(Revista Pergunte e Responderemos, PR 392/1995)
Em síntese: o Dr. Helio Begliomini, pós-graduado pela Escola Paulista de Medicina, trata, como médico, das relações pré-matrimoniais. Mostra que, em vez de favorecer uma vida conjugal mais sólida e feliz, tem contribuído para dificultar a convivência de marido e mulher. Com efeito; dão a entender subliminarmente que casamento é principalmente vida sexual, quando na verdade implica um dia-a-dia vivido a dois em atitude de doação generosa e paciente. Além disto, as relações pré-matrimoniais propiciam a transmissão da AIDS e de várias doenças venéreas, que podem perdurar mesmo depois do casamento legítimo, prejudicando a vida conjugal. Mais: o aborto decorre, não raro, desse tipo de relacionamento, e a vida moral dos dois parceiros tende a se abalar, pois cede a paixões e até a eventuais desatinos. – As energias que não se gastam nas relações pré-matrimoniais, serão canalizadas em benefício da vida intelectual, esportiva, profissional e religiosa dos interessados.
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A Redação de PR pediu ao Dr. Helio Begliomini um artigo sobre relações pré-matrimoniais, consideradas do ponto de vista médico. Este amigo respondeu enviando a PR o artigo em vista, acompanhado de outro referente a Cursos de Preparação de Noivos para o Casamento. Publicamos neste número de nossa revista os dois estudos, que se complementam mutuamente, e agradecemos vivamente ao Dr. Helio Begliomini a sua valiosa colaboração de Médico do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo (HSPE-FMO), pós-graduado pela Escola Paulista de Medicina (EPM).
Possam os leitores beneficiar-se das ponderações do profissional em Medicina e perito de Cursos para Noivos que mais uma vez colabora com PR.
RELAÇÕES SEXUAIS PRÉ-MATRIMONIAIS
A metamorfose do mundo atual tem favorecido um relacionamento entre as pessoas mais objetivo, menos formal, mais frio e menos duradouro. A crise das crises no hodierno é sem dúvida, a crise da ética, a da moral, que se traduz na maneira desmedida em “levar vantagens sobre outrem”, desacato às leis, desrespeito às instituições e o relativismo filosófico, que esconde várias nuanças entre o bem e o mal, confundindo-os e fazendo-os assumir a mesma forma.
Entre as instituições que sofrem acentuado abalo, enquadra-se o matrimônio, não por forças emanadas de sua razão de ser, mas, sim, por vetores centrífugos oriundos de seus maiores protagonistas – os consortes. Sem cônjuges, não há matrimônio. Se estes estão mal preparados ou até mal intencionados, o reflexo é direto no casamento, que terá sua saúde abalada.
Algumas estatísticas mostram que cerca de 10% dos casais que hoje contraem matrimônio, estarão em um ano separados. Este índice sofrerá incremento nos anos subseqüentes. Quais seriam as causas para tal fracasso, sobretudo num mundo onde predomina mais abertura, diálogo, conhecimento, liberdade de comunicação e compreensão..? Onde os mitos e a depreciação social de ficar solteiro(a) se diluem..?
Os especialistas sempre referem que uma das causas mais em voga na dissolução (fracasso) do casamento (não acasalamento) é o desajuste sexual. Como entender tal fato, uma vez que os noivos desenvolvem “cursos” de instrução e educação sexual nas mais diversificadas revistas de sexo, aperfeiçoamento prático durante o namoro e pós-graduação com parceiras(os) ocasionais?! A intuição indica que deveria ser exatamente o contrário! Entretanto, tais fatos, aliados a uma sociedade hedonista, expressa nos seus mais variegados meios de comunicação social, contribuem para frisar que o sexo antes do casamento ou irresponsável coopera ou é a expressão de uma fragilidade de caráter, pusilanimidade de princípios, obnubilação de objetivos retos, sérios e perenes, que o casal deveria descobrir e perseguir durante o namoro e o noivado, a fim de. que tenham um casamento sólido a persistente.
O relacionamento sexual pré-matrimonial, além dessa característica de enfraquecimento moral do casal, pode precipitar outros inconvenientes, tais como:
CONTÁGIO DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS
O universo de doenças transmitidas através do coito não se restringe apenas à sífilis e à gonorréia, como em tempos imemoriais. Uma gama maior de infecções poderá ser adquirida, tais como: uretrites, balanites, balanopostites, colpites a vulvovaginites inespecíficas causadas por um ou mais dos seguintes agentes: Gardnerella vaginalis, Trichomonas vaginalis, Candida al bicans, Ureaplasma Urealyticum, Chlamydia trachomat is, Herpes virus homimis e bactérias Gram positivas e negativas. Igualmente, outras doenças com seus agentes próprios, como condiloma acuminado, cancro mole, linfogranuloma venéreo, escabiose, pediculose, molusco contagioso e donovanose, poderão ser contraídas, além da AIDS (Síndrome da imunodeficiência adquirida) e da hepatite. Algumas dessas doenças podem ocorrer em circunstâncias matrimoniais de fidelidade. Entretanto, toma-se percalço no tratamento o fato de um dos parceiros sexuais manter relacionamento com outra(s) pessoa(s). Faz-se necessário tratar todas essas moléstias conjuntamente, o que acaba acarretando confusões e mentiras no relacionamento entre os diversos parceiros e parceiras.
REMINISCÊNCIAS SEXUAIS DE OUTREM
Trata-se de informações visuais, táteis, olfativas e auditivas adquiridas e armazenadas no subconsciente, que podem vir a tona quando se tem relacionamento com o(a) atual parceiro(a). Os termos de comparação sobre as técnicas e o desempenho sexual se estabelecem na relação; isto poderá gerar a imagem de que o(a) namorado(a) não é tão bom (boa) quanto outrem. Neste tipo de situação se enaltece o componente sensual do relacionamento, e afirma-se implicitamente que o sexo deve ser o objetivo primordial do casamento.
Quando não existe compromisso assumido social e religiosamente, o relacionamento sexual se toma mais irracional, mais carnal, mais fugaz, mais frágil, e consequentemente menos responsável, menos abrangente, menos persistente e menos sólido.
PSEUDO-RELACIONAMENTO CONJUGAL
Muitos advogam que o relacionamento sexual durante o namoro e o noivado colabora para o conhecimento entre os futuros cônjuges, evitando assim casamentos que não dariam certo. Se assim fosse, não haveria tantas separações ou tanta rotatividade entre os casados ou namorados que partilham ou partilharam essa idéia, uma vez que não faltam motivos, incentivos e ambientes para o sexo. Por mais que se queira prever, a vida conjugal reserva momentos singulares, que são ora positivos, ora negativos. Com certeza, haverá evidenciação de intimidades mútuas até então desconhecidas.
No relacionamento sexual, pré-matrimonial, procura-se valorizar só os momentos agradáveis e não se partilha o dia-a-dia conjugal. Acentua-se, desse modo, uma visão mais libidinosa do relacionamento, esquecendo-se que o cônjuge traz consigo muito mais do que esta faceta a ser apreciada e compartilhada. Cria-se assim uma falsa ilusão do futuro consorte, de modo que a distorção míope auferida no namoro e noivado poderá causar separação conjugal, pois o cônjuge aprendeu a ver parte da pessoa e não a encará-la como um todo.
O relacionamento sexual pré-matrimonial; de maneira geral, é festivo e descompromissado, não importando muito aos seus protagonistas uma visão mais duradoura e até transcendental.
ENFRAQUECIMENTO DA MORAL
O sexo não é o instinto mais forte que o homem possui, mas torna-se muito exuberante a partir da adolescência e atinge o seu cume na fase de adulto jovem, quando apresenta estabilização de sua pujança, com posterior declínio paulatino nas suas manifestações.
O controle do apetite sexual está muito ligado à razão e à educação. o autocontrole em termos de continência sexual não causa distúrbios psicológicos e físicos. Ao contrário, os desajustes na verdadeira educação (falta de orientação sobre princípios éticos seguros e lídimos) refletem-se de forma negativa nas relações psicológicas do indivíduo, precipitando-o em experiências sexuais tidas como “necessárias e medicinais”, quando, na verdade, agravam a ansiedade e o vazio que acompanham o indivíduo, contribuindo para enfraquecê-lo ainda mais psicológica e moralmente. Faz-se mister quebrar o ciclo vicioso e reverter o quadro. A continência sexual pré-matrimonial demanda um contínuo exercício da vontade sobre um forte impulso físico; torna-o menos cego e irracional, proporcionando ao indivíduo um controle de si mesmo. Ademais, reordena suas prioridades e oferece uma forte sensação de bem-estar pelo domínio de si mesmo, de seu ego. Esta energia certamente há de ser canalizada em benefício de sua vida profissional, intelectual, esportiva, religiosa e matrimonial, proporcionando construtivos dividendos.
A seleção de pessoas bem formadas no rol das amizades, a freqüentarão de bons ambientes, o habito de boas leituras e de cursos educativos, a vivência religiosa, a prática esportiva, o trabalho e a vida regrada não somente colaboram para o autocontrole da sexualidade, mas também tornam-se subsídios imprescindíveis na boa formação da personalidade.
PRECIPITAÇÃO DO ABORTO
Todo relacionamento sexual irresponsável imaturo e/ou inoportuno abre as portas para a fecundação (mesmo na utilização de recursos anticoncepcionais artificiais ela não é impossível). A geração de um novo ser fora do contexto do lar, indesejado, fruto de mero hedonismo fortuito a frívolo, poderá favorecer um mal ainda maior, que é o aborto provocado Com ele se atesta que o denominador comum era mesmo o prazer desmedido e inconseqüente, além de se testificar o despreparo de seus protagonistas, pois se chega a um crime bárbaro e nefando, onde o desprezo absoluto e radical pela vida do embrião inocente e desprotegido nem sequer é cogitado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A vida sexual no matrimônio não é isolada; ao contrário, faz parte de um contexto a dois, cujo constante aprendizado, conjunto e paulatino de ambos os consortes. se fará em plenitude. o casamento sério baseado no amor sincero é terreno fecundo para este amadurecimento sexual, que mormente demanda tempo, mensurado pela razão direta do dialogo, pelas características físicas individuais, compreensão, sinceridade, educação familiar recebida e pelo respeito mútuo. Esse crescimento sexual será amplo na vida conjugal, uma vez que, como visto acima, o coito pré-matrimonial não proporciona uma visão do(a) parceiro(a) em toda sua globalidade e em todo o instante. o sexo não é o objetivo mais importante do matrimônio, mas um importante complemento, na razão direta do querer bem desinteressado e sincero que ambos os cônjuges demonstram reciprocamente. Neste sentido, colaborara para levar o casamento a bom termo.
A dinâmica sexual conjugal também conhece momentos felizes e difíceis ao longo da vida a dois. O casal aprenderá a conviver e a superá-los quando houver amor. Este tudo supera. Nada resiste a ele. Se no namoro alguém não aprendeu a conhecer e a respeitar seu futuro cônjuge, a exercitar as virtudes da renuncia e da continência, será mais difícil fazê-lo após o casamento; com efeito, o sexo carnal e fugaz num contexto sem amor e/ou sem compromissos oficiais, longe de ser remédio para angustias e depressões, se toma fator agravante de desilusão presentes ou futuras, uma vez que o relacionamento se forja numa relação inconsistente, de interesses circunstanciais e de duração efêmera.