Caminhos para encontrar a paz – I

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “a paz: caminhos para encontrá-la – I”.

A partir das seguintes mensagens, vamos falar de um tema importantíssimo que é a paz. Essa paz, como sabemos, não é nada fácil de ser encontrada. E, se a encontramos, logo em seguida a perdemos. A verdade é que só com grande sabedoria e com o exercício de várias virtudes conseguimos adquiri-la estavelmente. Gostaria de, citando Rafael Cifuentes, autor que admiro muito, dar alguns subsídios a vocês para que encontrem a verdadeira paz interior.

Comecemos por falar da importância de lidar com o passado, pois ele pode ser, para muitas pessoas, uma fonte enorme de perda de paz.

O PASSADO


O passado não é um passado simplesmente passado, inerte, sepultado. Está vivo nas lembranças, nos condicionalismos e nos hábitos adquiridos. Essas vivências podem ter deixado um lastro positivo ou negativo.


Há pessoas que guardam nos porões da alma recordações amargas, injustiças, decepções, sem medir-lhes a virulência. Todo esse lastro começa a fermentar e converte-se em sedimentos tóxicos que contaminam a vida presente.


Michel Quoist escreveu a esse propósito: “Não se joga roupa suja ao lado de roupa limpa. Não se misturam frutas estragadas e frutas frescas. Se você quiser viver em paz […], nunca aceite guardar dentro de si uma única preocupação passada, presente ou futura, pois tudo o que está guardado fermenta” (“Construir o homem e o mundo”, São Paulo, 1960, pág. 98).


O Senhor diz-nos: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos. Tu, vem e segue-me” (Mt 8, 22). Para seguir o Senhor, não podemos carregar os mortos do passado nem permitir que a putrefação cadavérica, as bactérias das experiências nefastas envenenem o presente. Deveríamos dizer para nós mesmos: enterremos os mortos! Enterremos o passado negativo! Ou melhor, peçamos a Deus que, como fazem os agricultores, saibamos enterrar os frutos podres ao pé da árvore para que se convertam em fertilizante: filtrar do passado todas as experiências que sejam úteis para o futuro; digerir o passado para convertê-lo em sangue do nosso sangue, em força e segurança.


Há pessoas que enterram os mortos do passado, mas deixam fora do túmulo uma mão amarelada, uma lembrança que se manifesta em forma de lamentação, de remorso ou de ressentimento.


As lamentações


As lamentações são como o “estribilho” que pavimenta a vida de milhares de pessoas. Arruínam a sua vida com uma atitude mental que se resumiria numa frase: “Não me conformo!”. “Não me conformo com essa injustiça, com esse fracasso, com essa doença, com esse acidente… Por que tinha de acontecer comigo? O que fiz para merecer semelhante castigo?” Em vez de empenharem toda a sua energia em reconstruir a sua vida, empenham-se na amarga luta de tentar desfazer o irreversível. E acabam por ancorar-se numa fixação psicológica “ruminante”, em forma de rancor, revanchismo, inveja…


Vez por outra, vem à minha memória aquela consideração do prêmio Nobel Rabindranath Tagore, tão citada: “Se choras por teres perdido o sol, as lágrimas impedir-te-ão de ver as estrelas”. Choram e lamentam-se: “Por que se abateu sobre mim aquela infidelidade que acabou com a minha vida? Por que fracassou aquele negócio em que apliquei todas as minhas poupanças? Por que esta doença que contraí…?” E não reparam nas estrelas do seu destino, que estão, em frase de Schiller, no fundo do seu peito: “Quanta experiência adquiri! Quantas coisas grandes ainda posso fazer! Quantas pessoas posso amar e tornar felizes…!”.


Diante de uma grave injustiça que sofreu a minha família, e da qual dolorosamente me lamentava, o meu pai — ao passarmos por um paraplégico em cadeira de rodas — disse-me: “Temos que dar graças a Deus pelo que somos, antes de nos lamentarmos pelo que perdemos”
(Rafael Llano, Viver na paz, Ed. Quadrante).

Continua na semana que vem…

Uma santa semana a todos!

Padre Paulo