Deus e a felicidade

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “só Deus pode acalmar a nossa sede de felicidade”.

Todos nós buscamos neste mundo acalmar a nossa sede infinita de felicidade. E cada vez mais comprovamos que nada deste mundo nos satisfaz. É o que diz de uma maneira muito viva Rafael Llano Cifuentes, autor das palavras abaixo.

Lembro uma história tão simples quanto expressiva: viajava num trem, à noite. O vagão estava completamente lotado. Fazia muito calor. Nesse período, posterior à guerra, os trens paravam à toa, sem que se soubesse o motivo. A viagem tornava-se insuportável. E, de repente, de madrugada, um neném começou a chorar. Começou a chorar com toda a força. Era só o que faltava! A mãe fez tudo o que estava ao seu alcance para tratar de sossegá-lo: mudou-o de posição várias vezes, tirava-lhe as mãos para fora do cobertor, e colocava-as novamente para dentro… Houve inclusive diversos voluntários do vagão que colaboraram na tarefa de tranquilizar o pequenino. Inutilmente. O menino seguia chorando aos berros. A situação tornava-se insustentável. Até que a mãe, num instante, movida por uma intuição, levantou-se e, tirando da sacola uma garrafa, deu-lhe de beber um líquido com uma colherzinha. Pouco depois, a criança dormia placidamente; estava tranquila e sossegada. Que líquido misterioso seria aquele para provocar uma mudança tão rápida e extraordinária na criança? Era simplesmente água. O menino tinha sede, mas não a podia comunicar”.


Às vezes, quando penso nas inquietações humanas, recordo esta cena do trem. Em nossos mal-estares e desalentos, em nossas insatisfações e tristezas, costumamos indagar suas causas, buscar de diversas formas onde se encontram seus motivos. E, investigando aqui e ali, chegamos a determinar o que julgamos ser a origem de nossos pesares: as circunstâncias ambientais ou familiares desfavoráveis; os pais, os filhos, a mulher ou o marido em cada caso; o cansaço do trabalho; a monotonia e a falta de estímulo ou de correspondência à nossa dedicação; um fracasso; uma enfermidade; a falta de recursos econômicos; o “azar” ou a ausência de amor ou de carinho… Poderíamos fazer uma longa lista de prováveis culpados… Mas eu recordo aquele pranto do menino na noite… Não será que temos sede?


Lembramos que, apesar de todas as diligências dispensadas por sua mãe, o bebê continuava chorando. Porque tinha sede. Não será isso o que se passa conosco? Quando em nossa lista mudam ou desaparecem os responsáveis pela nossa tristeza, esta permanece ou renasce um pouco mais além, manifestada de outra forma. Quantas vezes dizemos: “quando tiver outro trabalho, quando ocupar esse posto, quando tiver sido aprovado naquele exame, quando conquistar esse amor e conseguir esse dinheiro, quando se curar tal doença… então deixarei de estar triste”. E, ao superar, por ventura, essas dificuldades, eis que a tristeza aparece de novo, reencarnada em figura diferente. O mal-estar sofre uma metamorfose, mas permanece. É que, como o menino que grita na noite, estamos com sede. Com muita sede. Mas talvez não saibamos reconhecê-la. Só ficaremos verdadeiramente tranquilos no momento em que a saciarmos.


“Nós – diz Garcia Dorronsoro – queremos muitas vezes apagar essa sede profunda do homem com realidades deste mundo e pedimos às coisas e pedimos às pessoas aquilo que nem as coisas nem as pessoas podem dar-nos na medida que necessitamos. Por isso, quando um homem está decepcionado com a sua mulher, quando um homem está decepcionado com seus filhos, quando um filho está decepcionado com seus pais, quando qualquer homem está decepcionado com o seu trabalho, deveria questionar-se, no íntimo, se não estará tratando de acalmar uma sede profundíssima, com realidades que não podem, de nenhum modo, satisfazê-la”.


(…) Desejamos a felicidade permanente e vamos ao seu encontro. Mas depois, quando vemos que as alegrias humanas se vão despedindo com um gesto nostálgico, deixando-nos com saudade do tempo que passa e, irreversível, não volta; quando vemos o sinal dos anos marcado no rosto de nossos pais; quando uma pessoa querida se separa de nós nessa imensa despedida que é a morte, experimentamos como os pequenos regalos terrenos, sempre eventuais e evasivos, não bastam. Suspiramos pela fonte.


Quando a beleza humana nos deslumbra com seus encantos e nos atrai com seus reclamos e um pouco mais tarde murcha e se dilui como as prometedoras bolas de algodão-doce na boca dos pequeninos, sentimos sede. Levantamos a cabeça para encontrar sentido e direção: sonhamos com a fonte de águas abundantes.


Quando o amor passa ao nosso lado oferecendo tudo e depois se embaça por ridículas desavenças, por pequenas infidelidades, por essas não esperadas decepções e, especialmente, por esse temor, sempre presente, de poder perdê-lo… sentimos uma sede ardente como aquela que tinha Goethe quando escreveu: “Em meio a todos os prazeres sentia-me como uma ratazana envenenada que corre sem direção e cheira toda a umidade e devora todo o comestível que se lhe apresenta e cujas entranhas estão queimadas por um fogo inextinguível e abrasador”
(Deus e o sentido da vida, Rafael Llano Cifuentes).

Onde, afinal, vamos saciar essa sede de felicidade, onde vamos encontrar a fonte das águas? No Absoluto, em Deus. Como diz Saint-Exupéry, “o homem é um nômade em busca do Absoluto”. Não percamos tempo tentando saciar a nossa sede em realidades deste mundo. O próprio Jesus já nos disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Felicidade)” (João 14, 6).

Uma santa semana a todos!

Padre Paulo

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