Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “um inimigo do amor: o egoísmo”.
Há dezesseis séculos, Santo Agostinho escreveu um livro que até hoje é muito comentado e lido, assim como a sua autobiografia, “As Confissões”. O nome desse livro é “Dois Amores e Duas Cidades”.
Santo Agostinho, nesse livro, com grande profundidade humana, diz que aqui na terra só existem dois amores; que, por trás de cada uma das nossas ações, vão ficando evidentes apenas dois amores que nos movem: o amor a nós mesmos (a busca dos próprios interesses, a autoidolatria, o endeusamento de si próprio) ou o amor a Deus (no qual se incluem o amor aos outros e a busca do bem do outro, de Deus, como razão de ser da vida).
Só há duas possibilidades aqui na terra, segundo Santo Agostinho: ou vamos amando a nós mesmos e crescendo nesse amor até chegar ao desprezo mais absoluto por Deus e pelos outros ou vamos amando a Deus e aos outros até chegar ao desprendimento mais absoluto de nós mesmos.
E esses amores são tão opostos que cada um deles tende a fundar uma cidade completamente diferente da outra: a cidade dos que amam a si mesmos acima de tudo, dos egoístas, e a cidade dos que amam acima de tudo a Deus e ao próximo.
Podemos imaginar um pouco as duas cidades. Na cidade ou no mundo construído pelos egoístas, as casas são todas individuais, só para uma pessoa: como os egoístas são movidos sempre pelos seus interesses, acabaram brigando com todo mundo; e, como todo mundo nesta cidade é egoísta, cada um decidiu morar sozinho, achando que seria a melhor solução. Na rua, as pessoas não se cumprimentam, pois estão todas brigadas. O silêncio é total. Nas lojas há câmaras por todos os lugares, pois ninguém mais confia em ninguém. As ruas estão imundas; estariam limpas se as pessoas encontrassem prazer em alegrar os transeuntes. Em alguns bairros, as pessoas até conversam, dão risada, saem juntas, mas a preocupação de uns pelos outros termina quando termina a diversão. Não há amizades verdadeiras, desinteressadas. Os casamentos, quando há, se desfazem com muita facilidade.
Ao lado dessa cidade tão cinzenta, há a cidade daqueles que descobriram o amor a Deus e ao próximo, e as pessoas vão atrás desses amores com todas as forças. As casas estão cheias. Os membros da família vivem repletos de felicidade. E são amigos dos vizinhos e de todas as pessoas da cidade. Todas as pessoas se cumprimentam alegremente na rua. É comum nessa cidade as pessoas passarem por cima dos próprios interesses para fazer o gosto dos outros, porque descobriram que é impagável ver o sorriso dos outros. Ninguém perde tempo com a própria alegria, pois todos descobriram que não há nada que possa se comparar a ver um desconhecido ou um amigo, um familiar sentir-se feliz. Todos sabem que todo mundo tem problemas e estão sempre perguntando sobre eles, se já foi resolvido, se há alguma coisa que possam fazer. Ninguém esquece o aniversário de ninguém, nem as datas mais importantes da vida de cada um. O relacionamento entre as pessoas é uma maravilha: não há competição, nem inveja, nem ciúme.
Penso que nenhum de nós tem dúvida sobre qual cidade pretende construir, mas muitas vezes nos perdemos nesse caminho e podemos deixar o egoísmo se infiltrar em nossa alma. Por isso, é muito bom fazer um exame com certa frequência sobre essa matéria levando em conta que o egoísmo é um defeito sutil que não se percebe tão facilmente. Muitas pessoas falam que amam, mas, no fundo, no fundo, amam a si mesmas, têm o seu eu como o seu deus.
Segue abaixo uma relação de pontos para identificar sinais de egoísmo. Sou egoísta:
– quando estou centrado mais em mim do que nos outros;
– quando o meu eu ocupa o centro dos meus pensamentos (vale lembrar aquela frase de Jesus: “Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração”);
– quando esqueço coisas importantes (data de algum aniversário, consulta médica, prova, entrevista de emprego etc) de quem eu amo ou deveria amar;
– quando vou tranquilamente atrás do meu hobby, do meu descanso, e não penso que uma pessoa que eu amo ou deveria amar está precisando de uma ajuda;
– quando dificilmente me ponho no lugar dos outros para perceber suas preocupações, suas necessidades, seus problemas;
– quando estou mais preocupado com meu descanso, com minha fome, com meu trabalho etc do que com o descanso, a fome, o trabalho de quem eu amo ou deveria amar;
– quando não sou generoso em dar o meu tempo a quem amo ou deveria amar;
– quando falo que amo, mas mostro com poucas obras o meu amor;
– quando não vou fazendo de quem eu amo ou deveria amar a razão de ser da minha vida e sim o contrário;
– quando tenho fé e não vou à missa, não dedico o tempo devido a Deus.
Que essa reflexão de hoje nos sirva para acertar o passo em direção ao amor.
Uma santa semana a todos!
Padre Paulo