A dor, como já percebemos, é um grande mistério! Por que ela existe? Deus não poderia criar este mundo sem dor?
Eu diria: poderia! Deus poderia criar este mundo do jeito que Ele quisesse pois, afinal de contas, Ele é Deus.
Mas então, porque permite a dor? Esta dor que faz tanta gente sofrer tremendamente, como sei de muitas pessoas que estão sofrendo agora: por uma doença grave, pela perda de uma pessoa querida, pelo rompimento de um amor, por um revés econômico, pelo abandono de um marido ou de uma esposa, pela pobreza, por ter perdido a casa numa enchente, pelo drama da guerra, etc, etc.
A primeira coisa que devemos dizer a este respeito é que a vida aqui na terra não é o Céu. Parece simples dizer isto, mas há muitas pessoas que pensam que aqui é ou deveria ser o Céu. Temos que lembrar que o Céu, a felicidade plena sem dor, sem sofrimento, sem cansaço, sem tristeza, virá e será para sempre, para sempre, para sempre, mas só na outra vida. Segundo o desígnio de Deus, esta vida aqui é um tempo de prova. Um tempo para provar o nosso amor a Deus, para amadurecer neste amor, e assim estarmos preparados para viver com Ele na outra vida.
Desta forma, Deus, na sua imensa sabedoria, que excede a nossa capacidade de entendimento, quis que este caminho de amadurecimento do amor, passasse pela dor. Mas Deus não permitirá a dor pela dor. Deus é a pura bondade. Se Ele permite a dor é porque ela se converterá num bem imenso, num bem que ainda não possuimos. Por maior que seja a dor, Deus só a permite porque será uma fonte extraordinária de bens para a nossa vida.
Com a ajuda da fé, podemos ver alguns bens extraordinários que surgem ao trilharmos o caminho da dor.
A dor:
a) com relação à própria pessoa
– nos amadurece; como dizia um autor, “A dor molda-nos, faz-nos únicos, torna-nos pessoas. O amor verdadeiro, por exemplo, floresce em meio a dor; tem necessidade de orvalhos, de risos quotidianos, de alegrias, mas também de lágrimas, de horas escuras vividas em comum, de sucessivas revelações mútuas de fraquezas; de perdões oferecidos repetidas vezes”. Não é verdade que conhecemos pessoas que justamente porque passaram por momentos muito duros na sua vida se tornaram pessoas de uma enorme riqueza interior?
– nos fortalece; assim como a árvore que está no alto da montanha submetida constantemente aos fortes ventos torna-se mais robusta do que as que ficam no fundo do vale.
b) com relação aos outros:
– une os familiares, os amigos em torno ao que sofre; quantas vezes a dor é a ocasião que Deus se serve para que uma família que estava separada volte a estar unida ou estreite ainda mais a união.
c) com relação a Deus
– nos faz descobrir a única coisa mais importante desta vida: Deus; como dizia um autor, “a dor é um megafone de Deus”; é um instrumento que Deus se serve para percebermos que a nossa vida está totalmente nas suas mãos; se não fosse Ele não existiríamos, não teríamos saúde, não teríamos todos os bens que temos. É na dor que ficamos sem “chão terreno” e descobrimos o “chão divino”.
– nos leva a rezar; quantas pessoas começaram a rezar porque experimentaram uma dor mais forte.
– faz brilhar o bem; como dizia um santo, é a sombra de um quadro que ressalta os objetos pintados; de fato, se alguém faz o bem, este bem tem muito mais mérito porque esta pessoa poderia estar fazendo ou seguindo o caminho do mal. O contraste com o mal torna o bem mais valioso.
– nos identifica com Cristo que morreu na Cruz; como diziam os santos, se Ele morreu na Cruz e é nosso mestre, porque nós, que somos seus discípulos, não vamos também carregá-la? Carregando a Cruz nos unimos a Cristo, estreitamos os laços com Ele.
– purifica os pecados cometidos na nossa vida; a dor é a ocasião para esta purificação necessária.
– é instrumento de salvação daqueles que estão afastados de Deus; para entendermos esta verdade, conto uma pequena história que ouvi de um sacerdote.
Numa enfermaria de um hospital de câncer, com crianças terminais, Marcelinho gritava agoniado de dor poucos dias antes de morrer. Como ninguém conseguia que se acalmasse foi até lá o capelão para conversar com ele. Ele continuava gritando, esperneando. Até que o sacerdote lhe mostrou o crucifixo e lhe disse que Cristo também sofreu muito na Cruz e estava em silêncio porque estava oferecendo as suas dores para nos salvar. Disse-lhe que ele também poderia fazer aquilo. Marcelinho perguntou como poderia fazer isto. O capelão lhe disse: Pois faça o seguinte. Você vê aquela menina ali, ela se chama Olívia. Ela é muito boa, mas não está querendo se confessar. Seria muito importante que ela se confessasse, pois pode morrer a qualquer momento. Que tal oferecer as suas dores para que ela se confesse? Marcelinho topou. A partir deste momento, a sua atitude mudou completamente. O protesto converteu-se em paz e sorriso. A enfermeira estava impressionada. Marcelo entrou em agonia e perdeu os sentidos. A enfermeira observou que tinha o punho direito sempre fechado e que pronunciava uma frase que ela não conseguia entender. Quando faleceu, abriu-lhe a mãozinha e dela tirou um papel amarrotado onde estava escrito: Olivia. Foi então que entendeu as palavras que Marcelo murmurava: – Por Olívia… por Olívia… Mas o mais admirável foi que, exatamente na hora em que Marcelo falecia, Olívia, espontaneamente, sem nada saber do fato, dizia ao capelão que queria confessar-se.
Talvez este seja o maior bem da dor: salvar as almas. Como Ele quer salvar os seus filhos a qualquer custo, conta sempre com um punhadinho de gente aqui na terra que também carregue a Cruz, às vezes mais pesada, mais parecida com a dEle, para que o ajudemos a levar muita gente para o Céu.
Apesar de todas estas razões para mostrar que a dor é um bem, nunca ela deixará de ser para nós um mistério. Mas todo aquele que a carrega pode contar com um enorme consolo de Deus trasmitido numa das bem-aventuranças: “Bem-aventurados os que choram porque serão consolados”. Esta é a promessa maravilhosa de Deus: não há ninguém que chora que não será por Ele consolado.
Pe. Paulo