Religião: todas as religiões são equivalentes entre si?

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 445/1999)

Em síntese: A resposta à pergunta exige a distinção entre o aspecto objetivo e o aspecto subjetivo da Religião. Objetivamente falando, não são todas as religiões equivalentes entre si, pois ensinam Credos diferentes, com Códigos de Ética diferentes (reencarnação ou não, poligamia ou não, divórcio ou não…). A Igreja Católica é a única portadora da Revelação confiada por Deus aos homens. – Subjetivamente falando, pode-se dizer que o fiel de uma religião não católica poderá salvar-se nela, se a professar e vivenciar de coração sincero, julgando com certeza estar no caminho reto. Deus não pede mais do que aquilo que Ele revela e o coração do homem cândido e leal lhe pode dar.

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Não é raro ouvir-se que todas as religiões são boas ou são equivalentes entre si. Afirma-se que é preciso crer, … crer em alguma coisa, não importa em que coisa. O sentimento religioso seria um sentimento como a honestidade, a benevolência, o ser metódico…, sentimento que “cai bem” ou que faz bem à saúde. O aspecto subjetivo da religiosidade prevaleceria. Ademais toda religião prega os bons costumes e a educação, de modo que não haveria por que preferir um a outro sistema religioso.

É a esta temática que vamos dedicar a nossa atenção.

Refletindo…

O problema exige que distingamos o aspecto objetivo e o aspecto subjetivo da religião.

1. Aspecto objetivo

Não se pode dizer que todas as religiões são equivalentes entre si, pois não coincidem entre si quanto ao Credo; algumas são politeístas (admitem vários deuses), outras são panteístas (identificam a Divindade, o mundo e o homem entre Si), outras são monoteístas (professam um só Deus, distinto do mundo). Mesmo dentro de cada tronco há correntes e variantes… Ora a verdade é uma só, de modo que, objetivamente falando, haverá Credos verídicos (em grau pleno ou menos pleno) e Credos errôneos.

Sem dúvida, o senso religioso inato é o mesmo em todos os homens. Ele tem as mesmas expressões religiosas, independentemente do Credo que professam; por efeito de sua religiosidade natural, todos os homens rezam, dobram os joelhos, prostram-se por terra, levantam as mãos ao céu, e praticam as virtudes ditadas pela Ética natural: o senso religioso ensina a não matar, não roubar, não caluniar, não adulterar… Todavia, além dessa base natural comum a todas as religiões, cada religião tem o seu Credo, seu culto e sua Moral própria; neste plano é que se dão as divergências: há quem creia na reencarnação e quem não a aceite; há quem admita o divórcio, o aborto, o homossexualismo, a guerra santa, a poligamia… e há quem não os admita.

Em conclusão: objetivamente falando, as religiões não são equivalentes entre si; não são igualmente verídicas, nem são igualmente boas.

Os católicos, a bom título, dizem que só há uma religião revelada por Deus: a que culmina em Jesus Cristo e se prolonga através dos séculos no Corpo de Cristo que é a Igreja confiada por Jesus a Pedro e seus sucessores.

É o que o Concílio do Vaticano II professa na Declaração Dignitatis Humanae1:

«Professa o Sacro Sínodo que o próprio Deus manifestou ao gênero humano o caminho pelo qual os homens, servindo a Ele, pudessem salvar-se e tornar-se felizes em Cristo. Cremos que essa única verdadeira Religião subsiste na Igreja católica e apostólica, a quem o Senhor Jesus confiou a tarefa de difundi-la aos homens todos, quando disse aos Apóstolos: ‘Ide pois e ensinai os povos todos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-lhes a guardar tudo quanto vos mandei’ (Mt 28, 19-20). Por sua vez, estão os homens todos obrigados a procurar a verdade, sobretudo aquela que diz respeito a Deus e a Sua Igreja e, depois de conhecê-la, a abraçá-la e praticá-la».

Na Constituição Lumen Gentium nº 8 lê-se:

«Esta é a única Igreja de Cristo, que no Símbolo professamos una, santa, católica e apostólica, e que o nosso Salvador, depois da sua Ressurreição, confiou a Pedro para que ele a apascentasse (Jo 21, 17), encarregando-o, assim como aos demais Apóstolos, de a difundirem e de a governarem (cf. Mt 28, 18s), levantando-a para sempre como ‘coluna e esteio da verdade’ (1Tm 3, 15). Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele, ainda que fora do seu corpo se encontrem realmente vários elementos de santificação e de verdade, elementos que, na sua qualidade de dons próprios da Igreja de Cristo, conduzem para a unidade católica».

2. Aspecto subjetivo

É fato que nem todos os homens chegam ao conhecimento do Evangelho tal como Jesus Cristo o pregou e continua a pregar na sua Igreja; não têm culpa disto. Todavia têm coração reto e sincero ao seguir uma filosofia religiosa diferente do Catolicismo: não duvidam de que estão professando a verdade e a ela devem obedecer, mesmo praticando a poligamia ou crendo que a reencarnação divide os homens em castas diferentes, que têm que sofrer (uns) ou ser inclementes (outros). A tais pessoas Deus não pedirá contas do que não tiver revelado ou do que tiverem ignorado sem culpa própria. Poderão salvar-se não pelo falso Credo que professam, mas pela boa fé ou sinceridade cândida com que o professam. É o que declara a Constituição Lumen Gentium nº 16:

«Aqueles que ignoram sem culpa o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus na sinceridade do coração, e se esforçam, sob a ação da graça, por cumprir na vida a sua vontade, conhecida através dos ditames da consciência, também esses podem alcançar a salvação eterna. Nem a Divina Providência nega os meios necessários para a salvação àqueles que, sem culpa, ainda não chegaram ao conhecimento explícito de Deus, mas procuram com a graça divina viver retamente. De fato, tudo o que neles há de bom e de verdadeiro, considera-o a Igreja como preparação evangélica e dom daquele que ilumina todo homem para que afinal venha a ter vida».

Ou ainda a Constituição Gaudium et Spes nº 22:

«Tendo Cristo morrido por todos e sendo uma só a vocação última do homem, isto é, divina, devemos admitir que o Espírito Santo oferece a todos a possibilidade de se associarem, de modo conhecido por Deus, a este mistério pascal».

Assim, de um lado, fica excluído todo relativismo religioso – o que seria relativizar a verdade. Doutro lado, fica excluído também todo fanatismo cego, que não leva em conta a inocência ou a candura de quem, sem culpa própria, não adere à verdade, mas se esforça por cumprir o que o único Deus lhe revela através dos ditames da consciência reta e sincera. Deve-se acrescentar que quem se salva fora da Igreja visível, salva-se por Cristo e pela Igreja Católica, mesmo que não conheça Cristo e a Igreja. Não há outro caminho de salvação senão Jesus Cristo e seu Corpo Místico.