Combater o jeitinho – I (falta de planejamento)

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “qualidades e defeitos dos brasileiros – I: o jeitinho (I)”.

Como sabemos, nós brasileiros, temos muitas qualidades como a alegria, a simpatia, o acolhimento, a criatividade, o desejo de agradar o próximo etc. Porém, temos também vários defeitos. Um deles que gostaria de comentar hoje é o famoso “jeitinho”.

Não há dúvida também que o jeitinho pode ser visto numa ótica positiva, como a capacidade de contornar as situações difíceis. Penso que aqui se encontra esta capacidade criativa que nós temos que se mostra tanto no futebol como também em todos os campos da nossa vida.

Porém, muitas vezes o “jeitinho” é fruto da falta de ordem e planejamento. Não pensar antes nas coisas e “na hora” ter que dar um “jeitinho”. É o famoso exemplo de um brasileiro que perde o prazo de fazer, por exemplo, uma inscrição num curso e então liga para a secretária da instituição e lhe diz: “Olha, eu perdi o prazo da inscrição do curso,  e como a gente faz agora?”. Dizendo “como a gente faz”, é um jeitinho de implicar a secretária no problema, tocar o seu coração, e ver se ela “quebra um galho”. Não é preciso dizer que isso é impensável em outras culturas.

Lembro-me uma vez de ter lido o texto de um autor que dizia que todas as coisas de Deus são ordenadíssimas. Dizia assim:

As coisas que são de Deus, são ordenadas (Rom 13, 1). Viver com ordem nada mais é do que acomodar os diferentes aspectos da própria existência à ordem estabelecida por Deus na própria natureza: viver em harmonia com Deus, consigo mesmo, com os outros e com o mundo; incorporar na própria vida a ordem estabelecida pela sabedoria e governo divinos. Por isso diz S. Tomás que na vida de Cristo tudo aconteceu no melhor momento e da forma mais adequada, porque as coisas que são feitas por Deus são ordenadíssimas (cfr. S.Th., III, 31, c) (Fernando Ocáriz).

De fato, imaginemos por absurdo que a criação do mundo fosse assim:

Deus está começando a criação do mundo. A  verdade é que não pensou muito para criá-lo e a ordem também não é o seu forte. Cheio de inspiração, depois de criar a terra e os outros planetas, criou as aves para habitar a terra.  Um verdadeiro espetáculo! No dia seguinte, esqueceu de continuar a criação e foi fazer outras coisas. E assim se passaram uns 20 dias. Quando foi olhar para a Obra da sua Criação, viu que quase todas as aves haviam morrido, pois não tinham o que comer. Penalizado, resolveu criar as plantas (pensando no alimento das aves) e novamente as aves. Sobrou ainda algum tempinho e resolveu criar o sol. Ao criá-lo, teve um alívio de consciência, pois lembrou que sem o sol as plantas não iam conseguir sobreviver. Ainda bem! Depois de alguns segundos, ouviu um grito profundo que vinha da terra. É que todas as aves e as plantas estavam sendo torradas. Coçou um pouco a cabeça pensando o que estaria faltando até que lembrou que havia esquecido de um pequeno detalhe: criar a atmosfera. Com um pouco de jeito, conseguir acertar as coisas. No dia seguinte, olhando para uma árvore, que tinha as folhas um pouco feias, decidiu fazer uns testes para ver que tipo de folha ficaria bem para ela. Entreteve-se nesta operação e acabou gastando 5 dias. Ao olhar novamente para as aves, viu que estavam morrendo de sede. Preocupado, criou imediatamente as águas.

Não é preciso continuar o relato para ver que isso é um absurdo. Que Deus jamais faria as coisas assim.

Como dizia o texto acima, “viver com ordem nada mais é do que acomodar os diferentes aspectos da própria existência à ordem estabelecida por Deus na própria natureza”. E por isso, diz também o texto que viver a ordem é viver em harmonia com Deus, com os outros e com o mundo.

Será que eu sou uma pessoa organizada e ordenada? Costumo deixar as coisas para a última hora?

Façamos o propósito:
– de sermos menos emocionais e mais racionais;
– de pensar com antecedência nas coisas;
– de ter o hábito de planejar o dia, planejar a semana;
– de anotar as coisas para não esquecer; colocar alarme no celular;
– de deixar tudo “amarrado”.

Pensemos nestas ideias e que nos convençamos que não temos que nos gabar do nosso jeitinho quando ele é fruto de um defeito, mas apenas quando ele é fruto de uma virtude.

Uma semana abençoada a todos!
 
Padre Paulo 

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