O conhecimento próprio e a humildade

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “o conhecimento próprio e a humildade”.

Continuando a nossa reflexão sobre o conhecimento próprio veremos hoje como o orgulho dificulta enormemente que as pessoas se conheçam como elas são. Por isso, precisamos estar em guarda contra ele.

Por um estranho mecanismo de autossugestão, tendemos paulatinamente a agigantar a nossa imagem. Tiramos dela os defeitos e acrescentamos virtudes; supervalorizamos os aspectos positivos e minimizamos os negativos. Lembro-me de ter visto num livro dedicado ao estudo da personalidade o desenho de um mesmo rosto sob três ângulos: o da esposa, o dos filhos e subordinados e o do próprio interessado. Não é preciso dizer que este último era o mais agradável dos três. O primeiro parecia triste, acabrunhado; o segundo, duro, impositivo; o terceiro, simpático, jovial, sorridente… Será que sofremos nós também dessa miopia para os nossos defeitos e dessa hipermetropia para as nossas qualidades?


“Já ouvistes dizer” — observa um santo — “que o maior negócio do mundo seria comprar os homens pelo que realmente valem, e vendê-los pelo que julgam que valem. É difícil a sinceridade. A soberba a violenta, a memória a obscurece: o fato se esfuma, ou se embeleza, e encontra-se uma justificação para cobrir de bondade o mal cometido, que não se está disposto a retificar; acumulam-se argumentos, razões, que vão afogando a voz da consciência, cada vez mais débil, mais confusa.”


Kierkegaard escrevia a um amigo estas palavras reveladoras: “A tua principal função é enganares a ti próprio e parece que o consegues porque a tua máscara é das mais enigmáticas”.

Essa função se realiza através de diversos expedientes, entre eles a justificação das próprias falhas. Com efeito, depois de cometermos um erro, tendemos a procurar com a imaginação as causas atenuantes ou dirimentes da nossa responsabilidade. E pensamos: — Não, não fui eu, foram as circunstâncias, foi o cansaço, o excesso de trabalho, a provocação dos outros, a sua falta de compreensão…

Não observamos com frequência este tipo de reação? O estudante justifica diante dos pais a sua reprovação dizendo: “O professor é uma «droga»”. O profissional, diante de um fracasso, alega: “No meio desta corrupção generalizada, nenhuma pessoa honesta pode ser bem-sucedida”. Os pais que não se empenharam na educação dos filhos argumentam perante os seus desvios: “O ambiente está péssimo”.


Lee Iacocca, presidente da Chrysler, recorda na sua autobiografia um dos conselhos que lhe deu Beacham, o seu chefe, quando trabalhava na Ford: “Tenha sempre em mente que todos erram. O problema é que a maioria nunca admite que a culpa foi sua, pelo menos se eles puderem dar um jeito: acusam a esposa, o síndico, os filhos, o cachorro, o tempo, mas nunca a si próprios. Por isso, se você fizer uma tolice, não me venha com desculpas — vá primeiro olhar-se no espelho. E depois venha falar comigo”.


O homem dispõe para cada um dos seus atos de um arsenal de motivos que lhe justificam o comportamento. A ciência da psicologia propagandística demonstrou que todos os impulsos de compra, até os mais absurdos, podem ser justificados mais tarde. Quando os homens adotam uma posição, geralmente defendem-na por amor-próprio até o último reduto. Daí deriva um tipo de teimosia bem característico: o das pessoas que não sabem retificar as suas posições ainda que os argumentos contrários pareçam objetivamente certos. Não dão, como se diz, “o braço a torcer”. Quem sai lucrando com essas falsas justificativas? Somente a nossa falsa imagem. Somente o orgulho. A personalidade verdadeira fica lá no fundo, abafada, atrofiada, condenada ao raquitismo pela insinceridade (Rafael Llano Cifuentes, “Egoísmo e Amor”, Ed. Quadrante).

Será que eu sou sincero comigo mesmo? Será que eu:
– sei aceitar os meus defeitos?
– vivo me justificando ao invés de aceitar que errei, que não fiz o que deveria ter feito, que agi de modo equivocado?
– aceito as críticas que me fazem?
– sou capaz de mudar atitudes e comportamentos?

Como dizia Santa Teresa, “a humildade é a verdade”. É verdade, só a pessoa humilde é capaz de alcançar a verdade sobre si mesma. Só a pessoa humilde sabe reconhecer todos os seus defeitos.
Sejamos cada vez mais sinceros para alcançarmos um grande conhecimento pessoal e assim poderemos mudar atitudes e comportamentos que devem ser mudados na nossa personalidade. Ninguém é feliz escondendo os seus defeitos, mas os reconhecendo e arrancando-os para se parecer cada vez mais com Cristo. Vale a pena!!!

Uma santa semana a todos!

Padre Paulo

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