Protestantismo: por que não sou católico

 (Revista Pergunte e Responderemos, PR 477/20/02)
Em síntese: Os adventistas do sétimo dia levantam dezoito objeções contra o Catolicismo, baseadas em falta de conhecimento da história do Cristianismo e preconceitos que não resistem a uma analise criteriosa.

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Um leitor enviou à Redação de PR uma lista de dezoito razões pelas quais alguém não se pode tornar católico. Trata-se de objeções mal fundamentadas e preconceituosas, às quais não é difícil responder, como se verá abaixo.

Não há dúvida, a polêmica religiosa não é desejável. Mas também é certo que não se pode deixar de atender ao povo de Deus quando este pede resposta a ataques dirigidos contra a sua fé. Eis por que passamos a analisar as razões alegadas pelos irmãos adventistas.

1) Não sou católico, porque Jesus disse: ‘Examinai as Escrituras porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim testificam’ (Jo 5. 39). Se é pelas Escrituras e pelos ensinos de Jesus que alcançamos a salvação, exclui-se que o seja pelo Catecismo Romano”.

Em resposta observamos:

a) Não há oposição entre as Escrituras e o Catecismo. Este é um compêndio da doutrina contida nas Escrituras, redigido com fins didáticos ou a fim de facilitar a iniciação nas verdades da fé.

b) O estudo do Catecismo leva à leitura do texto bíblico, pois o cita freqüentemente e mostra o valor da Palavra de Deus.

c) Toda denominação protestante tem seu manual de doutrina e seus livros usuais, que ajudam a assimilar e praticar a mensagem bíblica Os reformadores protestantes redigiram seus Credos ou suas profissões de fé, tencionando assim exprimir a doutrina das Escrituras; tenha-se em vista, entre outras, a Confessio Augustana de Lutero.

2) Não sou católico romano, porque, sendo a religião cristã fundada por Jesus Cristo, durante uns 200 anos divulgada sem modificações nem acréscimos, surgiram de lá para cá novas doutrinas, falsificações de toda a sorte de cerimônias estranhas ao Novo Testamento que foram discutidas em concílios e aprovadas por homens, nascendo daí a Igreja Católica Romana. `Mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais à criatura do que ao Criador, que é bendito eternamente’ (Rm 1, 25)”.

Em resposta observamos que a objeção é assaz vaga:

Por que em 200 ou aproximadamente em 200 começaram as inovações do Cristianismo? Quem lhes deu início? Que modificações e falsificações foram essas?

Pode-se compreender que, no decorrer dos tempos, os cristãos tenham deduzido, da doutrina apregoada por Jesus e pelos Apóstolos, conclusões contidas nas premissas do Novo Testamento; essas conclusões referiam-se, por exemplo, à divindade do Logos, negada pelo arianismo e definida no Concílio de Nicéia 1 em 325; referiam-se ao mistério da Encarnação e foram promulgadas pelos Concílios de Éfeso (431) e de Calcedônia (451), que afirmaram haver em Jesus uma só Pessoa (um só eu) divina e duas naturezas (a humana e a divina)… Era necessário que os cristãos procurassem guardar a pureza da doutrina revelada no tocante a estas e outras grandes verdades da fé. Estas estavam contidas no Novo Testamento sob forma de semente, que aos poucos foi homogeneamente desabrochando suas virtualidades.

Também se compreende que a Liturgia se tenha desenvolvido, pois é a oração do povo de Deus expressa mediante os elementos culturais desse povo.

De resto, pode-se redargüir: no século XVI a doutrina dos cristãos ocidentais e orientais foi drasticamente modificada pela reforma protestante, que inovou o Credo apregoado até então. As modificações introduzidas pelo protestantismo foram autênticos desvios; tenha-se em vista, por exemplo, a recusa da presença real de Jesus Cristo na S. Eucaristia, que os escritos do Novo Testamento professam com grande ênfase; ver Jo 6, 24-58; Mt 26, 26-28 e paralelos. Tenha-se em vista outrossim a tentativa adventista de definir a data do advento ou da segunda vinda de Cristo, data que o Senhor Jesus recusou peremptoriamente revelar; cf. Mc 13, 32; At 1, 7. Tal tentativa foi frustrada pelo desenrolar mesmo dos acontecimentos.

3) “Não sou católico porque, ao examinar as Escrituras, nunca encontrei o “Ofício da Missa”. Não encontrei porque o “Ofício da Missa” foi composto pelo Papa Gregório I uns 600 anos após o Cristo”.

Em resposta perguntamos: que é esse “Ofício da Missa”? – Deve-se tratar da Liturgia Eucarística, que não é senão a execução da ordem do Senhor Jesus: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19; 1 Cor 11, 23-25). A Missa é a celebração da Ceia do Senhor e a perpetuação da sua morte e ressurreição. Ela tem sua origem nos escritos do Novo Testamento e não em 600. Já em 56 São Paulo, escrevendo a 1 Coríntios, dava instruções relativas à Ceia do Senhor ou estruturava desde então o “Ofício da Missa”. O Papa São Gregório Magno (+ 604) continuou a obra normativa do Apóstolo.

Aliás, é de notar que o “Ofício da Missa” existe não só entre os católicos ocidentais, mas também entre os cristãos ortodoxos orientais, que desenvolveram sua Liturgia própria. Somente a partir do século XVI existem correntes de cristãos que negam o valor da S. Missa.

4) “Não sou católico romano porque não encontrei uma passagem no Novo Testamento apresentando algum dos apóstolos num altar incensando imagens. Pois o culto de imagens foi decretado pelo 2o Concílio de Nicéia (787 depois de Cristo)”.

Respondemos:

A objeção é clássica. A Lei de Moisés proibia fazer imagens para adorá-las (cf. Ex 20, 4-6). Ocorre, porém, que o próprio Deus mandou confeccionar querubins no templo de Salomão (1 Rs 6, 23-30). Uma vez passado o perigo da idolatria e depois que Cristo nos apareceu como a imagem viva do Pai (cf. CI 1, 15), os cristãos não hesitaram em pintar e esculpir imagens tanto para fins didáticos e catequéticos como para ajudar a mente a se elevar a Deus, passando do visível ao Invisível. Os antigos cemitérios cristãos (catacumbas) atestam esse costume, que se protraiu até o século VII. Nesta época, por influência de judeus e maometanos, desencadeou-se a controvérsia iconoclasta (quebra de imagens); os cristãos ortodoxos lutaram corajosamente para defender seus ícones. O Concílio de Nicéia II em 787 apenas confirmou o costume antigo: as imagens podem ser veneradas, não adoradas,… e veneradas não por serem gesso ou madeira, mas porque representam o Senhor Jesus e seus Santos. O culto das imagens é relativo às pessoas que elas recordam.

Também neste particular o protestantismo está isolado, contra toda a Tradição ocidental e oriental. Incensar uma imagem (cerimônia muito freqüente entre os ortodoxos orientais) significa reverenciar o Santo por ela representado.

5) “Não sou católico romano porque não encontrei um trecho no Novo Testamento que fale ter ocorrido na Igreja Primitiva alguma procissão eucarística. Não encontrei, porque começou após 1360 anos depois de Cristo”

– A resposta começará por lembrar que as procissões têm fundamento bíblico; a Arca da Aliança do Senhor foi processionalmente transportada por Davi para Jerusalém (2Sm 6, 12-17). Ora, se a Arca da Aliança mereceu um cortejo tão solene da parte dos israelitas, muito mais a Eucaristia deve ser estimada e celebrada publicamente pelos cristãos.

Aliás, a data de 1360 é falha. As procissões eucarísticas tiveram início no século XIII, com a finalidade de proclamar solenemente a real presença de Jesus na Hóstia consagrada.

6) “Não sou católico romano porque não encontrei um texto sequer em que a Bíblia recomende o uso do Rosário. A razão que encontrei, é que apareceu com Pedro Eremita em 1090 depois de Cristo”.

Respondemos que o rosário, em grande parte, não é mais do que a recitação de preces bíblicas: Pai Nosso (Mt 6, 9-12) e a primeira parte da Ave-Maria (Lc 1, 29.42). Aos poucos foi-se organizando essa maneira de utilizar a Bíblia para orar, fazendo que a mente do orante se ocupe com as grandes verdades da Redenção enquanto os lábios proferem as palavras da oração.

A organização do ritual e do modo de orar corresponde a uma necessidade humana. Cada denominação protestante possui seus Hinários e livros de oração. Tenha-se em vista especialmente o Book of Common Prayer (Livro de Oração Comum) promulgado pelo rei Eduardo VI em 1549 e revisto em 1552.

7) “Não sou católico romano porque não encontrei na Bíblia Sagrada um mandamento que proibia o casamento dos ministros da religião. A razão por que não encontrei, é que foi proibido pelo Papa Gregório VII em 1074 depois de Cristo. A Bíblia diz que o Bispo deve ser marido de uma só mulher (1 Timóteo 3, 2)”.

Os irmãos protestantes, que tanto lêem a Bíblia, não parecem conhecer o texto de 1 Cor 7, 25-35, em que São Paulo recomenda a vida una ou indivisa (celibatária) como a condição mais favorável para servir a Deus: “Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao Senhor. Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do modo de agradar à esposa, e fica dividido” (1 Cor 7, 32-34). Na base dessa intuição os ministros do culto cristão foram abraçando espontaneamente o celibato. Os Concílios e os Papas sancionaram o costume, tornando-o lei da Igreja, muito consentânea com o pensamento do Apóstolo.

O Papa Gregório VII não fez senão reafirmar quanto as leis da Igreja prescreviam.

O texto de l Tm 3, 2 deve ser entendido dentro do seu contexto histórico: em 63 (?) o Apóstolo escrevia a uma comunidade em que só havia adultos convertidos; dentre esses adultos S. Paulo quer que sejam ordenados aqueles homens que só tenham uma esposa, e não viúvos casados de novo. Os dizeres dos Apóstolos, em vez de incitarem ao casamento dos clérigos, impõem uma certa restrição: dois casamentos sucessivos, ainda que legítimos, excluiriam da ordenação o candidato.

8) “Não sou católico romano, porque não existe a palavra purgatório na Bíblia, mas foi confirmado pelo Concílio de Trento em 1563 depois de Cristo, ou seja, antes disso nenhuma alma ia ao purgatório, pois ainda não havia sido criado pelo Papa!”.

Respondemos que a crença na existência do purgatório nunca foi criada por um Concílio, pois é crença que já os judeus antes de Cristo professavam. Com efeito, é atestada pelo livro 2o dos Macabeus, cap. 12, vv. 39-45. Verdade é que a Bíblia dos protestantes não contém esse livro,… e não o contém porque Lutero o retirou do catálogo escriturístico. Sim; os dois livros dos Macabeus foram controvertidos pelos cristãos nos primeiros séculos, pois os judeus da Palestina não os reconheciam, ao contrário do que faziam os judeus de Alexandria. Prevaleceu na Igreja o cânon alexandrino, de modo que, após a fase de hesitação, em 393 o Concílio regional de Hipona promulgava o cânon bíblico incluindo os dois livros dos Macabeus. Assim por toda a Idade Média não se punha em dúvida a canonicidade de 1/2Mc. No século XVI, porém, Lutero houve por bem adotar o catálogo dos judeus da Palestina, retirando da Bíblia consequentemente os 1/2Mc.

Mas mesmo os irmãos que não reconhecem a canonicidade de 1/2Mc, podem tomar consciência de que a crença na existência do purgatório é algo de pré-cristão, professado pelo povo de Deus do Antigo Testamento. A Igreja não criou o purgatório.

De resto, este artigo de fé é muito lógico. Com efeito; todo pecado, mesmo depois de absolvido, deixa resquícios de si na alma do pecador; a absolvição perdoa a culpa, mas não apaga as más tendências alimentadas pelo pecado. Ora o cristão é chamado a ver Deus face-a-face (1 Cor 13, 12); todavia na presença de Deus não pode subsistir a mínima sombra de pecado; por isto, se o cristão não extingue as raízes do pecado nesta vida terrestre, deverá fazê-lo na vida póstuma, não mediante fogo, mas através de um amor a Deus mais forte e puro, apto a apagar qualquer escória de amor desregrado. Rezar pelas almas do purgatório é pedir a Deus que fortaleça o amor existente nessas almas, tornando-o capaz de extirpar qualquer tendência desordenada, para que possam, sem demora, gozar da visão da Beleza Infinita face-a-face.

9) “Não sou católico romano, pois o Novo Testamento não apresenta ministros aspergindo água benta em caixão de morto nem cobrando por isso. Essa prática foi criada pela Igreja Católica Romana no ano 1000 depois de Cristo’.

A água benta é um sacramental, que lembra o Batismo; aspergi-la sobre um cadáver significa pedir a Deus que receba quanto antes a respectiva alma no regaço da visão beatífica. Esse tipo de oração tem o nome próprio de “sufrágio (voto, anseio) em favor dos mortos”; seja entendido à luz do que foi dito em resposta à oitava objeção.

Quanto às espórtulas do culto sagrado, vêm a ser a maneira como os fiéis colaboram com a Igreja no plano material. Não devem constituir condição absoluta para a prestação de serviços religiosos. Hoje em dia a Igreja preconiza o dízimo em lugar das espórtulas, a fim de separar claramente dinheiro e culto divino. Os protestantes cobram o dízimo com muita eloqüência.

10) “Não sou católico romano porque não encontrei na Palavra de Deus que se deva orar e render culto aos santos e aos anjos. Isso foi criado pela Igreja Católica no ano 788 depois de Cristo e o culto das imagens foi decretado pelo 2o Concílio de Nicéia em 787 depois de Cristo, Apoc 22: 8 e 9″.

Não resta dúvida, existe um só Mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo. Acontece, porém, que Ele quer comunicar sua ação mediadora aos fiéis. A prova disto é que os irmãos na Terra pedem aos seus semelhantes que orem por eles ou exerçam a função de mediadores; São Paulo mesmo solicitava aos fiéis que rezassem por ele; cf. Ef 6, 19; CI 4, 3. O Senhor nos fez responsáveis pela salvação uns dos outros, e essa responsabilidade é posta em prática mediante a oração (e a ação apostólica). A comunhão que assim nos une e que é devida ao fato de que somos membros de um só Corpo, cuja Cabeça é Cristo, não é dissolvida pela morte; os justos no céu “torcem” pelos irmãos que ainda lutam na terra; Deus lhes dá a conhecer nossas necessidades e permite assim que intercedam por nós.

Esta crença também pertence ao patrimônio religioso do Antigo Testamento. Em 2Macabeus 15, 12-16 lê-se que o profeta Jeremias já falecido orava por seus irmãos na Terra: “Este é o amigo dos seus irmãos, aquele que muito ora pelo povo e por toda a cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus”.

Infelizmente Lutero retirou este livro da Bíblia Sagrada.

É de notar que os justos no além não estão adormecidos, mas conservam toda a lucidez de espírito para poderem ajudar-nos na procura do prêmio celeste.

Por conseguinte é certo que não foi em 788 que começou a invocação dos Santos na Igreja. Ela brota do coração do fiel (já do fiel judeu), que sabe existir entre nós uma santa comunhão, que nos faz solidários para além da morte.

11) “Não sou católico romano porque não encontrei na Bíblia outro intercessor entre Deus e o homem fora de Jesus Cristo: 1 Timóteo 2:5. Portanto se torna impossível que `Santa Maria’ possa rogar por nós pecadores. Só Jesus roga, intercede, media por nós”.

A resposta a esta objeção já foi formulada no item anterior. Seja aqui registrado o papel muito significativo que Jesus atribuiu a Maria Santíssima quando a constituiu Mãe dos Homens ao entregar-lhe João como seu filho; cf. Jo 19,25-27. Na qualidade de Mãe, Maria não pode deixar de ser especial intercessora em favor da humanidade a ela confiada. Note-se, aliás, que o primeiro milagre de Jesus foi realizado em Caná por intercessão de Maria Ssma.; cf. Jo 2, 1-11. Na comunhão dos Santos a Virgem Maria ocupa uma posição muito particular.

12) “Não sou católico romano porque não encontro na Bíblia Sagrada a `Confissão auricular’. A razão é que essa modalidade de confissão foi estabelecida como doutrina pelo Concílio de Latrão em 1215 depois Cristo”.

A confissão auricular tem seu fundamento no Evangelho mesmo. Com efeito; na noite do primeiro dia da semana (domingo de Páscoa), Jesus apareceu aos seus discípulos, soprou-lhes na face e disse: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles aos quais os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 19-23). Jesus assim confiou aos seus ministros a faculdade de perdoar os pecados alheios não porque sejam mais santos, mas porque recebem especial carisma do Espírito Santo. O Senhor admite também que o seu ministro não possa absolver o penitente por falta de disposições (propósito firme de evitar as ocasiões de pecado) da parte deste. Ora, para que o ministro possa exercer o ministério de absolver ou não absolver, deve conhecer a situação íntima do penitente – o que só pode ocorrer mediante uma confissão secreta ou auricular. A Igreja compreendeu todo o alcance das palavras do Senhor e põe em prática o sacramento da Reconciliação, incluindo a confissão secreta dos pecados ao Bispo ou ao presbítero. Tal história se acha delineada em PR 473/2001, pp. 460-472.

O Concílio de Latrão IV apenas confirmou a prática, preceituando a confissão dos pecados ao menos uma vez por ano.

13) “Não sou católico romano porque não encontrei na Bíblia a Transubstanciação’, doutrina da Hóstia transformada no corpo de Cristo. Esta inovação também foi criada no Concílio de Latrão no ano 1215 depois de Cristo”.

É estranho que um assíduo leitor da Bíblia não tenha encontrado aí a doutrina da conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo. Na verdade, nada há de mais claro do que esta doutrina expressa em Mt 26, 26-28; Mc 14, 22-25; Lc 22, 1 9s; 1 Cor 11, 23-25: entregando o pão aos discípulos, disse o Senhor: “Isto é meu corpo” e, entregando o vinho, disse: “Isto é meu sangue”. Além do quê, em Jo 6, 51-58 Jesus promete dar sua carne e o seu sangue como alimento espiritual; ver especialmente Jo 6, 51: “O pão que eu darei, é a minha carne para a vida do mundo”.

Por conseguinte a doutrina da conversão eucarística está no Evangelho. A teologia medieval apenas criou o vocábulo técnico “transubstanciação” para designar a mensagem bíblica.

14) “Não sou católico romano porque a Bíblia diz que, se alguém tirar ou acrescentar alguma palavra das Escrituras, Deus fará vir sobre ele as pragas escritas nesse Livro, `e Deus tirará a sua parte da árvore da vida e da Cidade Santa’ (Ap 22, 18-19; Deut 4:2, 12 e 32)”.

Antes do mais, uma observação se impõe: quando São João escreveu o Apocalipse, ainda não existia a coleção dos livros sagrados encadernada num só volume; o Apóstolo apenas tinha em vista o Apocalipse, que ele declarava intocável.

Os citados textos do Deuteronômio proíbem qualquer alteração da Lei de Deus.

A objeção está incompleta. Ela insinua que a Igreja Católica acrescentou à Bíblia os sete livros deuterocanônicos ou controvertidos nos primeiros séculos, até 393, como dito atrás; seriam os livros de Tobias, Judite, Baruque, Eclesiástico, Sabedoria, 1/2 Macabeus. Ora em PR 432/ 1998, pp. 194ss são reproduzidos os textos de Concílios e Papas que proclamam a canonicidade desses sete livros desde o século IV. Foi Lutero quem no século XVI retirou esses escritos do Livro Sagrado. Apesar disto, as edições protestantes da Bíblia incluíam esses escritos em apêndice até o século XIX.

15) “Não sou católico romano porque disse Jesus em Apocalipse: `Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados e não tornes parte das suas pragas’ (Apor 3:13 a 17) “.

Observamos, antes do mais, que a citação é falha; o texto transcrito se encontra em Ap 18, 4. – A exortação para sair… refere-se a Babilônia, imagem da Roma pagã e perseguidora dos cristãos; nada tem a ver com a Igreja Católica, à qual o autor do Apocalipse pertencia. Não se pode interpretar um texto bíblico isoladamente do seu contexto.

16) “Não sou católico romano porque não encontrei na Bíblia nenhum relato de Batismo de crianças, e o próprio Jesus, nosso exemplo em todas as coisas, foi batizado com cerca de 30 anos (Lucas 3:21 a 23) – Não encontro na Bíblia o Batismo por aspersão, pois Jesus foi batizado nas águas do rio Jordão (Mateus 3, 13 a 17)”.

A Escritura não refere explicitamente o Batismo de crianças. Todavia narra que vários personagens pagãos professaram a fé cristã e se fizeram batizar “com toda a sua casa”; assim o centurião romano Cornélio (At 10, 1 s, 24. 44. 47s), a negociante Lídia de Filipos (At 16, 14s), o carcereiro de Filipos (At 16, 31-33), Crispo de Corinto (At 18, 8), a família de Estéfanas (1 Cor 1, 16). A expressão “casa” (domus, em latim, oikos, em grego) tinha sentido amplo e enfático na antigüidade; designava o chefe da família com todos os seus domésticos, inclusive as crianças (que geralmente não faltavam). Indiretamente, pois, as Escrituras propõem o Batismo de crianças.

Ademais Orígenes de Alexandria (+250) e S. Agostinho atestam que “o costume de batizar crianças é tradição recebida dos Apóstolos”.

Jesus só foi batizado aos 30 anos, porque somente com 30 anos Ele proclamou e instituiu o Batismo.

Quanto à imersão na água, nem sempre era (e é) possível praticá-la, por falta de rio ou por motivos de saúde…; donde a prática da aspersão: a água corre sobre a pele do catecúmeno, significando a purificação interior.

17) “Não sou católico romano porque esta igreja está repleta de doutrinas pagãs, como a doutrina da imortalidade da alma e a vida pós-morte, ao passo que a Bíblia afirma que a alma é mortal (Ezequiel 18:2 e 20) e ‘que após a morte não há nenhuma consciência ou existência (Ecles 9:5, 6, 10; Jó 7, 8 a 10) “.

Para negar a imortalidade da alma, o autor da objeção se apóia em textos do Antigo Testamento apenas. Na verdade, os judeus originariamente julgavam que, após a morte do homem, subsistia um núcleo de sua personalidade chamado refaím adormecido e inconsciente. Ezequiel chega a dizer que a alma morre para significar não a destruição da alma, mas sim a punição que ocorre ao pecador endurecido no seu pecado.

Essas concepções judaicas primitivas foram cedendo à noção de imortalidade da alma consciente no além; assim no século I a.C. o livro da Sabedoria em seus capítulos 2 a 5 professa tal doutrina. Que o Novo Testamento ensina claramente. Basta citar as palavras de Jesus ao bom ladrão prometendo-lhe o paraíso após a morte (cf. Lc 23, 43); os dizeres de São Paulo em FI 1, 23: “O meu desejo é partir e ir estar com Cristo, pois isso me é muito melhor”. Ademais o Apocalipse apresenta a Liturgia celeste celebrada pelos mártires e justos, “que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro” (Ap 7, 14). Os justos no céu acompanham a vida de seus irmãos na terra e bradam ao Senhor: “Até quando… tardarás a fazer justiça, vingando o nosso sangue contra os habitantes da terra?” (Ap 6, 10).

Por conseguinte, é falso dizer que a alma humana é mortal ou que no além se encontra adormecida e inconsciente.

18) “Não sou católico romano porque não encontrei na Bíblia nenhuma passagem que mande santificar o Domingo como dia de Descanso Semanal. Na realidade o Domingo foi instituído pelo Imperador Constantino romano, pagão, na data de 7 de março de 321 depois de Cristo, esse decreto dominical pagão foi aceito e confirmado pela Igreja Católica Romana no ano de 364 d. C. Ao contrário disto, mais de 140 passagens bíblicas falam do Sábado como o dia de repouso de Deus, deixado para o nosso repouso semanal. Veja Êxodo 20: 8 a 11; Isaías 58, 13, 14; 66; 22 e 23; Atos 13:14, 43, 44; 16:13; 17.2; Apoc 14:12”.

Mais uma vez o autor das objeções privilegia o Antigo Testamento em detrimento do Novo. Com efeito, a Lei de Deus manda observar todo sétimo dia como dia de repouso dedicado ao Senhor. Os cristãos cumprem exatamente essa norma; diferem, porém, dos judeus (e dos adventistas) pelo fato de começarem a semana na segunda-feira e a terminarem no dia seguinte ao sábado judaico.

E por que houve esse deslocamento do sétimo dia ou do sábado? – Porque Jesus ressuscitou como novo Adão no dia seguinte ao sábado ou no primeiro dia da semana judaica; Ele recriou o ser humano. Os cristãos compreenderam logo que deveriam reverenciar tal dia como o Dia do Senhor por excelência, celebrando então a Eucaristia ou a Páscoa do Senhor. É o que atestam certos textos do Novo Testamento:

1 Cor 16, 2: “”No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de lado o que conseguir poupar; deste modo não se esperará a minha chegada para se fazerem as coletas” – O Apóstolo se refere à assembléia litúrgica realizada “no primeiro dia da semana”.

At 20, 7: “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para fração do pão, Paulo entretinha-se com eles”.

Em Ap 20, 10 está dito que esse primeiro dia da semana era kyriakè heméra, o Dia do Senhor, a dominica dies (em latim) ou dominga (no nortuaués arcaico).

O que importa, não é a palavra sábado como tal, mas o seu significado de 7° dia dedicado ao repouso e ao culto do Senhor. Para o cristão, celebrar o sábado judaico é, de certo modo, ignorar a Páscoa ou o fundamento da fé cristã.

Seja lícito acrescentar:

Não sou protestante (nem adventista do 7° dia) porque, por mais que tenha procurado, não encontrei na Bíblia passagem alguma que recomende escrever panfletos injuriosos e caluniadores contra os irmãos católicos a fim de propagar o Evangelho. – Ao contrário, só encontrei na Bíblia textos que mandam amar a todos os homens, inclusive aos inimigos (Mt 5, 43-48). Também encontrei na Bíblia a notícia de que Jesus Cristo é a Verdade (Jo 14, 6) e Satanás é o pai da mentira (Jo 8, 44s). Quem se afasta dessas normas, não é evangélico.

APÊNDICE

Os adventistas costumam dizer que o Papa é a Besta do Apocalipse (13, 18), porque as letras do título VICARIUS FILII DEI perfazem o total 666. Tal exegese é falsa, pois São João e seus leitores imediatos não conheciam o latim. Mas, usando a mesma tática, pode-se dizer que a grande mestra dos adventistas é a Besta, como se vê abaixo:

E L L E N G O U L D W H I T E

50 50 5 50 500 10 1 = 666

Em suma, eis alguns dados que podem servir aos fiéis católicos quando agressivamente interpelados por seus irmãos.