Maçonaria: maçonaria: um pouco de história

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 425/1997)

Em síntese: Nos países latinos da Europa e da América a Maçona­ria assumiu o qualificativo de Irregular, porque abandonou suas tradi­ções religiosas e se tornou anti-religiosa, especialmente contrária à Igreja Católica. O artigo que se segue, apresenta um pouco da história da per­seguição movida pelos Governos maçons contra a Igreja no México, onde morreram vários mártires, inclusive o Pe. Agustín Pro S.J. Também no Brasil do tempo do Império a Maçonaria, instalada no Governo, perseguiu os Bispos de Olinda-Recife e Belém do Pará, tornando-se então benemé­rito D. Frei Vital, trazido de Olinda para o Rio, onde esteve encarcerado por resistir às injunções do Governo maçônico em assuntos de ordem interna da Igreja.

***

Reproduzimos, a seguir, artigo sobre a Maçonaria publicado no jor­nal belohorizontino O LUTADOR, edição de 15 a 21 de junho de 1997, p. 8. São páginas que revelam aspectos pouco divulgados da Maçonaria, aptos a explicar o difícil diálogo entre tal sociedade secreta e a Igreja. Agradecemos à Redação daquele periódico o direito de reprodução.

RELAÇÃO NADA CORDIAL

Tudo o que é secreto, desperta interesse.

Tudo o que é proibido, seduz. O que parece beneficente, se faz simpático.

Será por isso que tantos católicos ainda têm dúvidas sobre a “condenação” da maçonaria e recebem com desconfiança as advertências da Mãe-Igreja? Seja como for, o exame das relações entre cristãos e maçons na História do Brasil, bem como no México, traz à luz os sinais do ódio contra a Igreja de Jesus Cristo. Bispos presos, padres fuzilados, centenas de leigos assassinados a sangue frio… Ao menos naquele tempo e na­quelas circunstâncias.

MATANDO O ESCORPIÃO

Que é a Maçonaria? Uma sociedade secreta. Qual o seu objetivo? Tomar o poder. Como provar essa afirmação? Pelo exemplo mexicano. A 5 de fevereiro de 1917, foi aprovada a Constituição do México, maçônica, ain­da em vigor no México, após 80 anos. O presidente era Venustiano Carranza, também ele maçom, como todos os demais que se elegeram até hoje.

A Constituição restringia a liberdade religiosa, considerava crime o ensino religioso e a profissão dos votos. Ao mesmo tempo, desapropriava sumariamente os bens eclesiásticos, negando personalidade jurídica à Igreja e encerrando-a no âmbito das sacristias. Os sacerdotes foram pri­vados de seus direitos políticos (votar e ser votado, herdar, possuir bens etc.), mas deviam prestar serviço militar.

Além disso, o Governo determinava o número de sacerdotes permi­tidos em cada localidade e decretava quem estava habilitado ao ministé­rio. Só mexicanos de nascimento podiam ser sacerdotes. A partir de 1926, com a ‘Lei Calles’, Vera Cruz tinha um sacerdote `autorizado’ para cada 100 mil habitantes. Em Sonora, foram fechadas todas as igrejas. Os sa­cerdotes sumariamente eliminados. Segundo Fidel González, em artigo na revista ’30 DIAS’ (ago/93), `a violência contra a Igreja era dirigida so­bretudo pelas lojas maçônicas e por um de seus grupos, o de Sonora, que alcançou com Calles (presidente de 1924 a 1928) o controle total do poder’.

Álvaro Obregón, um dos responsáveis diretos pelo assassinato do Pe. Agustin Pro (herói do conhecido livro Despistou Mil Secretas), declarou em discurso público: `Quando uma formiga nos pica, não procura­mos a formiga para matá-la; pegamos um balde de água fervente e a derramamos no formigueiro. Quando um escorpião nos pica, nós o matamos; pegamos uma lanterna para procurá-lo e, se encontrarmos outro escorpião, não o deixamos viver, porque não foi ele que nos picou; nós o matamos, porque pode nos envenenar’.

UMA LEGIÃO DE MÁRTIRES

Em 1992, o Papa João Paulo II beatificou Miguel Agustin Pro e os 22 sacerdotes mártires mexicanos. Seu crime? Exercer secretamente o seu ministério, confessando os penitentes, ungindo os enfermos e celebran­do a Eucaristia. São mártires in odium fidei (por ódio à fé). Mas também o foram in odium Ecclesiae, (por ódio à Igreja), pois o objetivo do Gover­no maçom que mantinha o poder no México era não só erradicar a Igreja Católica, mas eliminar da vida nacional o próprio acontecimento cristão.

O episcopado tentou reagir desde o início. Uma Carta Pastoral dos Bispos mexicanos apontava sem medo o projeto governamental de ‘aniquilar o catolicismo’, entranhado na alma do povo. 0 Governo reagiu com decretos que visavam a ‘mexicanizar’ a Igreja, tal como fizeram os países comunistas (China, Vietname etc.), que favoreceram o surgimento de uma `igreja nacional’, `patriótica’, sem ligação hierárquica com Roma.

A 31 de julho de 1926, os Bispos suspenderam todas as celebrações no país. Explodia a perseguição contra o clero e as lideranças leigas. Lares invadidos, interrogatórios, tortura e julgamentos de fachada. Deze­nas de milhares de católicos (50 mil homens, segundo alguns historiado­res) sublevaram-se empunharam armas. Começava a guerra dos `cristeros’, que terminaria com o acordo de paz em junho de 1929. Embo­ra sofrendo com a falta de armas, os ‘cristeros’ estavam em seu apogeu e dominavam um vasto território. Os Bispos aceitaram um acordo com o Governo (as circunstâncias não são claras até hoje) e pediram aos fiéis para interromper a luta e cessar fogo. Tão logo as armas foram entre­gues, começou a matança. A Igreja tinha sido traída.

Dolores Ortega, 85 anos, remanescente de uma família de ‘cristeros’, declara: `Todos sabiam que era um truque, que o Governo nunca respei­taria o seu compromisso. Todos o sabiam, nós da Liga (para a Defesa da Liberdade Religiosa) e também os ‘Cristeros’. Quando nos pediram para interromper a luta, sentimos uma dor surda, uma angústia mais forte do que a provação que a guerra exigia’. Mesmo assim, obedeciam por fidelidade…

‘PRENDAM O BISPO!’

1872. Agonizava a monarquia no Brasil. As forças republicanas engrossavam suas fileiras. No Rio de Janeiro, o Visconde do Rio Branco – Grão-Mestre do Grande Oriente do Vale do Lavradio! – preside ao Gabi­nete. Em clima de rivalidade, Saldanha Marinho era o Grão-Mestre do Grande Oriente do Vale dos Beneditinos, ligado à maçonaria francesa.

Aos 27 anos de idade, Dom Vital é nomeado Bispo de Olinda e toma posse a 24 de maio de 1872. Ele escreve: “Até 1872, a Maçonaria no Brasil respeitou a religião católica.

Introduziu-se no clero, nos conventos, nos cabidos, nas confrarias. Mas quando teve um Grão-Mestre à frente do Governo nacional, julgou oportuno atacar a Igreja’ (citado por Antônio Carlos Villaça, in História da Questão Religiosa no Brasil, pág. 7.)”.

De fato, antes de chegar a Olinda, o novo Bispo já sofria os ataques da imprensa maçônica. Entre outras provocações, o anúncio de Missas para comemorar o aniversário de uma loja maçônica. Dom Vital impôs sua autoridade sobre o clero, proibindo celebrações e atos interditados pelo Direito Canônico. Alguns padres filiados à maçonaria obedeceram ao superior. Outros se calaram. Mas houve rebeldes, que foram suspensos das ordens sacras.

Quando a suspensão atingiu o Deão Joaquim Francisco de Faria (diretor do Ginásio Pernambucano, ex-vigário capitular e chefe do Partido Maçônico Liberal!), este organizou uma reunião popular e insuflou a mul­tidão a atacar o Colégio S. Francisco Xavier, dos jesuítas. Móveis quebra­dos, capela destruída, oito jesuítas agredidos. A seguir, o jornal católico ‘União’ é invadido e queimado. Numa demonstração de força, a Maçona­ria publicou a lista dos maçons que eram sacerdotes ou membros de con­frarias religiosas.

Quando D. Vital lançou o interdito canônico sobre as confrarias en­volvidas e se negou a obedecer à intimação do Visconde do Rio Branco para o levantar, foi acusado perante o Supremo Tribunal, preso e recolhi­do ao Arsenal da Marinha do Recife. Era o dia 2 de janeiro de 1874. O Governo afastara previamente do tribunal todos os juízes considerados católicos. Sem perder a firmeza e a dignidade, Dom Vital foi condenado a quatro anos de prisão com trabalhos forçados. A 12 de março, sua pena foi comutada em prisão simples, na Fortaleza de S. João, no Rio de Janeiro.

PRINCÍPIOS INCOMPATÍVEIS

O tempo passa. Fica a memória. O último documento da Igreja sobre o assunto foi produzido pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em 26/11/1983, e assinado pelo Cardeal Joseph Ratzinger, que os maçons consideram como seu inimigo figadal. A Declaração afirma: ‘Per­manece imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados in­conciliáveis com a doutrina da Igreja, e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave, e não podem aproximar-se da Sagrada Co­munhão’.

Em 1993, a revista de teologia Atualização (n°s 241 e 242) publicou excelente artigo de D. João Evangelista Martins Terra, S.J., sobre a ação da Maçonaria no Brasil, que tem ricos subsídios para os interessados no tema. Ali, são lembrados os motivos da incompatibilidade entre catolicis­mo e maçonaria:

– O relativismo e o subjetivismo maçônico negam todo dogma.

– Exclui-se o conhecimento objetivo da verdade.

– A verdade divina é inatingível, segundo os maçons.

– A maçonaria é ‘deísta’: seu ‘deu’ é neutro, impessoal, nada pare­cido com o Pai e Senhor dos cristãos.

– Não se admite nenhuma ‘revelação’ de Deus.

– O conceito maçônico de ‘tolerância’ rejeita o magistério da Igreja.

– Não há lugar para a ação da graça divina no crescimento moral do homem.

– O maçom assume compromissos secretos, para a vida e para a morte, incompatíveis com a liberdade cristã.

Isto não significa que todos os maçons brasileiros tenham esses sentimentos anticlericais, anti-Igreja, anticristianismo. Muitos são elementos de boa vontade, atraídos para a maçonaria pela camaradagem, o que parece solidariedade, filantropia. Muitos fazem número, dão prestígio à Loja. Mas não sabem todos os segredos. Não entendem a filosofia maçô­nica. É a esses que a Igreja quer esclarecer”.