Religião: o budismo

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 310/1988)
Em síntese: O Budismo, fundado por Siddhartha Gautama, o Ilumi­nado (Buda), no século VI a.C., procura libertar o homem do sofrimento, tido como conseqüência do apego às coisas sensíveis; o termo final da insen­sibilização será o Nirvana, no qual se desintegrará o núcleo pessoal; haverá a negação de todas as realidades negativas para dar lugar a uma felicidade indi­zível. O Budismo professa a lei do karma e o ciclo das reencarnações. A sua Moral é austera e sóbria, tendo como paradigma a vida dos monges.

Tem-se dito que o Budismo é uma religião sem Deus, pois se ocupa muito mais com o homem do que com a Divindade; oferece uma cosmovisão que tem imperativos de Absoluto, mas que não tem a face de um Deus pes­soal.

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O Budismo é uma das grandes religiões do mundo, com cerca de 300.000.000 de seguidores. Ultimamente tem penetrado no Ocidente, in­clusive no Brasil, tomando formas diversas, que o público brasileiro não identifica facilmente. Daí a importância de uma explanação de quem seja Buda e da doutrina que ele pregou.

1. Quem foi Buda?

A palavra Buddha significa em língua pálil[1] “o Iluminado”. É o cogno­me atribuído a Siddhartha Gautama, também conhecido por Sakyamuni (o Sábio dos Sakya). Deve ter vivido nos anos de 566 a 486 a. C. no N.E. da Índia. Nasceu de família principesca e foi, por seu pai, educado no luxo bur­guês. Casou-se com dezenove anos e levou vida conjugal feliz e abastada du­rante dez anos.

A existência faustosa que Siddhartha levava, não lhe satisfez. Um belo dia viu-se diante da realidade da vida, pois se encontrou com um velho, um doente e um cortejo fúnebre, que o fizeram pensar sobre a seriedade da pas­sagem do homem pela terra. Depois o exemplo de um religioso mendicante levou o príncipe a abandonar tudo para pesquisar as causas do sofrimento, da velhice, da morte e do renascer. Tal passo custou-lhe renúncias: tinha 29 anos, quando uma noite, enquanto todos dormiam, lançou um olhar de Adeus sobre a esposa e o filho recém-nascido, e deixou a residência, decidi­do a não voltar antes de ter descoberto a solução do enigma da vida. Foi mo­rar numa floresta, como monge e como aprendiz dos grandes mestres da épo­ca. A religião comum era o Bramanismo, pouco expressivo naqueles decênios; emergiam então grupos ou escolas, que, dentro dos parâmetros da antiga re­ligiosidade, tencionavam ensinar o caminho da salvação. Nada disso, porém, satisfez a Siddhartha. No intuito de se libertar das paixões, praticou o jejum e a ascese, que o extenuaram ao extremo.

Passados seis anos nesse tipo de procura, o monge resolveu abandonar todas as escolas e seguir sua inspiração pessoal na solidão, colhendo as reve­lações que lhe viessem do seu próprio íntimo. Após quarenta e nove dias de meditação, em noite de luar, sentado debaixo de uma figueira em Gaya, per­to de Benares, Siddhartha combateu o último embate contra os desejos de honra, poder e bem-estar e conseguiu a Iluminação, tornando-se Buda (o Iluminado): compreendeu a causa do sofrimento, da morte e do renascer, percebeu também os meios para extinguir o sofrimento, escapar ao ciclo das reencarnações e chegar ao Nirvana. Depois disto, pôs-se a percorrer durante quarenta e cinco dias o Norte da Índia, pregando a sua mensagem de espe­rança. Morreu com oitenta anos numa noite de luar, após haver dito aos dis­cípulos: “Recordai-vos, irmãos, destas minhas palavras: todas as coisas com­postas estão fadadas a decompor-se! Trabalhai com diligência na vossa salvação!”

As lendas imaginosas enriqueceram a personalidade e o currículo de vida de Buda. Segundo a tradição, o Iluminado é o termo final de uma longa série de encarnações; percorreu os diversos graus dos seres vivos, manifestando sempre benevolência para com os outros. Esteve também nas regiões celestes; foi Brama e soberano nas esferas mais elevadas. A última etapa, porem, na qual atingiu a sua perfeição, foi a humana. Atribuiram-lhe milagres tidos como normais na vida dos homens sábios e perfeitos. Diz ainda a tradição que Buda conhece os pensamentos dos homens e responde às suas mais íntimas indagações.

2. As quatro “Nobres Verdades”

Buda não se apresentou como Salvador nem como Profeta inspirado. Quis apenas ser um guia, que ensinava aos inexperientes aquilo que ele des­cobrira por seus próprios esforços. Não falava de salvação outorgada por Deus como uma graça, mas falava da emancipação conquistada pelo intelecto e a vontade do homem, movido pela consciência de sua própria responsabi­lidade.

Do Hinduísmo Buda herdou dois elementos doutrinários:

1) a crença numa retribuição mecânica de tudo o que o homem faz de bom e de mau

(é o karma), lei de causa e efeito, contra a qual não há apela­ção nem prece nem ritos;

2) a crença na transmigração (samsara) através de nascimentos e de­sencarnações sucessivas.

Sobre estas premissas o Iluminado desenvolveu a sua doutrina, que consta de quatro “Nobres Verdades”:

1) Diagnóstico: tomada de consciência do múltiplo sofrimento que afeta o homem;

2) Etiologia: descoberta da causa do sofrimento; .

3) Cura: extinção do sofrimento;

4) Terapia: caminho que leva à cessação do sofrimento.

Percorramos sucessivamente estes quatro pontos:

1) Dukkha ou sofrimento é o mesmo que nascer, declinar e morrer. Neste itinerário estão disseminadas a dor e a tribulação. A contínua mudan­ça de tudo ou desintegração é especial motivo de sofrimento.

2) A causa de todo este sofrimento é o tanha ou o desejo, o anseio: o homem quer ser…, quer ter… ou quer evitar… É movido por afetos e pai­xões; apega-se às coisas sensíveis, porque estas lhe proporcionam uma satis­fação momentânea (satisfação que, por sua vez, gera ainda mais desejos e apegos). A causa desta avidez é a ignorância ou a errônea compreensão do significado das coisas sensíveis; o homem tende a não considerar quanto elas são vazias. Se alguém morre com desejos não realizados, deve renascer e o ciclo de dores continuará.

3) O sofrimento cessa quando se extinguem todas as aspirações da mente e dos sentidos do indivíduo. Quem se liberta de todos os anseios, ex­perimenta a Nirodha ou a cura e goza de paz e felicidade indizíveis num es­tado dito Nirvana ou Nibbana.

4) Pergunta-se então: qual a via que leva a tal felicidade? – É a via média entre a extrema mortificação e a desenfreada satisfação dos anseios sensuais. Chama-se Magga e é assim apresentada por Buda:

“Há dois extremos, irmãos, que deve evitar aquele que aspira à liberta­ção. De um lado, a tendência a satisfazer às paixões e aos prazeres sensuais é baixa, desprezível, degradante e deletéria; esta é a via que seguem os homens de mentalidade mundana. De outro lado, a prática da automortificação e do ascetismo é terrivelmente dolorosa e inútil. Somente a via intermediária… evita estes dois extremos, abre os olhos e permite ver dentro do homem e leva à liberdade, à sabedoria, à iluminação plena, ao Nirvana”.

Esta quarta “Nobre Verdade” compreende oito deveres ou princípios:

I. Sila: 1) Discurso reto; 2) Agir reto; 3) Meios de subsistência

justos.

II. Samadhi: 4) Esforço justo; 5) Atenção justa; 6) Meditação justa

(concentração).

III Panna: 7) Idéias justas; 8) Aspirações (pensamento) justas.

A aplicação destes princípios leva ao Nirvana ou ao estado de paz perfeita.

3. Que é o Nirvana?

A palavra Nirvana (sânscrito) ou Nibbana (páli) significa “desapareci­mento” ou “extinção”, à semelhança da extinção do fogo. Buda afirmava que o mundo todo está em chamas, incendiado pelo fogo do tanha. Cada re­encarnação reacende uma chama. O Nirvana a apaga definitivamente e põe termo à vida como os homens a entendem comumente. Por isto não pode ser descrito com palavras; só o conhece quem o experimentou pessoalmente. Pode ser atingido nesta Terra mesma, embora isto seja difícil e fique reserva­do a poucos. O Nirvana só é pleno após a última desencarnação. Então todos os atributos pessoais desaparecerão.

Na verdade, o Budismo ensina que no homem não existe um eu ou uma alma permanente; professa a an-atta (não alma). Esta doutrina é tida como o nervo do budismo e aquilo que distingue de todos os outros este sis­tema filosófico-religioso. O eu é apenas uma combinação, sempre em mu­dança, de forças e energias mentais e físicas que se podem agrupar em cinco categorias:

1. Matéria (solidez, fluidez, calor, movimento);

2. Sensação: visão, audição, paladar, odor, tato, memória;

3. Percepção: as seis percepções correspondentes às seis sensações;

4. Formação mental: vontade ou atividade mental;

5. Consciência: a reação ou a resposta aos fenômenos.

Conseqüentemente, no Nirvana ou no estado de paz absoluta o eu es­tará desintegrado e não se poderá falar de felicidade pessoal. Haverá um nada, não, porém, em sentido negativo, mas, sim, um nada positivo, porque será a negação das realidades negativas. O Bramanismo propõe a salvação mediante a fusão do eu e do Absoluto; o Budismo, ao contrário, diz que não devem existir nem o eu nem o Absoluto, mas a superação de ambos no Nir­vana ou em algo que é totalmente positivo e inefável.

4. A Moral budista

O Budismo formula em normas precisas o comportamento dos seus discípulos leigos (os monges, além dos preceitos comuns, devem observar 227 outras normas).

Os preceitos fundamentais (sisa) distribuem-se em três grupos: 1) os cinco Mandamentos (Panca Sila ); 2) os oito Mandamentos (Atthamga Sita); 3) os dez Mandamentos (Dasa Sila).

4.1. Os cinco Mandamentos

Eis o mínimo que se requer de qualquer budista, ou, melhor, que todo indivíduo budista deve propor a si mesmo a título de resoluções pessoais, orientado, se necessário, por um monge:

“1. Comprometo-me a abster-me de destruir a vida.

2. Comprometo-me a abster-me de tirar coisas que não me tenham sido dadas.

3. Comprometo-me a abster-me de qualquer mau comportamento sexual.

4. Comprometo-me a abster-me de proferir frases não verídicas.

5. Comprometo-me a abster-me de licores distilados ou fermentados, que provocam intoxicação e fazem girar a cabeça”.

4.2. Os oito Mandamentos

Os preceitos anteriores são acrescidos de três outros, que não obrigam os leigos budistas, mas os verdadeiros devotos são propensos a observá-los, principalmente nos períodos de Lua cheia ou caso tenham feito o voto de cumpri-los.

Eis os três novos preceitos:

“6. Comprometo-me a abster-me de alimentos em horas impróprias.

7. Comprometo-me a abster-me de dança, canto, música e de todo es­petáculo indecente…, de usar guirlandas, perfumes e ungüentos, assim co­mo as coisas que servem para embelezar e ornamentar a pessoa.

8. Comprometo-me a abster-me de usar cadeiras altas e luxuosas”.

O terceiro mandamento nesta lista de oito sofre nova redação, ficando assim concebido:

“3. Comprometo-me a abster-me de todo ato não casto”.

4.3. Os dez Mandamentos

Acrescentam-se mais dois aos oito anteriores:

“9. Não usar leitos grandes e confortáveis.

10. Não fazer comércio de coisas de ouro e de prata”.

Estes preceitos dizem respeito apenas aos leigos piedosos, visto que a vida monástica impossibilita aos monges pensar em tais tipos de cama e de comércio.

– Além do mais, aos monges se impõe estrito celibato.

Na verdade, os budistas, mesmo não consagrados à vida monástica, tendem a levar uma vida sempre mais sóbria, pois procuram extinguir em si mesmos todo desejo ou anseio, a fim de poder atingir o Nirvana. Por isto também os monges são como que os adeptos modelares do budismo; são os conselheiros e orientadores, por excelência, do povo budista.

O Iluminado era contrário aos ritos religiosos e às orações e cerimô­nias litúrgicas. Por isto não fundou casta sacerdotal nem quis organizar ou estruturar a sociedade dos seus discípulos. Apenas deixou após si uma Fra­ternidade de Monges, dedicados à vida de mendicantes celibatários e à medi­tação. Buda também não designou sucessor para dirigir as gerações subse­qüentes de seus discípulos. Acontece, porém, que os monges, na medida em que são fiéis ao pensamento do Mestre, vêm tomados como autênticos in­térpretes do mesmo e, por conseguinte, orientadores dos fiéis no mundo.

Dentro dos mosteiros, sim, existem: 1) noviços, 2) monges propria­mente ditos, 3) anciãos; 4) o Grande Ancião.

5. Ramos do Budismo

O Budismo influenciou enormemente as diversas culturas da Ásia, on­de ele se expandiu principalmente entre os séculos IV e VIII d.C.; nesta épo­ca quase toda a Ásia foi budista. Tal expansão fez que a corrente budista se diversificasse segundo as regiões nas quais se inseriu. Atualmente o Budismo apresenta três linhas principais ou veículos, além de outras menos importan­tes, que têm as seguintes características:

1) O Pequeno Veículo (ou Theravada), “doutrina dos antigos”. Está difundido no S.E. da Asia (Tailândia, Cambodja, Laos, Birmânia, Sri Lanka…). Protesta fidelidade à doutrina originária. Considera Buda como pessoa histó­rica e mestre. Reserva lugar central à vida monástica. Apregoa a meditação solitária como via de salvação, a qual tem que ser conseguida mediante o es­forço de cada um. Nos países do Pequeno Veículo, cultura e Budismo se en­trelaçam, autoridades civis e religiosas vivem em harmonia, e. mútua influên­cia; os monges (cujo número é muito grande) e os leigos se apóiam uns aos outros. O leigo budista, mesmo que se sinta chamado ao casamento, costu­ma fazer estágio no mosteiro. Em Bangkok ( Tailândia) existe uma espécie de Coordenadoria Mundial do Budismo, chamada World Buddhist Fel­lowship, fundada em 1950 na ilha de Sri Lanka. Em Sri Lanka há 6.000 mosteiros, com 17.000 monges e 14.000 noviços.

2) O Grande Veículo (Mahayna) está difundido na Ásia Oriental e Se­tentrional (Japão, Coréia, China, Tibé, Mongólia…). Apregoa uma via fácil e larga, aberta a todos os que estão em demanda da salvação. Divinizou Bu­da, apagando alguns dos seus traços históricos. Dá grande voga aos leigos; permite o casamento aos Religiosos. Reconhece o valor da ajuda de outrem para que alguém possa conseguir a salvação. Exalta o santo misericordioso (bodhisattva), que esquece a salvação própria para atender aos outros.

Cul­tiva a fé, a confiança e o amor. O Budismo tibetano tem por chefe religioso o Dalai-Lama[2] , que desde 1959 vive na Índia por causa do regime comunista de seu país; é baluarte de estrita observância. No Japão, o Budismo se rami­ficou grandemente; em 1876 foi abolido o celibato dos monges o que pro­vocou a redução dos recintos monásticos propriamente ditos. Os 70.000 templos budistas constituem núcleos aos quais se agregam as famílias. Além disto, têm surgido movimentos leigos dentro do Budismo japonês como o Rissho-kosei-kai e o Soka Gakkai. – Na Coréia o Budismo está dividido em dezoito correntes.

3) O Veículo do Diamante (Vajrayana) ou Veículo do Livro (Tan­trayana) difundiu-se principalmente no Tibé e na Mongólia; é derivado do Grande Veículo e admite expressões religiosas próximas às do animismo e da magia. Recorre a fórmulas (mantra) mágicas, ao segredo esotérico, à mitolo­gia feminina e a um Ritual elaborado.

6. Reflexão final

Há quem diga que o Budismo, na sua concepção originária, não é uma religião no sentido próprio desta palavra, pois volta a sua atenção para o ho­mem mais do que para Deus: procura levar seus adeptos ao autodesenvolvi­mento e à auto-iluminação, esclarecendo-lhes a mente sobre o mundo com seus valores e desvalores; desperta para uma vida moral de elevado teor; con­sola na dor, reconforta diante da morte; faz tender à emancipação frente às paixões e ao Nirvana, que seria a felicidade suprema.

O Budismo não propõe uma revelação da parte da Divindade nem exi­ge a fé em verdades transcendentais, mas a convicção a respeito de uma de­terminada cosmovisão, que a razão e a reflexão podem avaliar.

Mesmo dentro do plano meramente filosófico, o budismo dá especial ênfase à prática ou à Moral, pois esta é que permitirá ao homem insensibili­zar-se frente às coisas materiais para entrar no Nirvana. É solene dístico da tradição budista:

“Por culpa nossa cometemos o mal,

Por culpa nossa sofremos.

Por mérito nosso deixamos de fazer o mal,

Por mérito nosso somos purificados”.

Verdade é que o Budismo não nega a Divindade e propõe uma cosmo­visão tão exigente quanto a de uma religião. A este título pode ser tido co­mo Religião: na “doutrina libertadora” (Dharma) Buda encontrou algo de semelhante a Deus, mas sem o proclamar explicitamente. Ele dizia, ao findar as suas meditações sob a figueira: “É um mal permanecermos sem ninguém a quem testemunhemos veneração e respeito”. Esse alguém venerável Sid­dhartha o encontrou: não seria chamado Brahma, mas, sim, Dharma (men­sagem de emancipação), a quem Buda daria o valor do Absoluto, não, porém, o semblante do Absoluto, de uma pessoa (comentários de Marcello Zago, p. 69 na obra citada na bibliografia deste artigo).

O Budismo tem em comum com o Cristianismo o anseio a uma vida pura e perfeita, isenta de paixões desregradas. Vive mais em função do invi­sível do que do visível – o que encontra eco na mensagem cristã (cf. 2Cor 4,18). Todavia as diferenças são evidentes:

1) Enquanto o Budismo prega a auto-salvação, o Cristianismo apre­goa a hetero-salvação. É Deus quem toma a si a salvação do homem (que es­te, sem dúvida, pode rejeitar).

2) O Cristianismo se interessa pela salvação do homem, mas sem dei­xar de ser teocêntrico ou de estar voltado para Deus; a salvação do homem dá glória a Deus. Em última análise, o mundo e o homem existem porque Deus, que é o Sumo Bem, os fez para difundir a sua Bondade e espelhar no homem a sua imagem e semelhança.

3) O Cristianismo propõe ao homem o encontro com o Grande TU ou o grande referencial de sua vida. Deixa de ser um sistema físico e mecani­cista, para ser a mensagem do Amor que “primeiro nos amou” (1Jo 4,19) e que espera a condigna resposta do homem. A Cruz de Cristo, Deus e homem verdadeiro, faz a ponte entre o céu e a terra e dá ao sofrimento o sentido de um testemunho de fidelidade e amor. Já que o primeiro Adão foi até a mor­te por desobediência ou desamor, o segundo Adão vai até a morte por obe­diência e amor, e convida os demais homens a segui-lo. A dor foi transfigu­rada pela ressurreição na Páscoa.

4) Além destas observações, deve-se notar que entre Cristianismo e Budismo há uma diferença fundamental: enquanto aquele é monoteísta, este é panteísta, isto é, identifica a Divindade com o homem e o mundo. Esta premissa básica provoca uma diferenciação geral entre o sistema de Buda e o de Jesus Cristo; veja-se a propósito o que foi dito sobre o Hinduísmo em PR 309/1988, pp. 78-89.

A guisa de bibliografia:

PHICHIT, P., II Buddismo, na coletânea de vários autores intitulada‘Le Grandi Religioni del Mondo. Edizioni Paoline, Milano 1987.

ZAGO, MARCELLO, Buddhismo: Ia religione senza Dio, em JESUS, número especial, outubro 1986, pp. 64-69.

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NOTAS:

[1] Pali é a língua sagrada do Budismo, falada no Sul da Índia e assemelhada ao sânscrito.

[2] Lama é título dos monges em geral no Tibé.