Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “a paz: caminhos para encontrá-la – IV”.
Continuando… parte final
Os ressentimentos
A palavra ressentimento significa “voltar a sentir”. Trata-se de uma espécie de fita de vídeo das ofensas sofridas que passamos e voltamos a passar até sabermos de cor e salteado cada cena e cada circunstância. Quando o vídeo registra os felizes dias de um passado luminoso, é fonte de alegria e incentivo, mas, quando tem um fundo de mágoa pelas humilhações e tratamentos injustos, entristece e deprime.
Entre os obstáculos que dificultam a realização do universal desejo de sermos felizes, o ressentimento costuma ser o principal para muita gente. Não é difícil encontrar pessoas que aparentemente reúnem todas as condições para ser felizes e que não o são por estarem dominadas por um ressentimento (apoiamo-nos, a partir daqui, nas considerações feitas por Francisco Ugarte, “El veneno del resentimiento”, Istmo, mai-jun 2000, págs. 58 e segs.).
Para o filósofo alemão Max Scheler, “o ressentimento é uma autointoxicação psíquica”, isto é, um envenenamento do nosso interior, provocado por nós mesmos. E Maranón complementa: “A agressão fica presa no fundo da consciência, talvez despercebida; ali dentro, incuba e fermenta a sua amargura; infiltra-se em todo o nosso ser, e acaba por ser a reitora da nossa conduta e das nossas menores reações. Esse sentimento, que não se eliminou e que ficou incorporado à nossa alma, é o ressentimento” (Gregorio Maranón, Tiberio. “Historia de un resentimiento”, Espasa-Calpe, Madrid, 1981, pág. 26).
O que fazer para evitar essa intoxicação ou eliminar o veneno já ingerido? Primeiro, é preciso entender a sua natureza: de onde procede e de que modo atua no nosso interior.
O ressentimento costuma originar-se de uma ofensa ou agressão que fere o nosso eu. Evidentemente, nem toda ofensa ou agressão produz um ressentimento, mas todo ressentimento surge sempre precedido de uma ofensa.
Essa ofensa pode ser real ou objetiva, mas também pode ter sido aumentada por uma hipersensibilidade doentia: como a de quem se sente ofendido por um simples sorriso aparentemente irônico ou a de quem pensa que não lhe agradecem os seus serviços ou não lhe retribuem os favores prestados… A imaginação atua com frequência como ingrediente significativo: interpreta, por exemplo, uma frase desagradável como uma tentativa de difamação, ou um silêncio como um desprezo. Isso explica por que muitos ressentimentos são completamente gratuitos: resultam de uma apreciação subjetiva que se distancia da realidade, ao exagerar ou imaginar situações que, a bem dizer, não se produziram ou não estavam na intenção de ninguém (…)
Essa alternativa se apresenta em cada agressão: ou nos concentramos no agravo e em quem nos ofendeu, e então surgirá o veneno do ressentimento, ou eliminamos os seus efeitos com uma atitude adequada (…)
Esse ressentimento torna-se em nós uma autêntica prisão. Agrilhoa-nos a uma mágoa, a um rancor que rouba a liberdade. Ficamos, por assim dizer, presos a uma “dívida” que temos de cobrar a todo custo. Parece que sentimos a necessidade de “acertar as contas”, de fazer o outro pagar o que nos deve (…) Ao aprisionar o outro no âmbito do meu ressentimento, é a mim mesmo que me aprisiono em uma rede que acabará por sufocar-me. Se é verdade que, quando perdoamos alguém, fazemos um bem ao ofensor — “tirando-lhe” uma dívida —, fazemos um bem muito maior a nós mesmos: reencontramos a liberdade que o ressentimento ou o rancor nos tinham tirado (…)
Mas essa dificuldade não é insuperável, se temos o hábito de levar todas as coisas da nossa vida, especialmente as mais desagradáveis, à nossa meditação pessoal (…) Essa tarefa interior de reflexão encontra o seu clima mais adequado na oração, onde ponderamos todas as coisas na presença de Deus, especialmente quando sabemos confrontar a ofensa recebida com as afrontas sofridas por Nosso Senhor na sua ignominiosa Paixão e assimilamos a lição de um Deus infinitamente poderoso que, em vez de castigar os seus carrascos, lhes perdoa com o mais benigno perdão.
Na oração, solicitamos também do Senhor algo que nos custa muito conseguir com as nossas próprias forças: a determinação firme de, pelo menos, esquecer a agressão — se não conseguimos perdoá-la —, para que não se transforme em ressentimento.
Eleanor Roosevelt costumava dizer: “Ninguém pode ferir-te sem o teu consentimento” (citada por Francisco Ugarte, “El veneno del resentimiento”). Isso significa que depende da nossa decisão que a ofensa produza ressentimento ou não (…) E em sentido mais elevado São Francisco de Assis conservava sempre a calma perante as ofensas pensando: “Eu sou o que sou diante de Deus e mais nada” (São Francisco de Assis, Admonitiones (exortações), em K. Esser (edit.), Opúsculo, 20; São Boaventura, Leyenda mayor de San Francisco, VI, 1).
Certamente não se trata de algo fácil: é necessária uma grande fortaleza de caráter para orientar as reações nessa direção. Marañón advertia: “O homem forte reage com energia diante da agressão e expulsa automaticamente o agravo da sua consciência, como um corpo estranho. Essa elasticidade salvadora não existe no ressentido” (Gregorio Marañón, “Tiberio — Historia de un resentimiento”, pág. 26). Com efeito, semelhante elasticidade e semelhante força não são virtudes comuns. Poucas pessoas as possuem. Essa é a razão por que cumpre esforçar-se denodadamente por consegui-las e, ao mesmo tempo, invocar a ajuda do Senhor.
Temos, pois, que libertar-nos dos nossos ressentimentos; caso contrário, isso que passou tomará conta do nosso presente e acabará por obscurecer as perspectivas do nosso futuro (Rafael Llano Cifuentes, Viver na paz).
Termina aqui nossas reflexões sobre os caminhos para encontrar a paz. Que estas ideias nos ajudem a encontrar este bem tão precioso: a profunda paz interior.
Uma santa semana a todos!
Padre Paulo