Conversões: o depoimento de um ex-pastor protestante

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 362/1992)

 

Em síntese: O Diácono católico Francisco Almeida Araújo era pastor batista, quando um dia verificou que, para ser fiel às Escrituras, não podia mais ensinar que o pão e o vinho consagrados na Ceia do Senhor são apenas símbolos do Corpo e do Sangue de Cristo. Com efeito, Jesus diz claramente no Evangelho: “Isto é meu corpo. – Isto é meu sangue…” (Mt 26,26-28). Tendo percebido isto, preparou-se para pedir admissão à Igreja Católica, que o aco­lheu com amizade. Infelizmente, porém, o ex-pastor e sua família tiveram que passar por difícil fase de vida, conseqüência de que Francisco perdera seu ministério; foi, porém, maravilhosamente atendido pela Virgem Santíssima, que, invocada em fervorosa oração, respondeu com um sinal estupendo de sua proteção materna. São precisamente tais momentos densos e ricos de vi­da que Francisco Almeida Araújo descreve nas páginas subseqüentes. Atualmente reside em Anápolis (GO), onde exerce profícuo magistério, tendo sido ordenado Diácono da Igreja Católica.

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O TESTEMUNHO

NOSSA SENHORA DO MARROM GLACÊ

“Nossa Senhora possui muitos títulos. Afinal, ela é Rainha por ser Mãe do Rei dos Reis, Nosso Senhor Jesus Cristo. Como Rainha, é natural que tenha tantos títulos, sendo, no entanto, ela a única e mesma pessoa.

Esse inusitado, e até exótico título: NOSSA SENHORA DO MAR­ROM GLACÊ, estou dando para narrar um pouco do muito amor que a Virgem Maria tem demonstrado por mim, pobre pecador. Seria longo contar todo o meu itinerário religioso. Não cabe fazê-lo aqui, nesse arti­go. Pretendo contar toda a minha vida num livreto que estou preparan­do. Há certas passagens desse itinerário das quais não posso orgulhar-me. São tempos de contradição, paradoxais mesmo. Sei, no entanto, que Deus me permitiu tantas experiências, para hoje reconhecer sua Miseri­córdia e poder melhor orientar alguns irmãos.

Na minha ignorância escrevi, ensinei e preguei contra a Igreja, o Santo Padre o Papa, seus Ministros, a Eucaristia, a Virgem Maria…

Tempos obscuros, esses de cegueira espiritual.

Nessa caminhada cheguei a ser ordenado Pastor protestante e professor de Teologia em algumas Faculdades dos Protestantes.

Como foi que vim para o seio da nossa Santa Igreja Católica?

É o que pretendo narrar aqui, mesmo que de forma muito resumida.

Tudo aconteceu num domingo de manhã. A igreja que no mo­mento pastoreava, estava cheia. Logo após a Escola Dominical teríamos a chamada Ceia do Senhor. Após belos cânticos, como Pastor, abri a Bíblia, para pregar antes da distribuição da Ceia. Como de costume, abri em 1 Corintios 11, 23-32, passagem sobre a qual já havia pregado tantas vezes e que tinha estudado com seriedade. Ao ler os versículos 23 e 24: Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão, e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: ISTO É O MEU CORPO, QUE É ENTREGUE POR VÓS… Volto a afirmar: quantas vezes havia lido, estudado e pregado esse texto! Mas nesse domingo foi diferente. As palavras do Senhor falaram fundo ao meu coração: ISTO É O MEU CORPO.

Eu havia aprendido com meus professores de teologia, estudado nos compêndios clássicos da teologia protestante que o texto devia ser entendido como: “representa” o meu corpo, “simboliza” o meu corpo. Eu havia aprendido ainda que tudo aquilo era um mero memorial, nem mesmo era sacramento, mas uma simples ordenança…

Mas ali estava a Palavra de Deus dizendo claramente: ISTO É O MEU CORPO. Perturbado, continuei a celebração, sem deixar transpare­cer tudo que se passava em meu coração. Sem nada revelar a ninguém, iniciei um estudo mais sério, mais cuidadoso, sobre o assunto. Li e reli várias vezes os Evangelhos e todo o restante do Novo Testamento em busca de uma resposta que acabasse com aquela dúvida em meu cora­ção.

Após dois anos de estudos, regados de lágrimas e orações, estando um dia de joelhos em meu quarto, a sós, com a Bíblia aberta sobre a cama, estudando no Evangelho de São João 6, 25-71, descobri a maravi­lhosa verdade sobre a Eucaristia. Caí em prantos de alegria incontida. Poucas horas antes, eu havia-me ajoelhado como um Pastor protestante, embora com o coração aflito, cheio de dúvidas, e eis que agora me le­vanto como Católico Apostólico Romano!

Deus seja Bendito para sempre!

Eu sabia que somente a Igreja Católica ensinava a verdade sobre a Eucaristia: a presença real do Cristo na Hóstia e no Vi­nho consagrados. É uma longa história contar como foi a minha confissão para minha esposa e filhos… Todos bem integrados no Protestan­tismo: dois de meus filhos- os mais velhos- como co-pastores em Curiti­ba. Uma filha estudando Teologia e um outro filho trabalhando também no meio protestante. Isso fica para o meu livreto. Também a reação de meus irmãos Protestantes. O que devo dizer, é que sofri muito… Minha família também. Fui então procurar um Padre e confessar a ele minha decisão e também dúvidas sobre tantos outros assuntos como: imagens, purgatório, comunhão dos Santos, virgindade perpétua de Nossa

Se­nhora… Deus me guiou ao bom Monsenhor José Lélio Mendes Ferreira, pároco da igreja de São João Batista, em Atibaia, Estado de São Paulo. Ele me recebeu com muito amor e atenção, o que é próprio desse servo do Deus Altíssimo. Apresentou-me ao piedoso e culto Bispo, meu grande e bom amigo, Dom Antônio Pedro Misiara.

Fiz minha caminhada até receber Jesus Eucarístico e ver filhos fa­zendo a Primeira Comunhão.

Quando deixei os Protestantes, era o mês de outubro. Fiquei portanto desempregado… Logo as economias se acabaram. Não conse­guia emprego, embora professor formado em três cursos universitários. Tudo porque era final de ano letivo. Sem que Mons. Lélio ou o Senhor Bispo soubesse, eu e minha família ficamos sem alimentos… Como mo­rávamos numa chácara, passamos a comer somente mandioca que ali existia. Fiz até um versinho na época: “Mandioca no almoço, mandioca no jantar, mandioca todo dia, mandioca sem sar (isto é, sal – o sar é para rimar com jantar”). Acabaram-se as boas amigas mandiocas e ficamos dois ou três dias sem alimento algum. Rezávamos intensamente pedindo ajuda de Deus. Ninguém o sabia, e muito menos os meus irmãos pro­testantes, pois se o soubessem diriam: é castigo de Deus.

Naquele momento, e com muito estudo, por estar desempregado, descobri na Palavra de Deus, a Bíblia, todas as maravilhosas verdades sobre a Virgem Maria e sobre as santas doutrinas de nossa Igreja Católi­ca. Tudo obra da graça de Deus.

Num desses dias de jejum forçado, uma de minhas filhas, a Susan (na época tínhamos oito filhos e hoje nove, graças a Deus) me disse: Pa­pai, estou morrendo de fome, mas, sinceramente, o meu maior desejo era comer um pedaço de ‘marrom glacê’. É o doce preferido dela. Em resposta e sem pensar, lhe disse: Pois vá ao seu quarto, dobre seus joe­lhos e peça à Virgem Maria uma lata de marrom glacê. Ela respondeu firme: Pois eu vou pedir agora mesmo, e quero ver se a Virgem Maria ouve mesmo orações. Um esclarecimento: já éramos católicos, mas dado o bloqueio psicológico, devido aos anos de pregações ouvidas e livros li­dos contra Nossa Senhora, não éramos capazes de rezar Ave Maria ou outra oração mariana. Tinha Nossa Senhora na mente, mas sabia que faltava vir ao coração. Eu não sei, confesso-o, como transmitir aqui o que se passava comigo nesse sentido. Espero que o leitor me entenda. Vol­tando ao momento em que ouvi aquela resposta de minha filha Susan, minha esposa que também a ouviu e o que havia dado como resposta à Susan, disse-me: Você não devia ter dito isso, pois a Susan pode pedir uma lata de doce marrom glacê e não receber. Quem sabe se Deus quer provar mais ainda nossa fé. Ela tinha razão e muito séria, o que contarei no meu livreto. Respondi, então, à minha esposa: Vamos, então, para o nosso quarto pedir a Nossa Senhoraque não permita a Susan perder sua fé, tão nova e ainda pequena. Susan já estava fazendo o pedido em seu quarto. Eu e minha esposa nos ajoelhamos em nosso quarto, e pela pri­meira vez, rezamos uma Ave Maria e uma oração espontânea dirigida à Virgem Maria. Pedimos que guardasse a fé de Susan. É claro que não pedimos o marrom glacê.

No outro dia de manhã, alguém bate palmas lá no portão de entra­da de nossa chácara. Pelo vitro vi que era um jovem de barbas e um cru­cifixo bem visível numa corrente ao pescoço. Vi logo que não eram os meus irmãos protestantes que novamente vinham discutir Bíblia comigo, na vã tentativa de demover-me de ir para a Igreja Católica. Meu filho Alden correu e abriu o portão. Ele, o jovem, se fazia acompanhar de uma também jovem senhora. Estavam num carro fusca amarelo. Eu, esposa e filhos já estávamos na varanda para recebê-los. O jovem então disse: Pastor Francisco, eu sou o Padre José Carlos Brilha (o meu bom amigo Padre Brilha!) e essa é a Magui (apelido carinhoso de Maria Guilhermina Michele). Disse, então, do prazer em conhecê-los. Ainda na varanda, vi quando a Magui, virando-se para o Pe. Brilha, lhe disse: Padre, diga ao Pastor o que viemos aqui fazer. O Padre respondeu: Diga você, pois foi com você que Deus falou. E ela, com ar encabulado, me disse: Olha, Pastor, não sei como o senhor vai entender o que agora vou-lhe dizer. Essa noite que passou, eu tive por duas ou três vezes sonhos ou pesade­los com o senhor, não sei. Sonhei que alguém me dizia: leve alimentos na casa do Pastor Francisco! Não sei o que o senhor pensa, mas não leve a mal! Eu e minha irmã, Regina, fomos ao supermercado e fizemos uma boa compra e aqui trazemos para o Senhor”.

Mal acabando de dizer essas palavras, abriu a porta do seu carro, do lado do motorista, reclinou o banco e de uma das caixas que se en­contravam sobre o banco traseiro, retirou uma lata e, olhando para minha filha Susan, disse: E essa lata de doce foi Nossa Senhora que lhe mandou. Era uma lata de marrom glacê!

Com voz embargada pela emoção, disse àquela senhora: A senhora sonhou isso também? A senhora sonhou que devia trazer uma lata de marrom glacê e dá-la para minha filha Susan? Ela respondeu: Isso não, eu apenas peguei agora essa lata e dei para sua filha. Oito filhos, e abaixo da Susan um filho e uma filhinha. Por que logo para Susan? Sim, eu sei a resposta. Era a Mãe do céu que queria entrar no meu coração, no coração daquela família. Não bastava tê-la em nossa mente. Aquele momento foi de lágrimas e de louvor ao Altíssimo Deus por nos ter dado tão sublime Mãe. Naquele momento, nosso amor e nossa fé na Virgem Maria cres­ceram profundamente. Foi como o desabrochar de uma flor. Desde aquela data, estamos trabalhando no Reino de Deus, falando das glórias da Virgem Maria onde quer que vamos. Muitas e muitas graças, eu e mi­nha família temos recebido pelas mãos de Nossa Senhora.

Pelas mãos da Mãe do Céu viemos residir em Anápolis, Goiás, e aqui pelas mãos santas do nosso muito amado Bispo Dom Manoel Pesta­na Filho, esse culto e inteligente defensor da sã doutrina, nosso orientador espiritual, nosso líder da Fé, recebemos a Ordenação ao Diaconato Permanente. Somos Diácono de Cristo a serviço de Nossa Senhora. Sou Diácono da Virgem Maria. Glória a Deus!

Penso que os leitores entenderam agora a razão do título que dei à Virgem Maria neste artigo. Voltaremos, se Deus nos permitir, a falar das glórias da Virgem Maria.”

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O depoimento não exige comentários, pois é eloqüente por si. Seja registrado porém, que foi precisamente o intuito de ser fiel à S. Escritura que trouxe o ex-pastor para a Igreja Católica. O protestantismo, apregoando incondicional fidelidade à Bíblia, lê-a segundo as interpretações subjetivas de seus pastores, que são unilaterais e falíveis; donde as cen­tenas de denominações protestantes que hoje existem e que tendem a se afastar cada vez mais da pureza da doutrina bíblica e do próprio Cristia­nismo; tenham-se em vista os Mórmons, a Ciência Cristã, os Adventistas, as Testemunhas de Jeová, os Amigos de Jeová­…

Afinal é na Igreja Católica, que guarda a Palavra de Deus em sua totalidade (oral e escrita), que se encontra a autêntica mensagem de Cristo. Este, aliás, prometeu à Igreja por ele fundada e entregue a Pedro a sua assistência infalível (cf. Mt 16,16-19; Lc 22,31 s; Jo 21, 15-17).

O testemunho do Diácono Araújo é valioso também por mostrar como a Virgem Maria respondeu maravilhosamente, na qualidade de Mãe extremada, às orações da família angustiada.

O endereço do Diácono Francisco Almeida Araújo é o seguinte:

Caixa postal 1071, 77101 Anápolis (GO).

O depoimento aqui transmitido já foi publicado pela revista “Cava­leiro da Imaculada”, março 1989, Edições Kolbe. Endereço: Jardim da Imaculada s/n°, 77222 Cidade Ocidental (GO).