Catequese sobre os mandamentos – VII: considerações sobre o terceiro mandamento – II

Olá a todos!
Eis a ideia para vocês refletirem ao longo da semana: “considerações sobre o terceiro mandamento”.
 
Continuemos a catequese sobre os mandamentos do Papa Francisco:
 
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Na catequese de hoje voltamos a falar do terceiro mandamento, sobre o dia do repouso. O Decálogo, promulgado no livro do Êxodo, é repetido no livro do Deuteronômio de modo quase idêntico, com uma diferença preciosa: enquanto no Êxodo o motivo do repouso é a bênção da criação, no Deuteronômio é o fim da escravidão.
 
De fato, por definição, os escravos não podem descansar. Mas existem muitos tipos de escravidão, tanto exterior como interior. Há a escravidão externa, como as opressões, as vidas raptadas pela violência e por outros gêneros de injustiça, e as prisões interiores, que são, por exemplo, os bloqueios psicológicos, os complexos, as limitações do caráter etc. Existe descanso nessas condições? Um homem preso ou oprimido pode permanecer livre? Uma pessoa atormentada por problemas interiores pode ser livre?
 
No entanto, há pessoas que até na prisão vivem com uma grande liberdade de espírito. Pensemos, por exemplo, em São Maximiliano Kolbe ou no Cardeal Van Thuan, que transformaram obscuras opressões em lugares de luz. Assim como há pessoas marcadas por grandes fragilidades interiores que, contudo, conhecem o repouso da misericórdia. A misericórdia de Deus liberta-nos! É muito importante abrir-nos à misericórdia de Deus para não sermos escravos de nós mesmos.
 
Portanto, o que é a verdadeira liberdade? Consiste porventura na liberdade de escolha? Certamente, essa é uma parte da liberdade (…) Mas bem sabemos que fazer o que desejamos não é suficiente para ser verdadeiramente livres e nem sequer felizes. A verdadeira liberdade é muito mais!
 
Com efeito, há uma escravidão que acorrenta mais do que uma prisão, mais que uma crise de pânico, mais que uma imposição de qualquer tipo: trata-se da escravidão do próprio ego (…) O ego pode tornar-se um verdugo que tortura o homem, onde quer que ele se encontre, provocando-lhe a mais profunda opressão, aquela que se chama “pecado”, que não é banal violação de um código, mas fracasso da existência e condição de escravos (cf. Jo 8, 34). Afinal, o pecado é colocar o “eu acima de tudo”. “Quero fazer isto e não me importa se há um limite, se existe um mandamento, nem sequer me importa se isso vai contra o amor”.
 
Pensemos, por exemplo, nas paixões humanas, manifestações do egoísmo: o guloso, o luxurioso, o avarento, o iracundo, o invejoso, o preguiçoso, o soberbo — e assim por diante — são escravos dos seus vícios, que os tiranizam e os atormentam.
 
Não há trégua para o guloso, porque a gula é a hipocrisia do estômago, pois ele está cheio mas quer acreditar que está vazio. O estômago hipócrita torna-nos gulosos. Somos escravos de um estômago hipócrita. Não há trégua para o guloso e o luxurioso, que devem viver de prazer; o anseio da posse destrói o avarento, que amontoa sempre dinheiro, fazendo mal ao próximo; o fogo da ira e o caruncho da inveja arruínam os relacionamentos. Os escritores dizem que a inveja amarelece o corpo e a alma, como quando uma pessoa tem hepatite: torna-se amarela. Os invejosos têm a alma amarela, porque nunca podem ter o vigor da saúde da alma. A inveja destrói. A preguiça que evita qualquer esforço torna-nos incapazes de viver. A soberba escava um fosso entre nós e os outros.
 
Caros irmãos e irmãs, quem é por conseguinte o verdadeiro escravo? Quem é aquele que não conhece o repouso? É aquele que não é capaz de amar! Pois todos esses vícios, esses pecados, esse egoísmo nos afastam do amor e nos tornam incapazes de amar. Somos escravos de nós mesmos e não podemos amar, porque o amor é sempre pelos outros.
 
O terceiro mandamento, que nos fala do repouso da libertação, convida-nos a interromper a escravidão do pecado para nos tornar capazes de amar. O amor é a liberdade autêntica. Esta é a liberdade que recebemos do nosso Redentor, nosso Senhor Jesus Cristo.
 
Uma santa semana a todos!!!
 
Padre Paulo M. Ramalho
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Padre Paulo M. Ramalho – Sacerdote ordenado em 1993. Cursou o ensino médio no colégio Dante Alighieri. Engenheiro Civil formado pela Escola Politécnica da USP; doutor em Filosofia pela Pontificia Università della Santa Croce. Atende direção espiritual na igreja Divino Salvador, Vila Olímpia, em São Paulo.