Perdoar ou morrer

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “perdoar ou morrer”.

É impressionante a história que ocorreu com o cardeal vietnamita François-Xavier Nguyen van Thuan, em que, passando por situações extremas de injustiça e maus-tratos num campo de concentração, testemunha o valor vital do perdão: ou perdoar ou morrer.

François-Xavier Nguyen van Thuan nasceu numa família de oito filhos que possuía numerosos mártires da fé. Sua mãe, todas as noites, contava-lhe histórias bíblicas e narrava-lhe testemunhos de mártires, especialmente de seus antepassados. Ele viveu os últimos anos em Roma e foi nomeado presidente do Conselho Pontifício da Justiça e da Paz por João Paulo II. Quando morreu, sua fama era associada à santidade.

Em 1975, foi nomeado por Paulo VI arcebispo coadjutor de Saigon. Sua nomeação foi recusada pelo governo comunista. No dia 15 de agosto de 1975, foi preso e levado a um campo de concentração. Sobre a sua prisão, ele diria mais tarde: “Disseram-me que minha nomeação era fruto de um complô entre o Vaticano e os imperialistas para organizar a luta contra o regime comunista”.

Permaneceu preso por treze anos. Durante alguns meses, ficou confinado numa cela minúscula, úmida e sem janela. Para respirar, passava horas com o rosto enfiado num pequeno buraco no chão. A cama era coberta de fungos.

Dizia Van Thuan: “Os nove primeiros anos foram terríveis: uma tortura mental. No isolamento absoluto, sem trabalho, caminhava dentro da cela desde a manhã até as nove e meia da noite para não ser destruído pela artrose e para não cair na loucura. A cada dia, eu e meus companheiros de prisão recebíamos uma boa ração de pauladas, torturas e maus-tratos. Aquele campo de concentração se assemelhava ao inferno. Sobreviver nesse lugar era um milagre. Os que sobreviviam, curiosamente, morriam pouco tempo depois de ser libertados”.

“Muitos dos meus companheiros de prisão, incapazes de perdoar os que lhe fizeram mal, morreram alguns meses depois de ser libertados como consequência da ira acumulada e dos traumas sofridos. Uma vez de volta às suas famílias, que os esperavam ansiosamente, ficavam num canto, traumatizados e cheios de raiva contra os seus parentes, a quem consideravam culpados por não terem feito todo o possível para que fossem soltos. Também se insurgiam contra as autoridades comunistas, que os tinham prendido, contra os carcereiros… Como não tinham meios de vingar-se, odiavam. Odiavam com todas as forças possíveis, acreditando que podiam transferir esse ódio aos seus inimigos. O ódio mata, mas mata quem odeia. Embora custe, compensa perdoar. Embora pareça impossível, compensa perdoar… não há outro caminho para viver feliz e em paz consigo mesmo: é preciso perdoar.

Que impressionante são as suas palavras: “não há outro caminho para viver feliz e em paz consigo mesmo: é preciso perdoar”.

E, graças a Deus, Van Thuan, como era conhecido, soube perdoar e sobreviveu a toda a maldade humana a que foi submetido. Van Thuan tinha um coração de ouro. Quando foi levado à prisão, já tinha tomado uma decisão impressionante: Indo à prisão, vinham-me à mente muitos pensamentos confusos: tristeza, abandono, cansaço depois de três meses de tensão… Porém, em minha mente surgiu claramente uma palavra que dispersou toda a escuridão, a palavra que monsenhor John Walsh, bispo missionário na China, pronunciou quando foi libertado depois de doze anos de cativeiro: “Passei a metade da minha vida esperando”. É verdade: todos os prisioneiros, inclusive eu, esperam a cada minuto a libertação. Porém, decidi: “Eu não esperarei. Vou viver o momento presente, enchendo-o de amor.

De fato, foi o que fez: amou, amou, amou. Buscava conversar com os carcereiros, que resistiam, mas logo eram seduzidos por sua gentileza e inteligência. Contava-lhes sobre países e culturas diferentes. Isso chamava a atenção deles e instigava sua curiosidade. Logo começavam a fazer perguntas, o diálogo se estabelecia, a amizade se enraizava. Chegou a dar aulas de inglês e francês.

No começo, a cada semana os guardas eram substituídos, mas logo as autoridades, para evitar que o exército todo fosse “contaminado”, deixaram uma dupla de carcereiros fixa. Estes se espantavam ao ver como o prisioneiro podia chamá-los de amigos, mas ele afirmava que os amava porque esse era o ensinamento de Jesus. Celebrava a missa escondido, à noite, com apenas três gotas de vinho e uma gota de água.

Contemplando o exemplo de Van Thuan, vamos gravar a fundo no nosso coração o que nos disse e vivenciou de forma dramática sobre o perdão: O ódio mata, mas mata quem odeia. Embora custe, compensa perdoar. Embora pareça impossível, compensa perdoar… não há outro caminho para viver feliz e em paz consigo mesmo: é preciso perdoar (http://cardealvanthuan.blogspot.com.br).

Uma santa semana a todos!

Padre Paulo 

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