Obstáculos à compreensão

Olá a todos!

Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “obstáculos à compreensão”.

Algum tempo atrás, li um texto sobre a compreensão que nos ajuda a entender melhor como às vezes temos dificuldade em compreender os outros. Vejamos o texto.

Como é agradável sentir-se compreendido em casa, no trabalho, entre os amigos mais chegados! E como amargura a alma sofrer a incompreensão! Dói ouvir, repetidamente, frases como estas: “Meu marido não me compreende”, “Lá em casa não me entendem”, “Meu chefe só vê defeitos, não reconhece o bom trabalho que eu faço”…

Na vida de todos – na sua e na minha – é inevitável que haja mal-entendidos e incompreensões, provavelmente menos do que imaginamos por causa da nossa suscetibilidade. Como é ruim passar a vida queixando-nos de que somos incompreendidos. É um “vitimismo” mórbido, infantil ou patológico, além de uma perda de tempo.

Por isso, é importante que demos uma virada no verbo compreender, e o passemos da voz passiva (“não sou compreendido”) para a voz ativa (“eu tenho que compreender”).

Você sabe por experiência – se for sincero − que compreender os outros não é nada fácil.

Para começar, isso exige um coração limpo. Tinha razão o padre Vieira quando, num sermão de Quaresma, dizia que «os olhos veem pelo coração», que tinge com seus bons ou maus sentimentos a imagem que fazemos do próximo. «Muitos – escreve, no mesmo sentido, São Josemaria – focalizam as pessoas com as lentes deformadas de seus próprios defeitos» (Sulco, n. 644). Você já deve ter percebido que o mau humor, o rancor, a decepção, a raiva, a inveja e outros defeitos nossos são lentes tortas que deformam o modo de olhar para os outros.

Dois olhares contrapostos

Vamos buscar luz no Evangelho. São Lucas narra que, certo dia, enquanto Jesus estava à mesa com outros convivas na casa do fariseu Simão, uma mulher “pecadora na cidade” entrou inesperadamente na sala, ajoelhou-se atrás de Jesus e, chorando, começou a banhar-lhe os pés com suas lágrimas, a ungi-los com o perfume que trazia num vaso de alabastro, e os beijava e enxugava com seus cabelos (cf. Lc 7, 36-38).

Todos a olharam espantados. Mas o Evangelho concentra o foco em dois olhares contrapostos: o do fariseu e o de Jesus.

─ O fariseu fulmina com o olhar aquela mulher, e critica intimamente Jesus, que lhe permitiu aproximar-se dele: se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora (v.39).

─ Jesus vê outra coisa. Voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para lavar os pés; mas esta com as suas lágrimas regou-me os pés… Não me deste o ósculo; mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com perfume, ungiu-me os pés. Por isso te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor (vv. 44-47).

─ Simão só vê uma mulher manchada pelo pecado.

─ Jesus só vê um coração arrependido, cheio de amor e de delicadezas.

O que nós vemos?

Certamente só vemos o que o nosso coração nos permite ver. “Se teu olho é são, todo o corpo será bem iluminado… Vê que a luz que está em ti não sejam trevas, alerta-nos Cristo” (Lc 11, 34-35).

Há corações escuros, que só veem o mal nas pessoas, enxergam apenas sombras sem perceberem as luzes. As principais causas dessa distorção são duas: o orgulho e a inveja. O orgulho julga, critica e despreza; a inveja é um olhar contaminado pelo rancor e tristeza azeda pela superioridade alheia (nada a ver com o “mau olhado” da superstição!).

Não é verdade que temos muita facilidade para descobrir defeitos naquelas pessoas cujas virtudes nos humilham? Ou naquelas que são mais queridas do que nós? Ou para detectá-los logo nos familiares que nos irritam – esposa, marido, filhos −, porque não são fantoches dóceis aos nossos gostos e vontades?

Pensando nisso tudo, vale a pena perguntar-nos: qual é o primeiro passo que devo dar para melhorar a minha capacidade de compreender? Creio que o mais urgente é decidir-nos a descobrir, reconhecer e agradecer as qualidades boas que os outros têm. Se tentarmos fazer serenamente o elenco dessas qualidades, vamos nos surpreender. É impressionante constatar a quantidade de virtudes que lembramos de uma pessoa recém-falecida. Não seria melhor ter enxergado esses belos valores antes que a pessoa morresse? (Francisco Faus, “Tornar a vida amável”, www.padrefaus.org).

Pensemos nestas palavras para melhorar a nossa capacidade de compreensão. Vale a pena!

Uma santa semana a todos!

Padre Paulo

 

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