Esquecimento próprio

Gostaria de falar esta semana sobre o esquecimento próprio.
Nunca me esqueço quando ouvi pela primeira vez que o segredo para ficar triste é pensar em si mesmo. É o que elucida muito bem estas palavras de um autor:
(Se você quer ficar triste) “Feche-se no seu quarto. Rumine sem parar os seus cansaços, as injustiças e as mágoas que vem sofrendo; amasse tudo isso no seu coração durante vinte minutos e junte-lhe um pouco desses ingredientes do passado – saudosismos e recalques – misture duas xícaras de apreensão pessimista sobre o seu futuro, acrescente três pitadinhas daquelas invejas pegajosas, coloque umas cerejinhas de rancor para servir de enfeite, e leve tudo isso ao forno da auto-compaixão durante trinta minutos. No fim, terá um bolo monumental de tristeza, demorará três dias para fazer a digestão e você ficará mais deprimido do que uma ‘tartaruga neurótica’” (R. L. Cifuentes, Alegria de viver, Quadrante, S. Paulo 1993, p.34).
Por outro lado, também não me esqueço quando ouvi pela primeira vez que o segredo da felicidade é pensar nos demais.
De fato, este foi sempre o ensinamento de Jesus Cristo: que a felicidade nossa está no serviço aos demais, em pensar nos demais. É o que nos ensinou, por exemplo, no Lava-pés, onde depois de ter lavado os pés de todos os Apóstolos, lhes disse a modo de testemunho: “compreendeis o que eu vos fiz? Bem-aventurados sereis se o praticardes!” Que é o mesmo que dizer: Felizes, muito felizes sereis se servis os demais, que é um modo prático de pensar nos outros, como eu vos fiz agora. Pela vida de Cristo, vemos também que não gastava tempo pensando em si mesmo, dando voltas em si mesmo.
Uma pequena ressalva: é lógico que temos que pensar em nós mesmos, na nossa saúde, na nossa situação profissional, na nossa alegria, etc. Mas o que Cristo nos ensina é que o tempo que devemos gastar pensando nestas coisas deve ser o mínimo, o indispensável, e que o resto do tempo, mais ainda, a maior parte do tempo, pensemos nos demais.
Façamos, então, algumas perguntas:
– será que eu sou uma pessoa esquecida de mim mesma?
– quanto tempo do dia passo pensando nas minhas coisas?
– posso dizer que são os outros, Deus, os meus familiares, os meus amigos, que ocupam o meu coração?
– já percebi que a felicidade do homem é como dizia também Kierkegaard: “uma porta que se abre para fora”?
– já percebi que os dias mais felizes da minha vida são quando não tenho tempo de pensar em mim mesmo?
– já percebi que quando estou triste, via de regra, é porque estou muito pendente de mim, dos meus problemas?
– já recebi alguma vez o elogio de que “só penso nos outros”?
Há uns sinais que mostram quando uma pessoa está pensando muito em si mesma. Eis alguns:
– falar sempre de si mesmo;
– citar-se como exemplo;
– “forçar” a barra para que os outros façam o que ela quer, os seus gostos, os seus planos;
– interessar-se pouco pelos outros;
– fazer poucas coisas para agradar os demais.
Façamos o propósito de ter como dizia um santo “o preconceito psicológico de pensar nos demais”. Isto é, façamos o propósito de ter um obsessão, uma santa obsessão: estar sempre pensando nos demais. E, então, experimentaremos no nosso coração aquela promessa de Cristo: “bem-aventurados (felizes) sereis se o praticardes”. Vale a pena!!!
Uma santa semana a todos!

Pe. Paulo

Sobre o autor