Milagres: os estigmas: que são? por que são?

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 426/1997)

 

Em síntese: Os estigmas são chagas que alguns fiéis trazem em seu corpo, configurando-se a Cristo Crucificado. O fenômeno é comple­xo, pois envolve não só noções de Teologia e Mística, mas também fato­res de Psicologia e Medicina; elementos religiosos e reações fisiológicas conjugam, tornando por vezes o diagnóstico difícil, já que o fenômeno assume várias facetas. Como quer que seja, dos muitos casos de pesso­as estigmatizadas que se conhecem, pode-se dizer que vários são au­tenticamente sobrenaturais ou graças extraordinárias concedidas pelo Senhor Deus. Com efeito, vem a ser uma modalidade de participação na Paixão de Cristo decorrente de intensa devoção a essa santa Paixão; têm por finalidade santificar a pessoa estigmatizada por mais íntima união a Jesus Crucificado como também contribuir para a Redenção do mundo no sentido das palavras de São Paulo em CI 1,24: “Completo em minha carne o que falta à Paixão de Cristo em prol do seu Corpo, que é a Igreja”.

É certo que o fenômeno dos estigmas está associado à meditação da Paixão dolorosa, pois não ocorre entre os cristãos orientais, que mais se devotam à contemplação do Cristo que reina através do lenho da Cruz.

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0 fenômeno dos estigmas, tal como ocorre, por exemplo, em Frei Pio de Pietralcina (muito conhecido no Brasil) e outros fiéis, suscita inter­rogações: afinal que tipo de fenômeno é esse? Como se pode explicar? Que sentido tem?

É a tais indagações que serão dedicadas as páginas seguintes.

1. Estigmas: que são?

A palavra estigma vem do grego stigma = picada dolorosa. Origina­riamente indicava a marca impressa no gado com ferro quente, em sinal de apropriação por parte do boiadeiro. Passou a designar, em linguagem cristã, as chagas infligidas ao corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo por ocasião de sua Paixão. E, por último, significa as feridas que pessoas piedosas trazem em sua carne reproduzindo as chagas de Jesus.

Não há notícia de pessoas estigmatizadas antes do século XIII. O pri­meiro caso registrado é o de São Francisco de Assis, que, aos 14/9/1224, recebeu em seu corpo os sinais da Paixão de Jesus. Após esse Santo, vários outros casos ocorreram na história da Igreja até nossos dias.

Também se observa que os cristãos protestantes apresentam pou­quíssimos casos de estigmas, ao passo que os ortodoxos orientais não o conhecem em absoluto. A razão disto é que o fenômeno dos estigmas está associado à contemplação da Paixão dolorosa de Cristo, devoção esta que tomou grande incremento no Ocidente a partir do século XIII por causa dos relatos dos cruzados e outros peregrinos que, voltando de Terra Santa, narravam minúcias da Paixão do Senhor como as haviam observado nos lugares sagrados.

Os estigmas vêm a ser um fenômeno que a Psicologia, a Medicina e a Teologia têm estudado intensamente, a fim de lhe dar uma explicação satisfatória, ou seja, sem ceder a um falso misticismo como também sem cair no naturalismo racionalista. Na verdade, há vários casos de pessoas estigmatizadas que não podem ser elucidados todos da mesma maneira É o que passamos a verificar.

2. Como explicar?

Procurando sintetizar o que a pesquisa transmite aos estudiosos pode-se dizer o seguinte:

É inegável a influência do psiquismo sobre o corpo humano. O medo faz empalidecer, dilata as pupilas, provoca suor frio, gaguejar… A vergonha faz enrubescer… Em certos casos ditos “crepusculares” (como os de consciência adormecida, hipnose…) se as imagens se tornam mais viva: e efetuam um processo psicoplástico: eczemas, dermografia (sinais ou letras na pele), acne (erupção pustulenta resultante de inflamação), paralisia de certas funções do organismo…

Alguns pesquisadores admitem que uma idéia muito viva e estimada possa chegar a produzir sinais corpóreos. Assim a sugestão incutida a uma pessoa muito sensível pode redundar em marcas no corpo desse pessoa correspondentes ao objeto sugerido. Ver a propósito ainda o Apêndice deste artigo, pp. 506s.

Na base destas verificações, pode-se afirmar que a contemplação da Paixão do Senhor em grau muito intenso pode produzir lesões na pele do(a) contemplante, lesões semelhantes àquelas que se encontram no objeto contemplado. Em tal caso, os estigmas são a expressão do grau de elevação do sentimento religioso da pessoa, e evidenciam a que ponto pode chegar a força psíquica do indivíduo. É esta a explicação que se dá a casos de pessoas muito santas que apresentam estigmas: S. Francisco de Assis, S. Catarina de Sena, S. Gema Galgani, Frei Pio de Pietralcina… A santidade de vida desses fiéis exclui qualquer processo fraudulento, qualquer tendência a fazer teatralidade ou tragédia, provocar compaixão… O Senhor Deus concede a tais pessoas a graça de participarem corporalmente da Paixão de Cristo, atendendo assim a um anseio das mesmas, desejosas de se configurar ao Senhor Jesus; nessas pessoas a graça de Deus serve-se da índole particularmente sensível, de sua personalidade para provocar os sinais da Paixão de Cristo.

Todavia nem todos os casos de estigmas podem ser diagnosticados com segurança e clareza.

Há casos em que os estigmas aparecem juntamente com vários sin­tomas doentios e que parecem ter causa na configuração mórbida da pessoa estigmatizada e não na graça de Deus. De modo especial salien­ta-se a histeria; a pessoa histérica assume freqüentemente comporta­mentos e estilo de vida teatrais, exibicionistas, procurando chamar a aten­ção dos outros, impressionando-os ou cativando a sua simpatia ou a sua compaixão; daí a facilidade com que tais pessoas podem querer parecer-­se com Jesus Cristo Crucificado por mitomania ou por um desejo doentio. Em alguns casos o anseio psicológico da dramatização ou de impressio­nar os outros pode ter produzido a configuração corpórea correspon­dente, sem que se possa dizer que tais pessoas tenham sido especial­mente esquecidas pela graça de Deus. Não é necessário que essa dramatização histérica seja efeito consciente e premeditado da parte da pessoa estigmatizada; o inconsciente pode levá-la a apresentar a confi­guração estigmatizada, de modo que não se pode dizer que todos os histéricos são mentirosos e hipócritas.

Estes dados complexos relacionados com a Psicologia e Fisiologia tornam polivalente o fenômeno dos estigmas. Cada caso há de ser con­siderado de per si. Haverá mesmo casos em que não se poderá definir com clareza a índole do fenômeno: seria realmente uma graça de Deus ou resultaria unicamente da natureza mórbida da pessoa em foco? É de crer que não raro os dois fatores se conjugam entre si.

Em todo caso, porém, será sempre de grande valia a análise do contexto em que ocorrem os estigmas como também a consideração do teor de vida ou do comportamento geral da pessoa estigmatizada. Se o exercício das virtudes (amor a Deus e ao próximo, espírito de penitência, prática da oração) é notório, pode-se crer que os estigmas são a respos­ta do Senhor Deus à piedade do(a) seu(sua) servo(a).

Ainda se deve notar que nem todas as chagas que aparecem no corpo humano podem ser tidas como estigmas. Geralmente os estigmas aparecem e desaparecem instantaneamente (podem aparecer, por exem­plo, na noite de quinta para sexta-feira e desaparecer na noite seguinte, devendo o mesmo fenômeno reaparecer na semana seguinte). Além dis­to, os estigmas não são acompanhados de supuração; são persistentes, apesar de todos os tratamentos e cuidados médicos que se lhe dispensem.

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Pergunta-se agora:

3. Qual o significado religioso dos estigmas?

Antes do mais, é de notar o seguinte: na medida em que são au­tênticos fenômenos sobrenaturais (questão que deve ser cuidadosamente investigada), os estigmas não são essenciais a uma vida santa; a prática das virtudes, mesmo em grau heróico, não leva necessariamente a pro­dução de estigmas.

Quando ocorrem e são genuínos dons de Deus, revestem-se de duplo significado:

1) Participação física da Paixão de Cristo, correspondente a um anseio da pessoa piedosa. O Senhor concede a fiéis que se devotam a reconhecer seu Amor Crucificado, a graça de trazer em seu corpo os vestígios da Paixão de Cristo.

2) Essa participação da Paixão do Senhor tem efeito de santificação não só em favor da pessoa estigmatizada, mas também em favor do próximo, segundo diz São Paulo: “Completo em minha carne o que falta à Paixão de Cristo em favor do seu Corpo, que é a Igreja” (CI 1,24). Na verdade, ninguém pode acrescentar algum valor à Paixão de Cristo infi­nitamente meritória, mas todo cristão pode dar a essa Paixão a moldura própria da sua personalidade, pode estendê-la ao seu respectivo “aqui e agora” em favor dos irmãos ou numa atitude corredentora. Na Comu­nhão dos Santos cada qual pode ser útil aos irmãos na medida em que se configura a Cristo Redentor.

4. Casos Concretos

À guisa de complemento, vão apresentados alguns casos concretos de estigmatização, tidos como autênticos uns (não, porém, artigos de fé), duvidosos outros.

4.1. Casos tidos como autênticos

4.1.1. São Francisco de Assis (1181- 1226)

Aos 14 de setembro de 1224, festa da Exaltação da Santa Cruz. enquanto rezava no eremitério do Monte Alverne, Francisco teve a visão de um Serafim, sobre o qual brilhava o Crucificado. Quando a imagem desapareceu, Francisco sentiu “o coração arder de amor, enquanto na sua carne estavam impressos os sinais da Paixão do Senhor; aparece­ram nas suas mãos e nos seus pés as marcas dos cravos: além disto, trazia no costado uma fenda como se tivesse sido atingido por uma lança: a túnica e o calção do santo se achavam manchados de sangue. É Tomás de Celano, o biógrafo mais famoso de Francisco, quem o narra (Vita I Parte II, Cap. II, p. 93). S. Boaventura (+ 1274) oferece relato semelhante em Legenda Maior, cap. XIII, p.2. Testemunhas oculares confirmam c fato, pois o puderam observar no cadáver do Santo.

Imediatamente após o falecimento de Francisco, Frei Elias escreveu ao Provincial da França com grande alegria:

“Anuncio-vos uma grande alegria, ou mesmo um novo milagre. Des­de a origem do mundo, nunca se ouviu contar tão maravilhosa coisa, a não ser do Filho de Deus, que é Cristo nosso Deus. Com efeito; muito antes da sua morte, o nosso Pai e Irmão apareceu crucificado, trazendo em seu corpo as cinco chagas, que são realmente os estigmas de Cristo: as suas mãos e os seus pés tinham, por assim dizer, furos devidos a pregos cravados na carne… ao passo que o seu costado parecia ter sido golpeado por uma lança, deixando as marcas de sangue” (S. Boa ventura, Legenda Maior Lectio tertia).

A notícia dos estigmas de S. Francisco é tão documentada por testemunhas próximas ao fato que os críticos julgam não os poder pôr em dúvida. É, sim, possível discutir a configuração desses estigmas, pois os relatos nem sempre concordam entre si. E razoável, pois, acreditar que Francisco, ao contemplar assiduamente a Paixão do Senhor, foi agracia­do com as chagas decorrentes dessa Santa Paixão.

4.1.2. Santa Catarina de Sena (1347 – 1380)

Parece que não teve estigmas visíveis, mas chagas internas.

A biografia de Catarina foi escrita por testemunhas fidedignas, como por exemplo, o Bem-aventurado Raimundo de Cápua, confessor da San­ta e, posteriormente, Mestre Geral da Ordem Dominicana; verdade é que a admiração de Raimundo por Catarina levou o biógrafo a certos exage­ros, mas julga-se que, em substância, o que ele refere é fidedigno.

Desde criança, Catarina foi muito atraída por Jesus; retirava-se numa gruta para rezar a sós durante horas. Fez-se Irmã da Ordem Terceira de S. Domingos, e teve visões e êxtases que repercutiam sobre o seu corpo, o qual se enrijecia e até levitava.

Recebeu estigmas internos, ou seja, as dores dos estigmas. Eis como o Bem-aventurado Raimundo o descreve na qualidade de testemunha ocular:

Catarina estava na capela de S. Sixtina em Pisa. Recebeu a S. Co­munhão e, como relatam as pessoas presentes na capela, ela estendeu os braços e as mãos: ficou radiante de luz e caiu por terra, como se tivesse sido mortalmente ferida. Pouco depois recuperou os sentidos.

Então, conta o Bem-aventurado Raimundo, ela chamou seu confes­sor, e em voz baixa lhe disse: “Saiba, ó Pai, que pela misericórdia de Deus, trago no meu corpo os estigmas de Jesus. Vi o Senhor pregado à Cruz: das cicatrizes de suas sacratíssimas chagas desceram cinco filetes de sangue, dirigidos respectivamente às mãos, aos pés e ao coração. Ciente do mistério exclamei logo: `Ah, Senhor meu Deus, eu Te peço que não apareçam essas cicatrizes na superfície do meu corpo’. Enquanto eu o dizia, antes que os filetes chegassem a mim, a sua cor de sangue se transformou em cor refulgente, e, sob a forma de luz pura, chegavam aos cinco pontos do meu corpo, isto é, às mãos, aos pés e ao coração”.

Perguntou-lhe então o Bem-aventurado Raimundo: “Nenhum filete chegou ao lado direito?”. Respondeu ela: “Não, mas sim ao lado esquer­do, acima do meu coração – aquela luz que saia do lado direito de Jesus, feriu-me diretamente”. Continuou o Bem-aventurado Raimundo: “Sentes dor nesses cinco pontos?”. Ela, após profundo suspiro, respondeu: “É tal a dor que sinto nesses cinco pontos, especialmente no coração, que, se o Senhor não fizer outro milagre, não me parece possível que eu possa subsistir, escapando da morte dentro de poucos dias”.

Após a morte de Catarina, o Pe. Prior do Convento da Minerva es­creveu ao Bem-aventurado Raimundo para dizer-lhe que ele e muitas outras testemunhas tinham visto as chagas no corpo da Santa por oca­sião das suas exéquias. Além disto, no pé de Catarina que se conserva em Veneza, se observa a marca das chagas: o mesmo se dá na mão da Santa que é guardada no Convento de S. Sixto em Roma.

4.1.3. Santa Verônica Giuliana (1660 – 1727)

Era capuchinha. Foi canonizada por Gregório XI. Desde criança, desejou imitar os mártires, que haviam sofrido por amor de Jesus.

Recebeu os estigmas aos 5 de abril de 1697, no decorrer de longo êxtase. Essas chagas foram observadas pelo Bispo Mons. Eustachi, de Città di Castello, com quatro outras testemunhas e, mais tarde, por diversas Irmãs Capuchinhas. O Pe. Tassinari, que acompanhou o Sr. Bispo, descreve:

“Mons. Eustachi observou e fez observar a todos nós as chagas das mãos de Irmã Verônica; na parte superior destas, havia uma ferida gran­de como o calibre de um prego de tamanho médio ou do diâmetro de um pequeno quattrino florentino: em cima de cada chaga, havia uma tênue crosta… Quanto à chaga do costado, à esquerda, seria uma ferida do tamanho do dedo mindinho, larga no meio e pontiaguda nas duas extre­midades” (Sumário do Processo de Canonização, p. 212).

4.1.4. Santa Gema Galgani (1878 – 1903)

Desde menina, foi muito virtuosa: sofreu vicissitudes de família. Ex­perimentou distúrbios psiconeuróticos, quando um jovem se enamorou dela, e quis pedi-la em noivado. As tias com quem ela morava, considera­vam essa perspectiva com bons olhos, porque o rapaz era sério. Gema, porém, se recusava; sem saber como evitaria o passo, pedia a Deus que a ajudasse. Adoeceu gravemente, ficando desenganada. Mas foi curada imprevistamente após muitas orações.

Numa visão apareceu-lhe Jesus Crucificado. Sentiu profundas do­res. Diz ela: “As chagas de Jesus ficaram gravadas na minha mente de maneira tão viva que jamais se apagaram”.

Após a S. Comunhão, certo dia, recebeu promessa de um grande presente. Avisou o confessor. O presente consistia nos estigmas, que se formaram nela enquanto con­templava Jesus com as chagas abertas: destas procediam raios de fogo, que atingiam os pontos correspondentes do corpo de Gema. Esses es­tigmas se abriam todas as semanas às 20 horas de quinta-feira e perma­neciam abertos até as 15 horas de sexta-feira, derramando sangue. Uma vez terminado o fluxo de sangue, as chagas começavam a se enxugar e fechar. No dia seguinte ou, ao mais tardar, no domingo, tudo estava fe­chado e, no lugar dos estigmas, se observava uma mancha branca.

4.1.5. Frei Pio de Pietralcina (1887 – 1968)

Foi capuchinho. Durante cinqüenta anos, trouxe os estigmas: alguns desapareceram pouco antes da sua morte; outros, logo depois do seu falecimento. – O caso tem sido estudado meticulosamente, pois é relati­vamente recente e sujeito a exames mais rigorosos do que os casos an­teriormente registrados.

Frei Pio era de saúde fraca, mas homem de grande bondade e virtu­de; a todos inspirava simpatia e confiança; às vezes passava quinze ou dezesseis horas por dia confessando e atendendo ao povo.

O primeiro especialista que examinou os estigmas de Frei Pio, foi o Prof. Bignami. Deu ordem para que se enfaixassem as feridas na presen­ça de duas testemunhas e se lacrasse a bandagem. Durante oito dias sucessivos, todas as manhãs eram trocadas as faixas. No oitavo dia, fo­ram retiradas definitivamente as ataduras; o Pe. Pio celebrou então a S. Missa, verificando-se então que de suas mãos jorrava tanto sangue que as testemunhas foram obrigadas a fornecer-lhe lenços para que as enxugas­se. Aliás, dia por dia, as chagas, ao serem descobertas, emitiam sangue.

O Dr. Andréa Cardone, médico da família de Frei Pio desde 1910, afirma que encontrou em ambas as mãos do padre perfurações do diâ­metro de 1,5 cm: atravessavam a palma da mão tão profundamente que esta se tornava transparente para a luz.

Muitos médicos examinaram as chagas de Frei Pio, sem poder ave­riguar algum indício de embuste, hipocrisia ou mentira. É o que leva a crer que se trata de autêntico fenômeno suscitado pela graça de Deus.

4.2. Casos duvidosos e falsos

São muitos os casos de duvidosos e falsos estigmas. Relacionare­mos apenas três deles.

4.2.1. Santa Clara de Montefalco (1268 – 1308)

Dizem que não teve propriamente estigmas, mas trazia em seu cor­po os instrumentos da Paixão do Senhor, encontrados aí em autópsia depois da morte.

No dia após os funerais fez-se a autópsia e diz-se que no coração da santa foram encontrados os cravos, a lança, o flagelo, um crucifixo a carne e nervos…. Tal resultado, porém, é contestado, pois a autópsia foi, realizada por uma Irmã na presença de outras Religiosas, que nada sabiam de anatomia.

Crê-se que interpretaram a estrutura interna do coração como fossem os instrumentos da Paixão. Interpretação imaginosa, favorecida pela fantasia e a afetividade.

4.2.2. Margarida de Città di Castello (1248 – 1291)

Algo de semelhante se relata a propósito desta Irmã: objetos de piedade e três pérolas terão sido encontrados em seu coração – o que carece de documentação adequada.

4.2.3. Paulo Diebel

Em 1928 na cidade de Paris foi descoberto o senhor alemão Paulo Diebel.

Dizia que podia produzir à vontade lágrimas de sangue e estigma;

Observado atentamente pelo Dr. Osty, foi desmascarado. O medico virou as pálpebras de Diebel e verificou que estavam cheias de pontadas de alfinete e, por isto, sangravam. Quanto aos estigmas, eram falsificados com o sangue de Diebel retirado de uma chaga de suas pernas.

APÊNDICE

Dizíamos que o psíquico exerce influência sobre o físico do indivíduo humano. Com outras palavras: todo fato psíquico (um pensamento, um desejo íntimo e oculto…) provoca um movimento do corpo humano. A fim de mais o evidenciar, sejam, a seguir, citados mais alguns significativos exemplos:

1) Digamos que alguém quer atravessar um riacho passando por uma passarela frágil ou um tronco de árvore. Se essa passarela tem corrimão, a pessoa passa facilmente sem utilizar o corrimão. Todavia, se não há corrimão, a pessoa perde o equilíbrio e cai na água. Por que cai, se no primeiro caso, passou bem sem se servir do corrimão? Eis a resposta: não há corrimão, a pessoa naturalmente sente insegurança e concebe medo de cair na água; ora esse medo (sentimento íntimo) repercute no físico, provocando desequilíbrio e a queda da pessoa. No caso de haver corrimão, o passageiro se sente mais garantido e seguro; ora esse sentimento de garantia faz que tenha firmeza nas pernas para não cair na água

2) Tracemos um círculo sobre uma folha de papel, com uma grande cruz no centro do círculo. Depois tomemos um fio a prumo ou um pêndulo e mantenhamo-lo suspenso sobre o círculo. Feito isto, fechemos os olhos e ponhamo-nos a pensar no círculo, com a mão imóvel sustentando o pêndulo colocado sobre o círculo…. Dentro em pouco veremos que o pêndulo começará a girar sobre o círculo, pois a imagem do círculo entretida em nossa mente provocará o automatismo corpóreo ou a circu­lação visível; a energia da mente se traduz dessa maneira perceptível. – Algo de análogo ocorre se, em vez de pensar no círculo, pensamos na cruz traçada dentro do círculo: o pêndulo fará o movimento de cruz, por­que a imagem mental repercutirá no físico do indivíduo.

3) Uma pessoa histérica passeia de noite, de um lado para o outro, em sua casa; tem uma vela acesa na mão. Ouviu dizer que nessa casa há fantasmas noturnos, barulhos misteriosos e coisas semelhantes. Põe-se então a pensar: “Se a vela se apagar, ficarei na escuridão. Que medo horrível!”. E eis que, estranhamente, no mesmo instante, a pessoa apa­ga a vela. Como? Por quê? – Porque a imagem da vela que se apaga passou da mente para a corporeidade dessa pessoa, provocando a rea­lização concreta do ato vislumbrado mentalmente.

Observam os estudiosos que tal fato não ocorre com qualquer indi­víduo; supõe-se uma personalidade histérica ou, ao menos, alguém de fantasia muito viva e vibrante, dotada de fraco senso crítico.

4) Coloquemos uma pessoa no centro de um espelho côncavo. A certa distância coloquemos outro indivíduo no centro de outro espelho côncavo. Este segundo indivíduo poderá sentir o que o primeiro pensa, se as cordas vocais do primeiro estiverem exatamente no centro do es­pelho côncavo. O fenômeno se explica pelo fato de que as cordas vocais se movem, mesmo que imperceptivelmente, pronunciando as palavras que a pessoa pensa. O som levíssimo assim emitido pela pessoa do pri­meiro espelho chega até o outro indivíduo porque os espelhos côncavos aumentam o volume do som.

Deve-se observar que estes fenômenos de automatismo ou de re­flexo do psíquico sobre o físico explicam fatos aparentemente misteriosos e, por isto, atribuídos a espíritos do além. Tal é o caso, entre outros, da chamada “escrita automática” ou psicografia. – Eis o que se dá com o psicógrafo: ele se sugestiona., consciente ou inconscientemente, no sen­tido de que está para receber o espírito de uma pessoa “desencarnada”; não raro o psicógrafo conhece esse espírito “desencarnado” (pode ser um grande escritor ou um grande vulto do passado…). No momento em que o psicógrafo julga que está baixando o espírito com sua mensagem, a mão do psicógrafo põe-se a escrever automaticamente, como se esti­vesse sendo guiada pelo espírito do além… Escreve aquilo que o seu inconsciente conhece a respeito do desencarnado; freqüentemente ele toma conhecimento do “desencarnado” lendo inconscientemente, no in­consciente de quem o consulta, as notícias que lhe são assim oferecidas. A mensagem pode ser muito bela e confortadora, mas ela certamente não provém do além; ela sai do inconsciente do psicógrafo sugestionado.

 

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