses espíritos maus perderão sua possibilidade de agir no mundo quando Cristo concluir a obra da Redenção, sujeitando a si todas as criaturas para entregá-las a Deus Pai (cf. 1 Cor 15,24).
O antagonismo de tais seres celestiais ao plano de Deus e ao bem dos homens não é claramente elucidado pelos textos bíblicos. O fato de alguns se mostrarem fiéis a Deus, enquanto outros se lhe opõem, poderá ser explicado, como no caso dos anjos propriamente ditos, por uma opção livre e perversa que principados, dominações, tronos.. . fizeram no início da sua história.
Note-se que principados, potestades, tronos…, como também os querubins e serafins do Antigo Testamento, jamais são chamados «anjos» nas Escrituras. – Isto se explica pelo fato de que «anjo» é nome derivado da função exercida por certos seres celestiais; estes são ditos anjos quando fazem as vezes de emissários ou mensageiros. Todavia os nomes diversos das criaturas celestiais não nos obrigam a crer que tenham naturezas diferentes; a Tradição cristã sempre viu nos seres celestiais de que fala a Escritura, uma só grande categoria de criaturas.
c) Satã e o reino dos demônios
1. Sabemos que a figura de Satã ou do diabo, adversário de Deus e dos homens retos, aflorou à consciência do judaísmo no livro de Jó, isto é, após o exílio (587-538 a.C .). Foi retomada pelo Novo Testamento.
Satã assume aí outros nomes: Beliar ou Belial (cf. 2 Cor 6,15); Beelzebul ou Beelzebub (cf. Mc 3,22; Mt 10,25; 12,27). É «o Maligno» (Mt 13,19; Ef 6,16; 1 Jo 2,13s; 5,18), «o príncipe deste mundo» (Jo 12,31; 14,30; 16,11), «o Deus deste mundo» (2 Cor 4,4), «o Dragão» (Apc 12,2s), «a Serpente Antiga» (Apc 12,9; 20,2, em alusão a Gen 3).
Satã está cercado de anjos maus ou demônios, sobre os quais reina; cf. Mt 25,41; Mc 3,26; 2 Cor 12,7; Apc 12,7. Esses espíritos malignos tendem a prejudicar o homem, provocando mutismo (Mc 9,17.25; Mt 9,32), surdez (Mc 9,25; Mt 12,22; Le 11,14), cegueira (Mt 12,22) e outras enfermidades (Lc 13, 11). – Nem todas as doenças, porém, são atribuídas diretamente ao demônio, embora, em última análise, sejam tidas como obra do Diabo (cf. At 10,38).
Os maus espíritos podem atormentar os homens (cf. Mc 5,5; 9,18) e manipulá-los como instrumentos sem vontade (cf. Mc 1,26; 5,3-7; 9,18-26; Le 4,35; 8,29), tornando-os como que dementes (cf. Lc 7,33; Jo 7,20; 8,48s. 52; 10,20). Tal é o estado que se costuma chamar «possessão diabólica».
Quem diz Satã, diz pecado: «O diabo é pecador desde a origem» (1 Jo 3,8). O homem que peca, faz as obras do Diabo (ib.).
2. É em particular contra Jesus que o demônio se arremessa. Tentou o Senhor no deserto (cf. Mc 1,13; Mt 4,3-13) e acometeu-o por ocasião da Paixão. Com efeito, ao terminar o relato das tentações, S. Lucas escreve que «o demônio se afastou de Jesus para voltar no tempo marcado» (4,13); Satã «entrou» em Judas antes que este fosse tramar a entrega de Jesus (Lc 22,3s). Nesta perspectiva, S . Lucas cita as palavras de Jesus a Simão Pedro: «Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos joeirar como o trigo» (Le 22,31).
São João, mais ainda do que São Lucas, descreve a Paixão do Senhor como combate contra o Maligno. O conflito entre Cristo e Satã tem início quando o Senhor se manifesta em público: os judeus, que se fecham à Palavra de Jesus, «têm por pai o diabo» (Jo 8,44; cf. 8,38.41); é Satã quem inspira a Judas o desígnio de entregar o Mestre (cf. Jo 13,2) ; entra em Judas depois que Jesus dá a este um bocado de pão (Jo 13,27). – A Paixão de Jesus vem a ser «o julgamento deste mundo», pelo qual «o Príncipe deste mundo» é deposto (Jo 12,31); quando Satã agride Jesus padecente, «nada pode contra Ele» (Jo 14,30). O Espírito Santo dá a saber que pela morte de Jesus «o Príncipe deste mundo foi condenado» (Jo 16,11).
3. Embora o Maligno haja sido vencido em princípio pelo Senhor Jesus, ainda lhe é concedida a faculdade de perseguir os discípulos de Jesus e a Igreja. Tenha-se em vista, por exemplo, a parábola do joio que o inimigo lança em meio ao trigo (Mt 13,39). São Paulo sabe que Satanás está em ação quando seus planos de viagem são entravados (1 Tes 2,18), quando sofre um aguilhão na carne (2 Cor 12,7), quando o cristão se entrega a desordens sexuais (1 Cor 7,5) ou recusa reconciliar-se (2 Cor 2,11). Segundo São Pedro, «o diabo, como leão a rugir, anda em torno, procurando a quem devorar» (1 Pe 5,8).
Os escritos dos Apóstolos lembram ainda que existem espíritos sedutores, os quais afastam os homens da verdadeira fé (1 Tim 4,1; 1 Jo 4,6), disseminam falsas doutrinas (1 Tim 4,1) e uma sabedoria diabólica (Tg 3,16). Nos últimos tempos exercerão ação especialmente enérgica para provocar a apostasia dos discípulos de Jesus (1 Tim 4,1; cf. 1 Jo 4,1-6; Apc 16,13s). O Apocalipse descreve em cenários ricos de imagens o conflito entre Satã e a Igreja, conflito que termina com a ruína definitiva do Maligno (cf. Apc 20,7-10).
4. Os escritos do Novo Testamento não identificam formalmente «os anjos do diabo» e «os demônios». No decorrer dos tempos, a teologia passou a considerar os demônios como anjos decaídos. Os primeiros cristãos perguntavam qual seria a origem do diabo, dos seus anjos e dos demônios. O Novo Testamento não fornece resposta clara; apenas em algumas passagens refere-se ao pecado de certos anjos e ao castigo correspondente (cf. Jud 6; 2 Pe 2,4). Na verdade, admitir que Deus tenha criado anjos maus é incompatível com a imagem que a Bíblia apresenta do Senhor Deus; por conseguinte, se aqueles existem, só podem ser espíritos que Deus criou bons, mas que se desviaram do Criador e se perverteram. Como e quando se deu essa queda?… Eis questões a que a Escritura não dá resposta clara.
Em conclusão desta rápida análise do Novo Testamento, observa Johann Michl:
“Seria ocioso querermos basearmos sobre a Escritura para construir um sistema de angelologia ou demonologia bíblica. Todavia o que a Bíblia diz, pode-nos dar idéia das potências que o homem deve levar em conta no seu relacionamento com Deus, mesmo que ele não saiba muita coisa sobre a natureza própria e a atividade dessas potências” (p. 48).
2. Tradição cristã
No decorrer da história do Cristianismo, a fé nos anjos professada pelos textos bíblicos foi sendo objeto de aprofundamento. Este não esteve isento de desvios e aberrações, que a consciência da Igreja denunciou oportunamente.
Abaixo realçaremos apenas um ou outro tópico da história da crença nos anjos após os escritos do Novo Testamento.
1. Nos primeiros séculos, o agnosticismo e a filosofia neoplatônica sugeriram interpretações não cristãs da doutrina dos anjos. Estes seriam emanações da substância divina – o que redundaria em professar o panteísmo, em lugar do monoteísmo bíblico.
O chamado «origenismo» (séc. III-VI) é outra expressão de abuso da filosofia neoplatônica no Cristianismo: os discípulos do famoso mestre Orígenes de Alexandria († 254) conceberam os homens como espíritos preexistentes (ou anjos) que se encarnaram em conseqüência de um pecado pré-cósmico; estariam sujeitos à lei da reencarnação; no fim da história os espíritos maus voltariam ao seu estado inicial de fidelidade a Deus (tese que Giovanni Papini, há decênios, renovou na Itália).
2. A questão da espiritualidade dos anjos custou a ser devidamente penetrada pelos cristãos. A filosofia estóica tendia a identificar realidade e matéria. Daí admitirem muitos cristãos que os anjos, por serem reais, tinham um corpo (ainda que sutil).
3. Próxima a esta tese está a suposição de que o pecado inicial dos anjos foi o convívio carnal com mulheres, convívio do qual teriam nascido gigantes. Esta sentença já era professada pelos judeus anteriores a Cristo, que julgavam poder fundamentar seu ponto de vista na seção de Gen 6,1-4: Os «filhos de Deus» (anjos) se uniram às filhas dos homens (mulheres); em conseqüência, gigantes habitavam sobre a terra antes do dilúvio… – De passagem, diga-se que tais idéias não representam a autêntica exegese do texto bíblico citado.
4. O pecado dos anjos é explicado por S. Tomás de Aquino e sua escola como sendo o de soberba, a falha mais compatível com a natureza das criaturas espirituais.
5. O dualismo maniqueísta teve sua repercussão na maneira de se conceberem os anjos maus ou demônios, principalmente na península ibérica dos séc. IV-VI. O diabo foi tido como ser não criado por Deus, mas oriundo das trevas; seria o princípio substancial do mal. O diabo e seus demônios seriam os plasmadores do corpo humano no seio materno; toda carne viria a ser obra dos anjos maus. Tais idéias foram condenadas pelo Concílio de Braga (Portugal) em 561.
6. Os teólogos procuraram coordenar de maneira sistemática as diversas designações com que a S. Escritura se refere aos seres celestiais. O principal mestre nesta tarefa foi Dionísio o Areopagita no séc. VI. Em sua obra «Sobre a hierarquia celeste», este autor admite nove coros de seres celestes (ou anjos, em sentido amplo) distribuídos por três ordens: 1) Serafins, Querubins e Tronos; 2) Dominações, Potestades e Virtudes; 3) Principados, Arcanjos e Anjos.
Esta classificação dos anjos tornou-se comum na teologia católica, mas não é de fé.
7. A crença nos anjos bons e maus tomou traços populares e fantasistas na Idade Média, principalmente nos séc. XIV e XV, que foram períodos de decadência intelectual; a magia, a bruxaria, as crendices então se desenvolveram, deturpando as concepções bíblicas e teológicas que os grandes mestres escolásticos do séc. XIII haviam cuidadosamente elaborado.
8. Frente às teses maniqueístas que campeavam por ação dos cátaros ou albigenses da Idade Média, o Concílio do Latrão IV em 1215 emitiu «uma declaração que ficou sendo até nossos dias o documento oficial mais solene da Igreja no tocante aos anjos e demônios» (Tavard, obra analisada, p. 154).
Ei-la em tradução vernácula:
“As três Pessoas Divinas são um princípio único de todas as coisas, Criador de todos os seres visíveis e invisíveis, espirituais e corporais. Por sua força todo-poderosa, desde o inicio do tempo, criou simultaneamente a partir do nada uma e outra criatura, a espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre; depois criou a criatura humana, que consta de espírito e corpo. O diabo e os outros demônios foram por Deus criados naturalmente bons, mas por si mesmos se tornaram maus” (Denzinger–Schönmetzer, Enquirídio 800 [428]).
Comenta Tavard:
“Se queremos levar em conta o contexto histórico imediato, podemos afirmar a plena autoridade do Concílio no tocante aos pontos seguintes:
1) As criaturas espirituais foram criadas pela onipotência de Deus; o ato criador assim se opõe à emanação;
2) a criação começou no tempo, contrariamente à idéia de uma criação eterna;
3) todas as criaturas foram criadas boas;
4) algumas dentre elas tornaram-se más por própria iniciativa” (p. 155).
9. A teologia dos orientais separados de Roma conservou a crença nos anjos bons e maus até nossos dias, exprimindo-a de maneira enfática mormente por ocasião das celebrações li-túrgicas.
10. Quanto às denominações protestantes, a partir do séc. XVIII começaram a pôr em xeque a existência dos anjos bons e maus como sendo dogma «papista». Esta atitude se pode explicar por dois fatores:
– a carência de celebrações litúrgicas, entre os protestantes, acarretou aos poucos o apagamento da crença nos anjos, pois estes foram constantemente tidos como participantes da sagrada Liturgia, no decorrer dos séculos. Os sacramentos sempre foram a ocasião de se afirmar e alimentar a convicção de que os anjos estão presentes aos homens;
– os progressos das ciências exatas, bem como os da sociologia, antropologia, psicologia…, contribuíram para dissipar afirmações supersticiosas e folclóricas do povo cristão. Muitos fenômenos, outrora explicados por recurso ao sobrenatural, foram reconhecidos como acontecimentos naturais. Esta desmitização foi levada ao extremo de se negar a própria existência dos anjos bons e maus.
3. Recapitulação e perspectivas
Ao conjunto dos sete capítulos, cujo conteúdo acabamos de apresentar sinteticamente, Georges Tavard acrescenta algumas reflexões com o título «Recapitulação e perspectivas». visto que constituem uma das mais importantes seções do livro, transmitimo-las aqui na íntegra:
“A fé na existência de anjos bons e maus faz parte do dogma católico; isto é evidente. Ela está contida na S. Escri-tura; é proclamada por Concílios ecumênicos, confirmada pelo consentimento unânime dos Padres da Igreja e ensinada por todos os teólogos.
A formulação oficial desta verdade hoje ainda está no ponto em que a deixou o 4° Concílio do Latrão em 1215. O 1º Concílio do Vaticano em 1870 confirmou a definição do Latrão retomando-a na sua Constituição solene De Fide Catholica …
O aprofundamento teológico da fé nos anjos e nos demônios não realizou progresso algum desde o fim da Escolástica[2]. Isto se deve, sem dúvida, ao fato de que, comparada com os problemas modernos, a angelologia não se reveste de mui grande importância. Os teólogos ocupam-se naturalmente com questões que constituem o campo de visão dos seus contemporâneos. Por isto voltaram sua atenção para problemas mais urgentes do que os dos anjos e demônios. Por muito compreensível que isto seja, acarreta um perigo: o espírito naturalista e racionalista dos tempos modernos poderia introduzir-se se não como tal na teologia, ao menos talvez na atitude prática dos fiéis. A encíclica ‘Humani generis’ de 1950 parece ter formulado esse receio, pois ela lamenta que alguns ‘se perguntem se os anjos são seres pessoais’. Já no decurso do séc. XIX, muitos Concílios provinciais haviam sentido a necessidade de recomendar ao povo maior veneração dos anjos e, em particular, dos anjos da guarda. Obras de teólogos e escritores leigos, nos tempos modernos, chamaram de novo a atenção para a existência de Satã como ser pessoal perverso[3].
Nossos sistemas ou nossos cursos de teologia não apresentam mais tratados de angelologia de grande relevo. Tam-bém o lugar que os anjos ocupam na vida católica é cada vez mais reduzido. Para esse estado de coisas, parece que se podem apontar três razões principais:
– Os leigos se tornaram cada vez mais estranhos à liturgia celebrada em língua sacra – o que lançou um véu sobre a presença familiar dos anjos evocada pelos textos litúrgicos.
– Os progressos da mentalidade moderna deram ocasião a que se originasse o ceticismo no tocante a certos pontos da angelologia que não fazem parte da Revelação propriamente dita.
– Por último, na piedade popular, Maria tomou aos poucos o lugar outrora reservado aos anjos.
A renovação litúrgica inaugurada no mundo inteiro pelo Concílio do Vaticano II é, sem dúvida, capaz de revalorizar de certo modo a piedade para com os anjos; o uso do vernáculo permitirá melhor compreensão do lugar que os anjos ocupam na liturgia. Acrescentemos que o Concílio do Vaticano II aprovou decididamente a doutrina ensinada anteriormente pelo magistério da Igreja e a confirmou; mas, dado que insistiu fortemente sobre a Cristologia, ele não permitirá que a angelologia se torne autônoma…
Novo despertar do interesse pelos anjos poderá ser também suscitado pelo esforço realizado pelos homens no mundo moderno para se tornarem senhores das dimensões cósmicas de um universo em expansão e pelo ardente desejo que a inteligência tem, de tudo conhecer. O Concílio do Vaticano II levou em conta esses dois fatores para instaurar o diálogo com o mundo; teve o cuidado de englobar os anjos na vasta família de Deus e no processo de salvação que se vai realizando em Cristo por todo o universo. O Concilio, porém, não foi além de simples verificações. Temos a esperança de que os aspectos que acabamos de apontar poderiam, graças à interpretação da Tradição e aos progressos contínuos da teologia, despertar em nosso século uma renovação do interesse pelos anjos” (obra analisada, pp. 241-244).
4. Conclusão
Num setor como a angelologia, em que a Palavra revelada por Deus é critério decisivo, o livro de Georges Tavard tem importância capital, pois coloca em relevo as diversas e constantes afirmações dessa Palavra e dos seus porta-vozes qualificados no tocante aos anjos através dos séculos. Há casos, sem dúvida, em que certos textos bíblicos e os testemunhos da Tradição têm que ser entendidos como expressões de uma cultura momentânea (assim, por exemplo, o uso de véu das mulheres em sinal de sujeição, por causa dos anjos, em 1 Cor 11,10); a própria Tradição, relendo esses textos, reconhece que não constituem patrimônio de fé. Há, porém, outros casos em que as fontes da Revelação apresentam seus temas com clareza meri-diana como proposições de fé; é o que se dá com a existência dos anjos e demônios. Nessas circunstâncias, não é lícito ao cristão desvirtuar tais afirmações, pois trairia a fé, cedendo ao racionalismo. Tavard insinua essa conclusão e sugere que a fé nos anjos, depurada de tradições folclóricas, como tam-bém de preconceitos filosóficos, volte a constituir elemento vital e sadio da teologia e da piedade do povo de Deus.
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NOTAS:
[1] O livro foi traduzido do alemão para o francês por Maurice Lefèvre, tendo por título original “Die Engel”, na coleção “Handbuch der Dogmen-geschichte”. O original apareceu em 1968 nas Edições Herder, de Friburgo (Alemanha).
[2] Para Tavard, a Escolástica se estende até o séc. XVII, sendo Fran-isco Suarez S. J.
(1548-1617) o último teólogo da Escola que ele cita e estuda.
[3] Ver principalmente “Satan”, em “Etudes Carmélitaines”. Burges-Paris: 1948; A. Winkelhofer, “Die Welt der Engel” (Ettal s.d.); Id., “Traktat über den Teufel” (Frankfurt 1962).
Se bem que a obra de Giovanni Papini intitulada “Il Diavolo. Appunti per una futura diabologia” (Firenze 1954) não pretenda exigir atenção muito séria, constitui uma prova a mais da orientação acima mencionada.