Controle da natalidade: as etapas de desenvolvimento do feto humano

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 445/1999)

Em sínteseA vida humana começa no momento da conceição ou da fecundação do óvulo pelo espermatozóide. Para ilustrar esta verdade, serão apresentadas, a seguir; algumas das etapas do desenvolvimento do embrião humano.

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Em 1965, pela primeira vez um fotógrafo – o sueco Lennart Nilson – fotografou embriões humanos em cores, conseguindo assim revelar ao mundo estudioso as sucessivas fases do desenvolvimento do embrião. Isto interessou muito especialmente as gestantes, pois lhes possibilitou tomar consciência da realidade rica e frágil que trazem em seu seio.

Vamos, a seguir, apresentar as principais etapas do desenvolvimento do embrião, pondo assim em evidência a sabedoria e o mistério da vida que se forma.

1. Os insucessos da natureza

O momento da conceição é decisivo, a ponto de já se ter dito: “o verdadeiro nascimento é a conceição”.

Uma fecundação sobre duas é falha. Por conseguinte, a metade das conceições é naturalmente frustrada em todas as categorias de seres vivos, nos primeiros dias após a fecundação do óvulo. A mulher nem o percebe.

Por vezes o embrião continua a se desenvolver, mas não tem como prosseguir após certo ponto, de modo que ele é eliminado naturalmente.

Na espécie humana apenas oito sobre cem óvulos são deficientemente formados: a natureza os elimina na proporção de sete sobre oito, por aborto espontâneo. Vê-se assim que a regulação natural elimina quase todos os deficientes, pois só vem a nascer um sobre cem; em conseqüência, vêm à luz crianças belas e promissoras. Hoje sabe-se que as anomalias decorrem do patrimônio genético do pai ou da mãe.

Quanto mais jovem é a genitora, tanto mais probabilidade tem ela de gerar filhos sadios; aos 35 anos de idade, as probabilidades são de 99,60%, ao passo que aos 20 anos são de 99,95%.

2. Seis horas depois a vida explode

Seis horas após a fecundação ocorre formidável explosão de vida.

A célula inicial se divide em duas, que se dividem e subdividem, formando células envolvidas num envoltório protetor e transparente chamado “zona pelúcida”. Isto se dá em poucos minutos. O processo se desenvolverá, pois as células se dividirão em oito, dezesseis, trinta e duas, sessenta e quatro… até os 60.000.000.000 de células que constituem uma criança recém-nascida. Nesse minúsculo embrião, que se sustentaria na ponta de uma agulha, tendo apenas um ou dois décimos de milímetro, está definido tudo o que o adulto será: cor dos olhos, da pele, gênero masculino ou feminino, tipo de cabelo, grupo sangüíneo… O que ele requer, é apenas alimentação e cuidados para que o seu dinamismo se possa exercer normalmente. As células decorrentes das divisões e subdivisões não são iguais às suas matrizes; assumem funções diferentes.

Na segunda semana, o ovo faz sua nidação na parede do útero. Seu invólucro se dilata: o ovo lança raízes no muco materno para aí absorver a alimentação e lançar seus dejetos

No 15º dia a mãe ainda não sabe que está grávida, mas o feto interrompe seu ciclo menstrual; ela assim é avisada. O bebê é um disco oval de cerca de um milímetro em sua maior dimensão. Esse disco consta de três camadas sobrepostas:

– a camada inferior será responsável pela formação das vísceras;

– a camada do meio… pelas estruturas do corpo: esqueleto, músculos, vasos sangüíneos…

– a camada superior,… por todos os órgãos de comunicação: pelos sentidos, pelo sistema nervoso…

Cada célula recebe de uma central única e unificante as informações indispensáveis ao seu desenvolvimento.

No 17º dia, tendo o feto dois milímetros, já possui um coração, que bate e só há de parar com a morte do indivíduo. Já se podem perceber os lobos do cérebro, o esboço dos braços e das pernas.

3. O semblante do pequeno astronauta

Com três semanas de existência, o embrião tem forma humana bem nítida.

Aos 26 dias, os braços aparecem. Aos 28 dias, as pernas.

Com quatro semanas, o embrião tem quatro milímetros e está envolvido numa cápsula de 1,5 cm de diâmetro. O sangue da criança é bem distinto do sangue de sua mãe e propaga-se por todo o corpo. O coração bate 65 pulsações por minuto. Este ritmo se acelera de modo que, na quinta semana, se pode perceber o ritmo de 70 batidas por minuto do coração da mãe e o de 150 a 170 batidas por minuto do coração do filho.

Tem impressionado os estudiosos a analogia existente entre um embrião e um astronauta. Em ambos os casos se coloca o mesmo problema: como pode um ser vivo subsistir sem estar adaptado ao ambiente que ele é chamado a conquistar? O ambiente, no caso do embrião, é o mundo exterior; no caso do astronauta é o vazio inter-sideral.

A solução consiste em que ambos fiquem encerrados num conjunto de invólucros hermeticamente fechados; nesses habitáculos eles flutuam dentro de um meio fabricado pelo próprio veículo: o líquido amniótico para a criança, o oxigênio pressurizado para o astronauta. Em ambos os casos, todos os sistemas de canalização e circulação ocorrem em circuito fechado no interior desse universo fechado – o que torna o habitáculo quase autônomo.

O oxigênio, os elementos nutritivos, os anticorpos penetram no interior pelos vasos placentários da criança. Os dejetos (gás carbônico, uréia…) são eliminados para ser lançados na circulação materna.

A partir da décima primeira semana, o bebê dorme quando a mãe dorme, mas pode também despertar a mãe dele, e ser despertado quando fazem barulho. Tem seis cm de dimensão.

Começa a se agitar. Um professor inglês, Ian Donald, conseguiu produzir em 1984 um filme que mostra um bebê de onze semanas a dançar. Já que o seu corpo tem a mesma densidade que o líquido amniótico, ele não sente a gravidade e dança de modo lento, com graça e elegância que seriam impossíveis em qualquer lugar da terra.

Somente os astronautas em suas condições de não-gravidade, chegam a tal suavidade de movimentos. A sua mãe sente a criança dançar em seu útero e com isto se regozija.

4. O desenvolvimento continua

No fim da sétima semana, o embrião mede dois centímetros.

O cérebro primitivo emitiu prolongamentos até a face do futuro semblante para aí abrir-se em dois hemisférios, como se fossem flores: são as retinas.

A pele se torna mais espessa e fica transparente para formar uma lente: o cristalino. As pálpebras aparecem, mas ficam fechadas para proteger os olhos durante seis meses.

O cérebro vai-se formando com seus lobos, atingindo a sua configuração definitiva, com cinco partes distintas.

Com oito semanas o embrião mede quatro centímetros: é quarenta mil vezes maior do que o óvulo do qual ele surgiu. A divisão das células vai assumindo um ritmo mais lento. A princípio a estatura da criança se duplicava rapidamente; crescia todos os dias, todas as semanas. Com dois meses, a criança já mexe a cabeça e levanta o braço.

A mão se desenvolve: o polegar e o índice se contrapõem. Os dedos já trazem seus traços digitais; com um bom aparelho, munido de lentes de aumento, poder-se-ia fazer a carteira de identidade da criança. Os pés se formam por ocasião da décima semana, com seus artelhos em leque.

O nariz desponta sobre o semblante, as narinas se abrem, os lábios se esboçam e nas gengivas já se encontram as raízes dos dentes de leite.

Já se sabe se o bebê será menino ou menina. Os seus caracteres sexuais se constituem e já contêm as células que deverão programar as gerações seguintes.

Aos três meses, o corpo está constituído; os órgãos estão todos constituídos ou esboçados.

Os órgãos aprendem a trabalhar em conjunto. Relações de controle recíproco são assim instituídas; por exemplo, o coração, que batia a sós, passa a ser controlado pelo sistema nervoso; este o acelera ou refreia em vista do bem do organismo em geral.

Entre o quarto e o quinto mês, o feto passa de quinze a vinte e cinco cm de comprimento, isto é, chega à metade da estatura que terá até ao nascer. O crescimento assim assume ritmo menos acelerado, pois, se continuasse no ritmo das primeiras semanas, atingiria tamanho e peso insólitos.

Os pormenores da formação vão-se sucedendo:

– a íris da criança se pigmenta; terá olhos castanhos ou azuis;

– os pulmões apresentam seus alvéolos ainda fechados;

– as glândulas da saliva se desenvolvem;

– as gengivas se tornam mais espessas e a orla dos lábios se esboça;

– o corpo se cobre de finos pelos e as unhas aparecem.

Desde o ovo original, o indivíduo já estava definido como um ser particular. Ele aos poucos vai ostentando os sinais distintivos da sua identidade.

Pergunta-se: quando começa a vida psíquica do bebê? – Aos três meses, quando o cérebro está desenvolvido? Aos quatro meses, quando a mãe sente os movimentos da criança em seu seio? Aos cinco meses, quando o encéfalo começa a sua maturação? Ou quando a criança nasce e lança o seu primeiro grito? Aos dois anos, quando ela fala? Aos sete anos, quando atinge a idade da razão? Aos quatorze anos, quando se torna responsável por si mesmo(a)?

– Na verdade, não se pode assinalar um começo absoluto; o desenvolvimento da vida mental segue uma linha contínua, talvez em forma de escada, por etapas, com seus patamares.

Produz-se no fim do quarto mês notável transformação, que só estará terminada aos quatorze anos; é a maturação nervosa.

Primeiramente, as células mais nobres, os neurônios, lançam fibras como tentáculos. Juntam-se a outros neurônios e assim formam vasta rede de nervos. Numa segunda fase, células especiais envolvem as fibras dos nervos com uma substância branca, isolante: a mielina. Esta é responsável pela integridade da informação.

Aos três meses, os lábios movimentam os músculos da face de modo desordenado. Aos quatro meses, o movimento se disciplina; o feto abre e fecha a boca alternadamente. O polegar se move e os lábios também, de maneira que, já antes do sexto mês, o feto chupa o polegar.

O bebê recebe informações de fora, que o fazem amadurecer: o mundo ambiente contribui para plasmar o cérebro. Em sua piscina escura, a criança recebe grande variedade de estímulos.

No sétimo mês, o cérebro superior ou cortical começa a se organizar. A criança nasce com o número completo de células cinzentas: aproximadamente quatorze bilhões.

5. O fim da gestação

No mundo aquático em que vive a criança, a vista e o olfato são pouco solicitados. O tato, porém, tem amplas funções; a criança toma consciência da sensibilidade do seu corpo: a principal coisa que ela conhece, é a sua boca.

Os sons estimulam a zona auditiva. O feto isola os sons insólitos, distinguindo-os dos ruídos de fundo. Não os compreende; não se recorda deles, mas grava-os em seu íntimo para o resto da vida. A criança não tem a consciência de um adulto, mas é um ser vivo que tem sua experiência pré-natal, que lhe deixa marcas indeléveis. Todo o seu sistema nervoso registra os dados do ambiente materno e, por vezes, lhes responde.

Mãe e filho estão embarcados na mesma aventura bioquímica.

O cansaço, os transportes, o trabalho em pé ou de braços levantados, o fumo favorecem o parto prematuro: a criança geralmente nasce menor.

A proporção de partos prematuros é de cerca de 10% para as mães que fumam entre cinco e dez cigarros por dia. Vem a ser de 30% ou mais, quando fumam mais de vinte cigarros por dia. A influência negativa do fumo sobre o tamanho e o peso da criança segue as mesmas proporções. A um adulto costuma-se perguntar se o fumo de um companheiro de viagem incomoda; à criança nada se pergunta, quando na verdade ela é muito mais dependente da sua companheira de viagem.

Os riscos de parto prematuro aumentam se a mãe leva vida menos sadia. Há, porém, quem queira minimizar os efeitos negativos do álcool – tolerância esta inaceitável.

6. O nascimento

Ao chegar ao fim do nono mês, tanto a criança como os pais se preparam para o desfecho.

Em poucas semanas, os músculos e os ossos da criança se tornam mais fortes e consistentes. Os alvéolos dos pulmões se robustecem. O estômago “digere” os destroços que estejam flutuando no líquido amniótico.

A temperatura do mundo exterior é mais baixa do que a do útero materno. Um espesso tecido adiposo recobre o corpo do bebê. Este ganha sempre mais peso, de modo que acaba por sentir-se imprensado no seio materno. A forma de pera do útero obriga a criança a colocar-se de cabeça para baixo na expectativa dos acontecimentos

Finalmente, no 266º dia de sua viagem o feto está pronto para desembarcar no mundo exterior. Tem sua história. É gente que vai aparecer num universo que lhe é desconhecido.

No momento oportuno o ápice da cabeça aparece, para grande surpresa e emoção de quem assiste. Depois vem a testa, o nariz, a boca, o queixo. Finalmente a criança elimina o muco, respira forte e solta o seu primeiro grito; um autêntico ser humano acaba de nascer.

Mesmo depois de nascida, a criança continua, de certo modo, a viver em simbiose com a sua mãe. Por cada uma de suas mensagens – carícias, sorrisos, olhares e palavras amigas – ela suscita no filho o sentimento de segurança e apoio; ela o ajuda a conceber o sentimento de que ele existe.

O cérebro da criança possui a totalidade de suas células cinzentas que são quatorze bilhões; mas elas não estão inter-relacionadas umas com as outras. Pouco a pouco cada qual lança ramificações que vão ligar-se a outras ramificações. Dado que cada célula pode emitir dez ligamentos, calcula-se que o número total de conexões assim realizadas ultrapasse os cem mil bilhões.

Essas ramificações ocorrem na proporção das experiências feitas pela criança. Começam no sétimo mês de vida intra-uterina e terminam na idade de quatorze anos. O cérebro da criança deve ser ativado pelos estímulos do mundo que a cerca. O desenvolvimento de um bebê fica sendo um mistério. Parece que se deve a dois fatores hereditários. Um é a herança física, que transmite à criança o cérebro complexo, fruto de longo desenvolvimento. O outro é a herança cultural, que lhe vem transmitida de geração a geração. Com efeito; existe uma forma tradicional de sorrir, de olhar, de andar, de comer, de falar – isto tudo constitui o fundo comum de uma família, de uma nação, de uma cultura. Tal herança cultural é passada pelos genitores aos filhos nos primeiros tempos de vida extra-uterina e vem a ser à base do equipamento mental da criança.

Além disto, deve-se notar que, desde os primeiros dias, a criança manifesta três emoções violentas: a do mal-estar, que a faz chorar; a da fome e do prazer de se alimentar (a criança mama com apetite), e a do reconforto; a criança se acalma e adormece. Este ciclo termina e recomeça constantemente.

7. Conclusão

As notícias que acabam de ser expostas, têm por objetivo ilustrar o fato de que o ser humano é gente desde a conceição ou desde a fecundação do óvulo pelo espermatozóide. O ovo fecundado já contém todo o potencial necessário para formar um adulto perfeito. Reconhecem os geneticistas que “o verdadeiro nascimento é a conceição”.

APÊNDICE

Um Ser Sensível à Escuta

Famoso pesquisador, especialista em “escuta”, escreve:

“Verifiquei que no embrião a escuta era muito sensível. O feto é um ser que vibra com a escuta. Ele vive um extraordinário intercâmbio com sua mãe. O feto está envolvido por sua mãe. Ele necessita da mãe e de seus lances de afeto e amor mais do que da injeção de metabolismo que passa pelo cordão umbilical. Com efeito; ele ouve sua mãe; ele escuta sua mãe; a voz de sua mãe tem importância considerável desde os primeiros dias de sua vida. Quando eu descobri que um feto ouvia, caí das nuvens…

Estou convencido – e muitos casos no-lo demonstram – de que a criança ouve desde os seus primeiros dias. Mesmo que o sistema nervoso não pareça elaborado, ela percebe pelos nódulos periféricos que memorizam e projetarão sobre o córtice todo fenômeno. Aconteceu-me ver pais e mães surpresos pelo fato de que na França seus filhos compreendiam melhor o inglês do que o francês. Isto foi possível pelo fato de que nos três primeiros meses de gestação a mãe trabalhou numa firma de comércio que lhe ocasionava falar inglês o dia inteiro. Houve assim uma influência íntima e forte sobre os neurônios da criança. Esta foi modulada pela voz materna, mais necessária do que o fator nutritivo para a sua evolução”.

Notícia extraída da revista MISSI n.º 472, abril de 1985, p. 124.