Gostaria de falar esta semana sobre o serviço.
Nada mais cristão do que o serviço aos outros. Isto é assim porque Jesus Cristo ensinou-nos inúmeras vezes que deveríamos ter esta atitude no nosso coração. “O filho do homem não veio para ser servido, mas para servir”. “O menor no Reino dos Céus é aquele que mais serve”.
Um dos gestos mais tocantes onde nos ensina esta verdade é no Lava-Pés na Última Ceia.
Como foi isto?
Jesus estava prestes a morrer na Cruz e reservou o penúltimo dia da sua vida, a Quinta-Feira Santa, para ensinar aos Apóstolos verdades extraordinárias. S. João comenta que os ensinamentos deste dia atingem a perfeição do amor. Estando todos os Apóstolos reunidos naquela ceia, Jesus se levantou, pegou uma bacia e uma toalha e ajoelhou-se para lavar-lhes os pés. Neste momento os Apóstolos ficaram perplexos? Por quê? Porque o que Jesus estava fazendo era algo completamente inusitado: jamais um senhor havia feito este serviço. Este serviço estava reservado apenas para os escravos. E o que Jesus faz: do alto de toda a sua dignidade, infinitamente maior do que qualquer senhor aqui na terra, abaixa-se até os pés daqueles homens rudes e simples para servi-los. Ao terminar de fazer este serviço, volta-se para os Apóstolos e lhes diz: “Compreendestes o que vos fiz? Bem-aventurados sereis se o praticardes!”
O que Jesus nos ensinou com este gesto? A perfeição da caridade: sair do nosso senhorio, da condição de senhor, para assumir a condição de servo, e servir o próximo. Todos somos senhores, temos um certo senhorio pela nossa condição financeira, familiar, cultural, intelectual, mas a caridade autêntica está em sair do pedestal em que estivermos e ir até o chão, se for preciso, para fazer os serviços mais modestos, mais desprezíveis, para o bem do próximo.
Por isso, o cristão é uma pessoa que “tem o olhar voltado para os outros” e não para si mesmo. Como dizia S. Josemaria, o cristão é alguém que tem o preconceito psicológico de pensar nos demais. Não consegue não estar pensando nos demais o tempo todo.
Será que eu tenho vivido assim?
– será que minha maior alegria é fazer “os outros” serem felizes?
– esforço-me para sair de mim mesmo e pensar nos outros?
– quanto tempo do dia gasto pensando em mim e nas minhas coisas?
– sei ter inúmeras manifestações de serviço ao longo do dia: sorrir, atender um telefone, atender a campainha, fazer as tarefas mais desagradáveis, abrir ou fechar as janelas, deixar o melhor bife ou a melhor parte do frango para os outros, preparar o café, etc?
– sou mais senhorito ou mais servo?
– sei ter esta atitude de serviço até o último momento do dia ou quando chego em casa só penso em descansar, ler o jornal e ficar no meu mundinho?
Que diferente é o ambiente de uma casa onde todos os familiares entram numa disputa para ver quem serve mais o outro! Esta casa é a antessala do Céu! Que pena, por outro lado, é uma casa onde cada um quer ser um reizinho!
O primeiro serviço que Deus nos pede é com aqueles que convivem conosco diariamente. Comportar-se-ia de modo errado aquele que pensasse primeiro em servir os pobres e as pessoas carentes e descuidasse o serviço com os seus familiares, parentes, funcionários de uma empresa, etc.
Terminemos esta breve reflexão pensando que existem duas atitudes completamente antagônicas que podemos assumir para a nossa vida: pensar nos demais ou pensar em si mesmo. Façamos o propósito de assumir a primeira postura proposta por Cristo. Não tardará em experimentarmos aquilo que nos disse a modo de testamento: “Bem-aventurados sereis se o praticardes!”
Uma santa semana a todos!
Pe. Paulo.