Caminhos para encontrar a paz – II

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “a paz: caminhos para encontrá-la – II”.

Vamos continuar nossa reflexão sobre os caminhos para encontrar a paz. Voltemos a falar sobre as lamentações e a importância de aceitar a nossa vida como ela é para encontrarmos a paz.

Não há coisa mais inútil e prejudicial do que o inconformismo. Não há coisa menos inteligente do que bater a cabeça contra um muro intransponível: o muro ficará incólume e a cabeça, quebrada. Não mudaremos o inevitável, antes mudaremos nós mesmos: converter-nos-emos em seres amargos. Perderemos o tempo, no louco paroxismo de “serrar serragem”.


Diz-nos a sabedoria clássica, por boca de Epicteto: “Há um único caminho para a felicidade e esse caminho é deixarmos de preocupar-nos pelo que está fora do poder da nossa vontade”. Eu diria algo mais cristão: “O único caminho da nossa felicidade está em aceitar e amar tudo o que a vontade de Deus permite”.


Precisamos estar atentos às nossas atitudes interiores. Quando somos confrontados com contrariedades cotidianas, ou simplesmente com a carga do cansaço e da rotina, é necessário que evitemos esse protesto interior e esse desejo de que tudo mude. A sabedoria humana e cristã está em aceitar a vida tal como é. Essa atitude poupa muito da energia de que precisamos para enfrentar a realidade de cada momento.


Lembro-me de um momento duro da minha vida em que me foi diagnosticada uma doença grave que talvez me impedisse de terminar a tempo a minha tese de doutorado, de receber a ordenação sacerdotal, ou, mais ainda, que pusesse em risco a minha vida. Enquanto o médico ia fazendo graves considerações ao examinar a radiografia, veio-me aos lábios — certamente como fruto dos muitos exemplos que tinha recebido — a oração do Pai-Nosso, que repeti centenas de vezes: “Seja feita a Vossa vontade”. Isso foi me devolvendo pouco a pouco a paz, uma paz que me permitiu terminar a minha tese na cama e que se tornou alegria exultante quando, poucos meses depois, completamente restabelecido, recebi a ordenação sacerdotal.


Foi uma lição de Deus. Aqueles oito meses em que fiquei praticamente sozinho, na montanha — apenas com uma velha e santa empregada da família —, ajudaram-me a “crescer para dentro”. Esse foi o mais valioso “doutoramento” que consegui na vida.


Não podemos considerar perdido o tempo que o grão de trigo permanece oculto debaixo da neve durante o inverno, enquanto se opera nas suas células invisíveis uma morte transformadora. É durante a longa noite do inverno que o trigo cresce. Foi naqueles longos meses em que a doença demorava a ser debelada que fui aprendendo a amar o silêncio e a solidão. O que me parecia uma enorme perda significou um riquíssimo lucro.


Todos nós, em qualquer situação em que nos encontremos, deveríamos meditar nos quarenta dias e quarenta noites que Moisés passou na montanha e Nosso Senhor no deserto, e nos três anos que São Paulo passou no deserto da Arábia, depois da sofrida e luminosa experiência de Damasco. E esse deserto pode ser tanto uma doença como a perda de um ser querido, um fracasso ou um período de depressão…


Só poderemos conseguir a vida na paz quando no mais profundo da alma soubermos dizer: “Senhor, não consigo enxergar qual seja o significado deste momento obscuro que atravesso, como uma pequena formiga não pode entender o porquê dessas manchas coloridas nos imensos afrescos da Capela Sistina… Mas sei que Tu tens um plano global a respeito de mim e do mundo e por isso quero dizer-Te agora e sempre: Senhor, Tu sabes mais; seja feita a Tua vontade!”.

Continua na semana que vem…

Uma santa semana a todos!

Padre Paulo