Homem: feminismo e feminilidade

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 334/1990)


Em síntese
: Mônica Perin Diez propõe o sentido do autêntico feminis­mo, que não há de ser a imitação do homem (pois isto subordinaria a mulher ao modelo masculino), mas sim a possibilidade de pleno desenvolvimento das virtualidades que a mulher possui como pessoa e como coletividade fe­minina. “O homem que deu nome e lugar às coisas, adotou a autoridade pa­ra manter seu ser. A mulher escolheu outro caminho: sua missão não é do­minar, é desarmar e, assim, afirmar a vida.”

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Publicamos o artigo da Sta. Mônica Perin Diez, publicitária, que traba­lhou em televisão e atualmente vive em Curitiba como Assessora de Comuni­cação da Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais do Paraná. Também coordena um Clube de Atividades Extra-escolares para meninas de oito a doze anos.

À Sta. Mônica Diez sejam consignados os agradecimentos da Redação de PR por esta sua valiosa colaboração.

Basta abrir os jornais, ligar a televisão ou o rádio para chegar a uma conclusão: a mulher vem conquistando seu “lugar ao sol”, tão reclamado através dos séculos.

Este alvorecer de nova era para a mulher vem trazendo uma série de si­tuações inéditas. Questiono aqui se nós, mulheres, sabemos assumi-las ou se não nos estamos deixando levar por preconceitos, tomando uma posição de “defensiva”, evitando, quase com repugnância, os remanescentes daquela mulher que vimos em nossas avós. Ser mulher, para algumas, tornou-se uma carga insuportável, um estigma contra o qual se deve lutar, abolindo-se quaisquer diferenças entre homem e mulher. No entanto, a mulher se esque­ce de que, ao tentar igualar-se, assemelhando às do homem as suas caracte­rísticas próprias, corre o perigo de converter-se num ser híbrido, competiti­vo, metido na esfera do homem, sem conseguir mais do que uma imitação incompleta das qualidades e dos modos masculinos. Nessa falsa libertação, é abandonada a consideração de determinados conceitos como família, lar, amor, feminilidade, que, por mais que o desejem alguns e algumas, não pas­saram de moda.

Emancipar-nos é o mesmo que dizer possibilidade real de desenvolvi­mento pleno das virtualidades que possuímos, como indivíduos e como mu­lheres. A igualdade de direitos, de oportunidades diante das leis não suprime a diversidade entre os sexos. Pelo contrário, essa diversidade é estimulada, servindo assim para melhor desenvolvimento da sociedade. Por isto, ao aban­donar suas características de mulher-pessoa, a mulher se vê discriminada e inferiorizada. A feminilidade é corrompida, o chamado “cavalheirismo” desa­parece e a mulher, que antes era impedida de sair, trabalhar fora, freqüentar os mesmos ambientes dos homens, vê-se impedida de ter um lar, uma famí­lia, amá-los e ser feminina, sem ser rotulada de “escrava”, “amélia”.

Para uma autêntica realização pessoal, é urgente que a mulher assuma sua identidade de maneira ativa, procurando desenvolver as qualidades que lhe são próprias. Todas as tarefas são nobres e realizadoras, se desempenha­das com a finalidade de prestar um serviço de busca de melhora da pessoa e da sociedade.

O que a mulher deve almejar antes de qualquer identidade com o ho­mem, é o reconhecimento de sua dignidade como pessoa. Podemos dizer que entre homem e mulher existem idêntica dignidade, mas funções distintas. E, essa dignidade, a mulher a encontra tanto ao dirigir uma empresa como ao fazer um bolo de chocolate. Ser pessoa implica muito mais do que simples­mente existir ou exercer tarefas. Uma pessoa não é somente aquilo que faz. Realiza determinadas possibilidades próprias de sua natureza. Ambos – ho­mem e mulher – possuem a natureza humana com suas características essen­ciais, que se manifestam de maneira diversa não só em cada um dos sexos como em cada um dos indivíduos. É isto o que chamamos personalidade: o que nos faz ser “cada um” e não “o outro”. A imitação do outro – no caso, o homem – levaria a mulher a não realizar suas potencialidades originais e a colocar-se em posição de inferioridade, reprimindo seu desenvolvimento.

A capacidade de afetar e afetar-se, no homem e na mulher, apresenta diferentes matizes. O homem questiona a existência. Está sempre inquieto pela realidade do ser. Neste sentido podemos dizer que é um ser “fora de si”. A vida, para ele, é mais antagônica. Está de frente às coisas. Seu existir é uma reta, na qual está mais voltado à lógica. A mulher é um ser metido em si mesmo. Profundamente imersa nos matizes de sua personalidade, está tão firmemente ancorada à última realidade metafísica do mundo, que faz pou­co esforço por explicá-la e estruturá-la. A mulher é, não fala sobre o ser. O princípio feminino é dar nova vida, tendendo a centralizar o interesse no ser humano concreto. Portanto, não cabem na natureza feminina manifestações contra a vida, como o aborto, ou uma mesquinha economia da função gene­rativa. Tais atitudes ferem a dignidade humana e reduzem a mulher a um simples animal para procriação, controlada por programas de planejamento populacional.

O verdadeiro direito da mulher é exercer sua liberdade para melhor al­cançar seus fins. E ela os alcança no lar, na escola, no trabalho, onde é neces­sária por sua condição natural de diálogo, que contribui para que seja supe­rada a massificação, para que entre protestos violentos e ruidosos permane­çam sempre em pé a vida e a esperança.

Não é só a mulher que reivindica o reconhecimento de sua dignidade. É a própria sociedade que reclama sua presença e deve esperá-la, com a in­tenção de abrir sulcos a um ambiente cada vez mais humano, superando de­feitos a que às vezes o mundo fica exposto por uma ordenação exclusiva­mente masculina.

Para a mulher, este enorme horizonte obriga-a a um profundo conhe­cimento de seu ser e de sua condição de pessoa, assim como a viver profun­damente no lar, na rua, no escritório, nas classes, com seu modo específico, junto àqueles que compartilham de seu tempo, amor e trabalho.

A mulher está imersa na paixão do vital concreto e abarcável. Tem predileção pelo individual: pronuncia-se sobretudo pela esperança e a forta­leza. Sua capacidade de doação vai unida à possibilidade de perder, sem per­sistências triunfalistas. O homem, que pôs nome e lugar às coisas, adotou a autoridade para manter seu ser. A mulher escolheu outro caminho: sua mis­são não é dominar, é desarmar e, assim, afirmar a vida.

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