Deus, ateísmo: o testemunho de ateus

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(Revista Pergunte e responderemos PR 445 /1999)

 

Em síntese: O estudo da psicologia da fé mostra quão complexo é o ato de fé; mobiliza todas as faculdades da pessoa em foco. A teoria é ilustrada pelos casos concretos, de modo que as páginas seguintes apresentam o testemunho de homens e mulheres que lutaram para chegar ao ato de fé e tornarem-se férvidos servidores do Senhor Deus.

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Após estudar a psicologia da fé, interessa-nos levar em conta o que se deu no íntimo de homens e mulheres que passaram por fase de ateísmo e chegaram finalmente à luz da fé. Trata-se assim de vislumbrar a luta do ser humano feito para o Infinito e atormentado enquanto não se volta conscientemente para Ele. Serão considerados apenas vultos do século XX.

1. Alexis Carrel (1873-1944)

Alexis Carrel foi Prêmio Nobel em Medicina. Perdeu a fé de sua infância e entregou-se ao materialismo positivista. Aos poucos, porém, foi tomando consciência de que este não respondia a perguntas fundamentais do seu coração. Viajou para Lourdes, acompanhando uma enferma de câncer terminal; lá verificou, com todo o rigor científico, a cura da moléstia. Isto o impressionou profundamente, levando-o a uma busca sincera e sequiosa da verdade. Escreveu contra o materialismo e também contra a religião acomodada ou de fachada, sem, porém, chegar a uma crença definida. No fim da vida, caiu gravemente enfermo; então aguçou-se-lhe o drama do sentido da vida; resolveu entregar-se a Deus como um menino e pediu os sacramentos da Igreja. O empurrão decisivo foi-lhe dado ao presenciar a têmpera forte e heróica de uma órfãzinha. Exclamou então: “Minha salvação está em que uma pobre ignorante me segure a mão e me guie… Sim; quando se trata de não morrer como um cão, mas de terminar a vida nobremente, é somente junto aos humildes adoradores de Deus que os filósofos hão de buscar lições de Lógica”.

A propósito ver PR 406/1996, p. 137-144 (A Viagem de Lourdes).

2. Paul Claudel (1868-1955)

Famoso poeta francês, Claudel aos dezoito anos de idade aderia à incredulidade e à devassidão. Ao terminar seus estudos no Liceu Louis-le-Grand, já havia lido os filósofos alemães ateus, admirava Ernest Renan . (sarcástico em relação ao Evangelho) e professava o culto da ciência como resposta aos seus anseios naturais. Ele mesmo descreveu posteriormente o seu estado de alma:

“Evoquem-se esses tristes anos da década de 1880, a época do pleno desabrochar da literatura naturalista. Nunca pareceu mais firme o domínio da matéria. Os grandes nomes nas artes, na ciência, na literatura eram todos irreligiosos… Renan imperava. Foi ele quem presidiu à última distribuição de prêmios do Liceu Louis-le-Grand, à qual eu assisti, e creio que fui coroado por suas mãos… Vivia então na imoralidade e pouco a pouco caí em estado de desespero… Esquecera completamente a religião; a seu respeito a minha ignorância era de selvagem” (ver J. Calvet, Le Renouveau Catholique dans la Littérature Contemporaine, Paris 1927, p. 139).[1]

Aos vinte anos de idade, por ocasião do Natal, entrou na basílica de Notre-Dame em Paris e ouviu o canto do Magnificat, que muito o impressionou, como ele mesmo relata:

“Foi então que se deu o acontecimento que ia mudar a minha vida. Num instante foi sacudido o meu coração e passei a acreditar. Acreditei com forte adesão, com o bem-estar de todo o meu ser, com perfeita convicção, com certeza isenta de qualquer dúvida: todos os livros, todos os arrazoados, todos os percalços da minha vida agitada não conseguiram abalar a minha fé, nem mesmo tocá-la… Quão felizes são aqueles que têm fé! Ó, se tudo isso fosse verdade! Mas é verdade! Deus existe! Está aí! É alguém, um ser pessoal, tão pessoal como eu! E Ele me ama, Ele me chama!… E eu estive diante de Vós como um lutador, que zombeteia. Vós me chamastes por meu nome. E, como alguém que conhece, Vós me escolhestes dentre todos os meus companheiros”.

Apesar de tão explícitas declarações, Claudel ainda lutou dez anos contra Deus. Prendia-o o medo dos companheiros ou o respeito humano, que por muito tempo lhe paralisou os passos e a última decisão:

“Farei esta confissão? No íntimo, o sentimento mais forte que me impedia de declarar as minhas convicções era o respeito humano. A idéia de anunciar a todos as minhas convicções e a conversão, de dizer aos meus pais que não comeria carne às sextas-feiras, de me proclamar um desses católicos tão ridicularizados, fazia-me suar frio” (Les Témoins du Renouveau Catholíque, p. 68).

Em seus embates íntimos, Claudel pensou em fazer-se monge beneditino, mas verificou que sua vocação era outra. Passou por outra crise, que finalmente chegou a equilíbrio tranqüilo. Em suma, teve uma conversão que durou a vida inteira, o que bem revela quanto a graça encontra resistência no recôndito de muitas pessoas dilaceradas entre o Bem Infinito e os bens finitos.
3. Ernesto Psichari (1883-1914)

E. Psichari era neto do incrédulo e sarcástico Ernest Renan. Após um fracasso amoroso, tentou duas vezes o suicídio. Fez-se militar e foi para o deserto do Saara; ali percebeu o vazio dos atrativos das grandes cidades; o contato com a natureza rude e despojada fê-lo pensar; enfrentou os grandes questionamentos relativos ao sentido da vida. O próprio Psichari relata o que lhe aconteceu, falando de si na terceira pessoa:

“Nos seus anos de adolescência, que miséria e abandono! Seu pai alimentara-lhe a inteligência, mas não a alma. As primeiras perturbações da juventude encontraram-no desaparelhado, sem defesa contra o mal, sem proteção contra os sofismas e as falácias do mundo… Durante oito anos, dos vinte e dois aos trinta, errara pelo mundo e atirara a todos os céus a sua maldição… Fugia de continente a continente, de oceano a oceano, sem que alguma estrela o guiasse entre as variedades da terra” (Le Voyage d’un Centurion, 14ª ed., Paris 1916, pp. 4,6).

No silêncio do deserto, a voz de Deus falou a Psichari: “Tu me procuras e eu aí estou, nesse desgosto de ti mesmo que te assalta, nesse peso de tua alma cativa e até no pesadelo horrendo dos teus pecados” (ibd., p. 196).

Pediu então o Batismo, após ter-se preparado devidamente, e escreveu a famosa obra “A Viagem dum Centurião”, que relata a história de sua conversão.

4. Giovanni Papini (1881-1956)

Giovanni desde menino muito leu, procurando satisfazer à sua sede de saber. Em busca da verdade, entregou-se à Filosofia, que o deixou descontente. Passou então para o pessimismo, o materialismo, o pragmatismo, chegando a tornar-se ocultista e espírita. Era sempre movido pelo desejo de ser grande e tornar os outros felizes. Entre as suas reflexões de tal época, lê-se a seguinte:

“Ser Deus! Empreendimento impossível, mas é a soberba meta almejada. Tal é o meu programa e o de outros… Ainda não acreditava em Deus; Deus não existia para mim, e jamais tinha existido. Eu queria criá-lo para o futuro e fazer de um homem pobre e miserável o Ser supremo, soberano, muito rico e poderoso”.

Essa pretensão deixou-o frustrado e inspirou-lhe outras considerações:

“Peço, rogo humildemente de joelhos e com toda a pujança de minha alma um pouco de certeza, uma só, uma pequena crença certa, um átomo de verdade. Mas por que ainda não me encontrei com ela?… Não posso continuar vivendo assim, vacilando entre a dúvida e a negação, sempre ansioso por causa de um desejo que renasce todos os dias, e abatido pelo fracasso cada vez mais freqüente… Quero uma certeza firme e dela preciso, ainda que seja uma só. Quero uma fé indestrutível, mesmo que seja uma só. Quero uma verdade autêntica, por pequena e exígua que seja…, uma verdade que me faça tocar o âmago mais íntimo do mundo, e me confira o derradeiro e mais firme apoio”.

Pôs-se então a procurar mais a fundo nos Evangelhos: “Retornei aos Evangelhos para procurar Cristo; entrei nas igrejas para encontrar Deus”.

Papini encontrou Deus finalmente, refletindo sobre os horrores da guerra mundial à luz do Evangelho. Foi então que escreveu a sua célebre “História de Cristo”. A firmeza da conversão de Giovanni Papini transparece na seguinte declaração, que ele redigiu com o próprio sangue:

“Temos necessidade de Ti, de Ti, e de mais ninguém. Só Tu, que nos amas de verdade, podes sentir por cada um de nós o que sofremos; só Tu podes conhecer a solicitude que cada um de nós experimenta por si. Só Tu podes sentir plenamente quão grande, quão imensa é a necessidade que temos de Ti neste mundo e nesta hora”.

5. Adolfo Retté (1863-1930)

A. Retté foi anarquista, inimigo entranhado da Igreja, entregue aos prazeres do sexo e da bebida. Certa vez, socialista que era, falou a um auditório de socialistas em Fontainebleau. O tema era o materialismo de Haeckel e Büchner; Deus será “exorcizado” pelas conquistas da ciência e banido do universo. Terminada a palestra, quatro pessoas aproximaram-se do orador e pediram-lhe explicações mais minuciosas: dissesse como foi que o mundo começou, se por ninguém o universo foi criado. A. Retté repugnava falar sobre o que ele ignorava, por conseguinte balbuciou e hesitou. Tal incidente lhe pôs em foco o problema das origens, que a ciência por si só não resolve:

“Estava profundamente perturbado; sentia-me mal; tinha necessidade de refletir a sós com a minha consciência”.

Internou-se na floresta: “Mas já não apreciava o encanto da sombra e do silêncio. O coração pesava-me no peito; tinha vontade de chorar; um remorso estranho e insólito parecia tumultuar dentro de mim” (Du Diable à Dieu, Paris 1907, p. 15).

Retté começou a duvidar do valor da vida. Caiu no desespero, que o levou a tentar o suicídio. Foi buscar uma corda:

“Então senti-me como que partido em dois: a metade do meu ser queria o suicídio imediato. A outra metade resistia e parecia estar pedindo socorro, enquanto em torno de mim eu sentia desencadear-se uma tempestade de blasfêmias e palavrões… Ouvi uma voz celeste, que me gritava: ‘Deus, Deus está aí!’. Fulminado pela graça, caí de joelhos e entre soluços murmurei: ‘Eu te dou graças, ó meu Deus, por te haveres voltado para mim!”.

Após três anos de ansiedade, aos quarenta e três anos de idade, Adolfo Retté fez sua Primeira Comunhão e tornou-se católico convicto, dedicado ao serviço dos pobres e ajudando muitos irmãos a se levantar.

6. Eva Lavallière (1866-1929)

Eva Lavallière era uma atriz de vida desregrada. Como tal, fazia o papel de mulher feliz, mas carregava dentro de si uma tragédia. Chegou ao desespero e às portas do suicídio. Caiu doente e foi procurar alívio no espiritismo, mas sem resultado. Voltou-se então para o Catolicismo e perguntou a uma amiga: “Julgas que Deus me aceitará após uma vida tão devassa?” Pôs-se a ler e conversar com pessoas amigas e finalmente redigiu uma carta, da qual dizia: “Custa-me muito escrever esta carta, e mais ainda custa-me enviá-la: nela vai proclamada a minha morte ao teatro. Nunca mais representarei!” Após nova enfermidade, que lhe proporcionou viva experiência de Deus, resolveu dedicar-se ao serviço dos semelhantes.

7. Thomas Merton (1915-1968)

Thomas Merton foi educado sem religião e no ódio ao Catolicismo. Foi fortemente impressionado pela guerra mundial de 1939 a 1945 e pela enfermidade de pessoas queridas. Estudou as obras de filósofos católicos, mas sem se convencer definitivamente. Refere-se ele a essa época dizendo: “Coisa estranha! Eu assimilava tudo, mas encontrava-me vazio de tudo. Devorando prazeres e alegrias, não encontrava senão angústias, miséria e temor. Nessa extrema desgraça e humilhação, passei por uma aventura sentimental, na qual fui tratado como fora de muitas outras nos últimos anos… Como um cãozinho, eu mendigava um pouco de carinho e uma prova de afeto. Tal era a morte do herói ou do grande homem que eu sonhara ser. A minha derrota foi a ocasião da minha salvação”.

Após novas buscas de respostas, leu obras de Newman, que o inspiraram fortemente. Dizia de si para si: “Que esperas? Que fazes aqui? Sabes o que tens de fazer. Então por que não o fazes?”

Pediu e recebeu o Batismo, mas verificou que se convertera na inteligência mais do que no seu tipo de vida concreto. Para rematar sua caminhada, entrou no mosteiro trapista de Gethsêmani (U.S.A.), onde se aprofundou nas verdades da fé e na prática da ascese; disto resultaram escritos notáveis de projeção mundial e benéficos para muitos leitores.

8. Tatiana Goritcheva (1947- )

Tatiana nasceu em Leningrado no ano de 1947. Estudou Filosofia e Radiotécnica. Observa:

“Nasci num país em que os valores tradicionais da cultura, da religião e da moral foram arrancados pela raiz de maneira planejada e com êxito. Eu odiava tudo e amava a solidão”.

Desgostosa da ideologia reinante em seu país, voltou-se para os “ídolos” do Ocidente, especialmente Nietzsche e o existencialismo ateu de Sartre e Camus. Chegou assim ao “desespero, com o qual começa a fé”. Aos vinte e seis anos de idade, iniciou a luta contra a mentira:

“Cansada e desiludida, eu fazia meus exercícios de Yoga e repetia os mantras. Até aquela fase de minha vida, eu nunca tinha proferido uma oração. Mas o livro de Yoga propunha como exercício uma prece cristã, ou seja, a oração do Pai-Nosso. Comecei a repeti-la mentalmente como um mantra, de modo inexpressivo e automático. Compreendi – não com minha inteligência ridícula, mas com todo o meu ser – que Deus existe. Ele, o Deus vivo e pessoal, que me ama e ama todas as criaturas. A velha criatura morrera. Não somente abandonei meus valores e ideais anteriores, mas também meus antigos costumes. Finalmente meu coração se abriu. Comecei a querer bem às pessoas… Tornei-me impaciente, desejando servir a Deus e aos homens. Que alegria e que luz esplendorosa jorraram em meu coração!”.

Tatiana teve consciência de fazer parte da Igreja perseguida e exclamou: “Eu também pertenço a esse povo!”. Recebeu os sacramentos e pôs-se a estudar a Religião em Seminários integrados por intelectuais. Foi presa pela KGB e submetida a interrogatórios. Acabou sendo expulsa da Rússia em 1980, quando fixou domicílio em Paris.

Em 1986 Tatiana Goritcheva dava o seguinte testemunho:

“Há milhares de conversões inesperadas, como foi a minha. Em torno de mim muitas pessoas se tornaram cristãs; descobriram o Evangelho e a sua vitalidade aos 20, 30… 60 anos de idade; o corpo inteiro treme quando se lê o Evangelho. Hoje o Evangelho e os Padres da Igreja constituem a literatura mais importante da Rússia. A oração, para nós, vale mais do que o ar; é ela que nos dá força para transformar o mundo. Num Estado totalitário, vivemos sob cerco constante, mas, quando rezamos, sentimo-nos livres. A experiência da prisão é pavorosa, mas os nossos prisioneiros se julgam ainda muito felizes porque são perseguidos por amor a Cristo… Vocês não podem imaginar a força que Deus dá às pessoas em extrema necessidade.

O cristianismo tornou-se quase moda na URSS; ser intelectual e ser cristão é praticamente a mesma coisa. É curioso como se encontra liberdade na Igreja, onde não há riquezas, nem poder; mas onde existe a força dos valores místicos. A Igreja quase não existe como instituição, mas sim como um corpo vivo, purificado pelo sofrimento e o martírio. É por isto que ela atrai tanto. – Não podemos dizer quantos cristãos existem na URSS: trinta milhões, ou mesmo, segundo o Patriarcado de Moscou, cinqüenta milhões… O número não importa; o fato é que nem todos os convertidos se dizem cristãos, pois têm medo das represálias; freqüentam a Igreja, mas não se mostram dissidentes em relação ao regime soviético. Há outros, como eu, que se tornam dissidentes, porque não podem ocultar a alegria de ser cristão; é preciso levar o Evangelho ao resto do povo russo. Perdemos todo medo; organizamo-nos em pequenos grupos; verdade é que temos poucos padres; menor ainda é o número dos sacerdotes que têm a coragem de liderar a juventude; o padre que se destaque, é encarcerado e os seus filhos são enviados para educandários do Estado ou para prisões de crianças. Em Leningrado temos cinco padres que trabalham com a juventude convertida; correm grande risco.

Organizei um clube de mulheres, ao qual dei o nome de Maria (nem podia ser outro, pois queríamos honrar a Rainha do céu e da Rússia). Este clube tinha por objetivo ajudar-nos a perseverar na fé, já que ninguém sabe o que é isto: … Cristianismo e Cultura, Cristianismo e História… Éramos 50 ou até 200 pessoas no meu apartamento, sempre na espreita de que a Policia interviesse para nos prender; muitos amigos nos abandonaram por medo; outros se admiraram de que não éramos encarceradas, pois nós lhes parecíamos loucas. Na verdade, o nosso grupo era vigiado pela KGB dia e noite, finalmente alguns dos seus membros acabaram presos, e outros expulsos da URSS”.

A respeito de Tatiana Goritcheva, ver PR 295/1986, pp. 530-542; 301/1987, pp. 242-251.

9. Edith Stein (1891-1942)

Edith Stein foi judia, discípula do filósofo alemão Edmund Husserl. Perdeu a fé da sua infância. Estudou então vários pensadores alemães, sem encontrar resposta para seus anseios. Estando em férias, leu a autobiografia de Santa Teresa de Ávila, que muito lhe falou: “No mesmo instante, senti-me cativada: não pude interromper a leitura até chegar à última página. Quando fechei o livro, disse a mim mesma: ‘Aqui está a verdade!'”. Estudou a doutrina católica, foi batizada e entrou no Carmelo. Morreu em campo de concentração, vítima do nacional-socialismo.

Ver PR 443/1999, pp. 187-191.

10. Douglas Hyde (1860-1949)

Douglas Hyde era Secretário do Partido Comunista da Inglaterra e diretor do The Daily Worker. Por sua profissão, tinha que refutar escritores católicos como Chesterton, Belloc e, de cada vez, ficava muito impressionado pelo confronto das idéias. Em certa ocasião, ao entrar numa igreja católica, num recanto escuro frente à imagem da Virgem SSma., foi profundamente tocado: “Era feliz. Dei-me conta de que minha dolorosa peregrinação terminara. Murmurei: ‘Senhora tão meiga e tão boa, sê boa para mim!'”.

11. Carlos Nicolle (1866-1936)

Carlos Nicolle foi Prêmio Nobel em Medicina, pesquisador de doenças infecciosas e Diretor do Instituto Pasteur. Incrédulo ferrenho, sustentava a tese de que a razão explica tudo. Todavia o problema do sofrimento humano o perturbava. Procurou esclarecimentos em escolas filosóficas, mas em vão. Mais tarde dizia: “Não foi difícil encontrar de novo, debaixo das cinzas de preocupações científicas, o resquício de fé sobrenatural depositado por minha mãe, cujos sentimentos religiosos eram profundos”. Escreveu um amigo seu: “Após ter-se insubordinado contra os fracassos averiguados por nossos próprios olhos, chegou, por fim, a pôr sua confiança em Deus”.

12. Willibrord Verkade

Verkade era pintor dinamarquês. Dedicou-se à arte, à literatura e à filosofia, sem professar religião alguma. Certo dia entrou numa igreja católica, quando durante a Missa se cantava o Sanctus, Sanctus, Sanctus… Todos se ajoelharam. Mais tarde escrevia ele: “Como? Ajoelhar-me eu? Meu orgulho protestava com todas as suas fibras contra tal humilhação. Mas, já que eu estava ali, ajoelhei-me como as demais pessoas. Quando se levantaram, também eu me levantei, mas algo havia mudado dentro de mim. Eu já era católico pela metade, pois meu orgulho se tinha quebrantado; eu me tinha ajoelhado”. Procurou instruir-se na doutrina católica. Foi batizado e mais se dedicou à pintura, pela qual exprimia sua ânsia de Deus. Finalmente tornou-se monge beneditino e escreveu sua autobiografia intitulada Unruhe zu Gott (Inquietude para com Deus).

13. Charles de Foucauld (1858-1916)

Charles foi educado de acordo com seus caprichos infantis. Após a Primeira Comunhão, perdeu a fé e entregou-se à licenciosidade. Fez-se militar no exército francês e foi servir na África. No seu ritmo de idas e vindas foi seqüestrado. Começou então a repensar sua religião… Foi procurar um sacerdote para pedir-lhe esclarecimentos e ouviu do padre as palavras: “Ajoelha-te e confessa-te!”. Charles o fez, e disse, mais tarde, ter sido inundado por luz e paz. Tornou-se monge trapista na Terra Santa. Mas preferiu a vida eremítica, que ele passou a viver heroicamente no deserto do Saara, dedicando-se aos muçulmanos mais pobres. Certa noite, quando rezava, foi assassinado. Seu testemunho de vida e seus escritos suscitaram numerosos seguidores e seguidoras.

14. Léon Bloy (1846-1917)

Léon era filho de pai sarcástico, que zombava da religião (discípulo de Voltaire), e de mãe muito religiosa católica. Recebeu educação contraditória, que nele suscitou lutas internas entre a verdadeira crença religiosa (sugerida por sua mãe) e os preconceitos (incutidos por seu pai). Aos poucos estes foram desmoronando, mas com grande sofrimento para Bloy, que ele descreve em sua obra A Mulher Pobre. Acabou pedindo o Batismo, mas nem por isto conseguiu definir o seu ritmo de vida: quis tornar-se monge beneditino, mas não lhe foi possível, porque caía e recaía em seus vícios. Retirou-se para um mosteiro cartuxo, a fim de lá escrever; mas sua consciência lhe dizia que suas palavras não correspondiam ao seu tipo de vida. Um belo dia pareceu-lhe ouvir uma voz interior, que lhe dizia: “Se fores dócil à graça, eu te anuncio com certeza alegrias tão profundas, tão intensas, tão puras, tão luminosas que julgarás estar para morrer”. Começou então uma vida nova, que com seus escritos e conversas levou muitos irmãos a Deus.

15. Takashi Nagai

Takashi Nagai era médico japonês, impregnado de materialismo. O falecimento de sua mãe muito o impressionou, assim como a cura de grave moléstia de que sofria. Pôs-se a ler os escritos de Blaise Pascal, que lhe deram o impulso final para procurar a Deus. Resolveu pedir o Batismo e dedicou o resto de sua vida à Medicina em favor dos que sofrem e precisam de atenção abnegada.

16. Outros grandes vultos

Em suma podem-se citar ainda:

Agostinho de Hipona (+430), que levou vida devassa; bateu às portas do maniqueísmo, caiu no ceticismo, passou pelo neoplatonismo e finalmente, debaixo de uma árvore, ouviu uma voz que lhe indicava a leitura do Novo Testamento. Pediu o Batismo e tornou-se um dos maiores doutores da Igreja, grande vulto da filosofia e da história universal.

Inácio de Loiola (+1556). Militar libertino, que, convalescente num hospital, leu a vida de Cristo e se converteu em penitente, místico e apóstolo, fundador da Companhia de Jesus.

S. Francisco Xavier (+1552), ambicioso professor da Sorbonne (Paris), que, feito jesuíta, se tornou apóstolo das Índias Orientais.

Inácio Lepp, psicoterapeuta marxista, que se converteu e se tornou sacerdote. Entre outras obras, escreveu Psicanálise do Ateísmo Moderno, obra cujo primeiro capítulo tem por titulo “O ateu que eu fui”.

Os depoimentos até aqui registrados têm o valor de mostrar o fascínio do Infinito exercido sobre a psique humana, que lhe diz um “Sim” espontâneo, entravado pelos vínculos de bens transitórios e paixões um tanto irracionais e cegas. Nas pessoas sinceras o fascínio supera a resistência e leva à autenticidade de vida.

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NOTA:

[1] Conta-se que nesse discurso Renan teve uma inspiração e disse: “Quem sabe? Hoje estais aqui à roda de mim; há talvez entre vós algum que mais tarde se levantará para dizer que foi ruinosa a minha influência sobre a juventude”. Claudel o disse.