Ciência e Fé: existência de Deus e ciência contemporânea

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 322 1989)

Em síntese: Os dados da ciência contemporânea (cosmologia, antropo­logia. Paleontologia…), em vez de afastar de Deus o estudioso, aproximam-no cada vez mais. Com efeito. Verifica-se que a massa cósmica não pode ser eterna, mas teve um começo, de certo modo, insinuado pelo big bang. Pode-­se perguntar: que houve antes deste?

E chega-se naturalmente à conclusão de que Deus é o Criador, responsável pela existência e a harmonia da massa inicial Quanto ao ser humano, a sua constituição psicossomática mostra que ele transcende a matéria (embora seja corpóreo); por conseguinte, há no ho­mem um princípio de vida imaterial, que com a alma espiritual integra o ser humano. A alma, não sendo corpórea, não tem origem por evolução, mas existe por um ato criador de Deus; visto que a sua origem é independente, ela também subsiste sem a matéria ou é imortal por sua própria natureza; as­sim se verifica que o núcleo da pessoa humana ou o seu eu consciente é cha­mado a ver a Deus após deixar este corpo, se vive na presença de Deus du­rante esta vida.

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Nos séculos XVII/XVIII o físico inglês Isaac Newton (1642-1727) ex­plicou fenômenos físicos do universo segundo as leis da mecânica. Houve en­tão quem afirmasse que o nosso sistema planetário fora totalmente explana­do em termos seculares ou arreligiosos; daí perguntarem muitos se ainda res­tava lugar para Deus nessa cosmovisão.

Passaram-se séculos… Ainda há quem faça eco ao modo de pensar do século XVIII. Como o caso, por exemplo, do astronauta russo Yuri Gagarin, que, após a primeira viagem feita pelo homem a 100km de altitude no Sputnik, declarou que não encontrara Deus nos espaços cósmicos… Foi este um teste­munho de total carência de cultura religiosa; é claro que Deus não se acha localizado “lá no alto”.

Grande, porém, é o número de cientistas que, nos nossos dias, profes­sam a fé em Deus precisamente por conhecerem melhor o universo do que os antepassados. Entre outros, seja aqui Citado o Dr. Manuel Maria Carreira Verez, Professor de Filosofia da Ciência na Pontifícia Universidade de Co­millas (Madrid) e no Departamento de Física da Universidade John Carroll (Cleveland, Estados Unidos); escreveu o livro “El Creyente ante la Cien­cia”,[1] que o autor apresenta nos seguintes termos:

“Ao escrever estas páginas, recordo-me com prazer de dois grandes cientistas e homens de fé, que tive a honra de contactar durante os meus anos de estudo para obter o Doutorado em Física: o Doutor Karl Herzfeld físico eminente, que abraçou a fé católica a partir do judaísmo e a viveu até a morte com sinceridade e profundidade, que sempre admirei. E o Doutor Clyde Cowan, co-descobridor do neutrino e Moderador da minha tese. Cujo entusiasmo pela harmonia entre a ciência e a fé se manifestava com toda a naturalidade em suas interessantíssimas conversas e no seu costume de dei­xar diariamente o Laboratório para assistir à Missa numa igreja próxima. Estes dois mestres e amigos, atualmente já na vida eterna, que eles tão firmemente esperavam, são prova real de que a pouca ciência afasta de Deus e a muita ciência eleva a Ele” (4ª capa do livro).

Examinemos, pois, alguns dados atuais de cosmologia e antropologia, e reflitamos sobre o que possam significar para o homem que pensa.

1. O Universo: configuração

O Universo que nos cerca não é algo de caótico e confuso, mas um conjunto extremamente complexo dotado de ordem prodigiosa. Aliás, dizia Einstein: “O incompreensível do universo é que ele seja tão compreensível”.

Os cientistas modernos, com seus radiotelescópios, conseguem sondar uma extensão de 20 bilhões de anos-luz[2]; dentro deste espaço descobriram 15 milhões de galáxias, distantes umas das outras como ilhas ou arquipélagos muito densos, que se movem a velocidades vertiginosas.

A nossa galáxia, a Via Láctea – tem, como as demais, a forma de um disco achatado; dois braços gigantescos a envolvem, cercando um núcleo central. O seu tamanho, comparado com o das outras galáxias, é médio, ca­racterizado pelos seguintes dados:

– no interior da Via Láctea brilham 100 bilhões de sóis como o nos­so, entre os quais se estendem nuvens, luminosas ou escuras, de gases e de poeira cósmica;

– o diâmetro da Via Láctea é tão extenso que a luz, tendo a velocida­de 300.000 km por segundo, ou nove bilhões e meio de km por ano, leva 100.000 anos-luz para percorrê-lo de uma extremidade à outra;

– o conjunto de estrelas da Via Láctea gira em torno do núcleo da mesma como uma roda de fogos de artifício; é um conjunto tão gigantesco que o nosso Sol, tendo a velocidade de 220 km por segundo, leva 240 mi­lhões de anos para dar uma volta.

A fim de avaliarmos a extensão do universo que conhecemos, conside­remos não só que a Via Láctea é uma entre 15 milhões de galáxias descober­tas até agora, mas também tenhamos presente que à distância entre umas e outras é tão longa que parecem ilhas e arquipélagos perdidos no oceano do cosmos. A galáxia mais próxima da nossa – Andrômeda – dista da Via Lác­tea dois milhões e trezentos mil anos-luz e a distância entre as diversas galá­xias se avalia em centenas e milhares de milhões de anos-luz.

Cada estrela tem sua energia, luz e calor, que não se devem à combus­tão da respectiva matéria, mas as incessantes explosões termonucleares (se­melhantes às da bomba de hidrogênio), que desprendem grandes quantida­des de energia. A temperatura do Sol, na sua superfície, é de 6.000 graus Celsius (em outras estrelas chega a 80.000oC), e é de 15 milhões de graus Celsius no seu núcleo central. Apesar disto, o universo está às escuras, como o contemplamos em noites estreladas; é também de baixíssima temperatura, pois esta oscila entre a máxima de 1730 negativos e a mínima de 2720 abai­xo de zero (pouco superior ao zero absoluto).

O estudo do espectro da luz procedente das galáxias mostra que as li­nhas de absorção, características dos diversos elementos químicos que inte­gram as estrelas, se deslocam em direção do vermelho.[3] Disto se conclui que as galáxias se vão afastando segundo velocidades diretamente proporcionais à distância; as mais afastadas movem-se a 150.000 km por segundo. Donde também se depreende que o universo está em expansão.

É sobre esta base que se formula a teoria do big bang (ou da grande explosão); segundo esta conjectura, a matéria cósmica toda concentrada num único núcleo ou numa nebulosa primitiva, há 18 bilhões de anos, explodiu e começou a entrar em expansão. No ano de 1978 ganharam o Prêmio Nobel de Física os Professores Amo Perozias e Robert Wilson por terem recolhido, pela primeira vez, um ruído homogêneo extendido por todo o universo, que é o murmúrio decorrente da gigantesca explosão dos tempos iniciais. Os re­sultados dos estudos físico-químicos das estrelas indicam que as maiores parte delas não podem ter mais do que 8 ou 9 bilhões de anos de existência.

A teoria do universo em expansão corresponde, segundo alguns auto­res, a do “universo pulsante”. Com efeito,; na medida em que aumenta a fu­ga das galáxias, diminui a força centrífuga das mesmas por causa da força da mútua atração gravitacional; quando a força centrípeta for mais poderosa do que a centrífuga, as galáxias começarão a se aproximar umas das outras; deverão unir-se e contrair-se até se concentrar em nova nebulosa, que, segun­do julgam, explodirá de novo em tempo oportuno.

Após expor estes dados sobre a configuração do universo, estudemos a sua expansão.

2. O universo: evolução

2.1. Evolução atômica. Na massa gasosa originária, a temperatura e a densidade eram tão elevadas que, em virtude dos contínuos choques, era im­possível formarem-se átomos; havia apenas partículas pré-atômicas, ou seja, neutrônios, protônios, eletrônios… A expansão, porém, foi reduzindo a tem­peratura e a densidade, de modo que as partículas constituíram os primeiros átomos de hidrogênio e de hélio, semelhantes, em sua estrutura interna, a um micro-sistema solar; têm um núcleo integrado por neutrônios e protônios, com carga elétrica positiva, e os eletrônios, de carga elétrica negativa, girando ao redor daqueles[4].

Foi este o primeiro tipo de expansão: a expan­são atômica.

Ainda a respeito dos átomos notemos que são incrivelmente pequenos. O seu diâmetro mede a décima milionésima parte de um milímetro; requerem-se 602.470 trilhões de átomos para que pesem um grama-átomo Apesar disto, os átomos não são maciços, são vazios ocos como o nosso sistema solar, as galáxias e o universo. Sabe-se que 99,9% da massa atômica está concentrada no núcleo, todavia o diâmetro deste mede a centésima milésima parte do átomo. – Imaginemos que se comprimam todos os núcleos atômicos, de modo a formar um todo compacto; a Terra então caberia numa es­fera de 130 metros de diâmetro; o Sol, numa de 13,7 km, e toda a massa do universo estaria no espaço delimitado pelo cinturão de asteróides que, entre Marte e Júpiter, giram em tomo do nosso Sol. Esta seria a extensão da nebu­losa primitiva. Para se ter uma idéia da energia acumulada e neutralizada nos átomos tenha-se em vista o poder destruidor das bombas atômicas; numa só gota de água está condensada uma energia equivalente a 20 milhões de tone­ladas de carbono.

2.2. Evolução cósmica. Cada qual dos conglomerados gasosos dispersos pela explosão foi-se concentrando sobre si mesmo por gravitação no espaço; e, ao girarem sobre si, essas massas foram-se partindo em fragmentos turbu­lentos. Estes, por sua vez, mediante rotação, se condensaram nas estrelas (com seus planetas e seus satélites, em alguns casos). Assim tiveram origem as galáxias como produto da evolução cósmica. Entre elas está a Via Láctea, à qual pertence o nosso Sol, com seus nove planetas, formados há cerca de 4.600.000.000 de anos.

Esta idade é calculada mediante a avaliação do grau de desintegração dos isótopos radioativos

– dos meteoritos rochosos caídos sobre a Terra e procedentes dos as­teróides ou da desintegração dos cometas;

– bem como dos fragmentos e elementos trazidos da Lua pelos astronautas.

Estes diversos tipos de matéria, submetidos ao referido método, indi­cam ter a mesma idade de 4.6000.000.000 de anos.

A Terra possui no equador o diâmetro de 12.075 km; o diâmetro do Sol é de 1.392.000 km; o Sol por si tem 750 vezes a massa toda do nosso sistema solar. A distância da Terra ao Sol é de 149.598.000 km, que a luz percorre em 8,31 minutos.

O diâmetro do sistema solar é de 11.824.225.800 km, que a luz atra­vessa em 10,95 horas. Isto dá a ver que o nosso sistema solar é poeira insig­nificante perdida na Via Láctea, já que a luz necessita de 100.000 anos para atravessar o diâmetro desta.

2.3. Evolução química. No planeta Terra deu-se a evolução química, pré-biológica. O planeta estava envolto numa atmosfera rico de hidrogênio e seu composto e pobre em oxigênio; consequentemente essa atmosfera era penetrada pelos raios solares ultravioletas, portadores de energia. Isto provocou a produção de moléculas simples, elementares, que se foram com­binando entre si, de modo a dar moléculas mais complexas. Destas algumassão os antecedentes das proteínas e dos ácidos nucléicos, essenciais nos pro­cessos vitais.

O bioquímico britânico J.B.S. Haldane e o russo A.I. Oparin estuda­ram a composição da primitiva atmosfera da Terra. O Prof. Stanley J. Miller, da Universidade de Chicago, em seu laboratório, tentou reconstituir as con­dições vigentes na superfície da Terra primitiva. Demonstraram esses estudiosos que as fontes de energia disponíveis podiam induzir a síntese de com­postos orgânicos a partir dos gases presentes naquela atmosfera.

2.4. Evolução biológica. Quando a Terra tinha aproximadamente um bi­lhão de anos – há cerca de 3.500 milhões de anos – começou a evolução biológica. No fundo dos mares devem ter aparecido os primeiros seres vivos: organismos microscópicos. Unicelulares. sem núcleo definido (procariotes)[5], semelhantes ás bactérias atuais.

Dois bilhões de anos depois, ou seja, aos três bilhões de anos da Terra e há cerca de 1.500.000.000 de anos, apareceram às células dotadas de nú­cleo diferenciado (eucariotas). Estas marcam o início de nova era da evolução biológica, pois deram origem aos tecidos de todos os organismos pluri­celulares – vegetais e animais – com diferenciação funcional de suas célu­las.

Ainda mais tarde, no começo da era que chamamos “Primárias”, ou no período câmbrico, há cerca de 600 milhões de anos, começou a diversi­ficação das espécies vegetais e animais nas águas, na terra e nos ares. A va­riedade de viventes assim oriunda é brevemente insinuada pelo Prof. Ri­chard C. Lewontin, da Universidade de Harvard, nos seguintes termos:

“Atualmente existem cerca de 2 milhões de espécies. Dado que se extinguiram 99,9%, ao menos, das espécies que alguma vez existiram sobre a Terra, pode-se imaginar que, desde o começo do período câmbrico, foram aparecendo sobre a Terra dois bilhões de espécies”.

No fim da era secundária e no começo da terciária, há cerca de 67 mi­lhões de anos, apareceram os primeiros primatas ou símios conhecidos. Di­versificaram-se em ramos paralelos sobre os continentes da Terra. Há dez milhões de anos aproximadamente, um desses ramos se bifurcou: de um lado, evoluiu até o tipo dos macacos superiores antropomorfos: o orangotango, o gorila, o chimpanzé; do outro lado, esses primatas desenvolveram-se até tornar o corpo humano extremamente complexo[6] – O surto do homo sapiens deve ter ocorrido há cerca de 2.000.000 de anos; os fósseis foram-se aperfeiçoando até chegar ao tipo do homem atual. As características da pre­sença do homem na pré-história são o uso de instrumentos burilados ou lascados, o do fogo, o sepultamento dos mortos, sinais de inteligência que sabe avaliar as proporções entre os meios e os fins, concebe a noção do Além e possui o senso artístico. A inteligência do homem permitiu a este se adaptar aos ambientes mais diversos desde as regiões árticas até os deser­tos tropicais, produzindo armas, instrumentos de caça, pesca, colheita, con­feccionando vestes e moradas convenientes.

É gratuito dizer que a espécie humana tende pela evolução a produzir um Super-homem. Verdade é que o homem progride cada vez mais em cul­tura e civilização, mas deve-se dizer que o homo sapiens da Idade da Pedra já era da mesma espécie que o homem de hoje; o que a história registra, é o desabrochamento (a principio lento e, depois, acelerado) das virtualidades já existentes nos primeiros representantes da espécie humana.

Põe-se agora a questão filosófico-religiosa: como explicar esse univer­so que, gigantesco e harmonioso como é, tende a seu cume, que é o ser humano?

3. O Universo e Deus

Tudo tem que ter sua razão suficiente ou sua explicação satisfatória aos olhos de quem reflete. Ora qual será a razão suficiente ou a explicação deste nosso universo?

3.1.O arrazoado

Eis algumas ponderações oportunas:

Sabemos que as estrelas, inclusive o Sol, produzem energia pela trans­formação do hidrogênio em hélio, e do hélio em carbono, oxigênio e demais elementos. Isto significa que o Universo teve começo, e um começo relativa­mente recente; em caso contrário, já se teria esgotado o hidrogênio, ao passo que o uso do espectroscópio permite afirmar que 90% de todos os átomos do universo são hidrogênio. Daí deduzir-se que o universo é relativamente “jovem”, tão jovem que apenas usou uma pequena parte do seu combustível nuclear.

Retrocedamos, no tempo, até a explosão inicial ou o big bang. Há quem admita um universo (ou uma massa) em contração antes dessa grande explosão e da conseqüente expansão. Exploremos essa hipótese, cientes de que é hipótese.

Perguntamos então: que havia antes dessa contração da massa?

Não se pode dizer que essa massa condensada não teve começo ou é eterna. Diga-se, pois, que antes ela estava em expansão, como atualmente es­ta; teríamos assim um universo cíclico, com fases de condensação e outras de expansão. Essa sucessão de ciclos, porém, não pode ser infinita ou sem fim, por diversos motivos. Com efeito; a energia cinética ou motora se trans­forma em térmica ou em energia motora, de modo que o universo tende à imobilidade com temperatura estável. É forçoso, pois, reconhecer que a, mas­sa cósmica teve um começo e que esse começo se deve à obra criadora de Deus.

3.2. Objeções

Diante da conclusão acima alguns cientistas levantam duas objeções:

1) “E donde vem Deus?”. Não adianta dizer que Ele é infinitamente an­tigo ou é presente a todas as épocas’’. – Em resposta, observamos; Deus não é material nem sujeito às leis físicas da evolução. Por conseguinte, o concei­to de tempo não se pode aplicar a Deus; Deus não conhece nem sofre mu­danças nem evolução, porque, por definição, Ele é absoluto e eterno. Deus está fora do tempo ou é anterior ao tempo, porque o tempo é a medida do movimento da matéria mutável, ao passo que Deus, por definição, não é ma­téria mutável. Quem concebe um Deus que evolui, não está concebendo Deus, mas uma criatura”.

2) “A criação é inadmissível aos olhos dos físicos, pois este sabe que no universo nada se cria e nada se destrói’ (Lei de Lavoisier)”. – Responde­mos que esta lei física tem em vista a matéria já existente, não a origem da matéria. É certo que, nas reações físico-químicas provocadas pelo homem, existe depois da reação a mesma quantidade de massa-energia que havia an­tes da reação; nenhuma criatura pode criar ou aniquilar coisa alguma; apenas consegue transformar. A criação, mesmo que de um só átomo, requer um poder infinito capaz de atingir as raízes do existente, passando do não-ser ao ser; ora só Deus é este Ser de poder infinito, por definição. Portanto não se lhe aplica a lei de Lavoisier.

Assim, vê-se que, para a pergunta; “Qual é a causa do universo?”, ou não se dá resposta ou só se pode responder apontando para Deus como Ser Supremo e Criador.

O físico V.R. Jastrow, que trabalha para a NASA e se diz agnóstico, escreveu o livro “Deus e os astrônomos”, no qual afirma: “No momento atual parece que a ciência nunca poderá levantar a cortina do mistério da criação”. Termina, porém, a obra imaginando um pesadelo: um cientista que vai dificilmente escalando as montanhas do saber está a ponto de conquistar o pico mais elevado; quando, porém, atinge a última e mais alta rocha, é saudado por um grupo de teólogos, que lá se acham sentados há séculos!

4. O ser humano e Deus

Pergunta-se também: qual a explicação que a Filosofia pode dar para a origem do homem sobre a Terra?

O homem é um ser que, no plano físico, se distingue por seus órgãos altamente complexos e especializados, como são os olhos, os ouvidos, o coração… Verdade é que existe uma afinidade de estruturas e de composição bioquímica entre o homem e os outros primatas; isto o torna, de certo mo­do ligado aos demais viventes, mas essa afinidade é acompanhada por requintes e finuras de complexidade que distanciam muito dos primatas o ser humano. No plano psicológico, o homem também é singular; é consciente de si (faz e sabe que faz…); é livre, podendo optar pelas mais imprevistas alter­nativas; é criativo no plano das artes e da indústria; é dotado de linguagem, que lhe permite entrar em comunhão com os seus semelhantes.

Estas expressões do ser humano supõem a inteligência, que permite ao homem ultrapassar o plano dos objetos materiais e sensíveis (esta rosa, esta criança, este cão…), a fim de atingir o abstrato, universal e imaterial (a rosa como tal, a criança como criança, o cão como cão…). Ora o princípio vital intelectivo não pode ser fruto da evolução da matéria; tem origem indepen­dente desta ou é criado imediatamente por Deus. Em síntese, pode-se dizer: quando o corpo do primata estava bastante evoluído ou organizado, Deus criou e infundiu-lhe a alma espiritual, donde resultou o primeiro homem. As Escrituras não se opõem a esta explicação, pois não foram redigidas para ensinar ciências naturais, mas para transmitir aos seus leitores uma mensagem religiosa, ou seja, a notícia de que o homem, como tal, é depen­dente de Deus e por Ele amado, como o barro é dependente do seu oleiro, que muito o estima.

A alma humana, que não é proveniente da matéria, também não pere­ce com a matéria: não se destrói, mas é imortal por sua própria natureza. Assim o núcleo da personalidade humana ou o próprio eu consciente é cha­mado a se encontrar com Deus quando pela morte é separado do corpo; a alma, que não é matéria, poderá usufruir a visão de Deus, que também não é matéria, se no decorrer da vida presente souber viver na presença de Deus.

Eis o que um confronto entre a ciência e a fé permite dizer em nossos dias. Realmente verifica-se que a pouca ciência afasta de Deus, ao passo que a muita ciência leva a Deus, ou, como diz C.F. von Weizsacker: “O primeiro trago da taça da ciência nos separa de Deus…, mas no fundo da taça Deus espera aqueles que O procuram”.

A propósito:

JUAN LUMBRERAS, Dios Existe. Cadernos BAC n° 39. Madrid 7987.

MANUEL CARREIRA VEREZ, El Creyente ante la Ciencia. Cuader­nos BA C n9 57. Madrid 7982.

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NOTAS:

[1] Cadernos BA C n? 57 Madrid 1982.

[2] O ano-luz é a distância percorrida pela luz em um ano; equivale a 9.500.000.000 de km.

[3] Segundo a lei de Christian Doppler (1803-53), as ondas de qualquer natu­reza (luminosas, sonoras, eletromagnéticas…) tornam-se maiores ao se afas­tarem do seu ponto de origem. As ondas maiores se refletem no espetro na faixa do vermelho.

[4] Os átomos de hidrogênio têm um só elétron, ao passo que os de hélio têm dois; por isto são os primeiros átomos a formar-se. Atualmente 90% da ma­téria do universo é hidrogênio e 9% é hélio; o restante 1% consta principalmente de oxigênio, nitrogênio, néon, enxofre, silício e ferro.

[5] Na África do Sul, em Fi Tree e Onverwacht encontram-se as rochas mais

antigas da terra, tendo 3.200 a 3.400 milhões de anos respectivamente; ne­las foram achados micro fóssil de algas verde-azuis semelhantes às atuais.

[6] A filosofia e a fé completam estes dizeres, como veremos mais adiante, afirmando que Deus criou e infundiu a alma humana espiritual nesses corpos organizados, de modo a dar origem aos primeiros pais. Por conseguinte, a alma humana, princípio vital do homem, não é fruto da evolução, mas é cria­da diretamente por Deus para cada ser humano que vem ao mundo.