O trabalho como fuga

Gostaria de falar esta semana sobre o trabalho como fuga.
 
Todos nós sabemos que trabalhar “como louco” nem sempre é sinal de virtude. Muitas vezes é uma necessidade, mas muitas vezes não passa de uma fuga: fuga para não enfrentar problemas alheios ao trabalho, fuga para não enfrentar problemas familiares, fuga para não enfrentar problemas pessoais sérios, fuga para não enfrentar o possível vazio da vida.
 
Falando concretamente do trabalho como fuga do vazio da vida, veja o que diz este autor:
 
O TRABALHADOR MANÍACO
 
Outro tipo se evade (desta vida) lançando-se ao trabalho como um louco, quase com fúria.  Parece que o estão perseguindo.  E é verdade: persegue-o o espectro de sua personalidade vazia.  Deposita em seu êxito profissional todas as suas esperanças. Tem pavor de fracassar por inteiro. O triunfo externo é o que valoriza sua raquítica personalidade interior.  Por isso foge de si mesmo e se evade no trabalho.
 
É interessante observar a atitude por vezes ridícula desses seríssimos homens e mulheres de negócios a quem sobram tantos milhões e a quem falta tanta paz. Não podem descansar. Precisam ganhar mais dinheiro. Ter mais brilho. Subir mais alto. Para que?  Para poder usar um carro mais luxuoso ou comprar um helicóptero? Pode ser. Mas se buscássemos mais no fundo encontraríamos outra razão: estão absolutizando o seu êxito porque inconscientemente fogem do (vazio das suas vidas). 
 
Esses homens e mulheres, que, se são subalternos, perdem a saúde até que cheguem a ser chefes; e que quando isto acontece não dormem até que possam sentar-se na cadeira de Presidente-Geral; esses homens e mulheres que trabalham até se matar para satisfazer a vaidade do outro cônjuge com uma casa mais vistosa, ou o orgulho de um filho com um automóvel último modelo; esses homens que para se auto-afirmar perdem a serenidade só porque um empregado não se dobra ante seus caprichos ou se encolerizam porque a mulher não lhes prepara a comida que lhes apetece ou se enfadam porque seu nome não saiu no jornal como esperavam; esses homens e mulheres que (…) se apavoram quando vêm num pequeno quisto a suspeita de um câncer, ou, num feriado, começam a sentir uma depressão inexplicável…; esses homens e mulheres todos que parecem auto-suficientes e poderosos, no fundo são extremamente fracos, dependentes, frágeis, vulneráveis e carentes.  Para eles essas irritações, esses pavores e depressões são como a vibração de um radar interior que assinala a presença do vazio, e lhes adverte, com um aviso de emergência, que, apesar de seus êxitos, a sua vida não tem sentido (…) que o seu trabalho as suas atividades sociais e diversões não passam de uma fuga…
 
Para certos indivíduos o ócio, o desemprego, a aposentadoria são verdadeiramente mortais porque arrancam a máscara da sua laboriosa atividade, para revelar o esqueleto da sua raquítica intimidade (…).  Por isso, o que se vem chamando de “neurose dominical” e de “neurose de desocupação”, na maioria dos casos melhor se poderia denominar “(neurose da ausência de sentido da vida), neurose da ausência de Deus” (Rafael Llano Cifuentes, Deus e o sentido da vida).
 
Vejamos, portanto, se nosso trabalho está no lugar!
Vejamos se estamos sabendo trabalhar as horas necessárias, as horas estabelecidas pelo contrato de trabalho!
Vejamos se o nosso trabalho não está sendo uma fuga: uma fuga dos problemas, uma fuga do vazio da vida!
Vejamos se o trabalho não está sendo movido pela ganância, pelo desejo de poder, pela vontade de brilhar, pela vontade de mostrar aos outros que somos “o cara”!
Vejamos, enfim, se estamos sabendo ter o tempo necessário a cada dia para dedicar-nos a realidades mais importantes do que o trabalho: Deus, a família, os filhos, os amigos, etc.
 
Para colocar o trabalho no lugar certo, nada melhor do que oferecê-lo a Deus (e não ao nosso “ego”) e deixar que Ele nos guie ao longo do dia dizendo o que devemos fazer e o que não devemos fazer!
 
Uma santa semana a todos!

Pe. Paulo 

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