Controle da natalidade: mais uma vez os preservativos

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 387/1994)

A revista VEJA, em sua edição de 23/02/1994, publicou um artigo intitulado“CAMISINHA E PECADO”. Nesta página a Igreja é acusada de estar prejudicando a saúde dos brasileiros pelo fato de reprovar o uso dos preservativos. Com efeito; a Campanha da Fraternidade de 1994 teve por tema “a Família”. Como se compreende, o Manual da Campanha abordou o assunto “preservativos” e afirmou que este artifício só concorre para promover a promiscuidade de relações sexuais (hétero e homossexuais). Ora o articulista de VEJA despreza esse risco e supõe que os preservativos sejam meios eficazes, de modo que condená-los significaria combater a saúde da população brasileira.

Já temos abordado o assunto em números anteriores de PR; ver 377/1993, pp. 466. Todavia, a pedido de leitores, não podemos deixar de voltar ao mesmo; reproduziremos o artigo de D. Antônio Afonso de Miran­da, Bispo de Taubaté (SP), escrito em resposta a VEJA e publicado no jornal O LUTADOR, edição de 2 a 9 de abril de 1994, p.2. A linguagem é jornalística e candente, mas focaliza com muito acerto e sabedoria a pro­blemática.

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CORROMPER ADOLESCENTES E JOVENS É PECADO

Há dias recebi um recorte da revista VEJA, em que na coluna sobre Religião se publicou a matéria: “Camisinha é pecado”. Pedem-me uma res­posta a este montão de impropriedades e de pesados ataques à atitude pas­toral da Igreja do Brasil, na atual Campanha da Fraternidade.

Não assino, não compro, e não leio a revista VEJA. E aconselho que outros não o façam também. Prefiro não dizer os motivos. Fica ao leitor sensato deduzi-los.

Mas, quando está em foco tema sobre Religião, que é preciso esclare­cer, não posso furtar-me ao dever de olhar o que me enviam, e de dizer a verdade que importa seja dita. Eis porque vou ocupar-me, mais uma vez, com bastante repugnância, da matéria anti-religiosa que esta revis­ta publicou em sua edição de 23 de fevereiro.

VEJA tem sempre o intuito de desacreditar a Igreja Católica, porque a Igreja Católica é uma instituição séria, honesta, que não se tem deixado corromper, e, por isso, como revelou há pouco tempo uma pesquisa, é a instituição que ainda goza da maior credibilidade perante o público.

A sua doutrina pode não ser sempre acatada: Porque não condescen­de com os interesses, o comodismo, a sensualidade e a baixeza de costu­mes reinantes. Mas o povo sabe que a Igreja Católica merece credibilidade, porque ela é fiel à doutrina de Jesus Cristo, e nunca deixa de dizer a verda­de, mesmo quando esta verdade condena até alguns de seus membros, que erram por motivos humanos.

O CASO DA “CAMISINHA”

O título da matéria publicada por VEJA de 23 de fevereiro é sensa­cionalista: “Camisinha é pecado.”

Malícia e bandalheira de mau gosto. O pecado não atinge um objeto inerte como tal. Pecado é ato humano, consciente e livre, que se desvia da ética e moral cristã. A sem-vergonhice da prática sexual fora do matrimô­nio, e a corrupção da juventude, induzindo-a à banalização dos atos se­xuais, a que o uso da “camisinha” conduz, é que é pecado.

Induzir também as pessoas à idéia falsa de que a camisinha é o meio, e único, de precaver-se contra Aids, quando a ciência bem informada já comprovou que a porosidade da camisinha nem sempre obsta à contami­nação, isto também é pecado, porque vai levar à difusão cada vez maior de uma doença, que é hoje o terror da humanidade.

Todo o mundo sabe que a Aids mata e causa sofrimentos horríveis. A revista VEJA observa: “Qualquer adolescente sabe isto de cor.” Mas a revista VEJA, de propósito, deixa de informar que a Aids se contrai, na maioria quase absoluta dos casos, através de relações hétero ou ho­mossexuais, quando aquele que a contrai se entrega à orgia, aos abusos sexuais, e que nunca se contrai dentro do matrimônio, quando marido e mulher são honestos e não vão buscar fora relações malandras.

Ora, propagar camisinhas, distribuí-las no meio de jovens e adoles­centes, dá-lhes a entender que podem entregar-se a todo desregramento sexual que quiserem, contanto que usem camisinha. É um sistema dese­ducativo, perverso, que vai levar fatalmente o jovem a se entregar ao sexo para mera satisfação sem compromisso e expô-lo a, mais cedo ou mais tarde, contrair Aids. Por isso foi que o texto-base da Campantía da Fra­ternidade deste ano lembrou: “O uso de preservativos nas relações sexuais colabora para deturpação do sexo, como coisa banal a ser usada indis­criminadamente em relações hétero ou homossexuais.” Advertência sá­bia, prudente, honesta, educativa dos bons costumes sexuais.

Não importa a citação que VEJA aduz da senadora Eva Blay: “Ao fazer tal pregação, a Igreja assume responsabilidade pela disseminação do vírus da Aids.” Absolutamente. Quem assume esta responsabilidade é quem contribui para a corrupção dos costumes sexuais. No caso, também a revista VEJA e a própria senadora.

É muito claro: expõe-se facilmente a contrair Aids quem se entrega à dissolução dos costumes, mesmo quando usa camisinha, porque esta nem sempre preserva. O mesmo artigo de VEJA registra: “Os estudos mais recentes mostram que a Aids se alastrou muito além dos grupos de risco. Entre mulheres paulistas de 20 a 35 anos, por exemplo, já é a primeira causa de morte.” Porquê? Porque a devassidão dos costumes abre por­tas mais largas à disseminação do vírus.

INTROMISSÃO INACEITÁVEL DA IGREJA?

VEJA cita uma psicanalista, que diz: “Nosso medo é que o lobby católico prejudique a campanha (das “camisinhas”…), o que seria uma in­tromissão inaceitável da Igreja nos assuntos da saúde pública.” O medo é porque a Igreja Católica goza de credibilidade, esta credibilidade que falta freqüentemente aos órgãos públicos.

Não intenta a Igreja qualquer intromissão. Ela simplesmente cumpre o seu dever de ensinar a moral. E estamos num país livre, não estamos? Se assiste à psicanalista o direito de ensinar o que ela quer, mesmo expondo a juventude ao risco da Aids, por que seria intromissão da Igreja o vir ela a público ensinar costumes honestos?

A Igreja exerce uma missão que foi sempre muito benéfica no mun­do. Principalmente do ponto de vista moral. Ninguém pode negar que a Igreja Católica só ensina os bons costumes. Ela não pode ser acusada de intromissão porque usa o direito, que lhe assiste, de ensinar: os princípios morais que sempre contribuiram para o bem da ‘humanidade.

A IGREJA AGRADECE OS CONSELHOS E REVIDA OS ATAQUES

Atentem bem para o seguinte conselho e injúria enviados pela revista à Igreja: “Se fosse mais flexível, a Igreja contribuiria para proteger a saúde de seus próprios membros. Entre 1987 e o ano passado, pelo menos 35 pa­dres morreram de Aids no Brasil.”

Convenhamos honestamente nos seguintes pontos. Primeiro: cumpre lembrar que, sendo só 35 padres que morreram de Aids em 6 anos (de 1987 a 1993), o número é bastante reduzido entre os numerosíssimos casos de Aids registrados no Brasil, para que a revista VEJA faça carga sobre este ponto. Este número tão pequeno prova que, graças a Deus, apesar da fra­queza humana a que estão expostos também sacerdotes, no seio da Igreja ainda existe real fidelidade aos bons costumes. Em segundo lugar, nem todos estes 35 contraíram Aids por relações sexuais; vários podem ter sido vítimas de transfusão de sangue, como é o caso do Betinho e seus irmãos. Em terceiro lugar, se alguns padres contrairam a molestia por quebra do voto de castidade, não é isto responsabilidade da Igreja Católica, e, sim, pessoalmente, desses mesmos religiosos, homens livres, suficientemente instruídos, que tiveram longa e esmerada formação. Enfim: num mundo erotizado como este em que vivemos, não é de estranhar que as fragilida­des da carne possam atingir também os sacerdotes, que não são Anjos.

É assim muito desairoso na senadora Blay que ela venha a dizer esta injúria: “Se eles não conseguem nem mesmo evitar a Aids na Igreja, que autoridade têm para orientar seus fiéis?” Eu posso simplesmente retrucar: se a senadora Blay não tem fineza, sensibilidade, nem bom senso, para en­tender o que dissemos acima, que aprumo tem para assentar-se numa ca­deira de senadora e dali atirar pedras contra a Igreja Católica, instituição entre todas respeitável pelos ensinos e pela conduta moral da maioria incontestável de seus Pastores?

CONCLUINDO

“O melhor que a Igreja tem a fazer, se não endossa o uso da camisi­nha, é ficar calada” – conclui a revista VEJA.

Não. A Igreja não se calará jamais diante do erro moral da propagan­da de camisinhas, porque ela trará conseqüências lastimáveis: por ex., a licenciosidade dos costumes e a multiplicação incalculável dos casos de Aids. A ciência bem informada já o faz entrever, e o futuro o demonstrará. A Igreja não pode e não deve calar-se diante dos enganosos ardis pelos quais se busca implantar por toda a parte a devassidão dos costumes.

A Igreja não teme a injúria, a mentira, os insultos, como não temeu nunca nem a perseguição feroz dos Césares e dos ditadores. A Igreja prega a verdade, ensina a verdade, porque sabe que só a verdade libertará as consciências.

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APÊNDICE

Completamos e confirmamos o artigo de D. Antônio Afonso de Mi­randa com uma notícia extraída do O LUTADOR, de 13 a 19 de março de 1994, p. 7. É importante pelos dados numéricos e os fatos concretos que refere.

CUIDADO COM A MÁ INFORMAÇÃO SOBRE AIDS

O Boletim SELAT (Servicios Latino Americanos) de informação católica, ligado à ACI – PRENSA, trouxe, em seu número de janeiro de 1994, p. 5, uma informação sobre homossexuais e AIDS, que merece ser levada em conta.

Um especialista em AIDS, o norte-americano Malcolm Potts, sustenta que as provas científicas contra a “segurança” do famoso “sexo seguro” baseado em preservativos ou “camisinhas”, são esmagadoras. “O H I V” – diz ele – “é 450 vezes menor que o espermatozóide, e tanto os preservati­vos quanto as luvas cirúrgicas têm normalmente poros de até 5 microns, enquanto o vírus da AIDS tem um tamanho de 0.1 de mícron. Por isso, segundo Malcolm Potts, “dizer a uma pessoa envolvida em comportamen­to de alto risco que use preservativo, é como dizer a um chofer inteiramen­te embriagado que ponha o cinto de segurança e guie tranqüilo”.

Recentemente, dizia Potts que a melhor maneira de testar a convic­ção de segurança da camisinha, era propor a um médico responsável e es­pecializado em AIDS que ele se submetesse aos mesmos riscos que ele ga­rante aos seus pacientes não existirem, usando ele as mesmas medidas de segurança que recomenda aos “outros”.

Algo parecido resolveu fazer a Dra. Theresa Crenshaw, durante o último Congresso Mundial de Sexologia em Heidelberg (Alemanha). A especialista perguntou aos 800 sexólogos presentes: “Se vocês encontras­sem o companheiro de seus sonhos e soubessem que tem o vírus da AI DS, quantos de vocês teriam relações sexuais com ele dependendo do uso de preservativos como proteção?”

Nenhum dos presentes no auditório levantou a mão, apesar de a maioria deles ter admitido que já tinham recomendado essa proteção a seus pacientes – informou o Boletim SELAT (Jan /1994, p.8).

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