(Revista Pergunte e Responderemos, PR 411/1996)
Em síntese: O Destino ou Fato era reverenciado e temido pelos mitólogos gregos pré-cristãos, que consideravam a rigidez de certas leis da natureza e a inclemência do curso da história, indomável ao homem. A filosofia platônica atenuou o conceito de Destino, identificando-o com o Bem, que deve reger todas as coisas. Todavia o estoicismo restaurou o conceito sombrio de Destino, associando-o à noção de causalidade necessária; os acontecimentos da história estariam inexoravelmente encadeados entre si numa sucessão de causas e efeitos, causas e efeitos… – O Cristianismo rejeitou qualquer tipo de destino, força cega que governaria as sortes dos homens; reconhece, sim, a Providência Divina, sábia e santa, que acompanha o homem com bondade e amor através dos tempos. Em conseqüência, o cristão não crê em despachos, “trabalhos”, horóscopo, números azarentos, amuletos… Jesus Cristo libertou a humanidade de toda forma de medo supersticioso, despertando nos discípulos o senso da confiança no Deus que criou o homem para o levar ao consórcio da sua bem-aventurança.
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Muitas pessoas pensam em destino como força que cegamente as impele a tal ou tal desgraça; apavoram-se com isto e, apavoradas, mais se precipitam na desgraça. Há quem atribua aos astros o poder de dirigir a vida humana, definindo as sortes de cada um. Em suma, a crença no destino assume diversas modalidades que podem afligir o público, mas carecem de fundamento.
Procuraremos examinar a questão sucessivamente à luz das concepções pagãs e na ótica do Cristianismo.
1. O DESTINO NO MUNDO PAGÃO
Em grego, a palavra equivalente a Destino é peproméne, derivada de poro, realizar, fazer que algo chegue ao seu termo. Também se usam os vocábulos eirmarméne, ananke e moira, sendo que moira significa parte ou partilha. O Destino seria a parte ou a partilha que é definida para cada ser humano por um poder superior. – Em latim, usa-se a palavra fatum, do verbo fari, dizer; donde fatum vem a ser “o que é dito em tom definitivo e irrevogável”.
Distingamos entre Mitologia e Filosofia na Grécia antiga.
1.1. Mitologia
O Destino (moira) era personificado. Trazia seus símbolos, que significavam a sua índole de necessidade cega e força inelutável. Sobre a cabeça tinha uma coroa ornamentada com estrelas; a coroa era o indício do poder,… poder que era cego, pois ignorava as leis; daí dizer-se que o Destino era filho da Noite. Nas mãos o Destino tinha um cetro, sinal de sua realeza; podia também trazer nas mãos uma urna, que continha as sortes dos seres humanos ou uma balança, na qual eram ponderadas e avaliadas a história e o curso de vida de cada ser humano. Ao lado do Destino, havia uma roda presa por uma corrente para mostrar a imutabilidade dos decretos do Destino; existia também um livro no qual esses decretos estavam redigidos desde todo o sempre e no qual os deuses iam ler os acontecimentos futuros. Debaixo dos pés do Destino, achava-se a Terra, setor que ele dominava. O Destino, em suma, podia tudo, exceto mudar os seus decretos; o que estava escrito, ficava escrito fatalmente. Jamais o Destino se arrependia. Os seus desígnios eram incompreensíveis aos humanos e até ao próprio Destino; ele pairava acima dos deuses da mitologia.
Pergunta-se: qual seria a razão pela qual os antigos chegaram a conceber uma figura tão misteriosa como responsável pelas sortes dos homens? A pergunta é justificada, pois em nossos dias se admite que os mitos eram portadores de algum significado ou de alguma filosofia de vida. – A resposta está no fato de que o homem pagão se sentia incapaz de compreender o sentido da vida e inepto para reger suas sortes. Isto o levava a supor a ação de uma força estranha e superior atuando sobre os acontecimentos de sua existência de maneira absolutamente impenetrável.
1.2. A Filosofia Greco-romana
A Filosofia abrandou, em parte, o conceito de Destino, procurando torná-lo mais compreensível e humano. A razão foi dissipando as notas apavorantes do Destino da Mitologia, em benefício de concepções religiosas mais apuradas e lógicas.
1) Assim Pitágoras (+500 a.C.) e sua escola procuravam nos números e na harmonia dos números a explicação de todas as coisas. Em conseqüência, identificavam o Destino com as leis dos números e da harmonia; a matemática e a música ditavam os decretos que regem a vida dos homens.
2) Para Platão (+ 347 a.C.), a idéia do Bem absorve a do Destino. O Bem é o Princípio de todas as coisas; ele vem a ser o Destino, a força dominadora, boa e suave. Escrevia Platão no seu Timeu 29s:
“Ele (a Divindade) era bom; e aquele que era bom, não tinha modalidade alguma de inveja ou ciúme. Eis por que ele quis que todas as coisas fossem, tanto quanto possível, semelhantes a Ele mesmo. Todo aquele que, instruído por homens sábios, admite isto como razão principal da origem e da formação do universo, estará dizendo a verdade”.
Até mesmo o mal tem seu lugar na harmonia do universo, segundo Platão, e concorre para o bem. É algo de necessário, como se depreende dos dizeres seguintes:
“0 mal não deixará de existir, ó Teodoro; é impossível que ele deixe de existir. O bem terá sempre o seu contrário; assim o quer a necessidade (ananke). É certo que o mal nunca terá sua sede entre os deuses; mas, a natureza mortal e esta região do universo, ele as envolverá sempre” (Teeteta 176).
O perfeito não pode existir sem o mal, mas este acabará sempre por se transformar em bem; cf. República X 613; Leis IV 715s.
3) Na filosofia estóica, que começa no século IV a.C., o conceito de Destino se torna mais rigoroso e sombrio, pois é associado ao de causalidade necessária. Sim; para os estóicos, o universo está sujeito à lei dos encadeamentos necessários, que liga causas e efeitos. Toda causa tem seu efeito infalível, e este, por sua vez, se torna causa necessária para o acontecimento seguinte. Mais: toda causa procede da série de todos os acontecimentos anteriores e traz em si mesma a marca de cada um deles.
Esta teoria do Destino suscita, por sua vez, a teoria da adivinhação: com efeito, se os acontecimentos estão concatenados entre si e os posteriores se seguem necessariamente aos anteriores, está claro que quem conhece um acontecimento, pode prever todos os subseqüentes (contidos na causa como em sua matriz); assim se pode anunciar o futuro, segundo a arte da adivinhação. Esta não é privilégio da Divindade.
Em conseqüência, a oração se torna inútil. Os estóicos, em particular Sêneca, a rejeitavam, ao menos diante dos grandes acontecimentos da história, que são absolutamente inelutáveis. Acontece, porém, que a rejeição da prece (espontânea como é a todo ser humano) não foi sustentada com a mesma convicção por todos os estóicos; alguns distinguiam entre “necessidades maiores (fata maiora)” e “necessidades menores (fata minora)”; estas poderiam ser conjuradas mediante a oração.
Em suma, os estóicos se compraziam em admirar o invencível poder do Destino, que levava todos os seres ao seu termo final, fazendo do mundo uma cidade bem policiada. O Destino seria a razão (Logos) que, dispondo tudo com ordem e medida, faz do mundo inteiro uma obra de arte perfeita e bela.
Pergunta-se, porém: onde fica a liberdade de arbítrio do ser humano nesse universo tão belo? O determinismo e o fatalismo das causas encadeadas não permitem que o homem trace por si mesmo a sua linha de conduta. Esta conclusão preocupou Cícero (+43 a.C.), que na sua obra De Fato (Sobre o Destino) reivindicou os direitos da liberdade e preferiu a liberdade de arbítrio do homem ao cego poder do Destino.
2. O PENSAMENTO CRISTÃO
2.1. Observações Gerais
O pensamento cristão é essencialmente contrário à existência de qualquer força cega que empurre o homem a agir deste ou daquele modo. Entre Deus e as criaturas humanas não há semideuses nem algum ser misterioso que obrigue o homem a fazer algo. Deus criou o homem livre e deixa-lhe a liberdade de opção e ação. Nem mesmo o Maligno ou o Demônio pode coagir alguém a cometer o mal; o demônio pode sugerir o pecado, tentando a criatura humana, mas não pode forçar ao mal.[1] Muito sabiamente dizia S. Agostinho que o demônio é como um cão acorrentado, que pode ladrar muito, mas só faz mal a quem se lhe chegue perto. – O mundo pagão antigo admitia o Fato ou Destino, porque tinha concepções imperfeitas a respeito da Divindade; concebia-a à semelhança do homem, o que dificultava entender o que a linguagem cristã chama “Providência Divina”, da qual se dirá algo a seguir. O Fato da mitologia é figura fantasiosa ou fictícia, como também o encadeamento cego de causas e efeitos, sufocador da liberdade, é algo de irreal, decorrente do panteísmo estóico, segundo o qual o Logos divino (ou a Razão) é a própria alma do mundo. Jesus Cristo veio libertar o ser humano de todas as crendices e de todos os pavores derivados da imaginação e anunciou ao homem que ele é livre, devendo responder diretamente a Deus por suas opções e atividades.
2.2. Conseqüências imediatas
De tais premissas seguem-se conclusões importantes:
1) Os despachos e trabalhos das religiões afro-brasileiras nada podem fazer contra quem quer que seja; carecem de eficácia ou de força mágica. Verdade é que vários fiéis católicos se afligem, porque sabem que alguém ou algum adversário está fazendo despachos contra essas pessoas, e vão procurar a Igreja para pedir um exorcismo. Há também quem se julgue desgraçado por causa de um “trabalho” de Umbanda e vá solicitar um exorcismo na Igreja. Oral tal pensar e agir é errôneo; não existem exus e orixás, de modo que são totalmente ineficazes as oferendas de galinha preta, farofa, cachaça, charutos… que se lhes façam; nenhuma entidade do além acode a essas oferendas. O demônio, que a Escritura e a fé católica reconhece, não é exu nem orixá; é um anjo que Deus criou bom e que se perverteu pelo pecado de soberba; recebe agora a autorização de Deus para tentar o homem e levá-lo ao pecado, se a pessoa tentada consentir nas sugestões do Maligno; o que Satanás quer, é o pecado; não lhe importam a galinha preta, a farofa, a cachaça e os charutos oferecidos aos pretensos orixás. Por conseguinte, nenhum despacho de macumba causa desemprego, destruição de casamento, doença…, a não ser que a pessoa alvejada pelo despacho creia que este é eficaz; se o crê, sugestiona-se, julga-se condenada a um infortúnio e, insegura, pode-se precipitar numa desgraça ou deixar-se envolver num acidente; em tal caso, a eficácia não é do despacho, mas da sugestão,… sugestão que a pessoa concebe por imaginar que o despacho é eficaz.
2) Nenhum objeto de superstição faz bem ou mal a alguém. Daí se segue que o cristão não dá crédito a figas, bentinhos, amuletos… Estes podem desencadear a sugestão, sim, que é eficaz, como dito, mas eficaz por causa de uma atitude subjetiva, sem fundamento objetivo ou real.
3) O cristão não crê em horóscopo, como se os astros definissem o futuro do homem. Verdade é que, desde épocas antigas, os homens imaginaram estar sujeitos ao poder dos astros, tão belos e pujantes parecem. Os antigos escritores da Igreja relutaram contra tal concepção, remanescente entre os fiéis cristãos. Podem os astros, em alguns casos, influir sobre o físico e o psíquico do homem, causando reações psicossomáticas (melancolia, júbilo, depressão…), o que não significa traçar o futuro do homem.
4) O cristão também não crê em cadeias de oração, ou seja, em preces que é preciso copiar umas tantas vezes e passar adiante sob pena de sofrer alguma desgraça, caso não o faça, ou com a perspectiva de receber algum benefício, desde que o execute. Não há fundamento algum para crer no valor de tais correntes de oração; vêm a ser uma contrafação da verdadeira oração; esta é um recurso filial a Deus, que vale pela fé, o amor e a humildade com que a criatura reza ao Pai do céu.
5) O cristão também não aceita a “mística dos números”, segundo a qual alguns números são portadores de boa sorte e outros são de mau agouro. Nem o número 13 é mau, nem o número 666… Ver Curso sobre Ocultismo da Escola Mater Ecclesiae, Módulo 20.
6) Em suma, o cristão não crê que as coisas acontecem porque Deus as decretou cegamente, sufocando a liberdade do homem. Deus sabe tudo o que acontecerá no futuro, pois Ele nada pode ignorar. É de notar, porém, que presciência não é predefinição ditatorial; Deus prevê que os homens livremente farão tais e tais coisas; paralelamente alguém, a partir de uma janela, pode prever que dois carros se chocarão entre si; pode ter certeza disto, sem ser causado desastre.
O Cristianismo repudia o Fato ou o Destino, conceito mitológico, e, em seu lugar, professa a Providência Divina.
3. A PROVIDÊNCIA DIVINA
A Providência Divina se define como a ação pela qual Deus se dispõe a levar todas as criaturas para o seu fim devido; Deus não abandona a criatura depois de lhe ter dado existência, mas, tendo-a criado em vista de uma finalidade sábia e grandiosa, provê aos meios para que cada criatura possa atingir a sua meta (sem destruição da liberdade de arbítrio, no caso das criaturas intelectivas); essa meta é a manifestação da bondade, da sabedoria e da santidade de Deus.
A S. Escritura acentua essa ação providencial de Deus em muitas passagens: é Ele quem dá a chuva, os frutos e o alimento no momento oportuno (Jr 5,24; Dt 11,14s; SI 144,15); é Ele quem dá o dia, a noite, as estações (SI 73 (74), 16s; 135 (136), 8s); aos pássaros do céu e aos lírios do campo Ele fornece o sustento necessário (cf. Mt 6,25-34; Lc 12,22-31). Especialmente para com o homem é solícito, de tal modo que todos os cabelos da sua cabeça estão contados (cf. Mt 10,29-31).
A Providência Divina, por abarcar toda a história da humanidade, vê mais amplamente do que a mesquinha mente humana. Por isto Ela nem sempre coincide com o modo de pensar da criatura. Há mesmo os silêncios de Deus ou os momentos em que Ele parece ausente da história dos homens; todavia a Escritura mostra como também essas fases obscuras são acompanhadas pela Sabedoria Divina; é o que vem à baila muito claramente na história do Patriarca vendido a estrangeiros por seus irmãos invejosos; no fim de tão trágica história diz José: “Eu sou José, vosso irmão, que vendestes para o Egito. Mas agora não vos entristeçais nem vos aflijais por me terdes vendido, porque foi para preservar vossa vida que Deus me enviou diante de vós… Não fostes vós que me enviastes para cá, mas Deus, e Ele me estabeleceu como pai para o Faraó, como governador de todas as regiões do Egito” (Gn 45,4s. 7s). Os livros de Rute, Judite, Ester, Daniel… são outrossim eloqüentes testemunhos da ação providencial de Deus em favor dos seus fiéis: Ele sabe tirar dos males bens maiores; o que, aos olhos dos homens, parece desastre final, Ele o converte em ponto de partida para o derramamento de novas graças. O Novo Testamento insiste em que o cristão se deve configurar a Cristo mediante a cruz, para participar também da ressurreição; nessa trajetória ele é acompanhado pelo sábio desígnio do Pai; cf. Mt 10,24-31. Tenha confiança filial (Rm 8,28-32).
A propósito vem a temática da oração. Esta, não raro, é tida como instrumento apto a dobrar a vontade de Deus; nisto há um antropomorfismo. A vontade de Deus é imutável. – Então qual o papel da oração, que o Senhor Jesus tanto recomendou? Cf. Lc 11,9-13. Ei-lo: desde toda a eternidade, Deus decretou dar às suas criaturas os bens de que precisam; as criaturas irracionais recebem-nos inconscientemente; o homem, porém, dotado de inteligência e vontade, deve recebê-los conscientemente. Para tanto, o orante sugere a Deus os bens que lhe parecem oportunos para que atinja a sua finalidade suprema; sugere mesmo o pão de cada dia, a saúde, o emprego…, tudo que seja honesto e pareça condizer com a autêntica meta do homem; assim este colabora com o plano da Providência Divina, que quer dar ao homem…, mas quer dar mediante a oração. Pela oração não é o homem que rebaixa Deus ao nível das suas finitas cogitações, mas é Deus quem eleva o homem ao plano da sua sábia Providência. Assim entendida, nenhuma oração é inútil; desde que realizada em união com Cristo, que dizia: “Pai, se possível, passe este cálice; mas faça-se a tua vontade, e não a minha” (Mc 14,26), a oração encontra sempre resposta; se o Pai não nos dá aquilo que, na nossa simplicidade, lhe sugerimos, dá-nos algo de equivalente ou melhor.
Dito isto, põe-se a questão: e o mal produzido pelas criaturas recai sobre Deus? Então não seria Deus responsável pelas falhas das criaturas? – Em resposta, lembremos que o mal não é um ser positivo, mas uma carência; é a falta de um ser que deveria existir: a cegueira é a falta de olhos, o pecado é a falta de harmonia do agir humano com o seu Fim Supremo. Ora a carência não tem causa direta; indiretamente, ela é causada pela criatura, que é capaz de agir inacabadamente. Deus não pode agir imperfeitamente.
E por que permite Deus que as criaturas exerçam suas deficiências? Porque não as quer forçar nem violentar; Ele sabe, porém, utilizar até o mal das criaturas, para produzir bens maiores, como observa S. Agostinho: “Deus onipotente… sendo sumamente bom, não deixaria mal algum em sua obra, se não fosse tão poderoso e bom que pudesse tirar até do mal o bem”… “Ele julgou melhor tirar dos males o bem do que não permitir que mal algum viesse a existir” (Enquirídio, capo 11 e 27).
4. JESUS CRISTO, O DESTINO E AS CRENDICES.
Em complemento, publicamos um texto de Roger Garaudy, ex-comunista que se aproximou do Cristianismo, e, em sua fase de aproximação, escreveu a respeito de Jesus Cristo, pondo em evidência a superação dos mitos e das crendices por parte do Senhor Jesus e de sua mensagem:
PARA VOCÊ, QUEM É JESUS CRISTO?
“Mais ou menos sob o governo de Tibério, ninguém sabe exatamente onde nem quando, alguém cujo nome nos é conhecido, dilatou os horizontes dos homens…
Por certo, Jesus não foi nem um filósofo nem um tribuno, mas viveu de tal modo que toda a sua vida teve um significado… Para proclamar até o fim a boa-nova, era preciso que ele mesmo, mediante a sua ressurreição, anunciasse que todos os limites, mesmo o limite supremo, a morte, foram vencidos.
Este ou aquele erudito poderá contestar todos os feitos da existência de Cristo; mas isto não altera a certeza de que ele mudou a vida. Acendeu-se um braseiro. Esta é a prova de que havia uma centelha ou uma chama que fez surgir esse braseiro.
Todas as filosofias até Cristo meditavam sobre o destino e as forças cegas que regem o homem. Jesus Cristo mostrou a loucura dessas filosofias. Ele, que foi o contrário do destino. Ele, que foi a liberdade, a criação, a vida. Ele que removeu o fatalismo da história.
Jesus Cristo realizou as promessas dos heróis e dos mártires, que lutaram pelo grande-despertar da liberdade. Ele cumpriu não apenas as esperanças do profeta Isaías ou as iras de Ezequiel. Jesus libertou Prometeu das suas cadeias e Antígono dos muros de seu cárcere. Essas cadeias e esses muros eram imagens mitológicas do destino; elas caíram diante de Cristo e se pulverizaram. Todos os deuses morreram então, e o homem começou a viver. Deu-se como que um novo nascimento do homem. Olho para a cruz que é o símbolo disso tudo, e penso em todos aqueles que alargaram os braços da cruz. Penso em São João da Cruz, que, pelo fato mesmo de nada possuir, nos ensina a descobrir o tudo. Penso em Karl Marx, que nos mostrou como se pode transformar o mundo. Penso em Van Gogh e em todos aqueles que nos fizeram tomar consciência de que o homem é grande demais para bastar a si mesmo.
Vós, homens da Igreja, que guardais escondida a grande esperança que Constantino nos roubou, devolvei-nos essa esperança! A vida e a morte de Cristo pertencem também a nós, a todos aqueles para quem elas têm sentido. Pertencem a nós que aprendemos de Cristo, que o homem foi criado criador…”
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NOTA
[1] Excetue-se o caso da possessão diabólica; nestas circunstâncias, porém. o possesso não é o responsável do mal que comete.
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