Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “existe dor sem alegria?”.
Segue um texto maravilhoso sobre esse tema. Apesar de ser um pouco mais longo que o habitual, vale a pena.
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São Josemaria Escrivá costumava escrever todo ano na primeira página de sua agenda este lema: “Com alegria, nenhum dia sem cruz”. Queria com isso ter bem presentes todos os dias do ano aquelas palavras do Senhor: Quem não carrega a sua cruz cada dia e me segue não é digno de mim (Mt 10, 38).
Cada dia temos as nossas contrariedades e aborrecimentos; cada dia, de uma forma ou de outra, percebemos as limitações da nossa condição humana; cada dia nos surpreendem as alfinetadas do trabalho, das ocupações, do “corre-corre” cotidiano e inquietante, das apreensões do futuro… E numa jornada qualquer desse “cada dia” chega-nos uma cruz mais pesada, uma doença, um fracasso profissional, a perda de um ser querido…
Pois bem, se não soubermos levar com alegria a cruz de cada dia — e especialmente essa mais pesada —, nunca saberemos ser felizes.
São Josemaria Escrivá também gostava de repetir: “A nossa alegria tem as raízes em forma de cruz”.
Por quê? Porque da cruz brotou toda a alegria: o júbilo exultante da Ressurreição, a certeza da nossa felicidade eterna; porque se o grão de trigo não morre, fica infecundo; mas, se morre, dá muito fruto (Jo 12, 24, 25). Quem conseguir tirar da morte vida, e fazer da dor uma fonte de alegria, é sem dúvida um ser superior. E assim é o verdadeiro cristão: já começou aqui na terra a viver a permanente felicidade do céu, onde não haverá nem lágrimas nem despedidas.
Podemos entender isso de vários pontos de vista.
Diríamos, em primeiro lugar, que uma pessoa que não souber utilizar a dor como elemento catalisador da sua personalidade acabará por converter-se num ser atrofiado, raquítico. A dor, levada com bom ânimo, engrandece: demarca as nossas limitações; faz-nos compreender os sofrimentos dos outros, abre-nos aos necessitados e doentes; ajuda-nos a agradecer os benefícios que temos, em face daqueles que nos são tirados; purifica os nossos defeitos e pecados; faz aquele trabalho de “poda” que favorece o crescimento da videira, de acordo com a imagem evangélica: E o meu Pai é o lavrador que poda a videira para que dê mais fruto (Jo 15, 12). Numa palavra, dá-nos uma têmpera forte, disposta habitualmente a enfrentar com serenidade o que para outros significaria a consagração permanente de um estado de tristeza.
Essa é uma realidade que se pode comprovar em qualquer camada cultural, em qualquer meridiano geográfico: que precisamente entre os homens bem-sucedidos, entre os que nada sofreram, é que vamos encontrar as pessoas mais superficiais, medíocres, egoístas, autossuficientes e, em consequência, irritadiças e mal-humoradas.
A familiaridade com o êxito, com a vida fácil, com um nível econômico mais que desejado, com a boa saúde faz com que muitas pessoas vivam superficialmente, resvalem sobre o verniz brilhante das coisas perecíveis como se elas fossem eternas, e não se aprofundem nas camadas mais íntimas da alma, que é onde se encontram os valores mais autênticos: vive-se como alienado na familiaridade epidérmica dos acontecimentos externos.
E de repente rasga-se essa familiaridade superficial. Penetra até o âmago a ponta ardente da dor, o vislumbre doloroso da morte, com os seus lampejos de uma eternidade na qual nunca se quis pensar: e a alegria episódica desaparece como fumaça, e a tristeza inconsolável estende-se como uma sombra. Ora bem, é nesses momentos que se podem descobrir os valores mais profundos.
(…) (Mt 13, 36): Ensina-nos, Senhor, o significado dessa parábola, dessa dor, desse fracasso, dessa frustração… E o Senhor vai-nos ensinando: essa humilhação deve servir-te para “podar” o teu orgulho, que tanto machuca os outros; essa frustração é para que comeces a perceber que a tua autossuficiência é infantil e tola; a perda dessa pessoa querida serve para que penses mais que estamos aqui de passagem; essa dor profunda, para que acabes por compreender que foi precisamente a Cruz o instrumento que Eu escolhi para redimir o mundo…
Contava-me o capelão do Hospital do Câncer de São Paulo, pe. Humberto, uma história comovente. Ficou internado ali um garotinho de uns sete anos, Marcelo, com um câncer incurável e dolorosíssimo. E ele só sabia dizer a todos: — “Por que eu? Por que eu? Que mal fiz eu para sofrer tanto?” Todos ficavam impressionados, extremamente sentidos, mas nada sabiam responder-lhe, até que um dia o pe. Humberto foi visitá-lo. Sentou-se à beira da sua cama e começou a conversar com ele:
— Marcelo, você sofre muito?
— Muito, padre, muito… Por que eu? Por que eu?
O pe. Humberto disse-lhe:
— Marcelo, olhe para o crucifixo: por que Ele? Por que Ele? Que mal fez Ele para sofrer tanto?
O menino ficou calado, perplexo, chocado… E perguntou mansamente, quase chorando:
— Por quê, pe. Humberto, por quê?
— Porque padeceu na cruz pelos nossos pecados; porque, fazendo-se homem, quis satisfazer a Deus pelos delitos cometidos pelos homens. Deus, Pai, desejava essa satisfação. Você não gostaria de unir-se à Cruz de Jesus, ser tão bom como Ele e sofrer para redimir com Ele todos os homens?
— Sim, claro, mas como posso fazer isso?
— Olhe, você sabe que a Olívia, aquela moça nissei, que está tão grave, vai morrer, mas não quer confessar-se. Por que você não oferece as suas dores para que ela se confesse?
— Sim, vou oferecê-las, sim. Mas escreva num papel o nome dela para eu não o esquecer…
A partir desse momento, a atitude de Marcelo mudou completamente. O protesto converteu-se em paz e sorriso. A enfermeira estava impressionada.
Marcelo entrou em agonia e perdeu os sentidos. A enfermeira observou que tinha o punho direito sempre fechado e que pronunciava uma frase que ela não conseguia entender. Quando faleceu, abriu-lhe a mãozinha e dela tirou um papel amarrotado onde estava escrito: “Olívia”. Foi então que entendeu as palavras que Marcelo murmurava: “Por Olívia, por Olívia…”. Mas o mais admirável foi que, exatamente à hora em que Marcelo falecia, Olívia, espontaneamente, sem nada saber do fato, dizia ao pe. Humberto que queria confessar-se.
Os dois, Marcelo e Olívia, encontrar-se-iam lá em cima para rejubilar-se mutuamente ao entenderem, em toda a sua profundidade, que a dor unida ao sacrifício de Jesus desabrocha numa eterna alegria.
A dor leva-nos à decepção e à tristeza quando não sabemos encontrar o seu sentido sobrenatural. Quando, porém, sabemos que, através dela, nos estamos santificando e santificando os outros — que estamos sendo corredentores —, essa dor adquire tal valor aos nossos olhos que acabamos por sentir-nos felizes sacrificando-nos para que a vontade de Deus se realize. A dor, assim, vai ao encontro do Amor.
Pensando nisso, poderíamos perguntar-nos: procuramos encontrar sentido em nossas dores? Pedimos luzes para entrever o significado que Deus quer dar a todos os acontecimentos desagradáveis? Pedimos ao Senhor que nos ajude a fazer um ato de esperança dizendo: Tudo será para meu bem? (cfr. Rom 8, 28). Sabemos olhar com frequência o crucifixo para oferecer os contratempos com espírito reparador? Pedimos ao Senhor a paciência necessária para carregar a cruz de cada dia com alegria cristã?
E então vamos adquirindo esse estado superior em que dos espinhos nascem rosas, em que do grão que morre brota a espiga fecunda, em que do Calvário emerge o exultante júbilo da Ressurreição, e da contrariedade o sorriso (Rafael Llano Cifuentes, “Alegria de viver”, Ed. Quadrante).
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Uma semana abençoada a todos!
Padre Paulo