Radiografia da imaturidade – II

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “radiografia da imaturidade – II
 
Segunda manifestação: irrealismo
 
O segundo sinal da imaturidade de uma pessoa é o fato de ela viver fora da realidade, como um sonhador.
 
A vida é difícil e custa muito para que as coisas sejam alcançadas, na maioria esmagadora dos casos. Achar que se conseguirá ficar rico num passe de mágica, que se conseguirá um emprego num piscar de olhos, que o casamento será mil maravilhas são sinais claros de falta de maturidade. É o que diz o texto abaixo, em que se comenta que esse é um erro típico dos jovens ou dos que não superaram a fase da juventude.
 
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Os sentimentos do adolescente e, em certa medida, do jovem carecem de toda a relação com aquilo que o circunda. Os seus trabalhos são os trabalhos de Hércules; as suas viagens, as de Ulisses; os seus romances, os de Tristão e Isolda; os seus namoros, os de Romeu e Julieta… E, nesse mundo singular, revestem-se de importância capital os impulsos sensitivos. A força vital parece adquirir dimensões ilimitadas: sente-se a capacidade de ser tudo e de poder tudo.
 
É preciso sublinhar neste panorama um aspecto importante: falta experiência e sobra vitalidade. A energia vital, a força dos sonhos e ideais não traz consigo um conhecimento experimental suficiente para discernir se existe realmente capacidade para a realização desses sonhos e ideais: falta um aprendizado que permita a concatenação eficiente entre causas e efeitos. Esta situação gera uma insegurança muito grande, que se tenta encobrir, como dizíamos, com teatralidades, quixotismos e invenções.
 
Os impulsos da vitalidade juvenil fazem ver como plausíveis – ao alcance da mão – empreendimentos que exigiriam um caráter formado, uma tenacidade e uma experiência ainda não assimilados. Ao mesmo tempo, o rapaz ou a moça não têm a humildade suficiente para pedir ajuda e conselho, para apoiar-se na experiência dos mais velhos; essa falta de humildade é uma nota característica da falta de maturidade. A pessoa carece do saber necessário para realizar os seus projetos e, ao mesmo tempo, esbanja autossuficiência. Ainda não conseguiu o equilíbrio necessário para discernir até que ponto pode ousar, atrever-se a agir sozinho, e em que medida deve pedir conselho e aproveitar as iniciativas e ajudas alheias.
 
Essa ausência de equilíbrio inclina geralmente a pensar de forma absoluta e radical: as coisas ou são “brancas” ou são “pretas”… Falta ao jovem o sentido da medida, da gradação, da ponderação, do justo meio entre dois extremos, características tão próprias de uma pessoa madura.
 
Quando se torna um jovem adulto, sem muita experiência mas com muita vitalidade, a pessoa sofre ao verificar que a realidade da vida profissional, social e política que ela talvez pretendesse modificar oferece muito mais resistência do que pensava. Ainda não experimentou até que ponto o egoísmo, o descaso, a vaidade, a inveja e a estupidez são fortes no ser humano e como são necessários esforços colossais para obter resultados precários. Não consegue, enfim, calibrar o alto valor que tem a virtude da paciência.
 
Se não chega a assimilar esta ciência, o jovem, à força de acumular fracassos e frustrações, pode desembocar em um de dois becos sem saída; por um lado, um ceticismo resignado que o impede de assumir compromissos e o leva a encarar tudo negativamente — a ter uma vida sem ideal, sem direção e sem fé –; ou, por outro, a condição de um eterno revolucionário, empenhado em reformar o mundo inteiro… com exclusão de si mesmo. Os falsos revolucionários – não aqueles que promovem autênticas transformações na direção da justiça e da paz – são sempre uns imaturos (Rafael Llano Cifuentes, Maturidade).
 
Continua na próxima semana…
 
Uma semana abençoada a todos!
 
Padre Paulo 


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