Gostaria de falar esta semana sobre o valor das dificuldades.
Já de cara alguém poderia dizer: como assim falar sobre o “valor” das dificuldades? Há algum valor nelas? Por acaso elas trazem algum bem?
O que vocês diriam se alguém fizesse estas perguntas?
Eu diria que depende do ponto de vista!
De fato, se olhamos esta vida numa perspectiva materialista, rasteira, ao rés da terra, onde o bem-estar é a razão de ser da vida, então não se entende que haja dificuldades. Elas são um inimigo claríssimo do bem-estar físico e material.
No entanto, Deus nunca disse que nós estamos aqui na terra para alcançarmos um bem-estar físico e material. Disse, isto sim, que estamos, de passagem, para preparar-nos para a outra vida, que estamos aqui para alcançarmos um bem-estar espiritual, interior, para sermos felizes, para parecer-nos cada vez mais com Ele, crescendo a cada dia nas virtudes.
Sob este ponto de vista, isto é, crescer nas virtudes, parecer-nos cada vez mais com Jesus, as dificuldades não são um obstáculo e sim o contrário: são uma ocasião para este crescimento.
Neste sentido se diz que as virtudes são “onívoras”, isto é, não são nem herbívoras, que se alimentam só de verduras, nem carnívoras, que se alimentam só de carne, mas são “onívoras”: são alimentam de tudo, tanto das coisas boas como das coisas ruins que nos acontecem.
Pensemos em alguns exemplos.
Ex: excesso de trabalho, tempo apertado. Realmente nos impede de ter uma vida tranquila, mas esse não é o verdadeiro bem da nossa vida. O excesso de trabalho nos leva a recorrer a Deus para pedir ajuda, nos leva a crescer na virtude da ordem, nos leva a adquirir um maior ritmo de trabalho. Tudo isto está nos fazendo crescer, parecer-nos mais com Deus, ser mais felizes.
Ex: uma gripe. Pode ser motivo de queixa para muita gente e ser um fardo, principalmente quando se une com outras contrariedades. Mas não deve ser vista dessa forma, pois uma gripe nos faz recorrer a Deus para pedir forças para suportá-la, nos faz pensar nas pessoas que sofrem e estão nos hospitais, com sofrimentos muito maiores, nos faz crescer na virtude da paciência, fundamental para o relacionamento com os outros. Tudo isto está nos fazendo crescer, parecer-nos mais com Deus, ser mais felizes.
Ex: os fracassos nas provas, na vida profissional. Leva-nos a ser mais humildes, a ser mais pacientes nas nossas conquistas, a compreender as pessoas que também fracassam. Tudo isto está nos fazendo crescer, parecer-nos mais com Deus, ser mais felizes.
Como se vê, tudo depende do “ponto de vista”!
Tenho sabido ver as coisas a partir deste ponto de vista ou:
– tenho sido uma pessoa queixumenta?
– tenho sido uma pessoa azeda, amarga, que vê tudo do lado negativo?
– tenho me afundado diante das dificuldades?
O mais importante é que saibamos suportar as dificuldades com alegria, que não andemos pelo mundo queixando-nos das dificuldades, lamentando-nos, arrastando-nos. Por quê? Porque esta não é uma atitude cristã, pois o cristão vê nas dificuldades um bem, um grande bem: uma realidade permitida por Deus para o nosso crescimento interior, para a verdadeira felicidade.
Que nunca deixemos de olhar a vida com esta perspectiva cristã, de crescimento interior, e assim seremos muito mais felizes.
Uma santa semana a todos!
Pe. Paulo