Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “o valor da fidelidade”.
Recomendo nesta semana este belo texto sobre a fidelidade.
Fidelidade. Felicidade. Podemos começar por qualquer uma dessas palavras, que terminaremos na outra. Não são apenas as palavras, mas os conceitos, as realidades, as vivências que se entrelaçam e se completam. Uma não pode viver sem a outra. Confundem-se foneticamente, entrelaçam-se poeticamente. Fidelidade, felicidade. Felicidade, fidelidade: ambas compõem o poema da vida.
Que bênção divina é um lar estável, sustentado pela fidelidade dos esposos! É um baluarte cujos muros permanecem de pé, aconteça o que acontecer. É um monumento que atesta a superioridade dos homens sobre as suas próprias paixões e sobre todas as tentações externas. É uma lição constante da força do Sacramento do Matrimônio, que triunfa apesar das desavenças, dos defeitos e das fraquezas. E é igualmente a melhor pedagogia para ensinar aos filhos o modo de caminharem seguros pela vida afora.
O conhecido jornalista britânico Paul Johnson conta, num artigo publicado precisamente no dia dos namorados, no “The Daily Telegraph”, como a sua mulher e ele conseguiram fazer perdurar o seu casamento:
“O amor sensível e o matrimônio são coisas muito diferentes. O amor é um sentimento. O matrimônio é um estado de vida único, para o qual não existe uma preparação profissional nem se exigem mais aptidões que a idade e o estar solteiro. Isso significa que requer mais esforço […]. Altercações, diferenças de opinião, discussões, brigas, ataques de ira, zangas e silêncios fazem parte da realidade diária do matrimônio. É normal que duas pessoas que vivem juntas tenham amiúde pontos de vista diferentes; saber resolver essas diferenças com simplicidade faz parte da dinâmica vital e do processo de amadurecimento da pessoa. Divorciar-se significa romper esse processo de crescimento, arrancar pela raiz a planta viva e lançá-la, sem necessidade, ao fogo. A minha esposa, Marigold, e eu estamos casados há quase quatro décadas. Ambos temos um caráter forte, sustentamos opiniões firmes e tivemos já muitas diferenças, algumas delas sérias. Se tivéssemos decidido deixar de nos esforçar para levar para a frente o nosso casamento, poderíamos ter-nos divorciado mais de uma dúzia de vezes. Mas há muito se perderam na névoa do tempo as circunstâncias e os detalhes das nossas discussões. «Meu bem» — pergunto-lhe às vezes —, «qual foi o motivo por que estivemos a ponto de nos divorciar em 1972? Não me lembro bem… Aliás, foi em 1972 ou em 1974? Você se lembra?» […] Os matrimônios duradouros edificam-se sobre os estratos arqueológicos de brigas esquecidas. Especialmente quando se aproximam as bodas de ouro, flutua o saudável espírito do esquecimento… No fim das contas, tudo está dando certo” (Paul Johnson).
É desse modo, talvez descontínuo, intermitente, que se constrói — dia a dia, tijolo a tijolo, com um sacrifício unido a outro, com uma renúncia vivida ao lado de outra — a felicidade conjugal, renovando uma e outra vez — apesar das diferenças e conflitos — a fidelidade.
O papa João Paulo II, no seu memorável e irrepetível encontro com as famílias no Rio de Janeiro, em outubro de 1997, dizia-nos: “Pais e famílias do mundo inteiro, deixai que vo-lo diga: Deus vos chama à santidade! Ele mesmo nos escolheu por Jesus Cristo, antes da criação do inundo — diz-nos São Paulo —, para que sejamos santos na sua presença (Ef l, 4). Ele vos ama loucamente, Ele deseja a vossa felicidade, mas quer que saibais conjugar sempre a fidelidade com a felicidade, pois não pode haver uma sem a outra”.
Mas não estamos apenas fazendo a apologia de uma virtude cristã, e sim de uma realidade vital. Basta olhar para a vida. Onde se descobre a felicidade? Por acaso no encontro amoroso eventual (…)? Na explosão hormonal (…)? Na aventura temporária de uma mulher com um homem que, depois de alguns anos, é substituída por outra, deixando certamente corações partidos e almas dilaceradas? (…)
Onde, pois, se descobre a felicidade? Não é verdade que a encontramos em centenas de famílias que crescem em torno da fidelidade dos cônjuges, nesse longo processo em que os esposos vão amadurecendo juntos no amor, em que vão vendo aparecer os filhos um após o outro, dando passagem depois aos netos e porventura aos bisnetos, até a terceira e quarta gerações, formando como que uma “pequena pátria” que, ao estender-se e aumentar, vai dilatando também a alegria e a paz dos progenitores? E estes, ao olharem para trás, recapitulando todas as incidências do matrimônio — nesse claro-escuro do quadro da vida, cheio de sombras e luzes, de penas e alegrias —, não poderão chegar ao fim dos seus dias dizendo legítima e serenamente: “missão cumprida”?
São esses os homens e as mulheres que, contemplando o esplêndido panorama da sua vida do nascimento até a morte, poderão dizer: “Valeu a pena? Claro! Na verdade, que pena é essa?”. O sacrifício que fizeram para ser fiéis um ao outro; a abnegação na diuturna preocupação pelos filhos, que agora já se tornaram pais, por sua vez, isso é uma pena? É claro que não. Isso foi precisamente o que alicerçou a alegria dos dois. Isso não foi pena nenhuma. Mais ainda, esta pena grita de júbilo: “Não foi nada. Tudo valeu mil vezes a pena!” (Rafael Cifuentes, “As crises conjugais”).
Que as palavras deste autor nos façam refletir e amar cada vez mais a virtude da fidelidade, que, como vimos, é sinônimo de felicidade.
Uma santa semana a todos!
Padre Paulo