Realização e frustração no amor

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “realização e frustração no amor”.
 
Outro dia, quando eu conversava com um homem a quem atendo espiritualmente já há vários anos, ele me disse que fez uma grande descoberta em seu casamento depois de quinze anos de união: descobriu que, ao longo de todo esse tempo, viveu esperando que sua esposa correspondesse às suas expectativas a cada momento. Aí entendeu por que se encontrava até então insatisfeito.
 
Ele me explicou melhor, dizendo: “Padre, até agora eu vivia no casamento desejando que minha esposa correspondesse às minhas expectativas. Mas agora percebi, por uma luz de Deus, que esse é um barco totalmente furado, que jamais alguém poderá saber o que eu quero, o que eu estou desejando, o que eu estou querendo em cada momento da minha vida. Mas eu estava vivendo em função disso e, consequentemente, me via infeliz, triste, amargurado, sem saber por quê. Agora entendi. Agora percebi que viver em função disso é acumular uma inevitável frustração. Percebi também que essa postura esconde um grande egoísmo: pensar em mim, querer que a minha esposa me faça feliz. E aí me veio outra luz: para ser feliz no casamento, mais do que esperar, guardar expectativas, o que tenho que fazer é dar amor. E dar amor está nas minhas mãos. Não depende da minha esposa. Depende de mim. E, se eu estiver focado em dar amor, não só vou esquecer de mim mesmo como também vou sentir a alegria de ver a minha esposa ser feliz. Se fizer isso, minha esposa sentirá também, de uma forma muito mais forte e profunda, a alegria de me fazer feliz. Mas não vou ficar muito focado nisso, e sim no amor que darei a ela”.
 
Depois de ouvir essas palavras, penetrou-me uma alegria muito profunda ao ver que essa pessoa havia feito uma descoberta importantíssima, e que, infelizmente, muitos ainda não conseguiram fazer o mesmo.
 
De fato, pode haver no casamento ou no namoro um egoísmo sutil de viver, sem que percebamos, centrados em nós mesmos. E essa postura vai na contramão do amor. O amor, na sua essência, é doação, é fazer o outro ser feliz, é dar a vida pelo outro. É certo que, como dizia Platão, o amor é fruto da riqueza e da pobreza, de penia e de poros. O amor é fruto da riqueza, do desejo de dar amor; e da pobreza, da necessidade de receber amor. Alguém que ama busca de modo inevitável receber amor. É que o ser humano é em si criatura, pobreza, carência. Mas amor genuíno é muito mais doar, e crescer na capacidade de doar, do que receber. 
 
Não há dúvida de que a pessoa que desequilibrar essa ordem, que colocar o peso no receber, será uma pessoa invariavelmente frustrada. O que desequilibra essa balança é o egoísmo. E, de fato, o egoísmo jamais será capaz de preencher o coração humano, pois não fomos feitos para satisfazer a nossa felicidade, mas para fazer os outros serem felizes.
 
Façamos algumas perguntas: Como tenho vivido o amor, seja ele na minha família, no namoro, no casamento? Será que estou centrado em mim? Vivo insatisfeito? Percebo que a insatisfação é fruto do egoísmo? Qual é a minha capacidade de doar hoje? É grande? Minha maior alegria é dar amor?
 
Que essas ideias nos sirvam para fazer uma boa reflexão no sentido do amor e no modo como estamos nos relacionando com o próximo. Sabendo amar, não há dúvida de que nos encheremos de uma profunda alegria, pois esse é o sentido da nossa vida.
 
Uma santa semana a todos!
 
Padre Paulo