Catequese sobre os mandamentos – XIII: considerações sobre o sétimo mandamento

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “considerações sobre o sétimo mandamento”.
 
Continuemos a catequese sobre os mandamentos do Papa Francisco:
 
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Continuando a explicação do Decálogo, hoje chegamos à sétima Palavra: “Não roubarás”.
 
Ouvindo este mandamento, pensamos no tema do roubo e no respeito pela propriedade alheia. Não existe cultura na qual o furto e a prevaricação dos bens sejam lícitos; com efeito, a sensibilidade humana é muito suscetível em relação à defesa da posse.
 
Mas vale a pena abrir-se a uma leitura mais ampla desta Palavra, focalizando o tema da propriedade dos bens à luz da sabedoria cristã.
 
Na doutrina social da Igreja fala-se de destino universal dos bens. Que significa isso? Ouçamos o que diz o Catecismo: “No princípio, Deus confiou a terra e os seus recursos à gestão comum da humanidade, para que dela cuidasse, que a dominasse pelo seu trabalho e gozasse dos seus frutos. Os bens da criação são destinados a todo gênero humano” (n. 2.402). E ainda: “O destino universal dos bens continua a ser primordial, embora a promoção do bem comum exija o respeito pela propriedade privada, pelo direito a ela e pelo respectivo exercício” (n. 2.403).(1)
 
No entanto, a Providência não dispôs um mundo “em série”; existem diferenças, variadas condições, diferentes culturas, de modo que se pode viver provendo uns aos outros. O mundo é rico de recursos para assegurar os bens primários a todos. E, contudo, muitos vivem numa indigência escandalosa, e os recursos, usados sem critério, vão-se deteriorando. Mas o mundo é um só! (2) A humanidade é única! Hoje, a riqueza do mundo está nas mãos da minoria, de poucos, e a pobreza (aliás, a miséria e o sofrimento) atinge tantos, a maioria.
 
Se há fome na terra, não é porque falta alimento! Ao contrário, devido às exigências do mercado, às vezes chega-se a destruí-lo, a deitá-lo fora. O que falta é um empresariado livre e clarividente, que garanta uma produção adequada, e uma abordagem solidária, que garanta uma distribuição equitativa. O Catecismo diz ainda: “Quem usa esses bens não deve considerar as coisas exteriores, que legitimamente possui, só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si mesmo, mas também aos outros” (n. 2.404). Para ser boa, toda riqueza deve ter uma dimensão social.
 
É nessa perspectiva que se revela o significado positivo e amplo do mandamento “Não roubarás”. “A propriedade de um bem faz do seu detentor um administrador da Providência” (ibid.). Ninguém é senhor absoluto dos bens: é um administrador dos bens. A posse é uma responsabilidade (…) E cada bem subtraído à lógica da Providência de Deus é atraiçoado, é traído no seu sentido mais profundo. O que realmente possuo é aquilo que sei doar (…) Se eu souber doar, se for aberto, então sou rico não apenas daquilo que possuo, mas também em generosidade, generosidade inclusive como dever de distribuir a riqueza, a fim de que todos se beneficiem dela. Com efeito, se não consigo doar algo é porque o bem que possuo tem poder sobre mim e sou escravo dele. A posse dos bens constitui uma ocasião para multiplicá-los com criatividade e utilizá-los com generosidade, e assim crescer em caridade e liberdade.
 
Mesmo sendo Deus, o próprio Cristo “não considerou como uma usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo” (Fl 2, 6-7), enriquecendo-nos com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9).
 
Enquanto a humanidade fadiga para ter mais, Deus redime-a tornando-se pobre: aquele Homem Crucificado pagou por todos um resgate inestimável da parte de Deus Pai, “rico em misericórdia” (Ef 2, 4; cf. Tg 5, 11). O que nos torna ricos não são os bens, mas o amor. Ouvimos muitas vezes aquilo que o povo de Deus diz: “O diabo entra pelos bolsos”. Começa-se pelo amor ao dinheiro, pela fome de possuir; depois, vem a vaidade: “Ah, eu sou rico e tenho orgulho disso”; e, no final, o orgulho e a soberba. É assim que o diabo age em nós. Mas a porta de entrada são os bolsos!
 
Estimados irmãos e irmãs, Jesus Cristo revela-nos mais uma vez o pleno sentido das Escrituras. “Não roubarás” quer dizer: ama com os teus bens, tira proveito dos teus meios para amar como podes. Então, a tua vida torna-se boa e a posse torna-se verdadeiramente uma dádiva. Pois a vida não é o tempo para possuir, mas para amar. Obrigado!
 
Uma santa semana a todos!!!
 
Padre Paulo M. Ramalho
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Padre Paulo M. Ramalho – Sacerdote ordenado em 1993. Cursou o ensino médio no colégio Dante Alighieri. Engenheiro Civil formado pela Escola Politécnica da USP; doutor em Filosofia pela Pontificia Università della Santa Croce. Atende direção espiritual na igreja Divino Salvador, Vila Olímpia, em São Paulo.