Egoísmo no casamento

Olá todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “egoísmo no casamento
 
Há dezesseis séculos, Santo Agostinho escreveu um livro que até hoje é muito comentado e lido, assim como a sua autobiografia, “As Confissões”. O nome desse livro é “Dois Amores e Duas Cidades”.
 
Santo Agostinho, neste livro, com grande profundidade humana, diz que aqui na terra só existem dois amores; que, por trás de cada uma das nossas ações, vão ficando evidentes apenas dois amores que nos movem: o amor a nós mesmos (a busca dos próprios interesses, a auto idolatria, o endeusamento de si próprio) ou o amor a Deus (no qual se incluem o amor aos outros e a busca do bem do outro, de Deus, como razão de ser da vida).
 
Só há então duas possibilidades aqui na terra, segundo Santo Agostinho e eu concordo plenamente com ele: ou vamos amando a nós mesmos e crescendo nesse amor até chegar ao desprezo mais absoluto por Deus e pelos outros ou vamos amando a Deus e aos outros até chegar ao desprendimento mais absoluto de nós mesmos.
 
E esses amores são tão opostos que cada um deles tende a fundar uma cidade completamente diferente da outra: a cidade dos que amam a si mesmos acima de tudo, dos egoístas, e a cidade dos que amam acima de tudo a Deus e ao próximo. Daí então, o título do livro: “Dois amores, duas cidades”.
 
Seguindo Santo Agostinho, com relação ao casamento, só existem duas possibilidades: amar o cônjuge e ir crescendo no amor por ele até chegar ao desprendimento mais absoluto de si mesmo (sem se anular) ou amar a si mesmo e ir crescendo nesse amor até chegar ao desprezo mais absoluto pelo cônjuge. Em outras palavras: ou encontrar a alegria, a felicidade, na alegria de fazer o outro ser feliz, ou encontrar a felicidade na alegria de fazer-se feliz.
 
Como ninguém é perfeito, somente Deus, e como vivemos hoje numa sociedade imensamente egoísta e individualista, uma sociedade onde a preocupação sincera pelo próximo não é moeda corrente, uma sociedade com famílias pequenas onde as crianças, muitas vezes filhas únicas, vivem satisfazendo os seus gostos a toda hora, hora passando horas e horas no celular, nos vídeo games, assistindo séries, hora satisfazendo o seu gosto na comida, na bebida etc, não é de estranhar que haja muito egoísmo dentro do casamento, onde só deveria existir amor.
 
Assim uma pessoa pode estar casada e buscando a sua própria felicidade:
– pensando no cônjuge como alguém que está aí para “lhe” fazer feliz;
– querendo fazer a toda hora os seus planos: forçando a barra para ir ao restaurante que gosta, fazendo o passeio que gosta, forçando a barra para ficar em casa se prefere ficar em casa, para sair se prefere sair, forçando a barra para viajar para onde lhe apraz etc.
– fazendo os seus planos pessoais: estar com seus amigos, fazendo o seu esporte, assistindo ao seu programa de televisão, estando no celular um bom tempo não dando atenção ao cônjuge etc.
– buscando a sua felicidade no trabalho: na sua carreira profissional, no seu sucesso, na sua fama.
 
O egoísta é uma pessoa que ainda não descobriu que dá mais alegria fazer o outro ser feliz (o cônjuge), do que buscar a sua própria felicidade.
 
E como dizia Santo Agostinho, ou vamos crescendo no egoísmo ou vamos crescendo no amor. Ou o cônjuge vai se tornando a razão de ser da sua vida ou ele mesmo vai se tornando a razão de ser da sua vida. O egoísmo e o amor estão dentro de nós travando uma batalha contínua e um dos dois vai vencer.
 
Para onde está indo o meu coração? Sou egoísta? De zero a dez, qual é o nível do meu egoísmo?
 
Para fazer um exame, vejamos alguns sinais do egoísmo. Sou egoísta:
– quando estou mais centrado em mim do que nos outros, no cônjuge;
– quando o meu eu ocupa o centro dos meus pensamentos (vale lembrar aquela frase de Jesus: “Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração”); se o meu tesouro sou eu mesmo, meu coração estará em mim;
– quando esqueço coisas importantes (data de algum aniversário, consulta médica, prova, entrevista de emprego etc) de quem eu amo ou deveria amar;
– quando vou tranquilamente atrás do meu hobby, do meu descanso, e não penso ou não percebo que uma pessoa que eu amo ou deveria amar está precisando de uma ajuda;
– quando dificilmente me ponho no lugar dos outros para perceber suas preocupações, suas necessidades, seus problemas;
– quando estou mais preocupado com meu descanso, com minha fome, com meu trabalho etc do que com o descanso, a fome, o trabalho de quem eu amo ou deveria amar;
– quando não sou generoso em dar o meu tempo a quem amo ou deveria amar;
– quando falo que amo, mas demonstro com poucas obras o meu amor;
 
Lembrar também que o egoísmo é muito sutil. Ele pode estar escondido com a capa do amor. Por exemplo:
– um marido pode dizer que chegou tarde do trabalho porque está procurando o sustento da família, quando no fundo está chegando tarde porque o trabalho é a sua felicidade ao invés da esposa;
– um marido pode comprar um carro dizendo que aquilo é para a família, quando no fundo comprou pensando nele, em satisfazer o seu prazer;
– uma esposa pode dizer ao marido que quer comprar uma nova casa porque aquilo será muito bom para todos, quando no fundo quer uma nova casa para se gabar diante das amigas;
– uma esposa pode dizer ao marido que determinada escola será melhor para a filha, que o ensino é muito bom, quando no fundo o quer é ver-se livre de ter que levá-la para a escola.
 
Procuremos pensar nessas ideias para eliminar todo egoísmo que possa haver no coração e ter um amor cada vez mais puro.
 
Uma semana abençoada a todos!
 
Padre Paulo M. Ramalho
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Padre Paulo M. Ramalho – Sacerdote ordenado em 1993. Cursou o ensino médio no colégio Dante Alighieri. Engenheiro Civil formado pela Escola Politécnica da USP; doutor em Filosofia pela Pontificia Università della Santa Croce. Atende direção espiritual na igreja Divino Salvador, Vila Olímpia, em São Paulo.