Caminhos para encontrar a paz – III

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “a paz: caminhos para encontrá-la – III”.
Continuando…

Os remorsos


Quantos vivem sob o peso dos remorsos! Remorsos que também têm uma expressão característica: “Não me perdoo”. “Não me perdoo por ter cometido aquela infidelidade… Não me perdoo por ter permitido que a minha filha namorasse aquele rapaz que lhe desgraçou a vida… Não me perdoo por ter destruído a vida do meu filho ainda não nascido…”


Não percebem que essa recordação obsessiva do erro, do pecado cometido, esse voltar uma e outra vez a apalpar as bordas da ferida, é precisamente o que a impede de cicatrizar. Pensam talvez que isso constitui uma penitência redentora, quando a verdadeira redenção foi Jesus Cristo que a fez, carregando na cruz todos os pecados dos homens. O que não pode a força do nosso remorso pode-o a força do sangue redentor de Cristo.


Há uma variante dos remorsos que consiste em torturar-se querendo encontrar justificativas para os erros cometidos no passado. É como se se quisesse ter a tranquilidade de estar “quite”: “Afinal, não fiz o que devia ter feito? Naquelas circunstâncias, podia ter procedido de outro modo?”. Esmiúçam-se sempre de maneira obsessiva as atitudes que se tomaram: é como se se tivesse a vocação de dissecador de cadáveres.


Por quê? Porque não se aceita nada que desfeie a própria imagem. O orgulho impede de reconhecer com simplicidade, aberta e claramente: “Errei!”. Dá tanta paz saber aceitar os erros próprios e, em sentido contrário, dá tanta inquietação andar procurando desculpas que camuflem os nossos desacertos…! É um perfeccionismo a que se paga caro. E o seu preço é a incapacidade de dormir em paz.


Encontrei num livro de espiritualidade de um autor inglês uma frase que me comoveu. E copiei-a literalmente sem anotar a referência bibliográfica: “A saint is a sinner who keeps on trying” (Um santo é um pecador que continua a esforçar-se). Como me consolou esse pensamento! Não se trata de justificar-se. Pedro negou Cristo, mas não se justificou: ante o olhar compassivo que o Senhor lhe lançou, apenas chorou. Chorou amargamente, diz o Evangelho, e o Senhor veio a confirmá-lo na sua missão de cabeça visível da Igreja que ia nascer.


Mas, mesmo que não se trate de nenhum erro ou pecado, não se deve andar com escrúpulos sobre as decisões tomadas. Teriam sido as melhores? Schopenhauer, apesar da sua tendência para o pessimismo, dá-nos uma regra de vida altamente positiva:


“É preciso meditar maduramente e diversas vezes um projeto antes de transformá-lo em prática, e, até mesmo depois de tê-lo pesado cuidadosamente, ainda é preciso considerar a insuficiência de toda a ciência humana; à vista dos limites do nosso conhecimento, podem sempre subsistir circunstâncias que foi impossível examinar ou prever e que podem vir a adulterar o resultado de toda a nossa especulação…


“Porém, uma vez tomada a decisão e tendo posto mãos à obra, não devemos mais perder a paz, atormentar-nos com reflexões reiteradas sobre o que foi decidido e com inquietações sempre renovadas sobre o possível perigo: é preciso, pelo contrário, aliviar o espírito, fechar todas as comportas do pensamento e tranquilizar-se pela convicção de ter pesado tudo amadurecidamente a seu tempo. É o que aconselha também este provérbio italiano: ‘Legala bem e poi lasdala andare’ (Coloca firmemente a sela do cavalo e depois deixa-o correr à vontade)” (Arthur Schopenhauer, “Regras de conduta para bem-viver”, Rio de Janeiro, 1950, pág. 133).


Percamos a “mania de remoer”, de remexer nas decisões assumidas: “Será que agi corretamente? Não deveria ter tomado outra decisão?”… Águas passadas não movem moinho. Se tivermos ponderado bem, com isenção de ânimo, os motivos que nos levaram a agir, fiquemos em paz. A decisão foi concretizada. Poderia ter sido, talvez, melhor. Agora é irreversível. A minha experiência pessoal, comprovada também pelo testemunho ou pelo conselho de muitas outras pessoas de bom proceder, diz-me que uma decisão medíocre, mas executada com determinação e empenho, dá melhores resultados que uma decisão excelente executada de forma indecisa e medíocre.


Lembro-me de ter lido de um presidente norte-americano, bem avaliado no seu desempenho, que reconhecia que quarenta por cento das suas decisões não tinham sido as mais acertadas. Todo mundo erra. Nós também. Não voltemos a vista atrás. Não temos “vocação de ruminantes”. Outro provérbio, castelhano, diz: “A lo hecho, pecho” (Ao que está feito, peito). Assuma! Vamos em frente! Não olhemos para trás para nos lamentarmos, que só perderemos forças e paz.


Mesmo que tenhamos cometido um pecado, remoê-lo seria somar-lhe outro com a poeira dos nossos escrúpulos, além de ser uma falta de confiança na misericórdia e no poder infinitos de Deus, que nos ama e nos quer dar sempre uma nova oportunidade. Quando somos tentados pelo desânimo com relação ao nosso passado e ao caminho que percorremos, temos de fazer um ato de fé e de esperança: “Eu te agradeço, meu Deus, por todo o meu passado. Creio firmemente que, de tudo o que vivi, Tu poderás tirar um bem. Desejo não ter nenhum remorso e decido, hoje, recomeçar do zero com a mesma confiança que teria se toda a minha história passada tivesse sido somente de fidelidade e santidade” (Jacques Philippe, “A liberdade interior”, Edições Shalon, Fortaleza, 2004, págs. 83-84). Nada poderia agradar mais a Deus que essa atitude humilde
(Rafael Llano, Viver na Paz).

Continua na semana que vem…

Uma santa semana a todos!

Padre Paulo