Hipnose: o que é

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 440/1999)

Em síntese: O Dr. Antônio Carlos de Moraes Passos e a Dra. Isabel Cristina Labate Marcondes publicaram interessante livro sobre a hipnose, abordando a história, as teorias e a metodologia da hipnose; consideram também as aplicações clínicas e terapêuticas assim como as contra-indicações da hipnose; pode ser altamente benéfica quando bem aplicada, mas será nociva quando indevidamente aplicada. O artigo que se segue, explana o que o livro afirma no tocante a fenômenos muitas vezes tidos como procedentes do além, quando na verdade se derivam do próprio psiquismo humano.

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O Dr. Antônio Carlos de Moraes Passos (ACMP) e a Dra. Isabel Cristina Labate Marcondes (ICLM) publicaram valioso livro sobre “Hipnose. Considerações Atuais”[1], apontando vantagens do recurso à hipnose na terapia de doenças e falhas do comportamento como também contra-indicações da mesma; apresentam a metodologia indutora, além de outras questões atinentes à temática. O livro é de alto nível científico. Nas páginas subseqüentes interessar-nos-á pôr em relevo alguns tópicos da obra que têm incidência em fenômenos tidos como “místicos” ou religiosos.

1. Hipnose: que é?

Eis como os autores definem a hipnose:

«Podemos dizer que a hipnose é um estado do estreitamento de consciência, provocado artificialmente, que geralmente (mas nem sempre) se parece com o sono, porém fisiologicamente dele se distingue, e que se caracteriza pelo aparecimento espontâneo (ou em resposta a um estímulo verbal, ou a outro qualquer) de uma variedade de fenômenos que incluem: 1 – alteração da atenção; 2 – alteração da memória; 3 – aumento da sugestionabilidade; 4 – produção, no paciente, de idéias e respostas diferentes daquelas do seu estado mental normal; 5 – alterações motoras e sensoriais; 6 – aumento da labilidade dos processos regulados pelo sistema nervoso autônomo» (p. 16).

Assim entendida, a hipnose não se identifica com o sono convencional. Pode haver, sim, transição do transe hipnótico para o sono propriamente dito.

Pergunta-se em conseqüência: que é sugestão? – Eis a resposta fornecida pelos autores:

«Sugestão significa induzir aquela convicção de modo direto, sem oferecer ao indivíduo elementos nos quais ele possa apoiar-se, senão expressando-lhe simplesmente o objeto da convicção e utilizando sua capacidade de transformar automaticamente a compreensão em um ato correspondente…

A sugestão se revela assim como um processo psíquico de caráter irracional, em grande parte inconsciente, que segue a mesma particular relação emotiva-efetiva» (p. 17).

Os autores, a seguir, apresentam certas experiências que demonstram o grau maior ou menor de sensibilidade dos pacientes. Nem todos se prestam a ser levados ao transe hipnótico:

«O número de testes de sensibilidade é grande, sendo os mais comumente usados:

– O Entrecruzamento das Mãos e/ou Entrecruzamento dos Dedos. Pede-se ao indivíduo que aperte uma mão contra a outra, com os dedos cruzados. Diz-se ao paciente: ‘Olhe fixamente para suas mãos e para seus dedos. Eu vou contar até cinco. À medida que eu for contando, suas mãos e seus dedos irão se colando uns nos outros. Quando chegar em cinco, você não poderá abrir os dedos nem as mãos.’ Conta-se então de um até cinco, dizendo-se: ‘Não pode abrir, não pode abrir. Tente abrir, tente’. Alguns não conseguem abrir nem os dedos; outros conseguem, mas com dificuldade alguns segundos depois e outros abrem imediatamente. Os dois primeiros grupos indicam os indivíduos mais sensíveis que são separados e passam ao segundo teste.

– Teste de Oscilação Lateral do Corpo. Põe-se o indivíduo em pé e manda-se que ele feche os olhos e imagine que seu corpo está oscilando de um lado para outro. Pode-se dar até uma imagem para isso, dizendo que ele está em um barco em um rio e que o barco oscila de um lado para outro. Alguns oscilam, outros não. Aqueles que responderam bem a essa oscilação passam para o terceiro teste. Os outros são excluídos.

– Teste da Queda para Trás. Pede-se ao indivíduo que fique em pé, feche os olhos, fique em uma posição com seu corpo duro, rígido, como se fora de um soldado em posição de sentido. O operador fica atrás do paciente e repete várias vezes: ‘Seu corpo vai ficando duro, duro, duro, rígido, rígido, rígido, como uma tábua, duro, duro, duro. Agora seu corpo, duro e rígido, vai caindo para trás’. Os sensíveis têm uma queda, precisando inclusive ser amparados pelo hipnotista. Aqueles que responderam bem ao teste são utilizados; os outros são dispensados.

Existem muitos outros testes que também são usados, conforme a preferência do hipnotista» (p. 19).

2. Em transe hipnótico: uma experiência

Eis uma experiência de hiperestesia[2] cutânea muito significativa induzida por sugestão feita a uma pessoa hipnotizada. O relato é da própria paciente:

“Submeti-me à hipnose duvidando um pouco de sua veracidade, apesar de ter assistido ao transe de alguns colegas. Estava, entretanto, curiosa. Eis aquilo de que me recordo:

Abri e fechei os olhos (pestanejando) 25 vezes, olhando sempre para o mesmo ponto. Já sentia as pálpebras cansadas quando ele (o médico) me disse que as conservassem fechadas. Ele me disse que abaixasse a cabeça. Abaixei, porém várias vezes involuntariamente a levantei, mas tornava a baixá-la mediante nova sugestão. Senti o corpo todo muito relaxado durante toda a sessão e não fiz obstáculos a isso.

Não me recordo de ter sido feita a catalepsia de meu braço. Se foi feita, esqueci totalmente, por isso não posso dizer se levantei o braço ou não.

Quando ele me disse que iria colocar algodão nos meus ouvidos, para eu não ouvir mais os barulhos do ambiente, eu estava sabendo que era somente sugestão, que o algodão não existia. Porém, quando ele levou as mãos aos meus ouvidos, eu quis imaginar que de fato ele estava colocando o algodão e que eu não iria ouvir nada dali em diante. Não sei se depois disso o telefone e/ou a campainha tocaram, se as conversas continuaram lá fora, ou se houve outros barulhos. É certo que eu não ouvi, daí em diante, nada mais a não ser a sua voz. Não me lembro de mais nada.

Lembro-me de ter feito um movimento de vaivém com o braço direito e ele me ter dito… ‘não pode parar; não pode parar’. Não sei se consegui parar ou não; não me lembro.

Então foi-me sugerido que imaginasse uma panela com água fervendo sobre o fogo. Consegui imaginar rapidamente o fogo; um fogo muito forte. Imaginei, também, a panela sobre o fogo. A água fervia trazendo bolhas à superfície. O vapor que dela se desprendia era muito quente. Foi-me sugerido que passasse a mão direita sobre a panela. Obedeci, mas, antes de concluir a ação, pensei na possibilidade de sentir realmente o calor da água fervendo. Foi então que tive a consciência de que me sentia muito mal. Minha respiração não era normal. Concluí a ação e coloquei a mão sobre a panela. Cada vez me sentia pior; uma onda de calor invadia-me o corpo e minha cabeça pesava tanto que me parecia não mais poder levantá-la. Retirei a mão de cima da panela para meu colo, e lembro-me vagamente de ouvir: ‘…sua mão está vermelha… sua mão está dolorosa… quente… sensível… vermelha…’ Não me recordo de tê-lo ouvido dizer se iria doer ou não.

Nesse momento meu mal-estar aumentava tanto que só me recordo de uma fortíssima dor na nuca, uma dor horrível, e de sentir muito calor. Tive a impressão de que iria ficar louca; que jamais voltaria ao meu estado normal. Levantei-me da cadeira onde me achava sentada; não podia mais continuar ali impassível, do contrário acabaria enlouquecendo mesmo. Tive medo do que estava por vir. Não sei bem o que disse naquele momento. Sei que falei alto; talvez tivesse gritado; não sei. Lembro-me de despir o casaco de malha que trazia vestido e de levar as mãos à cabeça. Se fiz alguma coisa a mais, não me recordo. Depois deitei-me e lembro-me de que fiz tudo para não pensar que iria ficar louca, para esquecer a dor de cabeça e para obedecer-lhe prontamente em tudo que me sugerisse. Naquele momento quis confiar nele, acreditando que ele seria capaz de me fazer melhorar. Não me recordo do que me sugeriu. Não tenho idéia de quanto tempo fiquei em repouso. Quando me levantei, não sentia mais calor. A dor na nuca diminuíra consideravelmente, embora não tivesse desaparecido totalmente, pois ainda sentia uma dor muito leve, que perdurou pelo resto daquela tarde.

Devo assinalar que, quando me submeti à hipnose, sentia-me muito bem, e que, também, não sofro de dores de cabeça, sendo muito raro tê-las” (p. 215).

Este caso explica fenômenos ocorrentes no espiritismo e mesmo fora dele. Há pessoas que ouvem, vêem, sentem… coisas estranhas e juram que existe algum objeto real que provoca as respectivas sensações; haveria, sim, como dizem, um espírito desencarnado, um anjo bom ou mau, um exu responsável pelo fenômeno. Tal hipótese está superada; trata-se de alucinações visuais, auditivas, sensoriais que a pessoa sugestionada por si mesma ou por outrem concebe e padece.

3. Hipermnésia (memória ampliada)

Um dos mais interessantes fenômenos ocorrentes com pessoas hipnotizadas é a Hipermnésia ou a exacerbação (ampliação) da memória: o(a) paciente hipnotizado(a) se lembra facilmente de muitas coisas do seu passado,… coisas de que não se lembra em estado de vigília. – Eis o que referem os autores em pauta:

«Cralsineck apresentou no 35º Congresso da Pan American Medical Association um trabalho sobre hipnose e memória. Constou de dois tipos de experimentação:

Primeira experimentação: Uma estudante com QI de 130 leu em 15 minutos dez páginas de História. Interrogada sobre questões específicas, datas, nomes, sobrenomes etc. pôde responder somente a 35% dos itens. Sob hipnose foi dada uma história semelhante em igual tempo. Interrogada, respondeu a 98% das questões; repetiu longas passagens; foi capaz de dar o número da página de alguns parágrafos e até a linha de certas palavras.

No segundo experimento, Cralsineck separou um grupo de 10 estudantes de enfermagem com QI iguais. Deveriam memorizar 10 grupos de sílabas sem-sentido, durante três minutos. Nenhum foi capaz de repetir as sílabas. Sob hipnose, um outro grupo (tanto quanto possível igual ao primeiro) leu o mesmo grupo de sílabas e obteve 96% de respostas certas…» (pp. 28s).

«O Dr. Gerlach, professor nascido em Koenigsberg, na Prússia Oriental, foi mobilizado e incorporado ao VI Exército Alemão, que marchou sobre Stalingrado. Em 30 de janeiro de 1943, foi ferido e feito prisioneiro pelos soviéticos. Durante seu cativeiro escreveu suas impressões sobre a Desvalorização de Todos os Valores. O manuscrito foi descoberto, o que lhe valeu alguns anos em um campo de concentração. Somente foi libertado cinco anos após o término da guerra. Voltou para a Alemanha, e tentou, então, recompor de memória o manuscrito que fizera na prisão. Não conseguiu ir além de alguns fragmentos, poucas frases, desistindo então da idéia. Leu, ocasionalmente, um artigo sobre experiências realizadas por um médico de Munique sobre recordações do passado com o auxilio da hipnose. Procurou esse médico que se prontificou a tratá-lo. Durante três semanas foi hipnotizado duas vezes por dia, durante duas a três horas. Sob o transe hipnótico Gerlach ditou, quase sem interrupção, todas as suas memórias, que publicou no livro – O Exército Traído – e foi um best-seller. O médico, que não cobrara pelo tratamento, quando soube do êxito do livro, reivindicou judicialmente participação nos lucros, a título de pagamento de honorários. Ganhou a pendência judicial» (p. 29).

Estes fenômenos produzidos naturalmente, fora de qualquer ambiente religioso, explicam casos ocorrentes com pessoas que apresentam memória prodigiosa, como se fossem inspiradas por um espírito do além ou como se fossem espíritos reencarnados após algumas existências pregressas. O estado hipnótico, que torna a memória mais fecunda, é acarretado pelo ambiente do centro espírita ou do terreiro de Umbanda, sem que haja intenção de hipnotizar alguém: o próprio paciente pode-se auto-hipnotizar pela sugestão que ele incute a si mesmo, acreditando que receberá um espírito que lhe revelará o que ele tiver esquecido. Quem compreende o poder da hipnose, dispensa qualquer explicação por recurso ao além.

4. Escrita automática ou Psicografia

A psicografia (escrita automática) pode ser induzida em laboratório ou em consultório psicológico sem ritual ou independentemente de ambientes “místicos”; é um fenômeno natural, explicável pela capacidade do agente, sem intervenção do além.

A técnica da psicografia é utilizada para tratamento de conflitos psicológicos ou em psicoterapia. Eis o que referem os autores ACMP e ICLM:

«Esta técnica é de grande valor quando surgem na psicoterapia situações que não podem ser resolvidas pela expressão de uma simples palavra ou frase. O nome de uma pessoa pode ser de grande significação, mas por razões de consciência o paciente pode não desejar decliná-lo, como por exemplo em um caso de incesto ou pederastia.

Tivemos um caso de uma paciente, professora de nível secundário, que apresentava uma neurose de angústia por conflitos que tinha entre a sua formação rígida e os namoros com os quais ela se defrontava. Entrou na etapa sonambúlica (V) da escala. Usamos a seguinte técnica: No consultório, sob hipnose, fizemos sua iniciação na escrita automática, treinando-a da seguinte forma: colocávamos a paciente sentada com uma pasta sobre as pernas e sobre esta pasta, seu braço direito e na mão um lápis. Dávamos as sugestões clássicas da escrita automática que são: ‘Você não vai sentir o seu braço direito… Seu braço direito vai ficando como que separado de seu corpo… Sua mão direita poderá se mover à vontade… Sua mão poderá escrever sobre o papel à vontade… poderá escrever à vontade… sua mão se mexerá à vontade… independente do que você possa pensar… aliás você não está pensando em nada… Sua mente fica em branco… em branco… em branco…’

Decorridos alguns instantes, a mão direita se moveu e começou a fazer uma série de rabiscos. Em hipnoses posteriores, esses rabiscos se tornaram letras e, depois, palavras e posteriormente frases, como aliás ocorre normalmente com essa técnica» (pp. 73s).

5. Auto-hipnose

A auto-hipnose é a hipnose (o sono hipnótico) provocada pelo próprio paciente a agir sobre si mesmo. Ele se sugestiona voluntariamente para conseguir bons resultados em seu comportamento deficiente. Dizem ACMP e ICLM:

«A auto-hipnose é um estado altamente sensível, no qual as sugestões são dirigidas a si mesmo. Pode ser altamente eficiente quando judiciosamente empregada, o que quer dizer que em pacientes que foram criteriosamente selecionados, e nos quais se deseja aumentar o relaxamento, a concentração, a autoconfiança, ou prolongar a sua ação em casos como dores crônicas, zumbidos, certos fenômenos do primeiro trimestre da gravidez (como náuseas, vômitos, sialorréia etc.), ou alguns hábitos (p. ex., tabagismo), mas sempre observando o princípio fundamental, jamais remover um sintoma sem saber para que ele serve» (p. 93).

“Schafer, médico do Exército americano durante a Segunda Guerra Mundial, relata suas experiências com soldados feridos em Anzio, na Itália, comparando a tolerância destes com a dos soldados italianos. Seus homens, quando feridos, precisaram de muito menos medicação do que os italianos. Eles consideravam os ferimentos como uma honraria da guerra aliviando a dor pela auto-hipnose, enquanto os italianos desiludidos com o final da guerra, para eles desastroso, usualmente necessitavam de muita medicação analgésica. O A. cita também os casos de boxeadores que controlam sua dor de modo que não interfira com sua ação, aprendendo a fazê-lo pela auto-hipnose durante os treinamentos” (p. 94).

6. A Hipnose em Medicina

Às pp. 131s do livro lê-se um caso muito interessante de emprego da hipnose (técnica sono-hipnótica) para aliviar ou extinguir a angústia e as dores físicas de um paciente. É realmente digno de nota o que aí se lê:

«Esta técnica consiste em passar o paciente do sono fisiológico para a hipnose. Só pode ser empregada em condições especiais e nunca sem o consentimento do paciente e/ou seus tutores. Pode ocorrer que o paciente não possa dar esse consentimento previamente, e então deverá haver justificativa ética para o mesmo. Relataremos um caso de nossa clínica, atendido há alguns anos. Os pais de um menino de seis anos de idade nos procuraram pedindo nossa intervenção no caso de seu filho, que sofrera uma grande cirurgia. Já estava em casa, mas diariamente tinha que ir ao hospital fazer curativo. Dois auxiliares de enfermagem iam buscá-lo em casa, pois somente à força e embrulhado em um lençol podiam levá-lo e assim tinha que ser mantido durante o curativo. Seu pai, que era médico, foi aconselhado pelo cirurgião a nos procurar em uma tentativa de, através da hipnose, conseguir a tranqüilização do menino. Diga-se de passagem que os curativos, embora imprescindíveis, não eram de provocar dor para tamanha reação. O menino entrava em pânico, aos gritos, ao menor som da campainha da porta de entrada da casa. Um outro colega que tentara atendê-lo, não passou do portão da residência. Convencidos da impraticablildade de contactar o paciente acordado, resolvemos tentar a técnica sono-hipnótica. O menino costumava dormir em torno das 20 horas; então fomos à sua casa às 22 horas. Silenciosamente nos aproximamos de sua cama e sentamos em uma cadeira ao seu lado. O menino dormia profundamente. Observamos seu ritmo respiratório. Há necessidade de se concatenar a palavra do hipnotista com a inspiração e a expiração do paciente. Com voz baixa e suave começamos a dizer: ‘durma, durma, durma profundamente…’ e assim fomos repetindo sempre dentro do ritmo respiratório. Nesta técnica este procedimento deve ser contínuo e só ser testado após uns 20 minutos. Como saber se o rapport já foi estabelecido? É fácil, pois basta que o hipnotista diga: ‘Respire profunda e lentamente duas vezes’. Neste caso a resposta foi imediata: o menino respirou profundamente duas vezes: rapport obtido! O paciente lá estava em hipnose. Foram feitas sugestões adequadas não só para o momento do curativo, como especialmente para o manter tranqüilo ao sair de casa para o hospital. O resultado, nos informou o pai no dia seguinte, foi espetacular. Quando os auxiliares de enfermagem do hospital chegaram, o menino não chorou e tranqüilamente (!) foi logo dizendo: ‘Não quero que ninguém me amarre… sou um homem e vou só com o papai e a mamãe’. Durante o curativo também ninguém precisou segurá-lo… espanto até do cirurgião, e por que não dizer, até nosso. Foi um dos casos mais gratificantes que tivemos. Até o fim dos curativos repetimos o mesmo procedimento diariamente. O menino nunca teve contato em vigília conosco. Sempre foi hipnotizado durante o sono. Hoje, 12 anos após, temos sempre informações dele através dos pais. Já tem um elevado conhecimento científico que lhe foi e vem sendo ministrado por professores especializados. Se nos encontrasse, não saberia quem somos. Se o víssemos, certamente não o reconheceríamos» (pp. 131s).

7. Conclusão

O livro de ACMP e ICLM não tem finalidades filosófico-religiosas. É um longo relatório de técnicas de hipnose e de seus resultados. Como quer que seja, contribui eficazmente para ilustrar fenômenos maravilhosos que, na ignorância de uma explicação científica, são atribuídos a intervenções do além. Quem conhece um pouco melhor o psiquismo humano, não se deixa impressionar por pretensos portentos “sobrenaturais”; dispensa o recurso ao além, pois sabe que o psiquismo humano é muito mais amplo e poderoso do que comumente se imagina. Verdade é que o terreno da parapsicologia é, por vezes, explorado por charlatães, que distorcem a teoria. Mas um livro como o de ACMP e ICLM merece pleno respeito pela honestidade dos respectivos autores.

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NOTAS:

[1] Editora Ateneu, São Paulo, 1998, 160 x 230mm, 159pp.

[2] Hiperestesia é o aumento exagerado da sensibilidade geral ou especial: hiperestesia auditiva é o ouvir vozes que não existem; hiperestesia cutânea é o sentir na pele sensações sugeridas, mas não provocadas por um estímulo externo. Hiperestesia visual é o ver o que não existe, mas é projetado pelo indivíduo mesmo.

 

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