Tipos de caráter

Fonte: Costa, Anna Maria, Conheça o seu filho, Quadrante, São Paulo, 1985

 

CARACTEROLOGIA

Introdução

Para conhecer as pessoas, não é necessário sermos psicólogos, na acepção estritamente técnica do termo, mas que há um co­nhecimento dos traços mais salientes da pessoa, do seu modo habitual de ser, de reagir, de situar-se em face dos acontecimentos, que parte da simples obser­vação e que está ao alcance de qualquer um. Trata-se, com efeito, de um conjunto de observa­ções sobre o caráter baseadas no senso comum, e que ao mesmo tempo encontram a sua confirmação no campo das pesquisas psicológicas: pela sua sim­plicidade podem, pois, ser utilizadas por qualquer pessoa animada de boa intenção, e são de segura confiabilidade pela sua base científica: a psicologia, ao contrário de tantas “modas passageiras”, nunca negou o valor da experiência e do bom senso.

Tudo isto tem um nome difícil: caracterologia. Mas não nos deixemos impressionar; trata-se apenas de conhecimentos práticos que podem oferecer:

– a moldura externa em que enquadrar a pes­soa que desejamos conhecer, o que poderá esclare­cer-nos melhor os traços do seu caráter;

– a consciência de que cada comportamento dos pessoas tem um significado próprio, porque é uma manifestação do seu caráter e é suscetível de uma intervenção educativa. Seria, pois, um erro primário conceber o caráter de uma pessoa como algo tão estável que não admite um trabalho de formação.

Observando cuidadosamente os pessoas, notar-se-á como não é possível encontrar na classificação e descrição dos “tipos” um retrato fiel da sua perso­nalidade; isso é algo evidente, pois cada indivíduo tem uma personalidade inteiramente original. Seria, pois, um erro enquadrar um filho no tipo “amorfo” ou “sentimental”, mesmo que algum traço do seu caráter se situe neste tipo ou naquele.

Conhecer o caráter de uma pessoa significa, acima de tudo, tomar em consideração todos os ele­mentos que o caracterizam, sem descurar nenhum e sem reduzir arbitrariamente a personalidade do indivíduo a um único conceito, erro em que se in­corre quando se define um filho como maduro ou imaturo, introvertido ou extrovertido, altruísta ou egoísta.

O caráter compõe-se de elementos inatos e de elementos adquiridos. Os primeiros estão ligados ao organismo e não são suscetíveis de uma modificação total; são a constituição física, o temperamento e a inteligência (esta última nas suas várias formas: con­creta, abstrata, lógica, imaginativa).

Os elementos adquiridos do caráter são:

– o conjunto dos sentimentos; a vida afetiva tem uma importância particular na formação do caráter;

– ­o conjunto dos valores e dos ideais, generi­camente considerados como representações concei­tuais, que determinam a conduta e levam á preferir um modo de agir a outro;

– o conjunto das atitudes, consideradas como inclinação para reagir de um modo inteiramente pessoal; estão ligadas à vida afetiva e emotiva da pessoa.

A família pode exercer uma notável influência na formação dos sentimentos, dos valores e das pre­disposições. Na classificação e no estudo do caráter, foram tomados em consideração três elementos fun­damentais que determinam o tipo caracterológico segundo a proporção com que se combinam; a emoti­vidade, a atividade e a ressonância das impressões.

A emotividade

Por emotividade entende-se normalmente a intensidade das reações afetivas. Toma em considera­ção tanto a capacidade de reagir perante situações que, para os outros, seriam totalmente inócuas, como a extensão dessas reações.

O emotivo tende a agitar-se, a comover-se e a preocupar-se por coisas que ele mesmo poderá admitir, num segundo momento, que objetivamente não valiam a pena serem tomadas tão a sério. Todos podem emocionar-se em certas circunstâncias; por isso, a melhor maneira de conhecer a intensidade das emoções próprias ou das dos outros é considerar a desproporção que pode existir entre o fato real que provocou a emoção e a intensidade desta. Uma for­ma muito acentuada de emotividade é a ansiedade.

A atividade

Por atividade entende-se a tendência que leva a agir e a trabalhar mais pelo gosto da atividade em si do que pelo seu resultado. Em sentido caracterológico, a atividade corresponde a uma necessidade íntima e constante do indivíduo: é a sua “energia”. É ativa a pessoa que, perante um obstáculo, procura superá-lo, e para isso aumenta a sua capacidade de ação. É inativa a pessoa que, ao contrário, desanima diante de um obstáculo.

A atividade caracteriza-se pela disponibilidade para estar sempre ocupado, mesmo nos tempos li­vres; pela facilidade e desembaraço no esforço; por passar da decisão à ação sem inércia; pela tenaci­dade na consecução dos propósitos, unida à facili­dade e à rapidez em recuperar as energias gastas e à necessidade íntima de realizar imediatamente o que foi decidido. Já a inatividade faz-se acompanhar de um certo cansaço e lentidão no agir, da inclina­ção evidente para a preguiça – que, no entanto, não é verdadeiramente preguiça, mas expressão de uma carência de energia -, da tendência para desanimar facilmente porque não se consegue fazer o que se quereria.

A ressonância das impressões

Por ressonância entende-se a medida das nossas reações às impressões externas. Estas podem ser pri­márias, se duram pouco; e secundárias, se a sua du­ração é longa. As reações do chamado tipo primário são imediatas e breves; as do tipo secundário não são imediatas e tendem a prolongar-se e a ser revi­vidas no tempo. Os tipos primários tendem a viver no presente, ao passo que os secundários se ressen­tem muito da influência do passado.

O quadro caracterológico

Da combinação desses três elementos – emoti­vidade, atividade, ressonância – resulta o seguinte quadro:

Emotivo – inativo – primário: nervoso;
Emotivo – inativo – secundário: sentimental;
Emotivo – ativo – primário: colérico ou dinâmico;
Emotivo – ativo – secundário: apaixonado;
Não emotivo – ativo – primário: sangüíneo;
Não emotivo – ativo – secundário: fleumático;
Não emotivo – inativo – primário: amorfo;
Não emotivo – inativo – secundário: apático.

Este quadro tem o valor de um esquema de re­ferência. Na realidade, nunca encontramos o tipo perfeito do fleumático ou, por exemplo, do amorfo, dada a complexidade da pessoa humana e a indivi­dualidade que a caracteriza. As páginas que se se­guem devem, portanto, constituir apenas um ponto de referência. E óbvio que este es­quema não deve servir para aplicar um “rótulo” às pessoas!

 

O NERVOSO

Características: emotivo, inativo, primário.

– extrovertido e primário nas rea­ções
– tende a ter uma sensibilidade tumultuada e incoeren­te, uma inteligência não muito ordenada e uma vontade inconstante
– tende facilmente aos entusiasmos e às contradições
– foge da solidão
– gosta das mudanças e das novidades, da alegria e dos divertimentos
– mostra-se satisfeito de si próprio, vaidoso e desejoso de estima
– tendencialmente instável
– tem uma apa­rência mais tensa e move-se frequentemente por impulsos
– costuma ser violento e suscetível
– procura emoções pro­fundas e novas, e cai em freqüentes contradições entre o que pensa e o que vive
– é talvez o mais pro­penso à mentira
– tende a ser crítico e desconfiado
– experi­menta desejos elevados e inconstantes
– tende a cons­truir grandes projetos, que depois abandona
– fica satisfeito quando se acha em primeiro plano, fala continuamente de si, é hábil na conversa, procura impor-se por meio da crítica e do espírito de contra­dição, e pode chegar a assumir atitudes orgulhosas e de desprezo para com os outros
– pela vivacidade e superficialidade tende a ser a típica “pessoa simpática”

Modo de tratar:
– aceitar pacien­temente a sua emotividade e saber orientá-la
– não convém tratá-lo com severidade excessiva: as repreensões fortes e as críticas duras não o ajudam, antes o levam a protestar com violência
– dirigir-lhe a inteligência, atraindo-a para formas abstratas de raciocínio
– ensiná-lo a ver as coisas numa perspectiva ampla, a procurar o “como” e o “porquê”
– ajudá-lo a dominar a força motriz por meio de uma atividade esportiva; para isso, são mui­to úteis os trabalhos manuais: propor-lhe um único objetivo de cada vez, mas exigindo com firmeza e afeto que o leve até o fim
– ajudá-lo a ter um horário e a não deixar as coisas para depois.

 

O SENTIMENTAL

Características: emotivo, inativo, secundário.

– tende a ser mais introvertido do que extrovertido
– não é muito adepto a mudanças e novidades
– compraz-se nas lembranças
– cai com freqüência na tristeza
– mostra-se com frequência descontente de si próprio
– nota-se sua instabilidade emocional: quando as coisas correm bem, está feliz; quando as coisas correm mal, está triste
– é dócil e sensível
– sensível: nota facilmente o sofrimento e a alegria dos outros
– uma simples repreensão pode feri-lo profundamente
– pela sua sensibilidade mais aguçada tem facilidade para entrar em sintonia com os sentimentos dos outros
– tende a ser mais indeciso, inseguro
– pacato, pouco empreendedor
– quando está triste, tende a isolar-se
– falta-lhe senso prático
– muito imaginativo
– fica remoendo as dores, as dificuldades, as tristezas
– “adora” curtir uma melancolia, as saudades, os ódios
– é carente afetivamente (em maior ou menor grau)
– tende a ser susceptível (ficar magoado por qualquer coisinha)
– pensa muito antes de fazer as coisas (os prós e os contras)
– tende a trabalhar sem muita garra
– mais inclinado às ciências humanas
– facilidade para ser piedoso
– costuma gostar de crianças

Modo de tratar:
– respeitar a sua sensibilidade
– tratá-lo sempre com afeto
– ajudá-lo a sair de si mesmo, das suas dores e tristezas
– animá-lo a tomar mais iniciativas, a enfrentar situações novas
– ajudá-lo a ser mais forte com os seus sentimentos, a ser menos susceptível
– ajudá-lo a ser mais decidido, mais seguro, a não ter medo de errar
– ajudá-lo a ser menos carente, a ser mais independente
– ajudá-lo a ser mais exigente no trabalho e nos estudos

 

O COLÉRICO

Características: emotivo, ativo, primário.

– tende a ser extrovertido e impulsivo
– tende a ser mais violento e excitável
– possui simpatias muito pronunciadas
– está sempre à pro­cura de impressões novas
– desejoso de resultados imediatos
– tende a exagerar as histórias
– muito loquaz e propenso a falar mais de si do que dos outros e das coisas
– instável, agi­tado, atento a tudo
– tende a ser rebelde; insubordina-se com freqüência e com acentuada hostilidade
– não costuma ter complexos
– costuma ser ousado
– alterna entre educação e grosseria, entre afabilidade e brusquidão
– o ambiente familiar parece-lhe pequeno: quer liberdade e procura independência
– gosta de estar com as pessoas
– influi rapidamente sobre as pessoas, com a facilidade da sua palavra
– é generoso, compassivo e serviçal, mas só se interessa pelas coisas que aprecia
– sempre alegre e de bom humor
– gosta de fazer piadas que, às vezes, chegam à grosseria
– tem senso prático e é dotado de capacidade inventiva
– não mente para enganar, mas para exagerar, embelezar, e colorir as suas próprias palavras
– não costuma ser um aluno excelente; alcança um nível talvez aceitável
– seu oti­mismo é total
– possui uma inteligência prática (estu­dante fraco, mas um vivo homem de negócios)
– manifesta pouca inclinação para os raciocínios abstratos
– sonha com tudo sem se decidir por nada
– tem a tendência à improvisação e à precipitação
– tem rapidez intelectual

Modo de tratar: dar oportunidades ao seu de­sejo de agir, através de atividades esportivas. Che­ga-se a ele pelo coração, e não com raciocínios lógi­cos. Uma ordem recebida estimula-o à rebelião e então faz exatamente o contrário. Dar-lhe sugestões e inspirá-lo a tomar decisões acertadas. Precisa de alguém com personalidade – professor, pai – que saiba impor-se para conquistá-lo.

Deixar-se-á guiar quando se sentir dominado por uma confiança viva e firme, sorridente e vibran­te. Deve experimentar constantemente a nossa sim­patia, mesmo quando for necessário censurá-lo. Evitar as críticas humilhantes na presença de outros, não tanto porque ficará marcado, mas porque não as aceitará e fugirá. Conversar com ele a sós, mostrando-lhe que o que fez não é digno dele, que vale muito mais do que aquilo que a sua atitude parece revelar.

Nada se conseguirá dele se não lhe forem dados objetivos que sejam do seu interesse. Respei­tar os seus projetos, cultivá-los, precisá-los, lembran­do-lhe que deve dedicar-se totalmente a prepará-los. O resultado então é duplo: orienta a sua atividade impetuosa e introduz nela constância e humanidade.

Viver com ele a sua vida e os seus interesses; agra­dar-lhe-á profundamente esta atenção. Procurar inte­grá-lo o mais possível no ambiente escolar.

E necessário preparar-lhe alguns sucessos que o encorajem. Ajudá-lo a superar-se, confrontando-se consigo mesmo. Estar atentos à facilidade com que faz amizades: a sua conduta depende da companhia que tem. Necessitaria de um bom amigo que o tra­tasse com tato. Escolher para ele atividades em que as dificuldades não sejam senão obstáculos que a sua vivacidade ultrapassará. Substituirá assim as suas reações por uma ação positiva e ponderada. Deve-se fazer com que ganhe consciência da sua capacidade de concentração, para que possa reagir de maneira ponderada e não impulsiva a um fato imprevisto.

Organizar com cuidado o seu trabalho escolar, para o qual necessita de certa disciplina; e renovar–lhe constantemente os objetivos em que deve empe­nhar-se. Concentrar, ativar e vivificar o estudo (tão necessário quanto no caso dos nervosos). E útil o método empírico. Fixar com ele a finalidade geral dos seus objetivos e do seu trabalho. E a seguir documentá-lo com informações e leituras que tornem concreto o seu caminho. Dar às suas coisas um tom de poesia e de aventura, sublinhar as pequenas vitó­rias escolares e pessoais, mostrar-lhe que avança dia após dia ao encontro de um futuro que ele mesmo escolheu: tudo isto é disciplina da imaginação. Obri­gá-lo, quando trabalha, a agir com reflexão e cui­dando dos detalhes: tem a tendência ao “mais ou menos”. Infundir-lhe calma e confiança. Na educa­ção, evitar que permaneça isolado ou na ignorância a respeito de si próprio. Procurar fazer com que seja consciente do seu modo de ser.

 

O APAIXONADO

Características: emotivo, ativo, secundário.

– tem grandes sonhos, grandes ideais
– ter desejo de mudar o mundo e contagia as pessoas a buscarem seus sonhos
– empolga-se rapidamente com as coisas
– geralmente, está entre os melhores alunos da escola, pois tudo o ajuda nesse sentido: a inteligência, a memória, o es­pírito de observação
– gosta de diversões mais compli­cadas e mais inteligentes (gosta de montagens, por exem­plo)
– interessa-se pelas pessoas, pelas coisas, pelos aconteci­mentos
– costuma ser generoso e ajuda com prazer os colegas mais fracos
– costuma ser ativo, decidido, consciente, responsável
– tem espírito de iniciativa
– olhar para a frente, para o futuro
– pensamento rápido
– empreendedor
– consegue o que se propõe porque supera todos os obstáculos
– gosta de planejar as coisas
– liderança inata
– não costuma estar ocioso
– certa tendência à susceptibilidade
– pode apaixonar-se por alguém num segundo
– facilidade de comunicação

Modo de tratar: é preciso vigiar o nosso com­portamento diante dele: é alguém que julga e sofre. O trabalho de grupo – que não é da sua preferên­cia – dá-lhe o senso do social. Faz-lhe bem em­preender pequenas viagens. Deve-se convencê-lo a praticar esporte, mostrando-lhe os benefícios que traz à sua vida pessoal, à sua saúde, etc. Animá-lo a praticar atos de coragem, para os quais se sente pouco inclinado. Os passeios com a família podem aju­dá-lo muito. Estimular-lhe o gosto pelas artes plás­ticas, pela música, explicando-lhe que são úteis para o seu enriquecimento pessoal, para a sua cultura geral, etc. Dar-lhe uma formação religiosa baseada na reflexão; em vista dos seus fortes impulsos sexuais, oferecer-lhe explicações claras e simples, que assimilará com facilidade.

 

O SANGÜÍNEO

Características: não-emotivo, ativo, primário.

– grande estabilidade de ânimo, ativo e prático
– pouco gosto pelas coisas abstratas
– costuma buscar os resultados rápidos
– nunca está triste, nem tampouco eufórico
– gosta de praticar esporte
– trabalhador equânime
– manifesta grande atenção e interesse pelo atual e pelo que lhe está próximo
– tende ao con­creto
– não guarda mágoas; esquece logo as ofensas
– sem grandes ideais
– excelente cumpridor do dever

Modo de tratar: conter e orientar-lhe a curiosi­dade, que no seu caso é alavanca excelente para sucessos futuros. Encorajá-lo para que a confiança que tem em si~ mesmo e nos seus propósitos o levem a realizar metas ambiciosas. Transformar a sua bon­dade um pouco exterior em bondade interior e profunda; torná-lo generoso. Solicitar-lhe a inteligência; submetê-lo a um esforço que seja contínuo, propon­do-lhe objetivos concretos e constantes.

Estimular nele uma autêntica sensibilidade e ajudá-lo a combater gradualmente as reações primá­rias e a ausência de emotividade. Necessita de uma integração profunda no ambiente familiar; uma cá­lida intimidade ajudá-lo-á a crescer na sua afetivi­dade. Necessita de um ambiente firme e ordenado, de uma disciplina vigilante, mas discreta; é conve­niente seguir o seu trabalho escolar, observar como o executa, pedir-lhe e comentar com ele as notas, criticá-las sem amargura, mas com clareza; exigir-lhe mais aplicação, fixando metas e prazos para a sua consecução.

Para combater a sua tendência à ausência de emotividade, inculcar-lhe simpatia pelos seres vivos. Habituá-lo a contemplar a natureza; fazer-lhe notar a beleza de uma paisagem, fazer com que descubra o mundo dos contos, das histórias e das fábulas, das canções, etc.

O trabalho e a intervenção da mãe são decisi­vos nestes casos. Ela pode suscitar nele o interesse pelo trabalho e pela atividade em geral, e desenvol­ver-lhe a sensibilidade. Não é bom que ignore a dor e o sofrimento dos outros, que normalmente o deixa­riam indiferente. Pode ser eficaz fazer-lhe notar a suavidade da mãe, a boa vontade do pai, o afeto dos irmãos, mediante conversas simples, em tom de confidência, em que se lhe descubram horizontes mais amplos. Dominar-lhe a curiosidade, concentran­do-a em interesses estáveis e concretos. Transformar a sua leviandade em autêntico otimismo; fazê-lo notar, caso por caso, os seus desleixos, e revelar-lhe a verdadeira causa dos seus insucessos e da sua “pouca sorte”. Sublinhar, exemplificando com o caso de outras pessoas, os frutos e a satisfação que se seguem a um esforço constante. Na educação moral. propor-lhe um ideal que o atraia. Encarregá-lo de um trabalho, se possível com alguns dias de ante­cedência.

 

O FLEUMÁTICO

Características: não-emotivo, ativo, secundário.

– é ativo, reflexivo, e equânime
– trabalhador com uma inteligência mais profunda
– não tem altos e baixos
– fleumático, frio
– capacidade para ser excelente aluno e ter excelente desempenho
– nada extrovertido
– tende a ser esquemático, quadriculado
– não tem sensibilidade, não percebe o que os outros estão sentindo
– calmo, tranquilo
– humor sutil
– tendência ao isolamento
– ordenado intelectual e materialmente
– fala pouco
– pouco inclinado às novidades e à agitação
– interesse fraco pelo esporte
– gosto pelo clássico, tradicional
– costuma ser crítico sereno

Modo de tratar: estimular-lhe a emotividade, gradativamente e com muito afeto, pois não se obte­rá nada dele através da violência. Favorecer-lhe os contatos com o ambiente; não fará logo grandes ami­zades, mas começará a abrir-se aos outros. A ação da família deve orientar-se sobretudo no sentido de levá-lo a conviver com os outros. Mostra-se de vez em quando alegre, cordial, quase afável; lembrar-lhe esses momentos, rodeá-lo dos amigos que prefere, eliminar pela raiz as suas manias habituais, intro­duzindo na sua vida algo de novo e inédito. Não permitir-lhe que se entregue excessivamente às suas reflexões e que se isole muito. Atacá-lo no seu ponto fraco: o raciocínio. Pô-lo em contato com a natureza, que de inicio nada lhe dirá, mostrando-lhe por exem­plo a beleza de uma paisagem. Procurar que parti­cipe de jogos coletivos e de conversas de grupo; geralmente prevalece nele a atividade, e precisa efe­tivamente contar com ela, uma vez que é o seu elemento positivo. O ambiente familiar deve estimu­lá-lo e arrastá-lo, apoiando-se na sua atividade.

 

O AMORFO

Características: não-emotivo, inativo, primário.

– frio, passivo, sem grande profundidade intelectual
– está sempre do mesmo jeito
– não se entusiasma com praticamente nada, monótono
– atenção voltada para o concreto, o imediato
– faz as coisas mais por dever do que por iniciativa
– excelente cumpridor do dever, mas sem iniciativas e criatividade
– fala pouco
– tranquilo, tolerante, objetivo
– tendência à inatividade
– facilidade de adaptação aos ambientes
– não tem sensibilidade, não percebe o que os outros estão sentindo
– conformista

Modo de tratar: tem necessidade de uma auto­ridade clara e forte, de compreensão e firmeza, e de uma vigilância quase que diária em relação à pre­guiça. Não lhe devem ser propostos planos para o futuro ou objetivos a longo prazo. Provocar-lhe, não a vaidade, mas a auto-confiança que esta pressupõe. Encostá-lo à parede, para que escolha entre a imposição de um esforço e suas recompensas práticas ou morais, e o pressentimento de uma reprimenda e de uma punição. Realizará o esforço. São castigos adequados privá-lo dos doces ou de um divertimento ou um passeio, ou de alguma coisa de que goste. Dar-lhe a entender como é, com calma e naturali­dade; pôr-lhe em evidência o seu gosto pela inati­vidade, a sua negligência, a sua tendência a adiar as coisas. Mostrar-lhe que existem nele inclinações que deve vencer de modo a preparar o seu sucesso, mesmo que os resultados sejam pequenos. Sugerir-lhe um trabalho de grupo. Se lhe for proposto um esforço bem proporcionado, executá-lo-á. Leva muito em consideração as críticas, as caçoadas, as observa­ções dos seus companheiros.

Apelar continuamente para os seus gostos, tanto na família como na escola, a fim de que adquira o hábito de interessar-se e de esforçar-se. Ajudá-lo a fazer um programa de pequenos sacrifícios quanto ao dormir e ao comer.

Fazer-lhe notar as alegrias que dá o esporte, pois acabará por adquirir um certo prazer pelo es­forço. Interessá-lo em excursões e passeios que pos­sam ajudá-lo a mexer-se. Não permitir que se deleite na tranqüilidade dos hábitos domésticos; dar-lhe exemplos de energia, entusiasmo e atividade. Envol­vê-lo numa rede de deveres firmes e constantes, e não lhe permitir demasiadas desculpas por não os ter cumprido (mesmo em relação ao horário).

Fazer com que mantenha o quarto em ordem, limpe os sapatos e não seja negligente no asseio pessoal e no vestir. Fazê-lo lutar contra a imprecisão na linguagem, contra o desperdício, contra o hábito de tomar emprestado e não restituir, ou contra a impontualidade. Incentivá-lo a fazer cada dia algu­ma coisa pelos outros.

 

O APÁTICO

Características: não-emotivo, inativo, secundário.

– frio, passivo, mas com profundidade intelectual
– está sempre do mesmo jeito
– não se entusiasma com praticamente nada, monótono
– atenção voltada para o abstrato
– faz as coisas mais por dever do que por iniciativa
– excelente cumpridor do dever, mas sem iniciativas
– tranquilo e, de modo geral, tolerante
– tendência à inatividade
– facilidade de adaptação aos ambientes
– diverte-se pouco, responde pouco, mantém si­lêncios prolongados
– não se interessa nem com suas coisas, nem com a dos outros
– discreto
– não tem sensibilidade, não percebe o que os outros estão sentindo
– certo conformismo
– pouco amigo das novidades

Modo de tratar: utilizar métodos e procedimen­tos ativos; neste sentido, é ótimo interessá-lo num trabalho de grupo. Integrá-lo num ambiente social compreensivo e vivificante. Obrigá-lo a sair de si mesmo para dedicar-se aos outros; cultivar-lhe desde cedo as virtudes altruístas; atrair freqüentemente o seu interesse. Para torná-lo mais ativo, despertar-lhe a atenção para as satisfações que acompanham o esforço pessoal, e situar este esforço na altura das suas possibilidades, ressaltando depois os resultados conseguidos; tirá-lo da rotina do automatismo, de modo a alcançar um comportamento autônomo e de­liberado.

Na vida espiritual, impedir que renuncie aos valores muito altos e se detenha nos desejos pessoais mais imediatos. Elevar o nível das suas aspirações, propondo-lhe gradualmente novos objetivos e ideais a conseguir.

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