Marxismo: as táticas anti-religiosas dos governos marxistas

(Revista Pergunte e Responderemos, PR 368/1993)

 

Em síntese: O artigo refere o teor de treze normas estabelecidas pelos regimes comunistas do Leste Europeu para sufocar os cristãos, especialmen­te os católicos, nos anos de vigência do marxismo. Tratava-se de erradicar a fé religiosa e substituí-la pela ideologia marxista, concebida como uma quase religião, dadas as suas exigências radicais. – Tais normas foram estipuladas pelos representantes de nove Partidos Comunistas da Europa reunidos em 1947 na cidade de Varsóvia e, pouco depois, em Sofia na Bulgária.

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Após a queda do comunismo no Leste Europeu, têm vindo à tona vá­rios documentos que informam sobre fatos secretos, planos estratégicos e táticas peculiares dos Governos marxistas desejosos de extirpar a Religião. Esta era tida como um dos principais fatores de resistência à plena implanta­ção do marxismo real. Especialmente renitente era a Igreja Católica, majori­tária na Polônia, na Hungria, na Lituânia, na Croácia, na Eslovênia e na Eslo­váquia, sem deixar de ser muito influente nos outros países comunistas. Em conseqüência, os católicos eram alvo de primeira linha da repressão marxis­ta, que os queria abater ou, ao menos, amordaçar.

Em vista disto, pouco depois da segunda guerra mundial, ou seja, em fins de setembro de 1947, reuniram-se em Varsóvia os delegados de nove Partidos Comunistas Europeus sob a presidência do Sr. Jdanov, mentor ideológico do Partido Comunista da URSS; fundaram o Comitê Central de Infor­mações, destinado a servir à perseguição religiosa, indicando métodos e coor­denando atividades. Tinha sede oficial em Belgrado, mas o pessoal de serviço constava de soviéticos.

O Kominform, assim fundado, reuniu-se posteriormente em Sofia (Bulgária), resultando daí um plano estratégico anti-religioso a ser aplicado em todas as “Democracias Populares”, feitas as adaptações necessárias a ca­da país. Duas grandes etapas foram previstas: 1) desbaratar as hierarquias cristãs, únicas organizações sólidas e firmes que haviam sobrevivido à segun­da guerra mundial; 2) extirpar das consciências a fé cristã, substituindo-a pela ideologia comunista atéia, elevada à categoria de novo sistema reli­gioso”.

Seguem-se as diversas medidas que deviam ser executadas em vista de tais finalidades.[1]

I. O Plano Estratégico

1. Separar dos seus ‘aliados estrangeiros’ as comunidades protestan­tes, e desvincular do seu centro romano as instituições católicas. Em vista disto, deveriam ser dispensados todos os Núncios Apostólicos (representantes do Papa) acreditados nos países comunistas. A razão oficial para tanto era que esses Núncios haviam sido acreditados junto a Governos anteriores aos comunistas. As Nunciaturas ficaram abertas, como de costume em tais casos, durante certo tempo, mantidas por diplomatas subalternos; mas fo­ram finalmente fechadas, visto que nenhum outro credenciamento de Nún­cio Apostólico era possível.

2. Decapitar as comunidades locais, caluniando, ao máximo, os seus chefes: entre os católicos, eram assim considerados os Cardeais, os Arcebis­pos e os Presidentes das Conferências Episcopais; entre os protestantes, tal ou tal Bispo calvinista ou luterano, cujo prestígio tivesse repercussão nacio­nal. À campanha de calúnias seguiram-se processos e sentenças condenató­rias, baseadas em acusações mentirosas. Em certos casos, por motivos táti­cos, os comunistas se contentavam com a prisão domiciliar da autoridade religiosa, com proibição de receber visitas e de intervir em atividades pasto­rais. A coordenação bem planejada desses ataques aparece com muita evi­dência a quem considera as datas dos processos e das sentenças condena­tórias.

3. Destruir a unidade do clero, suscitando o “Movimento dos Padres para a Paz”, aos quais as autoridades civis reservavam as melhores paróquias. Tais sacerdotes eram enviados a todo tipo de reuniões ou manifestações em prol da paz tanto no interior do país quanto no estrangeiro. Seguiam as ori­entações do Governo, e não as da Santa Sé.

4. Dividir entre si os Bispos privados de seu chefe, sendo então aberta­mente favorecidos alguns tidos como ‘compreensivos’, e atacados sem tréguas os ‘durões’ e os ‘reacionários’.

5. Romper todos os vínculos que ainda pudessem existir entre os sa­cerdotes e os fiéis leigos, decretando a dissolução de todas as agremiações re­ligiosas, paroquiais ou de juventude, inclusive as Ordens Terceiras das grandes famílias religiosas: franciscana, dominicana, carmelita, agostiniana.[2]

6. Para evitar todas as modalidades de réplica da Igreja, foram nacio­nalizados todos os seus bens: terras, propriedades, edifícios, etc.

7. Para melhor ensinar a nova ordem social e a compreensão do socia­lismo em construção, os diversos governos fecharam os Seminários diocesa­nos e organizaram Grandes Seminários regionais, cujos professores deviam pedir o Beneplácito das autoridades estatais. A admissão nos Grandes Semi­nários foi limitada por um numerus clausus (número fechado); a autoridade civil encarregada dos assuntos religiosos é que definia o número exato de Se­minaristas que poderiam ser aceitos para cada diocese. Antes da ordenação sacerdotal, o candidato devia pedir o Beneplácito do Governo para tanto. Antes de assumir uma função pastoral (de Vigário até Bispo), todo eclesiásti­co devia prestar juramento de fidelidade ao regime.

8. Para controlar a fidelidade dos eclesiásticos, em cada República Po­pular foi criado um Comitê governamental de Assuntos Eclesiásticos, cujos funcionários tinham pleno poder de controle, indo até a revogação da autorização de serviço pastoral quando o interessado caia na desgraça dos funcio­nários.

9. Para evitar toda influência religiosa sobre a juventude, o ensino do Catecismo foi proibido nas escolas e severamente regulamentado nas paró­quias. Era o Comitê de Assuntos Religiosos que definia o número de aulas e o número de alunos matriculados no Catecismo. Ao contrário, o materialis­mo científico e ateu tornou-se disciplina obrigatória no ensino público desde o grau maternal até as Universidades.

10. Para quebrar o dinamismo do pensamento cristão, Congregações e Ordens Religiosas foram extintas, com exceção das da Polônia e da Iugos­lávia em virtude de razões políticas. Na Polônia, durante a ocupação alemã, as Religiosas e os Religiosos, assim como os presbíteros, pagaram pesado tri­buto por causa da sua fidelidade à pátria. Cerca de seis mil sacerdotes polo­neses foram internados em campos de concentração nazistas. Seja menciona­do, entre outros, o Pe. Maximiliano Kolbe. – Na Iugoslávia, se o Marechal Tito tivesse fechado as Ordens Religiosas, teria sido acusado de hostilidade par com os croatas – coisa que ele queria evitar a todo preço, pois Tito tinha bom número de problemas com ‘os seus’ croatas… Por conseguinte, con­tentou-se com o extermínio de certo número de Religiosos, enquanto outros foram encarcerados, sempre, porém, ‘por motivos pessoais’…

11. Paralelamente à destruição das Ordens Religiosas, as escolas, os hospitais e os pensionatos cristãos foram estatizados. Sob a nova direção, to­do o espírito cristão desapareceu dessas instituições. Todo professor que quisesse praticar a sua religião, foi imediatamente dispensado. Também na Polícia e no Exército a prática da religião era severamente proibida; o mes­mo ocorria nas repartições públicas, quaisquer que fossem.

12. A fim de que ninguém pudesse protestar contra essas medidas ve­xatórias ou contra as calúnias, não raro, muito grosseiras, disseminadas con­tra a fé, a imprensa escrita, radiofônica e televisionada foi estatizada e posta sob o constante controle do Departamento de Ideologia e de Propaganda do respectivo Partido Comunista. Todas as tipografias e editoras sofreram a mesma sorte. Qualquer infrator dessas disposições – autor de folhas volantes clandestinas – era sujeito à pena de dez a vinte anos de trabalhos forçados. Cada máquina datilográfica pessoal era registrada no Departamento de Polí­cia; antes de poder comprar um mimeógrafo, era preciso que o interessado obtivesse a permissão escrita da Polícia política até 1960; em vários paí­ses… até o fim da década de 70.

13. Toda crítica ao regime ou ao Governo era passiva de pena. A Polí­cia política controlava a observância das suas ‘disposições legais’. Até certos vocábulos e certas histórias eram classificadas em categorias sujeitas a penas de um, três, cinco ou até dez anos de prisão ou de campo de concentração.

II. Refletindo

As táticas atrás elencadas revelam bem a intenção hostil e destruidora do Comunismo frente à Religião, especialmente ao Catolicismo, que se mos­trou muito resistente nos países do Leste Europeu. Não se pode dizer que tenham perdido sua vigência após a queda do Comunismo europeu, pois ain­da há países sob duro regime marxista,. . . países onde a religião até hoje é duramente reprimida, embora se diga que há liberdade religiosa.

Incumbe aos católicos dos países democráticos interessar-se por seus irmãos perseguidos, orando por eles e esforçando-se, na medida do possível, por levar-lhes alívio e preparar-lhes melhores dias.

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NOTAS:

[1] Estes dados são extraídos da revista franciscana “Evangile Aujourd‘ hui, n º 152, pp. 15-17.

[2] As quatro grandes Ordens medievais ditas “mendicantescompreen­dem o que se chama:

a Ordem Primeira (que consta de frades), a Ordem Se­gunda (que consta de freiras), a Ordem Terceira (que consta de leigos).

As quatro grandes Ordens medievais ditas “mendicantescompreen­dem o que se chama:

a Ordem Primeira (que consta de frades), a Ordem Se­gunda (que consta de freiras), a Ordem Terceira (que consta de leigos).