Conversões: do anglicanismo ao catolicismo

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 354/1991)

 

Em síntese: As paginas seguintes dão noticias de problemas ocorren­tes na Comunhão Anglicana em conseqüência de inovações ousadas. Publi­camos tais notícias sem querer compartilhar seu pessimismo, mas unicamente porque poderão servir de referencial aos católicos desejosos de fa­zer experiências semelhantes as que ocorrem no Anglicanismo. O amor ao patrimônio da fé e da disciplina da Igreja poderá ajudá-los a ponderar as pos­síveis conseqüências de ousadas inovações na Igreja Católica

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A Comunhão Anglicana, separada de Roma desde 1534 por obra do rei Henrique VIII, desejoso de obter divórcio, tem vivido momentos im­portantes. Entre outros fatores, a ordenação de mulheres vem suscitando mal-estar entre membros do Anglicanismo, visto que tal praxe rompe uma tradição de quase vinte séculos. O Boletim Liaisons Latino-

Ame­ricaines n° 83 (julho-agosto de 1991) p.7 publica a respeito algumas noticias, das quais abaixo segue a tradução portuguesa:

“O Reverendo David Curry, Vigário anglicano até recente data, apresentou seu pedido de demissão da paróquia de Castleford (Leeds) para ser recebido na Igreja Católica; tal pedido foi formulado apenas três semanas depois de começar a exercer as suas funções.

O Reverendo David Curry, 31 anos, declarou que tomou esta decisão após longa reflexão. O seu bispo anglicano julgou a atitude desse neo-convertido ao Catolicismo, surpreendente e difícil de ser compreendida, visto ter passado tão pouco tempo na sua paróquia. David Curry é celibatário e foi ordenado diácono há quatro anos.

Outra conversão ao Catolicismo, ainda mais significativa, foi a do Dr. William Oddie, ministro anglicano de 51 anos de idade. E personali­dade muito conhecida por sua atitude critica frente a recente evolução da Comunhão Anglicana.

O Dr. Oddie – que foi recebido na Igreja Católica por ocasião da Páscoa, juntamente com a sua família – declarou que a Igreja da Ingla­terra se tornara uma seita protestante liberal. Afirmou outrossim que a ordenação de mulheres destruiria toda esperança de uma reunião com Roma. Para ele, essa decisão é claro sintoma da decadência do Anglica­nismo, cuja causa é o empalidecimento da doutrina: “Atualmente, expli­cou, alguém pode tornar-se ministro anglicano sem que sejam averigua­das as suas convicções profundas”.

Os anglo-católicos

Em recente número da revista Ecclesia, que pertence ao ramo an­glo-católico do Anglicanismo, afirma um editorial que, se a Igreja da In­glaterra admitir decisivamente a ordenação de mulheres, haverá plena justificativa para abandonar a Comunhão Anglicana e pedir admissão na Igreja Católica.

O editorialista considera a ordenação das mulheres como uma catástrofe. Acrescenta que muitos anglicanos ainda estão longe da Igreja Católica por seu modo de pensar e discordar da Literatura Católica, mas não questionam a validade dos sacramentos católicos. Reconhecem ou­trossim o prestigio do Papa João Paulo II, de tal sorte que muitos são os anglicanos dispostos a seguir o caminho traçado por Roma e a abando­nar o que eles consideram a Igreja apóstata da Inglaterra.

O mesmo editorial considera que é plenamente aceitável, para os anglo-católicos (setor conservador da Comunhão Anglicana), unir-se a uma das Comunidades Ortodoxas ou criar um novo ramo anglicano in­dependente da Igreja da Inglaterra.

Ainda na mesma linha de idéias, o boletim Ecumenismo-Infor­mações, escreve, sob a responsabilidade de Margaret Mayne: ‘Entre os ministros (presbíteros anglicanos) a corrente próxima da tradição católica receia a questão da ordenação das mulheres, que poderia ocorrer em 1995. Alguns pessimistas prevêem a defecção de cerca de mil ministros aó6s aquela data, ou mesmo o desmoronamento da Comunhão Anglica­na interna’.

‘Alguns observadores vêem os problemas com olhar menos pessimistas. Durante quatro séculos, dizem, a Comunhão Anglicana tendeu a aperfeiçoar a arte de viver não por uma via media perfeita, mas por um estado de tensão interna permanente e vivificante’.

‘Certamente o Dr. Carey (arcebispo anglicano de Cantuaria) não fa­vorecerá rupturas, mas… o futuro pertence a Deus’ “.

Não há dúvida, o presente noticiário é pungente. Será exagerada­mente pessimista? – Sem poder responder a esta pergunta, afirmamos nosso pleno respeito a Comunhão Anglicana; contudo julgamos oportuno publicar as observações atrás porque poderão servir de referencial a católicos desejosos de fazer experiências semelhantes às que ocor­rem na Comunhão Anglicana. O amor ao patrimônio da fé e da disciplina da Igreja poderá ajudá-los a ponderar as possíveis conseqüências de ou­sadas inovações na Igreja de Cristo.

Estevão Bettencourt O.S.B.