Catequese sobre os mandamentos – III: considerações sobre o primeiro mandamento

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “considerações sobre o primeiro mandamento”.
 
Continuemos a catequese sobre os mandamentos do Papa Francisco:
 
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Ouvimos o primeiro mandamento do Decálogo: “Não terás outros deuses diante da minha face” (Êx 20, 3). É bom refletir sobre o tema da idolatria, que é de grande alcance e atualidade (…) Nós podemos interrogar-nos: qual é verdadeiramente o meu Deus?
 
O que é um “deus” no plano existencial? É aquilo que está no cerne da própria vida e do qual depende o que fazemos e pensamos (…) O ser humano não vive sem se centrar em algo (…) O mundo oferece um supermercado de ídolos de todos os gêneros, materiais e imateriais: o dinheiro, os bens materiais, a carreira profissional, o corpo, o prazer, a fama etc.
 
(…) Recordo que certa vez fui a uma paróquia na diocese de Buenos Aires para celebrar uma Missa e depois devia fazer as crismas noutra paróquia, a 1 km de distância. Fui a pé e atravessei um bonito parque. Mas naquele parque havia mais de 50 mesinhas, cada uma com duas cadeiras e as pessoas sentadas uma em frente da outra. O que faziam? Liam as cartas. Iam ali “para rezar” àquele ídolo. Em vez de rezar a Deus, que é quem provê o futuro, depositavam sua confiança nas cartas. Esta é uma idolatria dos nossos tempos (…)
 
Como se constrói uma idolatria? O Livro do Êxodo, ao falar do primeiro mandamento, diz: “Não farás para ti escultura nem figura alguma […] Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto” (Êx 20, 4-5).
 
“Não farás para ti escultura nem figura alguma.”
 
A palavra “ídolo”, em grego, deriva do verbo “ver”. O ídolo é uma “visão” que tende a tornar-se uma fixação, uma obsessão. Na realidade, o ídolo é uma projeção de nós mesmos nos objetos ou nos projetos. É dessa dinâmica que se serve a publicidade: não vejo o objeto em si, mas concebo aquele automóvel, aquele celular, aquele objetivo — ou outras coisas — como um meio para me realizar e responder às minhas necessidades essenciais.
 
“Não te prostrarás diante delas.”
 
Então, entramos na segunda fase: “Não te prostrarás diante delas”. Os ídolos exigem um culto, rituais; por eles as pessoas prostram-se e sacrificam tudo. Na Antiguidade faziam-se sacrifícios humanos aos ídolos, mas também hoje:
 
– pela carreira sacrificam-se os filhos, descuidando deles ou simplesmente deixando de gerá-los;
 
– a beleza exige sacrifícios humanos. Quantas horas diante do espelho! Certas pessoas, determinadas mulheres, quanto gastam para se maquiar! Também esta é uma idolatria. Não é ruim maquiar-se, mas de modo normal, não para se tornar uma deusa.
 
– a fama requer a imolação de si mesmo, da própria inocência e autenticidade.
 
– o dinheiro rouba a vida e o prazer leva à solidão.
 
– as estruturas econômicas sacrificam vidas humanas para obter maiores lucros. Pensemos em tantas pessoas desempregadas. Por quê? Porque às vezes acontece que os donos daquela empresa, dessa firma, decidem despedir as pessoas, para ganhar mais dinheiro. O ídolo do dinheiro.
 
– também a droga é um ídolo. Quantos jovens estragam a saúde, até a vida, adorando este ídolo da droga.
 
“Não lhes prestarás culto.”
 
Aqui chegamos à terceira e mais trágica fase: “…e não lhes prestarás culto”. Os ídolos escravizam. Prometem a felicidade, mas não a dão; e passamos a viver por aquela realidade, arrebatados num redemoinho autodestruidor, à espera de uma felicidade que nunca chega.
 
Caros irmãos e irmãs, os ídolos prometem a vida, mas na realidade tiram-na. O Deus verdadeiro não pede a vida, mas a dá, a concede. O Deus verdadeiro não oferece uma projeção egoísta de nós mesmos no sucesso, mas nos ensina a amar. O Deus verdadeiro não pede os nossos filhos para Si, mas dá o seu Filho por nós.
 
Os ídolos projetam hipóteses futuras e fazem desprezar o presente; o Deus verdadeiro ensina a viver na realidade de cada dia, no concreto, não com ilusões sobre o porvir: hoje, amanhã e depois de amanhã, a caminho do futuro. A realidade concreta de Deus verdadeiro contra a liquidez dos ídolos.
 
Hoje convido-vos a pensar: quantos ídolos tenho, ou qual é o meu ídolo preferido? Pois reconhecer as próprias idolatrias é o início da conversão, e nos redireciona para o caminho do amor. Com efeito, o amor é incompatível com a idolatria: se algo se torna absoluto e intocável, então é mais importante que um cônjuge, um filho ou uma amizade. O apego a um objeto ou a uma ideia torna-nos egoístas e cegos para o amor. E assim, para ir atrás dos ídolos, de um ídolo, podemos chegar a renegar o pai, a mãe, os filhos, a esposa, o esposo, a família… as coisas mais queridas. Levai isto no coração: os ídolos roubam-nos o amor, os ídolos tornam-nos cegos ao amor, e para amar autenticamente é preciso libertar-se de todos os ídolos.
 
Uma santa semana a todos!!!
 
Padre Paulo M. Ramalho
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Padre Paulo M. Ramalho – Sacerdote ordenado em 1993. Cursou o ensino médio no colégio Dante Alighieri. Engenheiro Civil formado pela Escola Politécnica da USP; doutor em Filosofia pela Pontificia Università della Santa Croce. Atende direção espiritual na igreja Divino Salvador, Vila Olímpia, em São Paulo.