Sacerdócio: extinto o celibato, haveria mais padres?

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 371/1993)

Em síntese: O artigo refere-se aos muitos pedidos de presbí­teros que, tendo abandonado o ministério sacerdotal, hoje pedem à Santa Sé a readmissão ao mesmo. Este fato suscita a pergunta sempre atual: extinto o celibato, haveria padres em maior núme­ro? – A resposta dada por peritos em Roma dá a crer que não, pois as comunidades religiosas cujos ministros podem casar-se (protestantes e ortodoxas) nem por isto têm o desejado número de ministros. Alguns dados estatísticos ilustram a resposta.

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A Santa Sé está estudando algumas dezenas de petições de sacerdotes que deixaram o ministério presbiteral há alguns anos e pleiteiam sua readmissão ao serviço do altar e do povo de Deus.

Mons. Crescêncio Sepe, Secretário da Congregação para o Clero, ao revelar tal notícia, anunciou outrossim que a Santa Sé está pensando em promover um Simpósio internacional sobre o celibato sacerdotal, a fim de focalizar todas as objeções que se fa­zem ao mesmo e elucidar seus valores positivos. Tem-se propaga­do a tese segundo a qual a ordenação de homens casados poderia resolver o problema da falta de clero. Ora Mons. Sepe observou que precisamente “onde o casamento dos ministros do culto é permitido, como nas comunidades ortodoxas e protestantes acon­tece, a situação não é mais alvissareira do que na Igreja Católica”.

Eis a linguagem dos números: as comunidades protestantes da Inglaterra têm 30.000 postos de trabalho vacantes. Na Ale­manha, os luteranos da cidade de Oldenburg contam apenas 200 pastores para 583.000 crentes, ao passo que a Igreja Católica da mesma cidade conta 362 presbíteros para 216.000 fiéis.

Mons. Sepe ainda observou que, se o número total de sacer­dotes em nível mundial baixou de 418.522 em 1978 para 403.173 em 1990, o número de ordenações está em ascensão desde 1978. Neste mesmo período o número de seminaristas aumentou signi­ficativamente, passando de 62.670 a 96.155. O mesmo prelado enfatizou que não se deve considerar a lei do celibato como vio­lação dos direitos humanos, pois “o candidato ao sacerdócio, que faz sua opção em idade adulta, não é detentor do direito de ser sacerdote”; é-lhe possibilitado o casamento, se o quer, como tam­bém lhe é oferecido o sacerdócio desde que o aceite tal como lhe vem da parte do Senhor Deus através da Igreja.

Não é, pois, intenção da Igreja abrir mão do celibato sacer­dotal, que é plenamente justificado à luz do Novo Testamento (cf. 1Cor 7, 25-35; Mt 19, 12) e que propicia ao padre maior liberdade interior, mais radical capacidade de amar a Deus e a to­dos os homens. São palavras do S. Padre João Paulo II aos Presi­dentes das Conferências Episcopais da Europa em 19/12/1992:

“As palavras concernentes ao celibato por amor do Reino dos Céus estão relacionadas com a explicação que Cristo deu aos Apóstolos: `Nem todos entendem esta linguagem, mas, sim, aqueles a quem isto foi concedido’ (Mt 19, 12). Neste contexto do Evangelho o celibato é dom para a pessoa e nesta, e graças a esta, é dom para a Igreja,

O Sínodo dos Bispos de 1990 convidou mais uma vez a esti­mar este dom e manifestou de novo a vontade de que permaneça como herança da Igreja latina para o bem da sua missão. Quem participou desse Sínodo, não pode esquecer a série de testemu­nhos dos Bispos do mundo inteiro sobre o grande valor do celiba­to sacerdotal. Esses testemunhos deram, de modo substancial, o tom ao Sínodo…

No tocante às vocações, a Igreja está exposta ao risco de provações especiais. Num mundo marcado por crescente seculari­zação, tais provas são a conseqüência do ambiente geral… Facil­mente temos a impressão de que aqui se exerce uma estratégia específica, cujo objetivo, entre outros, é afastar a Igreja da fide­lidade ao seu Senhor e Esposo.

Todavia o Senhor é fiel à sua Aliança, e opera por meio do Espirito Santo, que ajuda a superar o espírito deste mundo e con­siderar o celibato pelo Reino de Deus como uma opção de vida frente às debilidades e estratégias humanas. É preciso tão somen­te que não desanimemos e não criemos em torno a essa vocação e opção um clima de desalento. A Igreja Católica estima as outras tradições, particularmente as das Igrejas do Oriente, mas quer permanecer fiel ao carisma que recebeu do seu Senhor e Mestre’

Estêvão Bettencourt O.S.B.