Catequese sobre a oração – III: a oração de Jacó

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “a oração de Jacó”.
 
Seguimos com a catequese do Papa Francisco sobre a oração:
 
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Continuemos a nossa catequese sobre o tema da oração. O livro do Gênesis, através das vicissitudes de homens e mulheres de tempos distantes, conta-nos histórias nas quais podemos ver refletida a nossa vida. No ciclo dos patriarcas, encontramos a história de um homem que tinha feito da astúcia o seu melhor talento: Jacó. A narração bíblica conta-nos a difícil relação que Jacó teve com o seu irmão Esaú. Desde crianças, houve rivalidades entre eles, que nunca foram resolvidas. Jacó é o segundo filho, mas, com o engano, consegue obter de seu pai, Isaac, a bênção e o dom da primogenitura (cf. Gn 25, 19-34). É apenas a primeira de uma longa série de astúcias de que esse homem sem escrúpulos é capaz. Até o nome, “Jacó”, significa alguém que se move com astúcia.
 
Forçado a fugir para longe do seu irmão, ele parece ter sucesso em todos os empreendimentos da sua vida. É hábil nos negócios: enriquece muito, tornando-se o dono de um enorme rebanho. Com tenacidade e paciência, consegue se casar com a mais bela das filhas de Labão, pela qual estava verdadeiramente apaixonado. Jacó — diríamos com linguagem moderna — é um homem que “se fez sozinho”, com a sua perspicácia, com a astúcia, conseguiu conquistar tudo o que quis. Mas faltava-lhe alguma coisa. Faltava-lhe a relação viva com as próprias raízes.
 
E um dia, sente saudade de casa, da sua antiga pátria, onde ainda vivia Esaú, o irmão com o qual sempre tivera péssimas relações. Jacó partiu e fez uma longa viagem com uma numerosa caravana de pessoas e animais, até chegar à última etapa, o rio Jaboq. Aqui o livro do Gênesis nos oferece uma página memorável (cf. 32, 23-33). Diz-nos que o patriarca, depois de ter feito todo o seu povo e o gado — que era tanto — atravessar o baixio, permanece sozinho na margem estrangeira. E pensa: o que o espera no dia seguinte? Qual será a atitude do seu irmão Esaú, ao qual roubara a primogenitura? A mente de Jacó é um turbilhão de pensamentos… E, quando anoitece, de repente, um desconhecido apodera-se dele e começa a lutar contra ele. O Catecismo explica: “A tradição espiritual da Igreja divisou nesta narrativa o símbolo da oração como combate da fé e vitória da perseverança” (CIC, 2573).
 
Jacó lutou até o romper da aurora, sem nunca se libertar das garras do seu adversário. No final, foi derrotado, atingido pelo seu rival no nervo ciático, ficando aleijado para o resto da vida. Esse misterioso lutador se volta para o patriarca e lhe diz: “O teu nome não será mais Jacó, mas Israel; porque combateste contra Deus e contra os homens e conseguiste resistir!” (v. 29). Como se quisesse dizer: nunca serás o homem que caminha assim, mas direito. Muda-lhe o nome, muda-lhe a vida, muda-lhe a atitude: chamar-te-ás Israel. Então também Jacó pergunta: “Peço-te que me digas o teu nome”. Ele não lhe revela, mas em troca abençoa-o. E Jacó percebe que encontrou Deus “face a face” (cf. vv. 30-31).
 
Lutar com Deus: uma metáfora da oração. Outras vezes, Jacó tinha-se mostrado capaz de dialogar com Deus, de O sentir como uma presença amiga e próxima. Mas dessa noite, através de uma luta que durou muito tempo e à qual ele quase sucumbiu, o patriarca saiu transformado. Mudança do nome, mudança do modo de viver e mudança da personalidade: ele saiu transformado. Dessa vez, já não era dono da situação — a sua astúcia não lhe serviu —, já não era o estrategista nem o homem calculista; Deus o reconduziu à sua verdade de mortal, que treme e tem medo, porque na luta Jacó sentiu medo.
 
Pela primeira vez, Jacó nada mais tem para apresentar a Deus a não ser a sua fragilidade e impotência, também os seus pecados. E é esse Jacó que recebe a bênção de Deus, com a qual entra coxo na terra prometida: vulnerável e ferido, mas com um coração novo. Certa vez ouvi um idoso dizer — um bom homem, um bom cristão, mas um pecador que tinha muita fé em Deus: “Deus me ajudará; Ele não me deixará sozinho. Entrarei no paraíso coxeando, mas entrarei”. Anteriormente Jacó era um homem seguro de si; ele confiava na sua própria astúcia. Era um homem impermeável à graça, refratário à misericórdia; não sabia o que era a misericórdia. “Aqui sou eu que mando!” — ele pensava que não precisava de misericórdia. Mas Deus salvou o que estava perdido. Ele o fez entender que era limitado, que era um pecador que precisava de misericórdia e salvou-o.
 
Todos nós temos um encontro marcado com Deus de noite, na noite da nossa vida, nas muitas noites da nossa vida: momentos escuros, momentos de pecado, momentos de desorientação. Há ali um encontro com Deus, sempre. Ele nos surpreenderá quando menos esperarmos, quando nos encontrarmos verdadeiramente sozinhos. Nessa mesma noite, lutando contra o desconhecido, tomaremos consciência de que somos apenas pobres homens — ouso dizer “infelizes” —, mas, precisamente nessa altura, quando nos sentirmos “pobres homens”, não deveremos recear: porque, nesse preciso momento, Deus nos dará um novo nome, que contém o sentido de toda a nossa vida; Ele mudará o nosso coração e nos dará a bênção reservada para aqueles que se deixam transformar por Ele. Este é um bom convite para nos deixarmos transformar por Deus. Ele sabe como fazer, porque conhece cada um de nós. “Senhor, tu me conheces”, todos nós o podemos dizer. “Senhor, tu me conheces. Transforma-me”.
 
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Uma santa semana a todos!!!
 
Padre Paulo M. Ramalho
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Padre Paulo M. Ramalho – Sacerdote ordenado em 1993. Cursou o ensino médio no colégio Dante Alighieri. Engenheiro Civil formado pela Escola Politécnica da USP; doutor em Filosofia pela Pontificia Università della Santa Croce. Atende direção espiritual na igreja Divino Salvador, Vila Olímpia, em São Paulo.