Ativismo

Gostaria de falar esta semana sobre o ativismo

 
Alguns se perguntarão: o que é isto, o que é o ativismo? O ativismo é um defeito muito frequente nas pessoas que consiste em trabalhar não serenamente, mas com aflição, não com paz, mas com boa dose de ansiedade. E isto não é nada bom para nós, pois além de nos tirar a paz, que é um bem fundamental para a nossa alma, nos impede de estarmos na presença de Deus, que é o que dá sabor e sentido à nossa vida. 


No Evangelho há um episódio ocorrido com Cristo onde vemos bem a falta de paz de uma personagem. Esta personagem se chama Marta, que é irmã de Maria e Lázaro. Num determinado dia, Jesus chega inesperadamente à casa de Marta com os seus discípulos. Marta ficou aflita e pôs-se a trabalhar freneticamente para oferecer algo de comer àqueles visitantes ilustres enquanto sua irmã, Maria, ficou aos pés de Jesus ouvindo as suas palavras. 


Numa determinada hora, Marta, vendo Maria que continuava sentada calmamente aos pés de Jesus, reclamou com Ele. No entanto, Jesus, ao invés de dar razão para Marta, censurou-a dizendo: “Marta, Marta, tu te inquietas e te afadigas por muitas coisas, mas Maria escolheu a melhor parte” (Lc 10, 42).

É como se Jesus dissesse a Marta: Marta, calma! Não te aflijas! Trabalhe, mas não deixe de estar comigo!

É realmente isto que acontece com a pessoa ativista: pela aflição do trabalho, deixa de estar com Deus, que é o maior presente da nossa vida. Nada nos deve separar de Deus, nem o trabalho mais apremiante, pois perder a Deus é perder o ar para respirar, é perder o Amor, é perder a razão de ser da nossa vida, mesmo que seja por um instante!

Neste sentido, diz acertadamente um autor espiritual (veja que palavras maravilhosas ele diz):

Muitas vezes Deus consente que a carga de trabalho ultrapasse as nossas forças e que, apesar de toda a nossa boa vontade, não consigamos terminar as nossas tarefas em tempo oportuno.

Pois bem, visto que as nossas ocupações são queridas por Deus, e não motivadas por simples impulsos humanos, ele quer que apliquemos todo o cuidado no desempenho de cada uma delas. Feito isto, o nosso dever estará cumprido, pois Deus não nos pede um esforço angustiado e trepidante, antes pelo contrário, no-lo proíbe. Deseja somente ver-nos agir na medida das nossas forças, generosamente, sacrificadamente, mas sem que nos enervemos.

Deus quer ver-nos intensamente ocupados, não preocupados. Se houver obrigações que não possamos terminar no dia com seriedade e aplicação que o dever exige, permaneçamos em paz: a Vontade divina já foi cumprida neste dia. Fizemos o que nos competia e o Senhor está contente. Recomeçaremos no dia seguinte.

Nunca nos angustiemos, portanto; nunca nos deixemos inquietar pelas nossas ocupações, por mais urgentes e graves que sejam. Esmeremo-nos em conservar a serenidade em todo o nosso proceder. Que os nossos movimentos, o nosso andar, o nosso modo de falar sejam o reflexo de uma alma senhora de si. O nosso exterior reagirá de acordo com o nosso interior, e seremos sempre pessoas calmas e com domínio próprio.

Mesmo que tivéssemos o governo de um Império, esse cuidado não deveria fazer-nos perder a serenidade do coração, porque a nossa alma vale mais do que todos os reinos da terra. Jesus recusou a coroa que lhe ofereciam os judeus. Desprezou essa oferta sem valor, mas suplica-nos a nós que o façamos rei do nosso coração (Dom de si, Joseph Schrijvers)

Para vencer o ativismo, pode nos ajudar o que dizia um sacerdote santo, que devemos fazer tudo com “alma, calma”, isto é, devemos fazer tudo “com toda a alma, mas com toda a calma”. De modo prático, que saibamos fazer uma coisa de cada vez. Perdemos a paz quando nos pomos a fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, além de comprometermos a qualidade das nossas ações.

Façamos o propósito de nunca nos deixarmos levar pelo ativismo. Façamos o propósito de trabalharmos intensamente, mas sem perder a serenidade. Assim viveremos na paz e, sobretudo, “viveremos em Deus” fazendo-o rei do nosso coração.

Uma santa semana a todos!

 
Pe. Paulo M.Ramalho

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