As máscaras da preguiça

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “as máscaras da preguiça“.

Desta vez, gostaria de sugerir a leitura do texto de um sacerdote que admiro muito e que fala sobre a preguiça e mais concretamente sobre suas máscaras. Neste texto, ele aborda de modo brilhante como a preguiça se esconde sob a capa de “ativismo”. Vejamos:

A máscara da atividade

É interessante o espanto – aparentemente mais do que justo – com que certas pessoas de grande atividade reagem a uma eventual insinuação de preguiça: “Eu, preguiçoso? Está louco!”. Mas esquecem-se de que o ativismo, o fato de ter o dia atulhado de ocupações e tarefas e agitado pela “correria”, pode ser um grande álibi da preguiça.

“Não tenho um minuto livre”, repete-se constantemente. A vida parece um quebra-cabeça, cujas peças jamais se poderão encaixar, porque o tempo é limitado. “Bem que eu queria fazer tudo, arranjar tempo para toda a gama de deveres, mas infelizmente não posso.”

Não posso. Essas palavras não são novas. Lembram-nos alguma coisa muito antiga, uma parábola saída dos lábios de Cristo. Um homem deu uma grande ceia e convidou a muitos. A parábola começa com uma clara luz: Deus é esse “homem”, que prepara um grande convite de Amor – uma vida de Amor na terra e depois na eternidade – e chama à porta dos corações dos homens: “Vinde, tudo já está preparado. Está pronto o plano que preparei para ti, a missão que te proponho realizar no mundo”.

Mas o convite do Amor não obtém resposta. Todos à uma começaram a escusar-se. Todos. E deram as suas razões, razões objetivas e cheias de sensatez: “Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me dês por escusado”. Disse outro: “Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me dês por escusado”. Disse também um outro: “Casei-me e por isso não posso ir” (Lc 14, 16-20).

E o retrato falado dos nossos “não posso”: não podemos assumir determinadas responsabilidades e deveres cristãos… porque andamos muito ocupados.

Nosso Senhor não aceita as desculpas. Para Ele não passam de enganos, máscaras da preguiça, de quem foge de maiores compromissos de amor porque não quer complicações. O pai de família – acrescenta o Evangelho – ficou irado (Lc 14, 21). Uma expressão forte, que convida à reflexão. Deus não aceita as nossas desculpas, e isso porque o “não posso”, na maior parte das vezes, significa simplesmente um “não quero”.

A preguiça começa por não querer pensar. Há deveres sobre os quais – por medo do sacrifício – “nem se cogita”. Arremedando a frase “Viver é muito perigoso”, do protagonista de “Grande Sertão: Veredas”, poderíamos dizer que, para alguns, “pensar é muito perigoso”. Resistem a enfrentar seriamente alguns deveres, porque podem lhe vir a impor uma obrigação de consciência. Por isso, preferem tapar a vista com um pano – a afirmação prévia de que “não dá” –, antes de ter sequer começado a refletir.

Deus, pelo contrário, diz que dá. Tudo aquilo que é expressão da vontade divina, do ideal do cristão, é possível. Depende da nossa boa vontade, ou melhor, da nossa vontade boa, disposta a abraçar e a amar, sem regatear sacrifícios, a vontade de Deus.

Todos temos a experiência de que o nosso querer torna-se poderoso quando há um verdadeiro interesse, ou quando há um verdadeiro amor.

É surpreendente verificar o que acontece, por exemplo, com certas pessoas agoniadas pela “absoluta falta de tempo”. Um belo dia, o amigo, aflito pelo excesso de trabalho, comunica-nos com expressão radiante: “Sabe que estou fazendo um curso de alemão? É ótimo. São só quatro dias por semana, das sete às dez da noite. E, depois, é quase certo que vou arranjar um emprego numa multinacional…”. O ouvinte sente vontade de dizer: “Mas, se há um mês você me disse que não tinha nem meia hora por semana para ensinar o catecismo a seus filhos, e que lhe seria quase impossível conseguir cinco minutos diários para ler o Evangelho…”.

Produziu-se um milagre, por obra e graça do interesse. Aquele que não “podia” fazer o que, na realidade, não interessava ao seu coração egoísta agora pode dedicar sem problemas doze horas semanais à gramática alemã.

Será preciso lembrar os “milagres” que, neste mesmo âmbito do tempo, é capaz de realizar o amor? Uma pessoa apaixonada cria tempo, inventa-o, multiplica-o… E acaba “encontrando” tempo para estar com quem ama.

Seria muito bom que cada um de nós revisasse, sinceramente, o que há por trás dos nossos “não  posso”. Não demoraríamos a descobrir, com evidência, que se trata de uma falta de interesse ou de uma falta de amor. Não vai ficando, assim, mais clara a estreita relação da preguiça com o “amor do bem” de que tanto falam os clássicos cristãos? (Pe. Francisco Faus, “A preguiça”, Ed. Quadrante).

Façamos um exame e vejamos se não há obrigações e tarefas que deveríamos estar fazendo e estamos dando a desculpa de “estarmos muito ocupados”.

Uma santa semana a todos!

Pe. Paulo

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